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Eleição é uma lavoura

“Eleição é uma lavoura”. A lição é do ex-prefeito César Maia e eu a aproveitei em um dos capítulos do livro que escrevi sobre a utilidade que tem a estratégia nas campanhas eleitorais, “Que raios de eleição é essa?”.Escrevi o livro e publiquei pela “Livros Ilimitados” no meio do ano de 2017. O título respondeu a minha dúvida sobre o que seria a eleição de 2018, porque eu percebia, desde as campanhas de 2016, para as prefeituras e câmaras municipais, que algo bem estranho estava para acontecer. E aconteceu. 

As situações inusitadas, depois que ocorrem, autorizam todo tipo de avaliação e teorias sobre as suas causas. Por isso, muita gente atribuiu a vitória do presidente Jair Bolsonaro e da turma de deputados, senadores e governadores que ele carregou para o poder, ao sucesso do trabalho deles nas mídias digitais. Sim, mas não foi só isso, afinal, “Eleição é como lavoura. Os meios de comunicação irrigam, mas só o contato direto semeia”, diz o mago Maia. 

A campanha do presidente Jair Bolsonaro durou quatro anos e não 45 dias. Grande parte dela aconteceu nas ruas e toda ela nas redes, em conexão direta entre umas e outras. As ruas e as redes criavam os fatos, todos estridentes, que alimentaram os eleitores. E, o presidente ainda contou com a ajuda dos adversários. No correr da campanha, os adversários do Jair Bolsonaro perderam as agendas próprias e passaram a funcionar como instrumentos de percussão da música radical do candidato que queriam combater. E quem perde a agenda, perde a eleição. Não tenham dúvida. O resultado da estratégia correta de 2018 governa o Brasil e poderá continuar governando após o primeiro mandato se a oposição não resolver criar uma agenda própria. 

Estamos em ano de eleição municipal e, permitam-me dizer, com o risco até de parecer arrogante; Rede sem rua e sem o discurso adequado é risco de derrota. Sem estratégia, pior ainda. E não tem dinheiro no mundo que resolva isso. 

O exemplo mais recente chegou para nós há pouco, ainda com o calor do forno, vindo dos Estados Unidos. Por lá acontecem as prévias do Partido Democrata para a escolha do candidato que enfrentará o presidente Donald Trump, que está em campanha pela reeleição. Na semana passada aconteceu a Super Terça, dia em que a maioria dos estados americanos realiza, ao mesmo tempo, as eleições primárias. No mundo todo houve expectativa positiva com o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, porque ele vinha despejando uma fortuna na TV, em valores muito acima do usado pelos adversários principais dele, Joe Binden e Bernie Sanders. Binden e Sanders usaram a TV, as mídias digitais e não dispensaram o corpo a corpo e as viagens cansativas de uma ponta a outra dos Estados Unidos. O ex-prefeito Bloomberg jogou todas as fichas na TV, numa campanha de comunicação até bem feita. O resultado das estratégias de Bloomberg, Sanders e Binden está posto. Bloomberg só venceu no território não incorporado, Samoa Americana. E aí eu completo a lição do mago César Maia: “Aperte a mão e ganhe o coração”.

Provavelmente, Joe Binden enfrentará o presidente Donald Trump e para chegar até aqui ele contou com a ajuda do adversário, que lhe deu de presente um ato de perseguição e de acirramento com os democratas. Uma situação que só não custou o mandato do presidente Trump, porque, abriu-se o processo de impeachment no último ano do mandato do presidente, estando ele bem avaliado e já em campanha pela reeleição. Os senadores Republicanos preservaram Trump,  porque seria uma estupidez entregar aos Democratas um fenomenal argumento de campanha num ano de eleição. Tudo em nome da estratégia.  

As primárias nos Estados Unidos quase me matam de inveja. Penso sempre, como deve ser bom estar filiado a um partido que ouve você na escolha dos candidatos que apresentará aos eleitores! Como é bom para os eleitores uma campanha de um ano inteiro de contato com os candidatos, num processo que facilita a avaliação e a escolha. Como é maravilhoso fazer parte de um país onde as campanhas eleitorais são a festa da democracia e nunca, nunca mesmo, atos censurados e repugnantes.

Por aqui, ao que parece, nem os candidatos gostam muito de campanhas. Por isso, quando eleitos e empossados no Congresso Nacional fazem leis que castram a criatividade, reduzem o prazo para a avaliação dos candidatos pelos eleitores e matam a festa e a beleza das campanhas. Mas, um dia isso foi diferente e pasmem, aconteceu quando a ditadura ainda andava por aqui.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos