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Ao fogo eterno!

Sofistica-se demais o conceito de administração pública e essa sofisticação produz obras, seminários, teses, dissertações, cursos de pós-graduação, MBA e outras causas nobres. 

O conceito de administração pública é simples, complexa, talvez a aplicação e isso, quem sabe, explique toda a parafernália de escritos e ensinamentos. 

A definição de administrador público é de um gerente que cuida dos recursos, patrimônios e dinheiro dos outros. Simples assim. Por honestidade e fidelidade deve aplicá-los onde o dono determina, onde ele deseja, caso contrário, com justiça, o administrador será considerado desonesto ou, no mínimo, um “mordomo infiel”, aquele citado por Jesus Cristo no livro de Mateus, 25, situação de boa lembrança, porque andamos a viver em um  tempo em que os administradores públicos e políticos gabam-se de serem cristãos, especialmente, “terrivelmente” evangélicos. Falam com Deus e em nome dele operam, mesmo que ele, Deus, provavelmente, não os tenha autorizado. 

Em Mateus 25, Jesus Cristo faz referência a um homem que, partindo para o exterior, chamou seus três servos e entregou-lhes os seus bens, a cada um segundo a sua capacidade de trabalho. A um, deu cinco talentos, a outro, dois e ao último, um. Diz o texto: “E tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois. Mas o que recebera um, foi e cavou a terra e escondeu o dinheiro do seu senhor”. 

Algum tempo depois, o senhor daqueles servos retornou e pediu-lhes que lhe prestassem contas. Então, aproximou-se o que recebera cinco talentos e trouxe-lhe outros cinco talentos dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que consegui com eles. O mesmo fez o servo que recebera dois talentos e a cada um dos dois servos o senhor disse: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei.” 

Em seguida, entrou em cena, aterrorizado com o que via, o servo que recebera um talento e avisou “escondi na terra o teu talento: aqui tens o que é teu”. O dono do talento perdeu a paciência. Perdeu a linha e disse: “Mau e negligente servo… Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com juros”. E avisou aos demais: “Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos”. 

O que se pode dizer, com base na parábola, sobre a relação que há entre os contribuintes e os administradores públicos na nossa terra? Não caminhemos longe, não. Fiquemos mesmo na nossa terra, cidade e estado. Somente isso nos basta para entender a parábola. Quanto nos têm devolvido os administradores do dinheiro, patrimônio e recursos que lhes entregamos para administrar? Certamente, eles não nos têm devolvido sequer o valor absoluto.  E se alguma coisa andam a entregar aos bancos, usam mal ou em proveito próprio até os juros. Ou não é essa a leitura fácil e justa do que temos visto no caso da Cedae, dos hospitais públicos, da condição das ruas, das escolas, dos transportes públicos e de todo o resto do patrimônio e do dinheiro que entregamos aos agentes do Estado? 

O que se deve fazer diante desse caso? Que tal seguir o exemplo do senhor da parábola? “Tira-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos”. Como se faz isso? Nas urnas, minha gente. 

Teremos daqui a pouco, um pouco mais, o início das campanhas para escolher prefeitos e vereadores. Que tal mandar para casa ou nem tirar de casa onde hoje se encontram, aqueles que no presente ou no passado detonaram nosso patrimônio e dinheiro, a ponto de até matar pessoas, algumas crianças ainda? 

Tomara façamos isso, porque, se continuarmos a perdoar e dar nova chance aos perdulários, aos que debocham da vontade que temos de dar, nós mesmo, destino ao que é nosso, continuaremos a merecer os castigos que temos recebido.

E quando formos decidir, lembremos, que a esquerda adora Estados grandiosos, cheios de servos com poucos ou nenhum senhor. 

Por Jackson Vasconcelos

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

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A cor dessa cidade, sou eu?

O ano meio terminava, meio começava. Os relógios, à caminho da meia-noite. Ouvia-se, de algum lugar perto, a voz gravada da Daniela Mercury: “A cor dessa cidade sou eu. O canto dessa cidade é meu. O gueto, a rua, a fé. Eu vou andando a pé pela cidade bonita. O toque do afoxé e a força  onde vem? Ninguém explica, ela é bonita…”

Estava alí uma dica para abrir o ano em que os eleitores do Brasil decidirão quem governará as cidades onde moram. Onde a cor e o canto não são, exatamente, o que deseja a Daniela Mercury. 

O desconhecimento do modo como as coisas funcionam na administração das cidades, no campo da política e da técnica, leva muita gente a acreditar que, ao escolher o prefeito estará decidindo como a cidade funcionará para que tenha a cor e o canto de cada um. Uma ilusão! 

Existem, a tocar as cidades, figuras mais importantes do que os prefeitos, porque são gente autorizada, via leis, a decidir onde e como o dinheiro do povo será gasto e se o prefeito tem e terá ou não a liberdade para cumpir o que combinou com o povo. Cabe-lhes também elaborar as leis municipais, aquelas que organizam a vida em sociedade no local onde as pessoas moram, trabalham, passam férias e revivem memórias. Essa tarefa implica em fazer o planejamento urbano, algo de absoluta complexidade e responsabilidade, para toda e qualquer cidade de qualquer tamanho. Nesse contexto, estamos a tratar de Lei Orgânica, Plano Diretor, uso do solo, direito ambiental, código de obras, impacto de vizinhança, patrimônio cultural e histórico, segurança, trânsito e outras coisas bem importantes. 

Os vereadores, figuras que pouco gente conhece, mas nas quais quase toda gente vota, são políticos que formam uma turma com poder até para tirar o prefeito, que o povo julgou ser a escolha mais importante a fazer. Eis aqui uma questão a ser avaliada também pelos candidatos a prefeito quando escolhem os candidatos a vereador que apoiam. 

Por não serem percebidos e poderem atuar na penumbra, alguns vereadores se frustram, enquanto outros fazem miséria. No resultado final, sofre o povo, porque as cidades perdem a cor, o canto e o encanto. Elas passam a servir, exclusivamente, de pasto para os interesses não muito claros de grupos que têm o poder de agir nos corredores e bastidores, para influenciar as decisões, um caminho que até o crime mais rasteiro já descobriu e tem feito uso.

Estamos diante de um problema que sugere uma solução estratégica clara, se desejamos ter cidades melhores, com mais qualidade de vida, onde possamos viver, trabalhar e curtir a vida com alguma paz: a seleção bem avaliada dos candidatos às prefeituras, mas também às câmaras municipais para, na hora do “vamos ver”, na cabine de votação, se ter a convicção, ou pelo menos a percepção, de que se fez a escolha certa.

Feliz ano novo!

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

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Quantos presidentes vale um prefeito?

Só teremos eleições para presidente em 2022. Antes, daqui a pouco mais de um ano, iremos às urnas para as campanhas municipais, que aproximam o eleitor do sentido da política e da consequência imediata do voto.

Está com os prefeitos e vereadores a responsabilidade direta pela qualidade de vida das pessoas que usam as calçadas, as ruas, os transportes, se submetem à maneira como o trânsito funciona, apelam pelo primeiro atendimento médico, precisam da garantia da ordem urbana e da têm necessidade absoluta, absurda, de acesso à educação, uma dificuldade nacional.

O primeiro contato da criança com a educação, nas escolas e creches, está no ambiente dos prefeitos e vereadores e isso é relevante para a maioria da população brasileira, que não pode arcar sozinha com os custos de educar os filhos.

O cuidado com a primeira infância e com a relação das crianças com as escolas é indispensável para um país onde a educação, principalmente, a pública, deseduca. Se, de fato, desejamos mesmo dar uma grande virada no jogo da educação, deveríamos começar por onde ela começa, nas decisões dos prefeitos e dos vereadores.

A pobreza hereditária é outro problema que o Brasil precisa resolver se quiser, de verdade, diminuir a desigualdade social. Vejo presente um discurso recorrente de redução das desigualdades, mas com uma miopia que dificulta identificar o papel da educação no processo. Por isso, parte-se para a caridade e exploração política da miséria, mas não para as medidas concretas de eliminação do problema, que depende da reversão das expectativas de permanência na pobreza dos filhos dos pobres.

A educação é a solução para desigualdade, porque abre janelas de oportunidades para melhor ocupação e renda, num processo que se torna mais fácil se começar bem e o começo é com os prefeitos e vereadores.

Quando se joga no tabuleiro o conceito de oportunidades, não há como fugir da mobilidade como tema essencial. O emprego e a profissionalização são um peso imenso sobre as costas de quem depende do transporte público e o pobre depende. Neste campo, novamente, as prefeituras têm função relevante.

A ordem urbana que, no ponto mais importante, implica na decisão sobre onde e como se pode construir e morar, é outro item na pauta de competência dos municípios e isso tem tudo a ver com a qualidade do ambiente, violência e crime. Já se sabe disso com sobra.

Além disso tudo, administração municipal é o espaço melhor para se aprender sobre os orçamentos públicos, sobre a qualidade dos gastos, e para se iniciar uma vida na política.

Todas essas situações definem as eleições municipais como altamente relevantes para o povo brasileiro. Eu diria, mais relevantes do que as eleições para presidente e, estupidamente, mais do que a escolha de governadores. O que pode um presidente fazer, por exemplo, para se ter eficácia na educação na primeira infância ou qualidade na mobilidade?

Entretanto, no Brasil, não se faz campanhas sem partidos políticos. E, como teremos campanhas em todas as cidades brasileiras, estamos numa boa hora para os partidos provarem que podem ser mais do que cartórios de registro de candidaturas e agências de financiamento de campanhas eleitorais e distribuidoras de tempo de propaganda na televisão e no rádio.

Quem dirige os partidos deveria deles fazer centros de formação política e, desde já, de debates sobre as funções relevantes dos prefeitos e vereadores, para motivarem candidatos bons e colaborarem com o processo de decisão do eleitor, infelizmente, sempre chamado a decidir sobre o menos pior e, raramente, sobre o melhor.

Se os dirigentes dos partidos já tinham antes essa obrigação e não cumpriam, que cumpram agora, porque o povo brasileiro tem pago a conta, via fundo partidário e fundo eleitoral e não tem alternativa fora da política para promover as transformações essenciais na estrutura administrativa pública para ter qualidade de vida.

Há quem queira que os partidos não sejam financiados com dinheiro público, porque entende que a política não tem função social. Mas, sem função social, ela não faria o menor sentido na vida das pessoas. Não se pode condenar o dinheiro público nos partidos, porque eles não cumprem o papel que deveriam cumprir. Faríamos melhor cobrando deles a função que lhes cabe.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos