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“Caguei… caguei pra CPI!”

O desabafo ou desaforo do Presidente da República aconteceu no encontro de quinta-feira dele com o canal do Youtube e do Facebook. Literalmente, ele disse “Inclusive, né… Eu não vou entrar em detalhes sobre essa CPI desse… do Renan Calheiros e Omar Aziz, que dispensa comentários e não vou responder nada pra esses caras. Não vou responder nada pra esse tipo de gente. Em hipótese alguma. Que não estão preocupados com a verdade e sim desgastar o governo. Por quê? O Renan, por exemplo, é alinhadíssimo ao Lula. Ele quer a volta do Lula a qualquer preço. Portanto, não vou responder a questões da CPI. Hoje, eu acho, não sei se foi o Renan, o Omar e o saltitante, fizeram uma festa lá embaixo, na presidência, entregando um documento, pra eu responder perguntas da CPI. Vocês sabem qual é a minha resposta, pessoal? Caguei! Caguei pra CPI”. 

Deixo as considerações sobre a qualidade do que foi dito para vocês e me restrinjo ao que me cabe no ambiente da estratégia, a ferramenta que identifica atributos, oportunidades, ameaças, cenários e conquistas numa disputa eleitoral. 

Para ser melhor no trabalho que lhe cabe, um estrategista deve se colocar nos dois ambientes da disputa. É o que faço para construir o presente texto. 

A mensagem do presidente chegou a quem o apoia como uma palavra de ordem, de uma atitude valente e de reação autêntica, mas com o mesmo sentimento com que atingiu os adversários. Porque, ao dizer com veemência, quase aos gritos, que não está nem aí para a CPI, Jair Bolsonaro demonstrou, mais uma vez, que a CPI, na verdade, na verdade, lhe traz incômodos. 

O Presidente está irritado – irritadíssimo com quem ele diz que despreza. Eu, se pudesse, aconselharia a todos os competidores a ler “A Arte de Ter Razão”, de Schopenhauer, um conjunto de estratagemas criados pelo filósofo para orientar quem precisa enfrentar debates e vencê-los. O livro diz que a verdade dos argumentos não importa, isso é coisa para a lógica. Embora entendido como um “manual antiético”, o livro tem o objetivo de desmascarar os impostores. Vejam o que está dito no estratagema 8: “Desestabilize o oponente: Ao ser provocado à raiva, o oponente perde o equilíbrio e a racionalidade para julgar corretamente e perceber a própria vantagem. É possível fazê-lo ficar com raiva por meio de repetidas injustiças, de algum tipo de truque e pela insolência”. 

Depois vá ao 27: “Deixe o seu oponente desequilibrado: Se o oponente ficar bravo de maneira inesperada com um argumento, então deve-se insistir nele com mais afinco, não simplesmente por ser bom deixá-lo com raiva, mas porque se supõe que o ponto fraco de uma linha de pensamento foi atingido e que nesse ponto o oponente está mais vulnerável para ser atacado. 

Como acredito que nem o Presidente nem os seus algozes tiveram algum tempo para Schopenhauer, o jogo na CPI segue empatado, com os dois lados fazendo raiva, um no outro, mutuamente e cada um buscando o que é melhor para si mesmo e esquecendo-se dos aliados. 

O Presidente, numa luta para vencer a oposição, faz sempre o que é melhor para ele, ainda que isso dificulte sobremaneira a vida de seus aliados. Na oposição ao Presidente, cada grupo faz o que acha ser melhor para ele mesmo, também sem alinhamento com os que estão do mesmo lado. 

Ora, se nenhum dos lados tem tempo para Schopenhauer,  que dedique, então, algum para Nash, em “Uma Mente Brilhante”. Nash contesta Adam Smith, para mostrar que o melhor resultado numa disputa será alcançado quando, num grupo, cada um faça o que é melhor para si e para o grupo. É o “Equilíbrio de Nash”. 

Sim, porque o objeto da cobiça não é a vitória de um grupo sobre o outro, mas a vitória de um deles na conquista do eleitor, numa disputa que se dará em dois turnos e numa situação que comprova que a cada eleição o número de eleitores descrentes cresce, exatamente, pela confusão na comunicação e ódio no ambiente da competição. Exatamente, como acontece num dos episódios do filme, quando todos os rapazes queriam conquistar uma loira que estava em companhia de algumas amigas, e Nash complementando ou contrariando Adam Smith, avisou: “o melhor resultado numa disputa é obtido, quando todos num grupo fazem o que é melhor para si e para o grupo”. Teoria dos Jogos. 

Quem sabe na disputa pela presidência da república não surge alguém com uma mente brilhante e tira do jogo aqueles que só querem o melhor para si mesmos? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Terceira via. Tem isso mesmo?

João Amoêdo desistiu de ser candidato a presidente. Será mesmo? Eu tenho dúvida, porque sem a candidatura dele o partido Novo terá dificuldade para eleger deputados federais em número suficiente à garantia de sobrevivência do projeto do partido de ser relevante na Câmara dos Deputados. 

A campanha está desenhada com dois candidatos em pólos opostos, Jair Bolsonaro e Lula. Os institutos de pesquisa e imprensa apontam  uma terceira candidatura para alívio dos eleitores de nenhum dos dois. Falam em polarização como se ela fosse uma novidade e numa terceira via como se houvesse provas de possibilidade. É nesse contexto que enquadraram a candidatura do João Amoêdo. 

A polarização sempre esteve nas eleições para a presidência e a valer os percentuais apresentados para 2022, quem surgir no cenário só será viável se, e somente se, tirar eleitores de um dos dois em número suficiente para substituir integralmente um dos pólos. Tirar dos dois, em conjunto, é improvável, porque os perfis são radicalmente diferentes. Os eleitores de um odeiam os eleitores do outro a ponto de se separarem de velhos amigos, de gente da família e até de evitarem a eternidade no mesmo lugar. 

A polarização é uma velha companheira das eleições no Brasil, principalmente das presidenciais. Mas, fala-se nela como se fosse uma novidade! Da mais antiga à mais recente, todas foram resultado de polarização raivosa. Para não tornar o artigo maçante, fiz o corte em 1989, primeira eleição direta após o arranca-rabo entre Jânio Quadros e Henrique Teixeira Lott, tendo sido, Adhemar de Barros, a busca de uma terceira via. 

Em 1989, quem diria, que Fernando Collor chegaria à presidência? Por que chegou? Por ter polarizado a campanha com Lula e pelo fato de Brizola ter se inserido para ser uma terceira opção. Dividiu o primeiro turno com Lula, mas não com peso suficiente para evitá-lo no segundo turno. 

Depois tivemos 1994 e nova polarização, naquele ano entre Fernando Henrique e Lula, uma campanha radicalizada e acirrada a ponto de fazer com que Lula e o PT votassem contra o Plano Real, por ser a bandeira do adversário. Naquela eleição Lula só venceu no Rio Grande do Sul. Em 1998 Ciro Gomes tentou polarizar com FHC para tomar o lugar do Lula, Eita! Nem isso é novidade! FHC venceu no primeiro turno, ainda com a bandeira do Real. 

Em 2002, Lula finalmente chegou lá, numa campanha polarizada entre ele e José Serra e não entre ele e FHC. O presidente Fernando Henrique ajudou Lula de uma maneira tal que José Serra, candidato do seu partido, só venceu em Alagoas. Garotinho tentou tirar Lula do páreo, mas não conseguiu substituí-lo integralmente. Só evitou que a eleição do Lula ocorresse no primeiro turno. 

Tivemos nova polarização em 2006, entre Lula e Alckmin, porque José Serra, do seu partido,  resolveu fazer corpo mole, para não disputar com Lula e evitar que Alckmin, sendo presidente, disputasse a reeleição em 2010. José Serra, abandonado pelo FHC em 2002, jogou Alckmin às feras em 2006. 

Chegamos a 2010, quando José Serra apresentou-se para derrotar a guerrilheira Dilma Rousseff. Pule de dez! Marina Silva quis ser a terceira via, para tirar Dilma do jogo, mas mordeu os votos do José Serra, que quase perdeu no primeiro turno, com o corpo mole do Aécio Neves, companheiro de partido, ferido e humilhado por Serra na pré-campanha. 

Em 2014, Eduardo Campos quis ser a terceira via para substituir Dilma Rousseff. Faleceu. Marina Silva entrou no jogo e escolados, os dois outros candidatos, Dilma e Aécio, resolveram empurrá-la para fora do campo. Marina não entendeu o processo, defendeu-se como pôde dos dois e não de um só e ficou barrada no primeiro turno. No segundo, tentou resolver indo para o pólo do Aécio. Era tarde.

Em 2018, foi Bolsonaro num pólo e o PT no outro. Quem tentou se enfiar no meio, ficou pelo caminho. Só teria chance quem substituísse um dos dois. 

Está claro, portanto, que não há essa história de terceira via, em campanhas polarizadas entre dois candidatos, como está mais do que evidente, que as campanhas tendem sempre à polarização. O terceiro candidato, para se viabilizar e vencer precisa substituir um dos outros na preferência do eleitor. É desse modo que vejo a candidatura do João Amoêdo. 

Para ser viável, Amoêdo precisa ter os votos arrependidos de Bolsonaro e, para vencer, substituir o capitão na preferência de grande parte dos demais. Caso contrário, Amoêdo só reduzirá as possibilidades de Jair Bolsonaro ser reeleito. No hemisfério do Lula ocorrerá o mesmo se Ciro roubar a cena. Portanto, a polarização seguirá e haverá equilíbrio entre as forças. 

Jefferson Viana publicou aqui um artigo interessante: “Vida e Morte da Terceira Via”. Em um trecho, ele nos presenteou com uma frase do liberal Roberto Campo, que me dá uma mãozinha aqui: “A chamada terceira via é incompetência para praticar o capitalismo e covardia para aplicar o socialismo”. Jefferson complementa: “Na política posicionamento se faz necessário, pois na tentativa de agradar a todos não agrada ninguém…”.

Ora, se Lula e Bolsonaro têm o tamanho eleitoral que lhes determinam as pesquisas, a vida dos demais candidatos será bem difícil. Todos funcionarão na linha de levar a disputa para uma posição mais equilibrada entre os dois principais ou para desequilibrar a balança na direção de um deles. Poderá ser diferente? Ah! Sim. Poderá, porque o eleitor é o “senhor da razão” e só decide no momento mais próximo do dia da eleição. E se decidir diferente, será uma grande novidade. 

Candidato de centro numa eleição polarizada? Não há precedentes. Quem insistir nesse caminho terá o destino da Igreja de Laodicéia: “Tomara que foras fria ou quente! Porque és morna, vomitar-te-ei da minha boca” (Apocalipse 3:16). Se Ciro ou Amoêdo quiserem ter chances de vitória terão que substituir Lula e Bolsonaro na disputa. E isso, até aqui, vale para qualquer outro candidato a presidente. 

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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31 de março, uma mentira

O dia 31 de março de 1964, voltou a ser notícia, embalado pela decisão do Presidente da República de trocar o Ministro da Defesa, dois dias antes de completados os 57 anos de distância no tempo. Houve versão para todos os gostos. 

A mentira é um instrumento poderoso da ação política, porque os instrumentadores são bons na arte e o povo, muitas vezes, pessimamente informado e outras vezes, por conveniência, é enganado. 

O objetivo da ação política é sempre o poder e este é o caminho para  se ter o Estado sob domínio para satisfazer várias intenções, boas e ruins. Então, todo o esforço que se faz para chegar ao poder e nele se manter só tem uma razão: o domínio do Estado, algo clamoroso. 

Uma mentira aconteceu no Brasil em 1964, por atitude direta dos instrumentadores e engano consciente e conveniente do povo brasileiro. Alguns chamam o que ocorreu de Revolução e outros de Golpe. Por isso, alguns comemoram o 31 de março, que aconteceu em abril, e outros condenam as comemorações . 

Para deixar mais claro, trago duas peças históricas. A mensagem do antropólogo político Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil do Presidente João Goulart,  ao Senado Federal e a resposta do Presidente do Senado Federal, Senador paulista, Auro de Moura Andrade. Tudo isso ocorrido na sessão plenária do Congresso Nacional, no dia 2 de abril, e não, no dia 31 de março:

  1. Darcy Ribeiro (mensagem lida pelo Primeiro Secretário do Senado Federal, Senador pelo Acre, Adalberto Sena: “O Senhor Presidente da República incumbiu-me de comunicar a Vossa Excelência, Senhor Presidente do Senado Federal, que, em virtude dos acontecimentos nacionais das últimas horas (…), investido na Chefia do Poder Executivo, decidiu viajar para o Rio Grande do Sul, onde se encontra à frente das tropas militares legalistas, e no pleno exercício dos poderes constitucionais, com o seu ministério, atenciosamente, Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil”. 
  2. Resposta do Senador Auro de Moura Andrade, Presidente do Senado: “O Senhor Presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a Nação acéfala, numa hora gravíssima da vida brasileira, em que é mister que o Chefe de Estado permaneça à frente do seu governo. Abandonou o governo e essa comunicação faço ao Congresso Nacional. Essa acefalia configura a necessidade do Congresso Nacional como poder civil, imediatamente, tomar a atitude que lhe cabe nos termos da Constituição, para o fim de restaurar nessa pátria conturbada, a autoridade do governo, e a existência de governo. Não podemos permitir que o Brasil fique sem governo e abandonado. Há sob a nossa responsabilidade a população do Brasil, o povo, a ordem e, assim sendo, declaro vaga a presidência da república e nos termos do artigo 79 da Constituição, declaro presidente da república, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Está encerrada a sessão”. 

A Constituição Brasileira não dava ao Presidente do Senado a competência para considerar vaga a Presidência da República e o senhor Ranieri Mazzilli, muitas vezes empossado presidente por declaração, jamais exerceu, de fato, o cargo. 

O historiador Lira Neto, no livro “Castello, a marcha para a ditadura”, comentando abril de 1964, lembrou o conceito do senhor Ranieri Mazzilli: “Em menos de três anos, era a sexta vez que Mazzilli assumia o poder interino. Homem de saúde frágil, vítima de anorexia, sofrendo de problemas renais e das sequelas de uma bronquite mal curada, passou a ser apelidado pelas más línguas de Modess – a marca do famoso absorvente feminino. Descartável, estava sempre na hora certa – e no lugar certo – para evitar derramamento de sangue”. 

Na sequência. Lira Neto conta que, mesmo sendo o deputado Ranieri Mazzilli, o Presidente da República por declaração do Presidente do Congresso Nacional, os governadores, três dias depois do fato, reconheceram o Ministro da Guerra, General Arthur da Costa e Silva, como a autoridade maior do Poder Executivo e a ele foram pedir orientação e sugerir medidas. Uma delas, a escolha do general Humberto de Alencar Castello Branco para ocupar a Presidência. Vale ler na obra do Lira Neto, o que foi aquela reunião. 

Costa e Silva não gostou, mas só conseguiu dar voz ao desgosto no dia 15 de março de 1967, empossado Presidente da República, tendo como Vice-Presidente, outra mentira conveniente: o mineiro Pedro Aleixo. 

E, para caminhar o encerramento de nossa conversa de hoje, que já vai mais longe do que de costume, cabe lembrar que a lei que instituiu o impeachment de um presidente e todos os seus passos já existia no Brasil em 1964. Ele surgiu por aqui, 14 anos antes (Lei 1.079 de 10 de abril de 1950). 

Enfim, para que diminuam as cômodas mentiras na luta pelo Estado, seria bom, muito bom, que o Brasil o tornasse menos apetitoso. Essa é a proposta dos liberais. 

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“Acabou a desculpa”

“Acabou a desculpa”. A frase é do líder do Partido Novo na Câmara dos Deputados, Vinicius Poit, registrada no Boletim da Liberdade, edição de terça-feira, que também tem a declaração de outro deputado federal do mesmo partido e igualmente, de São Paulo, Alexis Fonteyne. 

Os dois desejam que, retirado de cena o deputado federal Rodrigo Maia,  o Congresso Nacional vote as reformas e destrave as privatizações. A expectativa deles é que isso ocorra com velocidade, uma vez que o Presidente da República fez “barba, cabelo e bigode”, na eleição para as Mesas do Congresso Nacional. 

Nas palavras do deputado Vinicius há um certo tom impositivo à dúvida: “Até aqui, o governo reclamou das pautas empacadas pelo Congresso. Esperamos que os presidentes eleitos pautem as matérias importantes, porque são necessárias e não por troca de cargos ou emendas”. Já Alexis dá às palavras mais certeza e apelo: “Que venham as reformas tributária, administrativa, a PEC dos Fundos, a PEC Emergencial, a autonomia do Banco Central e as privatizações”. 

Será que agora vai?  É mesmo possível que as expectativas se cumpram só pelo fato de o Presidente da República ter vencido a eleição para as presidências das Mesas do Congresso Nacional? 

Para responder à desconfiança, na sexta-feira, o Ministro da Economia, Paulo Guedes e os novos presidentes das Mesas do Congresso Nacional convocaram a imprensa e garantiram que desta vez a pauta será vencida. 

Contudo, simplesmente vencê-la, pode representar coisa alguma, porque para concretizar o que ela propõe de diferente e moderno, será necessário ter os votos favoráveis nos plenários da Câmara e do Senado, até para derrubar, se for o caso,  possíveis vetos do Presidente da República. A gente sabe que ele suportaria bem uma reforma tributária, mas tem reagido com veemência à administrativa e às privatizações. Vejam os casos CEAGESP e Banco do Brasil, já comentados por mim aqui neste espaço. 

Churchill disse certa vez: “desprezo regozijos prematuros e não me entrego a previsões otimistas. Não devemos, repito, relaxar nem sequer por um instante”. O alerta está no Discurso sobre a situação da guerra, proferido no dia 30 de setembro de 1941. 

As palavras de Churchill se encaixam bem ao momento brasileiro, uma vez que o debate e votação da pauta será uma guerra. A esquerda não deixará isso correr sem resistência, e ela está bem representada no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e na imprensa. O movimento pelo impeachment recebeu novo argumento. Agora, é tudo ou nada, porque a esquerda sabe que vencida a pauta, estará perdida a eleição de 2022. Sendo reeleito Jair Bolsonaro ou outro qualquer, porque a esquerda ficaria fora do jogo. 

Por isso, é hora dos liberais deixarem de lado a agenda do impeachment e reforçarem as fileiras de defesa das reformas e privatizações. Querer o impeachment nesse momento é fazer o jogo da esquerda, socialistas, comunistas e outros tais. E, se o presidente Jair Bolsonaro não for mais nossa opção para 2022, busquemos uma, na ocasião acertada. É o que eu tenho defendido. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Impeachment novamente?

Daqui a pouco não teremos mais interesse algum na escolha de presidentes. Pra quê, né? Já é uma lenha escolher um presidente com todas as limitações que a legislação coloca para o debate e conhecimento da vida dos candidatos. E, depois que escolhemos, vem um bando de gente importante dizer que erramos e que por isso precisa ter impeachment. 

Toda vez que se fala em impeachment, como se faz agora, eu me lembro de duas sessões, pra mim históricas, na Câmara dos Deputados. Elas se contradizem. A sessão que derrubou a Emenda Dante de Oliveira, na tarde/noite do dia 25 de abril de 1984 e a que afastou Fernando Collor de Mello, no dia 29 de setembro de 1992. Eu estive lá nas galerias nos dois momentos. 

O povo brasileiro, cansado da tutela dos militares,  queria votar para presidente e se mobilizou de uma maneira que nunca mais se viu e nunca se tinha visto antes. Para materializar o desejo do povo, o deputado Ulysses Guimarães encontrou na pauta da Câmara dos Deputados uma proposta de emenda à Constituição, de um deputado em primeiro mandato, Dante de Oliveira. A proposta entrou na pauta e mesmo com 298 votos a favor, foi derrotada, por não ter alcançado o quórum mínimo de 320 votos. Os generais de plantão no governo dobraram o Congresso. E, diga-se a bem da verdade que alguns dos 298 votos a favor só aconteceram com a certeza de que a Emenda não passaria. 

Tanto na votação da Emenda Dante de Oliveira – uma sessão que acabou num clima de baixo astral –  como na decisão de afastamento do primeiro presidente eleito diretamente pelo povo, Fernando Collor de Mello, encerrada sob aplausos e palavras de ordem com muita euforia, o Plenário da Câmara dos Deputados e as galerias estavam apinhadas de gente. Muitos dos que choraram por não conseguir aprovar o direito ao voto, sentiram alegria pela oportunidade de cassar o primeiro presidente eleito. 

Depois de recuperado o direito de escolher, por via direta o Presidente da República, uma conquista na Constituinte de 88, o povo brasileiro elegeu cinco presidentes, três deles reeleitos. Dois já foram mandados embora antes do tempo, por impeachment. Ou seja, escolheram-se cinco, sendo que dois o Congresso mandou embora e está com uma vontade danada de mandar o terceiro. “Si hay gobierno, soy contra”, se há presidente, que o afastem. 

Brasil adentro, a moda pegou. São muitos os casos de prefeitos e governadores afastados e depois, definitivamente, cassados pelas assembleias e câmaras municipais. Os parlamentos brasileiros são “Dionísios” na vida de Dâmocles, na relação com o poder executivo. 

A ativista política e jornalista Miriam Leitão, no artigo “Impeachment pelo passado e futuro”, diz que a banalização não é um argumento a se considerar para o caso de impeachment do Presidente Jair Bolsonaro, porque, segundo ela, “a lei é para ser usada”. Acontece, que a lei é de 1950. E quantos casos tivemos de impeachment de presidentes da república no período entre a presidência de Eurico Gaspar Dutra, que deixou o governo em 1951 e Sarney?

Miriam Leitão fala em crime de responsabilidade, porque essa é uma exigência da lei. Mas, a quem compete decidir que houve crime? Certamente, a ela e a todos os que querem o impeachment. Poder-se-ia alegar que sem o uso do impeachment, um presidente meteu uma bala no próprio peito, outro renunciou e outro foi dado como foragido. Mas, isso seria aconselhar o presidente a renunciar ou a fugir, já que outros jornalistas, um da Folha de São Paulo e um do Estadão, tomaram a dianteira no desejo de ver o presidente morto. 

Na verdade, a arte de administrar o Brasil é uma das mais difíceis, porque a pressão dos contrariados está pautada na conclusão de culpa dos presidentes por todos os problemas que povo tem. Afinal de contas, o Estado, para muitos, é o senhor da vida e da morte dos súditos e o Presidente o representa. É assim desde sempre, do Marechal Deodoro da Fonseca ao Jair Bolsonaro. Foi assim, no tempo de D. João e de qualquer um dos D. Pedro. 

Gente, definitivamente, não temos necessidade de tutores. Ninguém precisa nos dizer que tipo de presidente nos é conveniente. Nós sabemos o que queremos e como queremos. E se erramos na escolha, em quatro anos saberemos o que fazer com ela. 

Sabem que nunca acreditou muito nisso? Os ditadores. Por isso, eles nos impuseram presidentes que não queríamos e até governadores e prefeitos que a gente sequer conhecia. Já vivemos tempo de dificuldade para dar posse a presidentes e vices eleitos, porque o Estado, por seus agentes, acreditava que as escolhas que fizemos não eram boas. 

Os escaninhos do Congresso Nacional estão lotados de propostas que aguardam veredito. Lá estão, por exemplo, a PEC do Pacto Federativo, a PEC que regulamenta o teto de gastos, a PEC da Reforma Administrativa, a PEC da Reforma Tributária e um número grande de outras propostas que, depois de deliberadas, seriam capazes de melhorar a vida do povo brasileiro. Coisa bem mais importante para fazer do que o debate cansativo de propostas de impeachment de mais um presidente. A ansiedade por impeachment me faz acreditar que a frustração na votação da Emenda Dante de Oliveira e a alegria na promulgação da Constituição em 88, seriam sentimentos falsos. 

Erraram no impeachment do Collor, como erraram no da Dilma e como pretendem errar agora no caso do Jair Bolsonaro. Todos casos de decisão política de desagravo para quem não queriam esses presidentes. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Guedes, o “João Bobo”

Guedes versus Bolsonaro é a luta do século. Na plateia, estão os apostadores da esquerda e os liberais. Está sendo uma luta e tanto! No mercado infantil há “João-Bobo” para todos os gostos. A brincadeira consiste em bater no boneco e ele, por mais que seja inclinado ou leve pancadas, voltará a ficar de pé. 

Na semana passada, Guedes tomou outra porretada do presidente, mas continua de pé. Jair Bolsonaro, de público, como gosta de fazer, repreendeu o presidente do Banco do Brasil, porque o cara resolveu presidir o banco. Afinal, entende Bolsonaro que para presidir qualquer coisa no Brasil, só há uma pessoa: ele. 

O que fez o presidente do Banco do Brasil de tamanha gravidade? Resolveu reduzir o quadro de funcionários e agências num mundo de alta tecnologia como, aliás, a empresa fez várias vezes e numa delas, eu aproveitei para sair. Definitivamente, eu não suporto o Estado Brasileiro. Isso, contudo, é uma outra questão. 

Jair Bolsonaro sentiu o cheiro de uma privatização e é alérgico. O mesmo aconteceu no caso CEAGESP, que já comentei aqui. E, acontecerá sempre nas medidas que possam levar à privatização das empresas e corte dos tentáculos do Estado Brasileiro. Empresas que a esquerda diz pertencerem ao povo, para continuarem a usufruir delas sem o povo. Mesmo conceito usado por Jair Bolsonaro. 

A decisão do Presidente da República agradou, imediatamente, ao desejo dos funcionários do Banco (tomara que nem de todos) e os sindicatos, territórios do PT e do PSOL. Agora, se sabe que são, também, dos sem partido, como acontece com o Presidente da República. 

Jair Bolsonaro sofre de “saudades”. Ele incorpora, sempre que pode, o Brasil grandioso dos generais, que nem mais generais são. As decisões do Presidente da República são um aviso para os liberais: “Encontrem outro presidente, se vocês quiserem mesmo um país para o povo e não para as corporações”. Está, portanto, lançado o desafio. 

Já sem muitos argumentos para defender o “mito dos liberais”, seus defensores andam a se socorrer do passado. Tenho ouvido demais a frase: “Você preferia ter Fernando Haddad ou Lula?”. Respondo de pronto: “De jeito nenhum”, mas quem anda pra trás é caranguejo, irmão,  e eu não sou um deles. Posso avançar para além de Jair Bolsonaro. Só preciso de um nome. 

Será, porventura, um candidato dessa tal coalizão que andam a falar por aí? Até pode ser, mas que não seja um dos nomes que na coalizão já estão. Maia, Fernando Henrique Cardoso, Serra, Luciano Huck e outros tais são iguaizinhos a Bolsonaro quando o tema é a sobrevivência das corporações e do tamanho do Estado. Quero alguém que compreenda que o Brasil precisa sair das amarras do Estado ineficiente, arrogante e caro, para seguir em frente. 

Eu ainda não sei se fiz o certo, mas filiei-me ao Partido Novo, porque me aproximei dele na campanha do Fred Luz para a Prefeitura do Rio e senti o perfume dos liberais. Se eu estiver errado, o meu coração já está acostumado aos erros de avaliação. Paciência! O PFL, aquele partido que morreu em nome do projeto político dos Maias e Kassabs, tinha me parecido um bom caminho. Deixou de ser e mudou de nome e para enganar os menos avisados. Agora são Democratas e Partido Social Democrático (PSD). 

É hora de os liberais buscarem  nomes e isso é urgente. Com a licença de vocês, dou um corte, conveniente para as minhas alegações, num parágrafo longo do livro  “A rebelião das massas, de Ortega e Gasset:

O característico do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem a audácia de afirmar o direito à vulgaridade e o impõe em toda parte. A massa sufoca tudo que é diferente, magnânimo, individual, qualificado e seleto. Quem não for como todo o mundo, quem não pensar como todo o mundo, corre o risco de ser eliminado. E está claro que esse “todo o mundo” não é “todo o mundo”. “Todo o mundo” era, normalmente, uma unidade complexa de massa e minorias discrepantes, especiais. Agora, “todo o mundo” é tão somente a massa. 

Para situar, o livro é de 1930. E para que a gente não se deprima, estamos numa democracia onde o voto pode valer mais se os nomes certos chegarem à disputa. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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“Um ninho de ratos”

A minha ignorância ainda me causará problemas sérios. Mas, vou peleando mesmo com ela. Vejam vocês agora o caso da Ceagesp. Ela é uma empresa gigante. É o maior conjunto de armazéns da América Latina e eu não sabia disso. Santo Deus! Quanta informação importante eu perdi até o dia em que parei para ouvir os discursos do capitão Jair Bolsonaro, Presidente da República e do Coronel PM, Mello Araújo, nomeado pelo capitão, presidente da empresa. Eles falaram bonito que só, na sede da Ceagesp. 

Eu tinha a obrigação de conhecer a empresa, afinal ela está arrolada como patrimônio do povo brasileiro e eu sou parte dele. Ela é, segundo o Coronel PM, “uma potência do agronegócio”.  “O maior entreposto da América Latina!”. E eu não me sentia dono de tudo isso. 

A Ceagesp atende a 1.500 municípios brasileiros e a 22 países diferentes. Por ela, transitam, por dia, 50 mil pessoas, que fazem do negócio uma empreitada de 11 bilhões de reais por ano. Quatro mil toneladas de alimentos passam por lá antes de chegarem à mesa das brasileiras e brasileiros. De chegarem à minha mesa! Olhem que coisa! 

O lugar onde está a Ceagesp é tão importante que tem uma torre de identificação. A torre precisava de reformas e elas aconteceram finalmente. A placa de bronze na entrada da torre teria o nome do capitão Bolsonaro gravado, mas a cruel lei brasileira não permite homenagem à gente viva. O presidente da Ceagesp, então, optou por uma gratidão sútil: mandou cunhar na placa de bronze, a imagem da cicatriz que o presidente carrega no abdômen, consequência da facada que ele recebeu na campanha. 

A Ceagesp que é minha e sua também, faz caridade. Isso eu não sabia e acredito que você de igual modo.  Por decisão do coronel nomeado pelo capitão, a empresa não desperdiça mais alimentos e com a sobra deles, em apenas 50 dias, 51 toneladas foram entregues, de graça, aos pobres e foi desenvolvida uma vitamina que o Presidente da República experimentou no palanque, como prêmio pelo discurso duro e sagaz. O capitão viril quis saber sobre a presença de “aditivos” na composição da vitamina. Foi engraçado! O capitão tem bom humor. 

Ao saber de tudo isso, fiquei feliz com o discurso do Presidente da República, na parte em que ele afirmou: “E aqui, quando se fala em privatização…quero deixar bem claro…enquanto eu for presidente da república, essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso aqui pra privatizar pros amigos. Não tem espaço pra isso aqui. Deixo bem claro”. 

Mas, calma lá. Quando o presidente fala que a Ceagesp é a “casa de vocês”, eu estou incluído? Sacudi a cabeça para expulsar o mal pensamento e continuei a ouvir o Presidente. Ele disse mais. “Aqui é um ninho de ratos. Aqui extorquem e achacam os mais humildes. Aqui existem máfias. A máfia de roubo de caixotes, a máfia dos boxes, a máfia da limpeza e a máfia do lixo”. E gritou bem alto: “É inadmissível um entreposto como esse estar nas mãos de político que se usa disso…” Aplaudi de pé! 

Antes de ouvir o presidente, ouvi o Coronel PM. Depois de me emocionar com o capitão, voltei ao Coronel. Fiquei num ir e vir extasiado! Ele, coronel,  disse:   “A Ceageap era uma cidade judiada ao longo dos anos. A corrupção imperava, o errado era o certo e a honestidade foi esquecida”. 

Onde eu estava com a cabeça, enquanto destruíram a minha empresa e acumularam, em meu nome, 60 milhões de reais em dívida crescente? Aprendi a lição e agora estou tranquilo, porque o capitão e o coronel estão de olho nas máfias e nos políticos que tomaram a Ceagesp de assalto. 

Peraí! E quando o capitão não for mais o presidente e o coronel, leal a ele, não estiver mais lá. Quem tomará conta daquilo? Eu não terei tempo pra isso. Posso até ajudar, quando for votar para presidente, mas será que ele fará o que eu quero? Não é essa a rotina. 

Eu paro e penso. Paro, penso e faço um apelo ao meu presidente capitão: Não me saia daí sem vender essa minha empresa. Pelo menos essa. Se tiver tempo, venda outras, mas, caso não, venda pelo menos essa. 

Por favor, presidente, peça – peça não – dê uma ordem clara ao Ministro Guedes, esse cara que não vende uma agulha do governo, para vender a Ceagesp. Ele não precisa me mandar a minha parte. O senhor pode usá-la como quiser, só não a utilize na compra de outra empresa, porque são poucos os coronéis com disposição para colocar ordem nas empresas que o governo domina e diz que são minhas. 

Bem gente, se queremos que o processo de privatização saia do papel, é hora de colocar algumas pessoas numa sala de aula e num quadro negro expor, um por um, todos os motivos que justificam as vendas. Um deles está no final do discurso que o presidente capitão fez na Ceagesp. Ele disse, num tom de campanha: “O Brasil é nosso! A Ceagesp é de vocês”. Ou seja: os donos do Brasil somos todos nós brasileiras e brasileiros, mas a Ceagesp nem de todos nós é. Se for necessário ser mais claro, pedirei ao presidente que desenhe. 

É hora de partir pra dentro das privatizações antes que os capitães e coronéis bonzinhos saiam do poder. Concordam? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Bolsonaro e o “tecnopopulismo” de Gabeira

Fernando Gabeira publicou na última sexta-feira(7), no Estadão, o artigo , “Os caminhos do tecnopopulismo”. No centro, está Jair Bolsonaro, mas para encaminhar o assunto principal: o jogo da imprensa tradicional contra as redes digitais. 

Desde a facada no abdômen do Jair Bolsonaro durante a campanha para presidente, a imprensa brasileira não trata de outra pessoa com o relevo que dá a ele. Nem a potência destruidora da pandemia e as fake-news excluíram  o presidente do noticiário principal. Pelo contrário, ele está misturado nisso tudo. 

No caso da pandemia por conta própria e no das fake-news, por estratégia da imprensa, do judiciário e das lideranças políticas feridas pelo presidente. Toda essa gente quer convencer o povo que a eleição do Jair Bolsonaro foi uma fraude tornada possível pela liberdade que se tem para usar as redes digitais. 

Certamente, na história política do Brasil, ninguém ocupou o espaço que Jair Bolsonaro tem na imprensa. Do soar da alvorada às madrugadas do dia seguinte, todos os dias e todas as noites, Jair Bolsonaro é assunto negativo de forte impacto. 

Pontualmente, alguém dá créditos bons ao presidente. Mas, no geral, sentam-lhe o sarrafo, com vontade, sem dó, sem piedade e até com outros propósitos que não somente arranhar a imagem dele a ponto de racha. É a luta para inviabilizar o segundo mandato. 

É o que fez Fernando Gabeira no artigo de sexta-feira, no Estadão.  Ele afirma: “Ainda estamos por construir uma teoria sobre o declínio do populismo, porque, em termos históricos, ele acabou de se instalar em bases novas, num contexto transformado pela revolução digital. A pandemia deu-nos uma pista”.  

Traduz-se que o populismo, troço ruim na consciência de muita gente, ressurgiu por causa das redes digitais usadas intensamente por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas campanhas e no governo.  Sobre o populismo, temos “Política Urbana no Brasil”, livro de Michael Conniff, publicado com o patrocínio do prefeito César Maia, de quem recebi a obra em 2006. Vale a pena ler. É o jeito bom e inteligente de entender o fenômeno e compreender que uma coisa que Jair Bolsonaro não é, é populista. Eu não consigo ainda dizer o que ele é, mas, populista, certamente, não. 

Depois de navegar sobre os defeitos do presidente Jair Bolsonaro e deixar Donald Trump pelo caminho, Fernando Gabeira retoma o assunto principal: redes digitais versus imprensa profissional. 

Escreveu ele: “Outro fator que tem peso é a relação dos tecnopopulistas (usuários, portanto, das mídias digitais), com a imprensa profissional. Eles a incluem no sistema decadente que pretendem destruir. Consideram-na um lixo desprezível e articulam sua comunicação por meio das redes sociais e pequenos veículos, que possam comprar com sua verba publicitária”. Tem-se, aqui, o descrédito da imprensa profissional como resultado das manobras dos modernos populistas. Será mesmo? 

Chamei-me a comentar o artigo do Gabeira não em razão do presidente Bolsonaro, sujeito bom de voto, ruim de política e minha inspiração quando construí Kamikaze, publicado no Boletim da Liberdade em 18 de maio e replicado no meu blog. Se há alguém que joga com mais competência contra o presidente, esse alguém é ele mesmo. 

Entrei no assunto do Fernando Gabeira pela questão estratégica. 

Há, sim, na imprensa tradicional com a ajuda muito evidente da Justiça, o desejo de tirar a credibilidade das mídias digitais e o papel delas na comunicação política. A imprensa, representada por seus profissionais, está incomodada com a queda de importância e atribui a isso a existência das mídias digitais. Fernando Gabeira é mais um. O desejo dele é proteger a imprensa tradicional e o monopólio que ela tinha das informações. 

E, sabe-se, a imprensa não fez por merecer o crédito que já teve. 

Antes do Jair Bolsonaro a população e seus representantes já rejeitavam a imprensa tradicional, que Gabeira chama de “profissional”. Bolsonaro e Donald Trump, citados por Gabeira, ajudaram zero nisso. Jair Bolsonaro só se aproveitou de um processo iniciado em razão do trabalho da própria imprensa. Fernando Henrique, Lula, Brizola, Juscelino, e outros, nunca suportaram a imprensa, só não conseguiam fazer política sem ela. As redes digitais agora permitem. E quando se inclui Donald Trump na história, bom exercício é saber porque Hillary Clinton desistiu da imprensa e passou a se comunicar com o público exclusivamente via Twitter, mesmo na campanha.  O desprezo à imprensa é quase unanimidade na política e na população. 

Sem as mídias digitais, a imprensa fazia miséria com a reputação alheia é isso atingidos não tinham pra onde correr. Alguns até buscavam reparação via direito de resposta, instrumento protegido pela própria Constituição, mas quem já precisou usar esse caminho sabe que ele é quase inútil. 

Eu não gostaria de perder a liberdade de expressão que as redes me conferem. E você?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Kamikaze

Oportunidades e ameaças são conceitos da estratégia e é prova de bom senso aproveitar as oportunidades e descartar as ameaças, seja anulando-as, seja transformando-as em oportunidades. 

Contudo, o presidente Jair Bolsonaro, assunto único do mundo político do Brasil desde a facada que ele levou em Minas Gerais, faz diferente. Ao que parece,  o presidente firmou uma aliança com as ameaças, num processo de estratégia negativa. Ou, se preferirmos o que diz o consultor de estratégias, Michael Raynor, temos aí um paradoxo da estratégia, situação que se verifica quando a principal causa do fracasso estratégico não é a estratégia ruim, mas uma boa estratégia que simplesmente provoca um erro. O presidente acredita piamente que a melhor estratégia de sobrevivência seja o conflito. Não é. 

O clímax dessa escolha está agora na relação dele com o Covid-19. A oportunidade de explorar a imagem de um governo que age para ajudar a população a suportar o mal – atitude que o governo federal, realmente, tem adotado – o presidente prefere uma briga inútil contra os fatos. No caso Covid, o presidente se porta como um soldado que caminha na direção oposta à do resto do batalhão. 

A opção pelas ameaças jogou a imagem do presidente numa areia movediça, que a faz afundar tanto mais o presidente se movimente.

Vejam vocês se não tenho razão. 

Jair Bolsonaro foi eleito presidente a bordo de uma campanha nunca imaginada competitiva e levou com ele, para Brasília, um bom número de deputados federais e senadores aliados.

Esse grupo de parlamentares definiu a Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, neste caso, disputada entre uma velha e experiente raposa, Renan Calheiros, e um senador desconhecido fora do Pará e de sobrenome complicado : Alcolumbre Tobelem. 

Com a ajuda dos senadores aliados ao Presidente da República, Alcolumbre derrotou Calheiros com requintes de humilhação. Se vencesse a velha raposa ou, se ela, pelo menos, saísse fortalecida, teríamos uma pedra no sapato do presidente da república, uma ameaça forte ao projeto dele. 

O resultado da disputa no Congresso Nacional somou-se à garantia que o presidente obteve dos eleitores para condução do governo do jeito que bem entendesse. 

Isso deu ao presidente e aos auxiliares que ele escolheu sem ouvir partidos ou aliados, situação totalmente nova na República, segurança para  aprovação das reformas essenciais à criação de um Brasil novo, onde o Estado deixe de ser carrasco dos contribuintes e distribuidor de privilégios entre apadrinhados e bajuladores do poder. 

Em paralelo, o apoio popular ao presidente  crescia impulsionado por imagens inéditas e fortes. A primeira ocasionada pela decisão do presidente de entregar à esposa o privilégio do mais importante discurso da posse, aquele que acontece no Parlatório do Palácio e é assistida no mundo todo. A decisão produziu uma cena maravilhosa nunca ocorrida na história das nações. 

A senhora Michelle Bolsonaro, por sua vez,  deu o recado de maneira magistral. O presidente e a esposa criaram a imagem de um governo reformador e inclusivo. Esta atitude em qualquer lugar do mundo valeria bastante e, por aqui, vale bem mais, porque somos um país que ainda discrimina as mulheres na política e cuida pouco das pessoas com deficiência. 

A liberdade para a escolha dos ministros e de uma ministra, sem ouvir o Congresso Nacional ou os partidos, acrescentou mais valor à imagem do presidente e na esteira correram nomes de bom peso, como Paulo Guedes, Sérgio Moro, Tarcísio, Teresa e outros. O Banco Central, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Caixa Econômica e todas as empresas do governo passaram ao comando de gente com qualidade pessoal e competência reconhecidas. Interrompeu-se o canal de comunicação do Estado com o financiamento de interesses pessoais e partidários. E a popularidade do presidente chegava à cabeceira da pista para levantar voo.

Talento ou sorte? 

Na arte de administrar as oportunidades e ameaças estamos descobrindo que o presidente tem mais sorte que talento. 

Neste ponto, dou um salto até a Segunda Guerra Mundial, para encontrar por lá os “ventos divinos”, os kamikazes. 
Derrotados várias vezes na tentativa de manter os americanos longe das ilhas filipinas, ponto estratégico para a guerra, e já com poucos soldados, equipamentos de mar, terra e ar, os generais japoneses convocaram voluntários. 

Chamados com base no Código de Honra do Japão, que estabelece ser melhor morrer do que viver como um covarde, os soldados voluntários foram convocados para morrer pela pátria e pelo imperador, ser supremo a quem, as vontades de todos os japoneses  deveriam estar subordinadas.

A imagem mais conhecida dos kamikazes está vinculada aos aviões que eles jogaram sobre a frota de porta-aviões americanos. Os jovens pilotos eram enviados ao combate só com combustível para a ida, fugindo do risco de, no momento do lançamento, se arrependerem. 

Mas, eles também agiram em terra, prendendo minas em volta do próprio corpo e se atirando debaixo dos tanques inimigos. Com a tática, os japoneses retardaram o avanço das tropas americanas. Isso não adiantou muito, mas os que morreram, certamente, levaram a ideia de ter valido a pena.

Em nome do imperador e da honra, mais de 70 mil jovens japoneses perderam a vida na aplicação da tática suicida. 

O Presidente do Brasil é um kamikaze, mas sem alvo definido. Ele atira-se à morte todos os dias, jogando-se contra os adversários e, cada vez mais, contra os próprios aliados. No final, ele poderá morrer sem honra, mesmo que não seja um covarde. 

Do mesmo modo como é um estrategista com sinal trocado, o presidente é um kamikaze que se lança contra os próprios aliados, transformando-os, com velocidade, em inimigos. Jair Bolsonaro não perdoa, não negocia. Contrariado, ele amarra uma mina em volta da cintura e se atira, sobe num avião de guerra e se lança ao mar. 

De atrito em atrito, o presidente reduziu a margem de conforto que tinha no Congresso Nacional e perdeu apoios na sociedade. 

Por sorte e, ao que se vê, não por talento, o Kamikaze Bolsonaro assumiu em janeiro de 2019, o comando de um avião abastecido para uma viagem de oito anos e com garantia de retorno, em glória, para a base. Mas, ele fez um rombo no tanque, que perde combustível enquanto o avião voa. 

Ainda há tempo para salvar a viagem? Claro que sim. A estratégia é uma ferramenta de trabalho quase milagrosa. Se o presidente quiser salvar o próprio governo deveria começar por evitar os atritos.  

Na estratégia, o atrito produz o mesmo efeito que na física: reduz a aceleração. Ao mesmo tempo, o presidente deveria identificar, com rapidez, as oportunidades e apoios que ainda lhes restam e potencializá-las ao máximo, para enfraquecer as ameaças, que estimulou até agora. O presidente precisa de um reset no sistema de governo e de comunicação. 

Quando a gente cuida de projetos políticos, a imagem é a matéria-prima. Nesse ambiente, o pior não é o impeachment nem a renúncia, situações que não acredito possíveis. O problema está na imagem que o presidente deixará registrada nas páginas da história. Isso sim é importante e deveria ser a preocupação principal na cabeça de alguém a quem a sorte confiou o destino de uma Nação. 

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos