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O Senado Federal. 

22.06.2023. 

O momento mais esperado da sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ontem, foi o do embate entre o juiz que prendeu Lula e o advogado que o defendeu. Contudo, Sérgio Moro frustrou as expectativas, pois posicionou-se constrangido diante de Cristiano Zanin, pedindo-lhe desculpas por ter que cumprir a missão de questioná-lo. 

O Senado ouviu Cristiano Zanin para cumprir o rito que a Constituição Federal determina, quando há vaga no Supremo Tribunal Federal a preencher e o Presidente da República tenha escolhido quem ele deseja que a ocupe. Desta vez, o critério adotado pelo Presidente da República foi o mesmo de 2009, quando ele indicou o advogado José Dias Toffoli. Em 2009 e agora, Lula retribuiu com uma cadeira vitalícia no STF o desempenho dos advogados pessoais. 

A Constituição Federal colocou os senadores no meio desse processo para garantir à sociedade brasileira que o indicado preencha as condições determinadas pela lei para ocupar a função e que, além disso, ele saiba ser o guardião da Constituição e julgador em última instância das demandas que o povo leva à Justiça. 

Para além disso, no presente, existe uma situação incômoda na vida política do país, criada pelo desequilíbrio de forças entre os poderes da República, situação que favorece o Supremo Tribunal Federal por ação dos ministros da Corte e omissão do Senado Federal. Era de se esperar, portanto, que os senadores não perdessem a oportunidade da sabatina para deixar claro o papel que lhes cabe de regulação das funções dos membros da Corte. Por respeito aos eleitores, o legislador constitucional colocou os senadores como julgadores dos supremos julgadores.  

Não foi o que aconteceu. Tivemos um desfile de senadores preocupados mais com a imagem pessoal diante das câmeras, do que com a oportunidade de colocarem as relações institucionais entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário no seu devido lugar.  

O Senador Rogério Marinho avisou ao futuro Ministro do STF que os senadores e deputados estão com medo da Corte. Isso mesmo, medo. Disse ele, literalmente: “Estamos vivendo um momento em que parlamentares estão amedrontados de se expressarem, de falarem o que pensam, de dizerem o que vai no coração…”. Santo Deus!. E não ficou por aí. Antes, ele curvou-se à excepcionalidade institucional criada pelos ministros do STF. Disse ele: “as medidas excepcionais podem e devem ser implementadas por um tempo restrito”. 

Representando o outro lado, o do governo, o Senador Randolfe Rodrigues citou uma passagem bíblica, não os dez mandamentos, mais algo que, na interpretação dele, justifica o “Inquérito do Fim do Mundo”, algo abominável para o Senador Esperidião Amin. Amin, um esgrimista, colocou a espada verbal no ponto certo, touchê! Colocou-a na consciência do advogado. Quem sabe ele não tem uma? 

“A minha pergunta principal, eu lhe antecipei, senhor Zanin”, disse o Senador: “Reconhecendo que o senhor é, historicamente, um garantista, não apenas por tendência, mas pelo viés que a carreira de advogado reforçou, como o garantismo enxerga o inquérito 4781? O garantismo ideologicamente, filosoficamente, considera isso um atentado contra o estado democrático de direito. Um inquérito que já foi apelidado de AI-5. Um inquérito que desde 19 de março de 2019 – quatro anos e três meses – está aberto. Eu não posso ficar sereno e tranquilo ao me dirigir a um garantista sem perguntar o que é isso. Pois, eu não conheço na legislação democrática do mundo, uma situação como essa, de se ter um inquérito aberto com base num artigo do regimento do Supremo, e esse inquérito não acabar mais. Um inquérito sem sorteio do julgador! Cadê a imparcialidade? Nem em Bangalore, nem na ONU, nem na Constituição, nem no Código de Ética da Magistratura Brasileira existe um artigo, que concede essa vitaliciedade de quatro anos e três meses contra qualquer apenado futuro – pois depois de apenado, o cidadão recorrerá a quem? O senhor fale como quiser, mas é um fato presente demais para ser ignorado num momento desses…”. As câmeras apresentaram o advogado Zanin com uma fisionomia perplexa, incomodada. 

No mais, o advogado Zanin passou pela sabatina sem problemas e, por isso, pode ter se arrependido de perder tempo com preparações, se as adotou. Para não deixar dúvida que a sessão era meramente protocolar, o Presidente da Comissão, Senador Alcolumbre, autorizou o voto dos presentes bem antes do fim das interpelações. 

Eis o  Senado da República! 

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O ESPADACHIM DELTAN. 

Jackson Vasconcelos. 01.06.2023

Deltan Dallagnol foi ao Roda Viva da TV Cultura na segunda-feira, dia 29, para participar de uma com adeptos do Presidente Lula. Houve muito tiro e Deltan fez da cadeira giratória, lugar dos entrevistados, uma trincheira e da voz, escudo para se defender dos jornalistas: Vera Magalhães, moderadora; Flávio VM Costa, do Intercept Brasil; Bernardo Mello Franco, do O Globo, Camila Mattoso, da Folha de São Paulo, Conrado Corsalette, do Nexo Jornal e Carolina Brígido, do Portal UOL. 

Destaco seis pontos: 

  1. Os jornalistas atuaram na superfície dos temas que escolheram, por objetiva falta de conhecimento mais profundo. Por isso, Deltan Dallagnol, na maior parte das vezes, atuou com a imagem de um explicador, mesmo sendo contestado nas explicações que ofereceu; contestação sem profundidade. 
  2. Deltan Dallagnol aceitou por inexperiência a posição de protetor de Bolsonaro, que os jornalistas, todos e todas, em defesa do presidente Lula, lhe impuseram. 
  3. Deltan fraquejou quando provocado sobre o voto que deu a um projeto que, em tese, pretendeu equiparar os salários de homens e mulheres e se embananou quando confrontado com o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. Não precisava aceitar a provocação, mas aceitou. 
  4. Deltan venceu o jogo e os entrevistadores Flávio VM Costa e Bernardo Mello Franco tiveram um desempenho ruim. Bem ruim. 
  5. Quem assistiu o programa perdeu de goleada. 
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FAÇAM UM “L”

Façam o “L”. 

Jair Bolsonaro perdeu a eleição e fez silêncio. Ficou como Nero a olhar Roma pegar fogo. Ele saiu da eleição credenciado líder da oposição, por 58.206.354 eleitores. Lula obteve 60.345.999 votos, mas não atendeu ao desejo da maioria dos eleitores brasileiros, que somam, segundo o TSE, 156.454.011 pessoas. 32.200.558 eleitores não foram votar. 3.930.765 anularam o voto e 1.769.678 votaram em branco. Portanto, Lula assumirá a Presidência da República contra a vontade de 63.906.797 e com a indiferença de 32.200.7558. Em número de votos, a oposição ao governo Lula é maior do que os votos dados a ele. 

Mas, não só por isso, Lula terá dificuldade para governar, porque o partido dele é um barril de pólvora, tem ciúmes da aproximação de Lula com os aliados e sempre se teve como credor do Lula para ocupar todos os espaços no governo. 

Em janeiro de 2003, Lula e o PT assumiram a Presidência da República. Seria a primeira vez de uma série de cinco que se completa agora. Em outubro de 2003, a Revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas circulou com uma extensa matéria sobre as nomeações que o PT fez na máquina pública federal. O trabalho foi assinado por Sandra Braga e registrou uma declaração do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, um dos artífices do mensalão julgado por Joaquim Barbosa que este ano votou no Lula. Delúbio Soares afirmou à Conjuntura que arrecadou oito milhões de reais para o PT, com as contribuições compulsórias feitas por quem ocupava cargo de confiança no governo federal. Eita. Olha aí as “rachadinhas”. 

Na Seção “Carta do IBRE” da mesma edição da revista, o Editor-Chefe, Roberto Fendt, criticou a “partidarização do Estado” e levantou uma questão: “Não estaria na hora de o PT, comprometido com um Estado ativo e eficiente e com a ética política, propor a profissionalização do funcionalismo, com a redução dos cargos de confiança?” Imediatamente, Roberto Fendt perdeu o emprego. Era o PT no comando da comunicação de um veículo que eu julguei independente. 

O modelo facilitou a prática do mensalão e dos atos investigados pela operação Lava-Jato, que condenou Lula e vários aliados dele e do PT. O povo ficou enojado e, pelo voto, expurgou o modelo em 2018. Mas, autorizou a volta dele. Então, Lula, o PT e os aliados estão aí de retorno com uma experiência que não tinham antes na relação com a Justiça. 

Por que o PT e Lula, com o histórico que têm, conseguiram vencer a eleição de 2022? A resposta está numa das passagens mais interessantes na campanha de Donald Trump, na disputa pela Presidência dos Estados Unidos. O documentarista protagonizou. Ele resolveu fazer campanha para Hillary Clinton num dos redutos dos republicanos, na cova do leão Trump, Ohio. Moore fez um discurso fantástico que encerrou com a seguinte frase, plenamente adaptável ao que foi a eleição para a Presidência do Brasil. Disse ele: 

A eleição do Trump será o seu grito de dane-se…E todos se sentirão bem…por um dia, por uma semana…por um mês. E então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”.

O que virá? Como será o futuro? Estaremos ferrados? 

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Um debate de dar sono.

O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República aconteceu no domingo, 28 de agosto, por iniciativa da TV Bandeirantes. Seis candidatos participaram, entre os onze que registraram candidatura. Foi um debate frio, que se tornou chato à medida que acontecia. A minha percepção foi de resultado nulo, para a intenção de cada um de conquistar votos. A vantagem deles foi que nenhum deles perdeu o que tinha quando chegou à emissora. 

Os encontros dos candidatos Jair Bolsonaro e Lula com os âncoras do Jornal Nacional criaram expectativas com relação ao desempenho deles no debate. Lá, Jair Bolsonaro segurou como pode a ira com os âncoras. Lula saiu-se como um lorde, aproveitando-se do ambiente favorável a ele. Até colinha ele recebeu. 

No debate, a jornalista Vera Magalhães tirou Jair Bolsonaro do sério e ele e Ciro Gomes provocaram o mesmo efeito no Lula. Mas, nada que criasse um impacto estridente. No ambiente paralelo, aconteceu o que sempre acontece. Editado, o debate foi utilizado como mensagem para os eleitores de cada um. Alguns comentários nas redes indicaram a frustração de potenciais eleitores da senadora Simone Tebet com ela. Houve declaração de troca de preferência para Ciro Gomes, mas nada relevante. 

Esperei melhor desempenho do candidato Luiz Felipe D’avila, porque, entre todas e todos, ele é o único com a bandeira de não intromissão dos agentes do Estado Brasileiro na vida das pessoas. Dávilla apelou para um discurso estridente contra o Fundo Eleitoral, bandeira que não faz o menor sentido com o argumento de não uso do dinheiro do povo nas campanhas, já que ele e o partido dele utilizam, sem constrangimento, os horários eleitorais na TV e no rádio financiados pela mesma fonte. 

A Senadora Soraya surgiu como novidade no cenário, mas sabe-se que ela só está na disputa pela Presidência, pela dificuldade que o partido dela, União Brasil, encontrou para compor com os pólos. Se o partido acertasse com Lula, deixaria Sérgio Moro numa situação bem pior do que ele já está, e o acerto do partido União Brasil com Jair Bolsonaro se tornou complicado, depois que o Presidente do Partido, Luciano Bivar, tomou um passa fora do Presidente da República no início do mandato. 

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Bolsonaro erra novamente.

Assisti a apresentação do Presidente Jair Bolsonaro aos embaixadores e fiquei encucado. Aborrecido ate. Por que o Presidente não usou o encontro para denunciar ao mundo a decisão do STF de anular todos os processos contra Lula, só para torná-lo elegível e colocá-lo na disputa pela Presidência da República?

O Presidente preferiu acusar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro sem provas sobre o que disse, no lugar de apresentar os argumentos que tem para demonstrar a tendenciosidade do STF, uma vez que, para soltar Lula e torná-lo elegível, o Supremo contrariou até decisões que ele mesmo, com os votos dos mesmos ministros, adotou antes.

Bolsonaro errou novamente. Parece que ele não entende que Lula é competitivo o suficiente para vencer a eleição. Quem duvidar disso, volte os olhares para o resultado da eleição de 2018, ocasião em que Lula levou Haddad ao segundo turno da eleição presidencial e deu ao ex-ministro, mais de 40% dos votos válidos.

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Não há democracia a defender.

Fico irritado, toda vez que ouço os agentes do Estado Brasileiro dizerem que tomam decisões em defesa da democracia. Sejam eles nomeados por concurso ou designados pelo mérito da bajulação, com função por prazo certo ou vitalício. Ora, para defender a democracia é essencial é que ela exista e, se existir, que esteja em risco.

Somos uma democracia? Uma democracia pressupõe que o poder emane do povo. Como todo o povo não consegue se pronunciar diretamente, adaptou-se a democracia para que o povo exerça o poder por intermédio daqueles que ele escolhe por um processo de seleção feito com liberdade. 

No Brasil, quem o povo pode escolher para representá-lo nos parlamentos e governar a favor dos seus interesses, as cidades, os estados e a nação? Os nomes indicados pelos partidos. Mas, digamos que nenhum dos nomes submetidos ao povo seja do seu agrado? Paciência! Durmam, eleitores, com o problema, porque os votos brancos e nulos, expressão da vontade popular, são jogados no lixo e as abstenções desconsideradas e quando não, sujeitas a multas. 

O povo não deveria, então, ter a liberdade de participar da indicação dos candidatos nos partidos? Claro. Mas, não tem. Nos partidos mandam os seus donos. A filiação está autorizada e é, inclusive, estimulada, mas ela não implica em ter o poder de decidir. 

Como contribuintes, os membros do povo pagam as contas dos partidos via fundos partidário e pagam as despesas dos partidos com as campanhas, via fundo eleitoral. Mesmo assim, ninguém do povo, só por ser do povo, tem a liberdade de associar-se aos partidos com poder de decisão. 

Dizem para mim, que no Partido Novo isso funciona diferente, porque lá não se usa o dinheiro do povo; usa-se o dinheiro de quem se filia. Só que nem por isso, quem se filia, decide. Afinal de contas, para quem dirige o Partido Novo, contribuir já é ato de participação voluntária. Seria um exagero de liberdade ir além disso. 

Temos, então, um fato incontestável: quem o povo acredita que o representa, na verdade, representa interesses outros que não os dele. Por isso, ele se afasta cada vez mais da política. 

É hipocrisia dizer que no Brasil há uma democracia a defender, se o povo não tem liberdade para designar aqueles que, nomeados por ele, entre as pessoas que fazem parte do conjunto, estão autorizados a elaborar as leis, decidir quanto de imposto todos pagarão para sustentar um Estado, que seja só instrumento à disposição do povo. 

No Brasil há um grupo de pessoas que acredita, com fé absoluta, ter sido escolhido e iluminado para tomar decisões pelo povo, por acreditar que o povo, definitivamente, não sabe decidir o que é melhor para ele mesmo. Eis os agentes do Estado Brasileiro! 

Eles tudo podem, tudo são capazes de fazer, porque, iluminados, sabem exatamente o que é melhor fazer para que o povo seja feliz. E, se você, minha cara leitora, meu caro leitor, duvidar de mim, pare por um momento e ouça os discursos dos candidatos em campanha. 

Em cada frase, em cada vírgula, ponto e dois pontos, com exclamação e aspas, eles garantem que, no poder, farão o que é melhor para mim e para você, sendo eles escolhidos por eles mesmos. Na lista de pontuações, no discurso deles, só não existe a interrogação, porque eles juram que tudo sabem.  

Por aqui, as eleições funcionam como no Irã, uma teocracia islâmica. Lá há eleições livres, com voto secreto e apuração pública, mas os candidatos que disputam são escolhidos e vetados pelo líder supremo, que tem mandato vitalício e representa um ente divino. 

No Irã como aqui, o povo tem liberdade para votar, desde que seja nos nomes escolhidos por um líder supremo. e estamos conversados. E, por falar em eleições no Irã, sugiro que você assista “118 dias”, um filme que eu assisti no ano passado. Vale a pena. 

Boa semana para todos. 

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Sérgio Moro, um elefante em loja de louças.

Só resta ao eleitor, aguardar. 

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro. 

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha. 

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação.  O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.  

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar. 

Sérgio Moro julgou e condenou Lula à prisão e à inelegibilidade, quando instruiu os processos para o julgamento na segunda instância. Se solto e elegível, Lula teria concorrido à presidência em 2018, para ser o adversário principal do candidato Jair Bolsonaro. Os dois teriam ido ao segundo turno, uma vez que o representante do Lula conseguiu. Jair Bolsonaro venceu a eleição e Sérgio Moro tornou-se ministro. Com esse ato, o juiz autorizou a imaginação de os julgamentos terem acontecido com a intenção política para tirar Lula do combate. Pouco tempo depois, o próprio judiciário, na última instância, no Supremo Tribunal Federal, reforçou a imagem quando anulou os processos. 

Sérgio Moro ficou pouco tempo no governo, mas nesse pouco tempo deu apoio incondicional ao presidente, até que começou a perder prestígio. Ele, então, resolveu deixar o ministério e buscar emprego no setor privado, mas numa empresa de consultoria, que atende também casos julgados e condenados por ele. Levantou-se mais uma dúvida sobre a seriedade dos julgamentos. Tudo isso foi-se acumulando na imaginação dos eleitores. 

Após ir e vir, entre o setor público e o setor privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos e esta semana apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil. Armou-se a confusão. Ficou claro, que a filiação dele ao Podemos foi uma decisão precipitada e pelas reações da turma que está no partido para onde ele foi, a nova escolha foi mais precipitada ainda. 

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão. 

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem. 

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso. 

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos. 

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate. 

  1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente? 
  2. “Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?  
  3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente. 
  4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.”  Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato. 
  5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?
  6. “Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância? 
  7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês. 

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato. 

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores. 

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Não é a economia!

Tem sido costume no Brasil os candidatos à presidência anunciarem, de pronto, quem será seu orientador para a economia, alguém que em razão da campanha do Presidente Jair Bolsonaro, e do sucesso de peças publicitárias de um posto de gasolina, ficou com o apelido de “Posto Ypiranga”. 

A economia esteve também como motivo da vitória de Bill Clinton numa campanha de sucesso inacreditável contra um presidente com um governo bem avaliado, George Bush. James Carville, estrategista da vitória, sintetizou a causa do resultado numa frase: “É a economia, estúpido !” 

Serei atrevido com os candidatos à presidência do Brasil, sem ser agressivo. Tiro o “estúpido” da frase de Carville e incluo a negativa, para dizer: Não é a economia! 

O povo brasileiro tem sido infeliz nas escolhas que faz nas eleições,  porque a pobreza é o motivo condutor das decisões. Por um “bolsa” qualquer e promessas de ter uma vida um pouco melhor e voz sobre os costumes, o brasileiro tem entregue o voto. 

A pobreza é o nosso principal problema e, por paradoxal que pareça, ela está longe de ser uma questão só, exclusivamente econômica. Se fosse, os programas sociais, que mudam de nome a cada governo, mas não mudam de roupa, já teriam resolvido a pobreza. 

Alguém que conheça com profundidade o mundo opaco das teorias econômicas conseguirá vencer a pobreza, se no Brasil os pobres nascem pobres e nada se faz para que saiam da pobreza a ponto de seus filhos e netos não nascerem pobres? De onde virá a oportunidade para a mudança do destino? 

Virá do resultado dos balanços de pagamento, das reservas internacionais, da inflação, dos superávits na balança comercial, do valor do real frente ao dólar? Ou do que acontecerá com a economia mundial depois da guerra da Rússia com a Ucrânia ? 

Na vida dos próprios candidatos e da candidata à presidência está a resposta. Uns mais, outros menos, todos tiveram oportunidade de aprender alguma coisa nas escolas por onde passaram. 

Lula aproveitou-se de uma escola profissionalizante para ser torneiro mecânico, assumiu a presidência de um sindicato, comandou uma greve, negociou com o governo, criou um partido político e disputou eleições. 

Jair Bolsonaro entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, tornou-se capitão, comandou uma greve, ingressou na política e hoje é o Presidente da República. 

Sérgio Moro cursou Direito, fez-se Juiz, Ministro e agora é candidato à presidência. Ciro Gomes deixou a cidade natal em São Paulo, fixou-se na cidade de seus pais no Ceará, estudou, cursou uma universidade pública, etc, etc. 

Simone Tebet? Única mulher na disputa. Seus avós deixaram a cidade natal. Seu pai, político, foi antes promotor público, porque foi formado numa Universidade Pública, como aconteceu com a filha Simone que, depois, tornou-se Senadora, e agora é candidata a Presidente. 

Luiz Felipe D’avila fez o ensino médio num subúrbio de Chicago, estudou Ciência Política em Paris e Administração Pública em Harvard. Criou o Centro de Liderança Pública, CLP, e é candidato à Presidência.  

Já temos exemplos bastantes para mostrar aos candidatos e à candidata à Presidência que, se ela e eles querem mesmo, como dizem, acabar com a pobreza e o mais cruel legado dela, a ignorância sobre como se faz um país melhor,  o primeiro nome a escolherem para suas equipes de trabalho não deveria ser dos economistas, mas de gente que sabe o que fazer com a Educação. 

Jair Bolsonaro tomou de Cristo um dos slogans de sua campanha: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas, como fazem para conhecer a verdade aqueles que não sabem ler e se sabem, sequer interpretam corretamente o que leem? 

Com boa educação ou até com uma educação razoável, quem lê a frase dita por Cristo saberá que ela ocorreu algo depois de Cristo ter repreendido os escribas e fariseus que queriam apedrejar uma mulher adúltera: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela”. Opa! Como isso poderia ser útil ao usuário da frase sobre conhecer a verdade! 

Portanto, eu diria ao James Carville: Por aqui não é a economia, “estúpido!” É a educação! Sem ela, a economia andará sempre a depender da caridade do Estado, porque é ela que, verdadeiramente, liberta, porque só ele faz com que alguém conheça a verdade e estabeleça a diferença essencial entre ela e a mentira comum às campanhas eleitorais.   

Para provar que a educação no Brasil é uma lástima, dispenso-me de  tomar o tempo de vocês, leitores, com dados que estão disponíveis e acessíveis a todos. Basta que se busque a ajuda do google. E, se quiserem algo mais sofisticado, o google também indicará. 

As escolas brasileiras se servem a alguém, servem aos políticos que inauguram os prédios e corporações. O Brasil ainda é o país das salas de aula entregues só aos professores. Eles e elas entregues à própria sorte. São ambientes jurássicos num mundo onde a tecnologia muda rápido e o conhecimento se torna essencial para encontrar lugar no mercado de trabalho. 

Quem cuidará da Educação no projeto de governo da candidata e dos candidatos à presidência que se apresentam ao povo brasileiro? Com quem está ou ficará a batuta da Educação? Enquanto esse dado for irrelevante diante do maestro da orquestra e o primeiro violino estiver entregue ao “Posto Ypiranga”, esqueçam. O Brasil não será a pátria da liberdade e tão pouco da ordem e do progresso. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Curiosidades: Eleição no Vaticano

Como Putin chegou ao poder na Rússia? Em 1999, eleito Primeiro-Ministro. Depois, eleito Presidente e é nessa posição que ele decidiu invadir a Ucrânia. Então, posso dizer que Putin cumpre um mandato conferido pelos russos para fazer aquilo que interessa aos russos. Será? Quando a gente trata de eleições, precisa lembrar que elas acontecem até para a escolha de um Papa, num processo parecido com o que acontece em todo canto. Verifique.

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O constrangimento como ação política

D’Ávilla, Bolsonaro e Lula. Quem vai?  

Estamos diante das alternativas que nos foram colocadas no segundo turno da campanha de 2018, uma parada que julgávamos resolvida. Acreditei que chegaríamos em 2022 com o forte desejo de avançar para tirar o Estado do nosso pescoço e colocá-lo ao alcance das nossas ordens. 

As notícias nos levam a crer, contudo, que poderá não ser ainda desta vez e esse sentimento me dá a sensação de repetência, da reprovação que nos obrigava, na escola, a fazer tudo novamente. A situação piora quando verifico que estamos na condição injusta de fazer com que toda a turma seja reprovada e tenha que repetir o ano, porque um aluno, um só aluno, não passou na prova. 

Em 2018, tivemos, de um lado, Jair Bolsonaro e de outro Lula, representado por Fernando Haddad, uma vez que, pessoalmente, ele não pode comparecer ao jogo por estar preso, por decisão primeira do juiz Sérgio Moro, confirmada por outros juízes e ministros do STF. 

O tempo passou, Lula está solto sem cumprir toda a pena, porque a pena por leve demais voou na direção do vento; Moro votou no Bolsonaro, já foi Ministro dele e quase chegou ao STF, para ser hoje candidato a presidente contra o chefe que escolheu. Jair Bolsonaro permanece onde sempre esteve. 

Na eleição de 18, cinquenta e sete milhões, setecentos e noventa e sete mil e oitocentos e quarenta e sete pessoas, (57.797.847) com idade acima de 16 anos, decidiram-se por Jair Bolsonaro e, por óbvio motivo, uma delas deve ter sido Sérgio Moro. Jair Bolsonaro, portanto, venceu Haddad que, com 47.040.906 votos, obteve 10 milhões de votos a menos. 

Mas, tivemos também aqueles que deram outro recado, o da indiferença. Disseram: “Danem- todos. Seja quem for o escolhido, dará no mesmo”. Estamos a falar de 42.466.402 pessoas. Essas não podem reclamar de coisa alguma, por terem sido as únicas não contrariadas pelo resultado e pelo futuro. 

Numa sociedade com cultura política, os votos dados a Fernando Haddad – ao Lula, na verdade – seriam uma autorização para o exercício de oposição ao vencedor. Como as propostas de trabalho dos candidatos eram completamente opostas, o exercício do governo e da oposição não seria difícil.  

Os eleitos para o Congresso Nacional com a proposta de quem venceu a eleição formariam a base de sustentação dele. Os do outro lado, a oposição. Desse modo, tanto os 57 milhões de brasileiras e brasileiros que votaram no vencedor estariam representados na hora de se fazer leis e decidir os Orçamentos da União, quanto os 47 milhões que votaram no perdedor, que estariam representados lá para não deixar que os vitoriosos fizessem da vitória o que bem entendessem. 

No Parlamento Brasileiro, não é assim. As oposições e bases de sustentação aos governos se formam nas ocasiões de plenário, após a eleição, sempre a favor dos vitoriosos na eleição. Os eleitores perdedores ficam para outro momento. Se quiserem ser representados, que vençam da próxima vez. 

Entretanto, temos algo diferente, onde a minoria que representa os 47 milhões de eleitores perdedores comandam o país. O constrangimento é o instrumento de ação política dessa turma, que o usa com eficiência capaz de converter os vencedores de 2018 nos perdedores de 2018. Tudo para preparar a eleição deste ano. 

O presidente eleito pela maioria tem ajudado bastante a minoria com o seu jeito próprio de constranger seus próprios eleitores 

Lula, Fernando Haddad, Ciro e todos os seus já escolheram manter os eleitores do Jair Bolsonaro submetidos à pressão do constrangimento. Sérgio Moro sucumbiu ao constrangimento e não só sucumbiu, mas adotou-o como instrumento de campanha. Jair Bolsonaro e sua turma fazem o mesmo. 

Quem está fora dos pólos de enfrentamento, permanecerá aí sem chance de chegar à presidência, se não compreender as consequências das campanhas com estratégia única. 

Na ação política, pode-se combater o constrangimento com mais constrangimento, como se faz agora, mas com o cuidado de saber que quando dois candidatos adotam os mesmos argumentos de campanha ficam literalmente iguais em imagem e castra-se a liberdade do eleitor de escolher com convicção. O constrangimento é a materialização da soberba a favor da escravidão. 

Mas, como se combate o constrangimento? Que estratégia se deve adotar? Aquela que use um discurso que denuncie o uso do constrangimento como instrumento de opressão e de privação da liberdade de escolha. Entramos, então, no campo do discurso e da demonstração. 

Nesse campo, encontrei Luiz Felipe D’avila, na apresentação que ele fez do livro que escreveu, não agora, mas em 2017, “Os dez mandamentos: do país que somos para o país que queremos”. No discurso que fez naquele dia, ele demarcou o terreno contra a campanha do constrangimento, para erguer a bandeira da liberdade. 

O livro é bom. Não pelo título que dá ao autor o lugar de Deus, ele sim, o autor dos dez mandamentos ou de Moisés, o escriba da lei. Não me pareceu, pela leitura nem pelo discurso que fez D’Ávilla, que seja essa a intenção dele. Pelo contrário. 

No discurso de apresentação da obra D’Ávila fez  defesa da liberdade contra o constrangimento e o ódio que exala das campanhas de Jair, Lula, Ciro e Moro. 

Na literatura que uso para atualização do estudo da estratégia, o livro do D’Ávilla chegou em boa hora, para juntar-se a dois outros que melhor definem o uso do constrangimento como instrumento de ação política: “A Espiral do Silêncio” de Elisabeth Noelle-Neumann e “Os Engenheiros do Caos”, de Giuliano Da Empoli. 

Viva a liberdade! A liberdade para escolher, sem constrangimentos ou desalentos, quem governará o país pelos próximos quatro anos. E que fique aqui o registro: os candidatos que usam o constrangimento como instrumento de campanhas preferem um povo escravo a um povo livre, porque argumentar num ambiente onde existe liberdade é difícil mesmo.  

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos