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Sincericídio ou sincerivida?

Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos

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Em time que está ganhando não se mexe?

“Em time que está ganhando não se mexe”. Isso vale para todas as situações? Como a estratégia avalia a regra?

O professor Bill Barnett, da Universidade de Stanford, na Califórnia, estuda as causas do crescimento e fracasso das organizações desde 1991. Ele esteve no Brasil, em São Paulo, no início de junho e fez uma palestra para um grupo de profissionais brasileiros selecionado pelo Grupo Meio & Mensagem. Uma passagem da palestra dele: 

“Os líderes de todas as organizações, mesmo as que atuam em mercados domésticos, estão lidando com o desafio de se libertar de seus preconceitos, As pessoas que fazem sucesso resistem às mudanças. A vontade de mudar só nasce quando elas se encontram em uma situação desesperadora. Vemos isso nas indústrias que estão sendo severamente afetadas pela desaceleração econômica no Brasil. Gostariam de estar se sentido confortáveis, mas não estão. Precisam mudar”. 

Não é importante comentar sobre o óbvio desejo de mudança de quem está em situação desesperadora. Nisso não há novidade. Melhor do que Bill Barnett, Ludwig Von Mises, anos antes, identificou. Ficamos aqui com o outro lado da equação: o desejo de não mudar quando as coisas andam bem. Bill Barnett, neste ponto, disse algo novo com jeito de bom conselho:

“O verdadeiro desafio vem quando as coisas estão indo bem e você está ganhando dinheiro com seu negócio atual. O que você não vê naquele momento é que há outros ao seu redor que estão “reconceituando”seu negócio por lentes totalmente diferentes. E se você não percebe isso agora, daqui a pouco será tarde para você”. 

Por isso, insistimos aqui, que a estratégia é o instrumento que você tem à sua disposição para fazer a avaliação correta dos cenários futuros e para aconselhar você sobre a adoção da regra.

Só se saberá se o time deve ser o mesmo para as novas partidas ou projetos, quando você projetar o próximo jogo ou desafio, evidentemente, considerando, também, o desenrolar dos jogos já vencidos. Isso vale para qualquer desafio na vida. A estratégia dirá a você que pontos fortes e fracos terão os próximos times a serem enfrentados, diante dos pontos fortes e fracos do seu time.

A estratégia considerará também as ameaças e oportunidades que o momento e as circunstâncias representarão para o próximo jogo ou desafio. Munido das informações que a estratégia oferecerá a você, aí sim, você conseguirá decidir se, para a próxima partida ou desafio, o time que você tem é competitivo a ponto de vencer ou ultrapassar.

Nunca esqueça disso, se o seu objetivo for a vitória.

Por Jackson Vasconcelos

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A reforma essencial

A reforma essencial não é a da previdência que, sem dúvida necessária e urgente, acontecerá mesmo como remendo, se o sistema de capitalização não substituir o de repartição. A reforma essencial é a da legislação, que ordena o sistema político, causador de todos os males, inclusive daqueles que obrigam a população brasileira a rever a Previdência Social.

O sistema político brasileiro justifica, por exemplo, as ocorrências recentes entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Câmara Municipal, prática comum no relacionamento entre os poderes da República em todos os níveis da federação.

Em janeiro de 2018, os vereadores do Rio de Janeiro, desconfiados com o prefeito, que demonstrava certa independência com relação a eles, enxertaram um deles no sistema administrativo da Prefeitura: o vereador Paulo Messina foi nomeado Chefe da Casa Civil e se colocou, rapidamente, no papel de um “primeiro-ministro”.

Tudo andou bem, até que a expansão dos poderes do Chefe da Casa Civil mexeu com os brios do prefeito. Momento em que Paulo Messina começou a ser tolhido.

Os vereadores, então, assessorados pela Casa Civil, criaram os argumentos para processos de impeachment do prefeito e Paulo Messina retornou à Câmara com a alegação, no primeiro momento, de defender o prefeito. Estava dada a mensagem de captura integral da prefeitura pela Câmara. A partir daí, o prefeito ampliou o número de secretarias, remanejou funções e entregou os cargos aos vereadores. Tudo isso porque a legislação brasileira autoriza que membros do Poder Legislativo, sem perderem os mandatos originais, exerçam funções administrativas no Poder Executivo, um dos defeitos do nosso modelo.

Isso acontece na relação entre a Câmara Municipal e a Prefeitura do Rio, como acontece na relação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo no Brasil todo e em todos os níveis e cria a situação complicada de gente eleita para aprovar os orçamentos públicos e fiscalizar a aplicação deles, exercendo o papel de também executá-los. Muita gente para gastar, quase ninguém para fiscalizar.

A reforma essencial é de reorganização do sistema, para arrumar a bagunça que os vícios fizeram e têm feito.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Governo sabatinado

O Ministro Sérgio Moro foi sabatinado durante dez horas pelo Senado Federal. Lá esteve outras vezes. O Ministro Paulo Guedes, outras tantas. Os dois ministros da educação também. A Ministra Damares, idem. A Ministra Tereza Cristina, da mesma forma.

Não aprofundei a minha pesquisa. Mas, certamente todo o primeiro escalão do governo foi sabatinado pelos Senadores e Deputados Federais e participou de longas entrevistas à imprensa em razão das sabatinas nestes poucos meses de um governo de quatro anos.

Algo semelhante tem acontecido, com certeza, com os demais escalões do Poder Executivo.

Todo esse trabalho e retrabalho produziu notícias, debates e opiniões. E o povo brasileiro ganhou o quê com todo esse movimento? Muito, muito pouco… talvez nada.

O compositor Arnaldo Antunes compôs a música “Muito Muito Pouco”. A letra se encaixa direitinho no que tem sido a relação entre os poderes e o povo brasileiro:

“Tem muita gente e muito pouco pão

Tem muito papo e muito pouca ação

Tem muito pouca dúvida e muita razão

Tem muito pouca ideia e muita opinião

Muita pornografia e muito pouco tesão

Muita cerimônia e muito pouca educação”

O tempo gasto pelo governo com explicações no Congresso Nacional, a grande maioria de absoluta inutilidade pelo conteúdo e repetição, seria demais em qualquer lugar do mundo.

Contudo, representa um peso enorme sobre os ombros dos contribuintes brasileiros, pelo grau de dependência que a sociedade tem do Estado e o tamanho da conta que paga em tributos.

Não se fez ainda o cálculo exato do custo de uma sessão no Congresso Nacional, mas, sem o risco de errar, é possível trabalhar na casa do milhão. Estamos, portanto, diante de um problema.

Qual seria a solução? Estaria em se oferecer à opinião pública a informação preciosa do custo e do benefício das vezes em que os membros do Poder Executivo são obrigados a abandonar o trabalho para serem sabatinados pelos membros do Poder Legislativo. A informação envergonharia ou, quando menos, constrangeria os parlamentares na relação deles com o povo, esta sim, com poder suficiente para mudar o rumo da história.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Política pública só funciona com estratégia

A primeira peça essencial numa campanha eleitoral deve ser o discurso, porque ele dirá da razão de ser candidato. Não precisa ser bem elaborado no início no processo, mas precisa ser convincente. Quando se faz campanha para funções de Estado, como é o caso das campanhas para vereador, prefeito, deputados, senadores, governadores e presidente, o discurso precisa estar atrelado às políticas públicas, porque elas é que dão sentido à função pública.

Uma das funções da estratégia é identificar os pontos fortes e fracos de um projeto ou desafio, para dar facilidade à realização deles. Uma das questões críticas para as funções de Estado é o atendimento médico, que forma com a falta de segurança pública a equação do insucesso de um projeto político dos governantes, principalmente no Rio de Janeiro.

Uma situação se comunica diretamente com a outra, porque os crimes lotam os hospitais e a lotação deles dificulta o atendimento à população. Disso, a gente tira uma lição importante sobre administração pública: quer reduzir a pressão sobre os hospitais? Aplique dinheiro e inteligência na prevenção das causas que levam as pessoas ao sistema de saúde.

Se os governos fossem mais atenciosos com a segurança pública – atenciosos e eficazes – o sistema de saúde pública teria algum alívio.

Mas, ao considerar a falta de segurança pública como uma das causas de hospitais e postos de atendimento da saúde estarem lotados e sem condições de atendimento digno, podemos fazer o mesmo com relação a todas as políticas públicas. Por exemplo, a educação e informação. A gravidez precoce que movimenta os hospitais e postos de atendimento poderia ser evitada se as meninas e moças recebessem informação e educação. A falta de cuidado com a natureza, que produz valas negras e áreas sem sol são situações outras que impactam sobre o sistema de saúde.

Em resumo: não é aconselhável pensar política pública sem estratégia de atuação, porque a ausência dela cria a situação que a gente está cansado de conhecer: a tentativa de resolver os problemas pelas conseqüências e não pelas causas. Por isso, os governos acreditam que as dificuldades de atendimento médico estão vinculadas à falta de pessoal adequado, de hospitais, de remédios e exames. Os problemas da política pública de saúde estão muito mais na falta de políticas de prevenção do que no atendimento médico curativo.

Só com a estratégia correta se resolverá o problema da saúde. Eis aí um bom motivo para se preparar um plano de governo para as campanhas eleitorais: pensar a política pública com base em elementos de estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Por que Witzel venceu?

É possível vencer uma eleição simplesmente por se estar na hora certa e no lugar certo?  É sim. A eleição do WIlson Witzel para o governo do Rio de Janeiro é um desses casos e existiram outros casos, na eleição de 2018,  outros Brasil afora.

Poderão se repetir nas próximas eleições? Pouco se sabe, porque as disputas eleitorais acontecem no campo das relações humanas, sempre imprevisíveis. Não há sempre. Não há nunca.

Contudo, quando os fatores que produziram o resultado acontecem novamente, a chance do resultado ser repetido é grande. Nisso, caímos num ponto importante da análise da eleição do governador Wilson Witzel: que fatores deram a ele a vitória? Essa leitura é fundamental, para construir um novo cenário de disputa no futuro.

Muita gente – talvez o próprio Witzel – é levada a acreditar que o resultado acompanhou a avalanche nacional provocada pela campanha do Jair Bolsonaro. Não foi. Pelo menos, não só isso. Wilson Witzel foi eleito porque os eleitores não identificaram outro candidato com uma virtude essencial: vínculo com o passado e alguma aparente competência na segurança pública, tema essencial.

Eduardo Paes carregou o vínculo de sua vida política com políticos presos. Indio da Costa, os mesmos vínculos do Eduardo Paes e mais uma ligação estreita com Marcelo Crivella. Romário, idem e sem credencial para dar resposta à expectativa popular essencial: resolver a segurança pública. Márcia Tiburi, o PT. Pedro Fernandes estampou no rosto a conversa fiada. Garotinho ficou pelo caminho, mas com rejeição alta, por ter sido preso duas vezes antes do início da campanha. Sobrou quem? Witzel, pouco importando as ligações dele com Jair Bolsonaro ou com um franqueado da marca, Flávio.

O senador eleito, Arolde de Oliveira, este sim, foi eleito pela marca Bolsonaro. Foi uma eleição com duas vagas para o Senado, a primeira decidida desde o início da campanha pelo franqueado, Flávio. A outra, não se tinha dúvida, seria para quem tivesse a personalidade política da franquia: César Maia e Arolde, que disputaram o segundo voto, palmo a palmo. A Arolde, a novidade, com 8 mandatos de deputado federal e mais de 80 anos de idade, venceu.

Por Jackson Vasconcelos

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“Não cantar vitória antes do tempo. Ser discreto!”

Vê-se que os novos políticos estão deslumbrados, mas todo cuidado é pouco, porque os mandatos só começaram. Tem muita estrada a percorrer. É preciso negociar melhor com a vaidade e com o tempo.

Dias antes do Carnaval, descobri e li com atenção, anotando e marcando as frases e lições relevantes, a carta do diplomata François de Callières ao Rei Luís XIV, o “Rei Sol”.  

Secretário de Gabinete do Rei, François Callières fez para Sua Majestade, um tratado sobre a arte mais antiga da terra, a arte de negociar.

“A obra que tenho a honra de apresentar a Vossa Alteza Real tem por objetivo dar uma ideia das qualidades e dos conhecimentos necessários para formar bons negociadores, indicar os caminhos que devem seguir, as dificuldades que devem evitar e estimular aqueles que se destinam às embaixadas a se tornarem capazes de preencher dignamente empregos tão importantes, e também tão difíceis, antes de se comprometerem”.

A carta está à venda em forma de livro com o título “Negociar – A mais útil das artes” editado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Cebri. É um presente que Guilherme Laager, garimpador do trabalho num sebo em Paris, e José Luiz Alquéres, entregaram à literatura sobre estratégias, numa homenagem póstuma ao Ricardo Augusto dos Reis Velloso, filho do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, que faleceu no dia 19 de fevereiro.

Laager e Alquéres tiveram a feliz iniciativa de, a cada passo dado pelo autor, fazer um resumo da estratégia sugerida por ele. Lá estão, por exemplo:

  • “A informação é o melhor investimento para um negociador”;
  • “Negociar sempre e com antecipação”;
  • “É importante descobrir os segredos do outro lado”;
  • “Firmeza e coragem. Duas qualidades complementares”.

Eu adquiri na Livraria Argumento.

Por Jackson Vasconcelos

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Governar sem dados e sem técnica?

O ministro da Cidadania, deputado federal Osmar Terra, entrevistado pela dupla Edna Simão e Raphael Di Cunto, jornalistas do Valor Econômico, ofereceu provas das causas do insucesso das políticas públicas com relação à população mais dependente das ações do Estado. O governo não sabe, exatamente, porque decide de uma forma ou de outra. Em pauta a mudança no critério de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que dá aos idosos e famílias de pessoas com deficiência um valor mensal.

Atualmente, todos os idosos com idade acima de 65 anos têm acesso ao benefício de um salário mínimo. A proposta do governo é antecipar a idade de acesso para 60 anos, com o valor de R$ 400 até os 70 anos de idade, quando o idoso passará a receber um salário mínimo.

Abaixo, trechos da entrevista e comentários:

-Terra: (…) Se a idade para receber um salário mínimo, pelo BPC ficar em 65 anos, e está se criando uma idade mínima para aposentadoria também de 65 anos, o sujeito com 60 anos que está contribuindo para a Previdência pode parar de pagar porque receberá o mesmo pelo BPC sem precisar contribuir.

Os jornalistas estranham o argumento e perguntam:

-Valor: Mas receber o BPC não é tão simples. A pessoa precisa provar a condição de miserável.

A resposta:

-Terra: O problema é que os que estão contribuindo, eu não sei quantos são, pensariam: “para que vou contribuir se posso chegar a 65 anos e ganhar o mesmo?”

O deputado e ministro não tem as informações essenciais para decidir e nenhuma esperança de que o governo vá exigir a prova de condição de miserável. A resposta à pergunta não parou ali. O Ministro continuou:

-“A partir de 60 anos, a pessoa que ganhava nada passa a ganhar R$ 400. São 900 mil pessoas. Quando chegarem a 65 anos, eles terão ganhado em torno de R$ 25 mil, para ficar num número redondo. Hoje eles não ganham isso”.

É preciso olhar pelo lado correto da equação. Para os idosos com 65 anos em situação de miserabilidade já está assegurado um (1) salário mínimo. Aprovada a proposta do governo eles só terão acesso a um salário mínimo quando chegaram aos 70 anos. Serão cinco anos recebendo menos do que a lei atual garante. Fazer uso do valor acumulado, em se tratando de R$ 400, é forçar o argumento. Situação que os jornalistas reconhecem e usam ao rebater o Ministro:

-Valor: Mas com um valor reduzido a partir dos 65 anos.

-Terra: Se tu somar, sem correção monetária, vai dar R$ 50 mil que ele terá até os 70 anos, a partir daí é um salário mínimo.

Sinto-me dispensado de comentar, por tamanho absurdo. Mas, a resposta o Ministro continua:

-“A diferença está nesse período, de 65 a 69. Em cinco anos, hoje, ele vai ganhar R$ 60 mil. O que eu estou propondo é que seja acrescentado um valor, sair de R$ 400 para R$ 450, R$ 460, aí tem que ver, que chegue aos R$ 60 mil, para ficar igual (a soma do valor que a pessoa receberá hoje)”.

Faz algum sentido? O Ministro propõe R$ 450 ou R$ 460, como poderia propor R$ 430 ou R$ 440 ou R$ 435. Chute, como chutado foi, pela Zélia Cardoso de Mello, o valor de 50 unidades monetárias no Plano Collor, situação que levou muita gente ao suicídio.

-Uma frase do Ministro: “Se você perguntar para quem tem 60 anos se ele gostaria de receber R$ 400,00 agora ou esperar mais cinco anos, tenho certeza que vão preferir a proposta do governo”.

Que tal perguntar a quem recebera, aos 65 anos, um salário mínimo por mês se está feliz em só receber R$ 400 até completar 70 anos? Tenho certeza que vão descartar a proposta do governo. O problema é que os governos não perguntam e respondem.

A próxima, então, é de um primarismo…

-Valor: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu excluir o BPC da reforma porque o ganho fiscal seria pequeno e o desgaste político grande. O senhor concorda que a economia é irrelevante?

-Terra: É preciso calcular. Não sei o número, mas a conta que fazem é que tem perda importante de arrecadação, porque quem paga para se aposentar vai parar de pagar.

A entrevista ocupa uma página. Toca em outros assuntos, Sistema “S”, Bolsa Família e o critério de nomeação para os cargos subordinados aos ministros. O governo, mesmo renovado, ainda acredita que é possível nomear com critérios políticos e ter eficiência, se demarcar as escolhas nas margens da escala de subordinação, no que chamam de escalões de decisão.

-Terra: Lá na ponta, onde é a base dos deputados e tal, há possibilidade de eles darem uma lista de técnicos e, dessa lista, ser escolhido alguém para exercer aquela função…

É uma velha história, ruim do começo ao fim, com uma inversão de valores que só tende a piorar os resultados. Dispensa-se a indicação política para o cargo de ministro e primeiro escalão, mas autoriza-se na ponta, onde o compromisso com a boa técnica, imparcialidade, impessoalidade são mais fundamentais do que na superfície. O gerente do INSS, que faz a concessão da aposentadoria deve cumprir suas tarefas independente de quem seja o governo de plantão. O mesmo em todos os segmentos do setor público.

E há outro aspecto, que me incomoda: porque o parlamento deve indicar funções no Poder Executivo? Não é esse o papel dele. Cabe ao Poder Legislativo fazer leis e fiscalizar a aplicação delas, sendo mais importantes, as leis do orçamento público.

Por que se concede licença a parlamentares para que eles exerçam, como faz o ministro da Cidadania, funções no Poder Executivo? Quer ser ministro, secretário de Estado, secretário municipal? Renuncie ao mandato no parlamento.

Eis aí uma reforma essencial.

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Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, no vácuo!

Numa corrida de Fórmula 1, os carros em alta velocidade provocam na traseira um ambiente sem atrito, que facilita a ultrapassagem de carro que vem colado atrás. É o vácuo. Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro sabem aproveitar o vácuo na política. Jair chegou à Presidência da República e Rodrigo Maia à Presidência da Câmara.

O povo brasileiro conhece o deputado Rodrigo Maia há pouco tempo, numa relação que começou quando o ex-deputado Eduardo Cunha caiu em desgraça. No vácuo, Rodrigo Maia tomou-lhe o lugar na Presidência da Câmara e, depois de passar por mais duas disputas, lá continua.

O desempenho dele surpreendeu cariocas e fluminenses, porque a imagem dele no estado em que faz política, não era a de um político capaz da proeza. Rodrigo Maia foi presidente nacional do Democratas e líder do partido na Câmara, mas passou pelas funções sem expressão. Tinha a marca do pai, César Maia, tão somente isso.

Então, existe quem afirme que a proeza dele de chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, confirmado em três eleições, seja obra do pai. Muito mais, porque duas eleições aconteceram em circunstâncias bem interessantes. Uma para ser a segunda autoridade da República, porque o vice-presidente foi confirmado na Presidência e, a segunda, disputando o voto de deputados em primeiro mandato, numa casa 50% renovada. Duas ocasiões que pediram estratégia, paciência e capacidade absurda de conversar e compor.

Entretanto, quem conhece César Maia sabe que ele cintura não tem e sente fortes dores na coluna, quando precisa dobrá-la. Falou-se também que Rodrigo Maia contou com a experiência e orientação do meio parente Moreira Franco. Quem conhece Moreira não aceita o argumento. Moreira é um Maquiavel com sinal trocado. Ele derruba aliados e ergue ninguém. Moreira só faz pelo Moreira.

Então, que ninguém se canse em formulações. Rodrigo Maia está lá por conta própria. Sabe acelerar no vácuo e com controle do volante, para não sair da pista.

É o que fez novamente, quando o Gustavo Bebianno perdeu o Ministério. Rodrigo estava no vácuo e assumiu a posição do ex-ministro na pista, na liderança do processo de decisão sobre a Reforma da Previdência.

No tempo do Michel Temer, Rodrigo Maia, com habilidade, viu o presidente balançar. Sentiu o vácuo, mas percebeu que não deveria ultrapassar. Bastaria dar o recado de estar colado na traseira.

Michel Temer, imobilizado, assistiu a visita do Rodrigo Maia ao Brazil Institute do Wilson Center, em Washington. Lá, Rodrigo Maia marcou o terreno. PT em desgraça, Rodrigo Maia, com a qualidade de ser o presidente da Câmara, substituto eventual e, naquele tempo, até possível do Michel Temer, mandou o recado:

“O Bolsa Família escraviza. Criar um programa para escravizar as pessoas não é bom propósito. Programa bom é onde você inclui a pessoa e dá a ela as condições para viver na sociedade com as próprias pernas e conseguir um bom emprego. A dependência criada pelo programa atrela as pessoas ao Estado. Como você dá condições para o cidadão pobre, que depende do Bolsa Família, sair dessa dependência? Educação e saúde….”.

Deu o recado: posso ser Presidente da República.

O que na corrida de Fórmula 1 ou na física tem o nome de vácuo, na estratégia responde pelo de oportunidades. Está no conceito. Oportunidade a gente captura e conserva. Sempre será útil.

Por Jackson Vasconcelos