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Vale a pena financiar a Cultura?

Os gastos do governo com a Cultura são uma ameaça ou oportunidade? Sem Goebbels, Roberto Alvim permaneceria no governo, apesar de todo o resto do tempo dele “à serviço da pátria” ter sido, para nós contribuintes, um amontoado de bobagens sem sentido. Algo bem dispendioso. A demissão dele chega a ser, portanto, um serviço prestado pelo monstruoso canalha genocida Joseph Goebbels. E a colaboração pode ser maior.  

Seria bom dar ao caso Alvim outro destino, que não só o da informação sobre quem foi Goebbels ou de ser um motivo para acusar o ex-secretário de nazista como andam a fazer milhares. Até, porque, se sabe que ele não é. 

Bom seria aproveitar o fato para pensar um pouco sobre a causa de se ter uma estrutura no Estado Brasileiro, custeada pelos contribuintes, só para cuidar da Cultura.  

No Governo Federal, existe uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério da Cidadania e já existiram  Ministérios próprios. Nos estados há secretarias estaduais e nas cidades, de qualquer tamanho, congêneres municipais. Essas estruturas são chefiadas, normalmente, por artistas, intelectuais, ilustres acadêmicos e por qualquer um ou qualquer uma que tenha votos ou represente decisões de conveniência nos plenários dos respectivos parlamentos. O que faz e tem feito essa gente? Para que serve? Está aí uma pergunta de dificílima e complicada resposta. Eu diria até constrangedora, quando se vai para a prática. 

O escritor Mário Vargas Llosa responde em “A Civilização do Espetáculo”, obra já citada por mim em outra oportunidade. No capítulo “Cultura, política e poder”, ele aponta duas direções: “Cultura não depende de política, em todo caso não deveria depender, embora isso seja inevitável nas ditaduras, principalmente as ideológicas ou religiosas, aquelas em que o regime se sente autorizado a ditar normas e estabelecer cânones dentro dos quais a vida cultural deve desenvolver-se, sob a vigilância do Estado empenhado em não permitir que ela se afaste da ortodoxia que serve de sustentáculo aos governantes” (Aqui se encaixa o discurso do Alvim). 

“O resultado desse controle, como sabemos”, diz Vargas Llosa, “é a progressiva transformação da cultura em propaganda, ou seja, em sua degeneração por falta de originalidade, espontaneidade, espírito crítico e vontade de renovação e experimentação formal”.

Após dizer o que o Estado, numa democracia não deve ser com relação à Cultura, Vargas Llosa diz o papel que ele pode ter: “O Estado, sem reduzir a liberdade de criação e crítica, deve apoiar e propiciar atividades culturais – na preservação e promoção do patrimônio cultural, acima de tudo – como também porque a cultura deve exercer influência sobre a vida política, submetendo-a a uma contínua avaliação crítica e inculcando-lhe valores e formas que a impeçam de degradar-se…”.

A excitação que o caso Roberto Alvim provocou é a chance de se repensar os gastos que se tem com as estruturas de apoio à Cultura. Afinal, administrar as finanças de um Estado não pode e não deve ser só um ato de cuidar das receitas e despesas, mas também, e principalmente, de tornar eficazes os gastos e justificar o peso deles. O ato de gastar o dinheiro do contribuinte não pode ser uma ameaça ao dono do dinheiro, mas uma oportunidade fantástica de crescimento dele no seio de  uma sociedade sadia. A isso se chama estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos