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DIA DA CONSTITUIÇÃO. NÃO HÁ O QUE COMEMORAR. 

25.03.2024

Na “folhinha” (sou do tempo dela) o dia 25 de março está marcado como o Dia da Constituição, pois foi nesse dia, em 1824, que Dom Pedro I enfiou a primeira Constituição goela abaixo do povo brasileiro. Ele tinha autoridade para tanto, não só por ser o Imperador do momento, mas por ter, dois anos antes, livrado o Brasil do julgo português. Depois dela vieram as Constituições de 1891,1934,1937,1946, 1967 e 1988. Houve também um emendão em 1969, que, igualmente, recebeu o título de Constituição. 

Hoje há o que comemorar? Não! Se a Constituição elaborada pelo povo em 1988 permanecesse em vigor, até se poderia agradecer por ela, mas comemorá-la, nunca! Construída com 250 artigos, ela já foi emendada 128 vezes e há, no Congresso Nacional uma fila enorme de novas emendas a aguardar o voto dos parlamentares. Portanto, não temos uma Constituição e sim uma colcha de retalhos já sem pé e sem cabeça com outro um vício grave: o presidencialismo. Santo Deus! Até quando o legislador brasileiro insistirá nesse negócio? Quantos presidentes e crises institucionais ainda serão necessárias para que se chegue ao parlamentarismo? 

Eu me nego a bater palmas para a Constituição Brasileira e nem acredito que ainda temos uma por aqui. Se há, sobre ela se tripudia todos os dias, até mesmo por inspiração do Supremo Tribunal Federal, que deveria ser a garantia de existência e aplicação dela. 

Os farrapos andam a justificar pregadores da necessidade de termos uma nova constituição e há projetos por aí. Um deles, do jurista Modesto Carvalhosa, que institui uma curiosidade semântica. Carvalhosa defende a substituição dos termos: “todos iguais perante a lei”, para “uma lei igual para todos”. Aprofundando-se na proposta, pode-se chegar à conclusão que ela faz todo o sentido. 

Roda também à disposição do debate público a proposta do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que desmonta a farsa de um país regido por uma república federativa: “Não somos uma república, mas uma oligarquia, nem somos uma federação, pois a Constituição atual centraliza o poder em Brasília”, diz ele. 

Eu tive a felicidade de participar de inúmeras sessões da Assembleia Nacional Constituinte, pois naquele tempo, sendo assessor parlamentar do Ministério da Fazenda, a mim coube a tarefa de representá-lo, com outros, nos trabalhos. Vi todo o povo brasileiro representado nos corredores do Congresso e nas galerias dos plenários, não só por deputados federais e senadores, mas por índios, operários, empresários, lobistas, mulheres, negros, brancos, gente pobre e gente rica. Trabalhadores e desocupados. O povo fez a Constituição do primeiro ao último artigo e talvez por isso, ela não tenha servido aos que sobraram depois de apagados os holofotes. E por não ter servido, seja emendada a cada momento e desrespeitada a todo momento. 

O que fazer? Que tal começar pela troca do presidencialismo pelo parlamentarismo e na onda instituir o voto distrital e uma nova legislação para os partidos políticos? A proposta do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança pode ser o caminho. Nela, ele defende: 

  • criar um sistema parlamentarista;
  • descentralizar o poder para os estados;
  • reduzir competências da União para somente o que a União pode fazer;
  • solidificar a soberania popular;
  • criar mais freios e contrapesos entre as instituições;
  • limitar poderes sobre o cidadão.

Se você quiser conhecê-la, aqui está o link: https://lpbraganca.com.br/luiz-philippe-lanca-a-constituicao-libertadora/

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Adélio e Ronnie Lessa. A lei da compensação. 

29.10.2023. 

Só recentemente assisti ao documentário “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”, obra da Globoplay, que estreou há mais de um ano, no dia 29 de abril de 2022, quando se deu a largada na disputa pela Presidência da República. Os autores do trabalho levam os espectadores para um ambiente onde estão ligados o jogo do bicho, as milícias, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o filho dele, Flávio e o assassinato da vereadora Marielle Franco. Só no final, fica-se sabendo que o documentário representa uma homenagem à vereadora.  A percepção é de ser um documentário propositadamente exibido no tempo da campanha presidencial para influenciar o resultado. 

Desconheço se naquele momento a Justiça Eleitoral foi provocada para impedir a veiculação do documentário, mas se foi e decidiu deixar correr, fez bem, pois observou o que diz a Constituição Brasileira, que registra, expressamente: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. De modo diferente, no entanto, decidiu a Justiça Eleitoral, quando o canal Brasil Paralelo anunciou o documentário, “Quem mandou matar Jair Bolsonaro”. O TSE proibiu a exibição até a proclamação do resultado da eleição e puniu o canal com a suspensão do fluxo financeiro que o mantém de pé. É dispensável dizer mais qualquer coisa para entender as frases polêmicas, “perdeu mané” e “vencemos o Bolsonarismo”.  

“Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho” dá sentido às tormentas do povo carioca com as milícias. Nele se vê materializada a coragem de uma mulher que não mediu riscos para interromper a valsa livre nos salões da elite carioca da turma que comanda o jogo do bicho. A sentença de Denise Frossard sacudiu a hipocrisia da elite e da classe política carioca, mas não deu jeito nela. Aí estão as milícias a frequentar os mesmos salões. O documentário não toca no tráfico de drogas. Sabe-se lá o motivo.

“Quem mandou matar Jair Bolsonaro” foi exibido após a proclamação do resultado da eleição para a Presidência da República, como desejou a Justiça Eleitoral. A dúvida sobre o mandante do assassinato do candidato à Presidência dá sentido ao documentário e faz o contraponto com outra interrogação: quem remunerou Ronnie Lessa, o matador de aluguel, para que ele assassinasse a vereadora? 

No fim das contas, os dois documentários se compensam e em conjunto explicam como funcionam no Brasil, a Justiça, os crimes e a investigação quando se misturam com a política. É a lei da compensação, que o povo brasileiro ainda não compreende como funciona.  O confuso escritor Ralph Waldo Emerson, pelo menos nisso mostrou convicção: “Tudo na vida e na natureza gira em torno da dualidade e se compensa”. Nada melhor do que isso para um povo que se sente bem num ambiente polarizado. 

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O constrangimento como ação política

D’Ávilla, Bolsonaro e Lula. Quem vai?  

Estamos diante das alternativas que nos foram colocadas no segundo turno da campanha de 2018, uma parada que julgávamos resolvida. Acreditei que chegaríamos em 2022 com o forte desejo de avançar para tirar o Estado do nosso pescoço e colocá-lo ao alcance das nossas ordens. 

As notícias nos levam a crer, contudo, que poderá não ser ainda desta vez e esse sentimento me dá a sensação de repetência, da reprovação que nos obrigava, na escola, a fazer tudo novamente. A situação piora quando verifico que estamos na condição injusta de fazer com que toda a turma seja reprovada e tenha que repetir o ano, porque um aluno, um só aluno, não passou na prova. 

Em 2018, tivemos, de um lado, Jair Bolsonaro e de outro Lula, representado por Fernando Haddad, uma vez que, pessoalmente, ele não pode comparecer ao jogo por estar preso, por decisão primeira do juiz Sérgio Moro, confirmada por outros juízes e ministros do STF. 

O tempo passou, Lula está solto sem cumprir toda a pena, porque a pena por leve demais voou na direção do vento; Moro votou no Bolsonaro, já foi Ministro dele e quase chegou ao STF, para ser hoje candidato a presidente contra o chefe que escolheu. Jair Bolsonaro permanece onde sempre esteve. 

Na eleição de 18, cinquenta e sete milhões, setecentos e noventa e sete mil e oitocentos e quarenta e sete pessoas, (57.797.847) com idade acima de 16 anos, decidiram-se por Jair Bolsonaro e, por óbvio motivo, uma delas deve ter sido Sérgio Moro. Jair Bolsonaro, portanto, venceu Haddad que, com 47.040.906 votos, obteve 10 milhões de votos a menos. 

Mas, tivemos também aqueles que deram outro recado, o da indiferença. Disseram: “Danem- todos. Seja quem for o escolhido, dará no mesmo”. Estamos a falar de 42.466.402 pessoas. Essas não podem reclamar de coisa alguma, por terem sido as únicas não contrariadas pelo resultado e pelo futuro. 

Numa sociedade com cultura política, os votos dados a Fernando Haddad – ao Lula, na verdade – seriam uma autorização para o exercício de oposição ao vencedor. Como as propostas de trabalho dos candidatos eram completamente opostas, o exercício do governo e da oposição não seria difícil.  

Os eleitos para o Congresso Nacional com a proposta de quem venceu a eleição formariam a base de sustentação dele. Os do outro lado, a oposição. Desse modo, tanto os 57 milhões de brasileiras e brasileiros que votaram no vencedor estariam representados na hora de se fazer leis e decidir os Orçamentos da União, quanto os 47 milhões que votaram no perdedor, que estariam representados lá para não deixar que os vitoriosos fizessem da vitória o que bem entendessem. 

No Parlamento Brasileiro, não é assim. As oposições e bases de sustentação aos governos se formam nas ocasiões de plenário, após a eleição, sempre a favor dos vitoriosos na eleição. Os eleitores perdedores ficam para outro momento. Se quiserem ser representados, que vençam da próxima vez. 

Entretanto, temos algo diferente, onde a minoria que representa os 47 milhões de eleitores perdedores comandam o país. O constrangimento é o instrumento de ação política dessa turma, que o usa com eficiência capaz de converter os vencedores de 2018 nos perdedores de 2018. Tudo para preparar a eleição deste ano. 

O presidente eleito pela maioria tem ajudado bastante a minoria com o seu jeito próprio de constranger seus próprios eleitores 

Lula, Fernando Haddad, Ciro e todos os seus já escolheram manter os eleitores do Jair Bolsonaro submetidos à pressão do constrangimento. Sérgio Moro sucumbiu ao constrangimento e não só sucumbiu, mas adotou-o como instrumento de campanha. Jair Bolsonaro e sua turma fazem o mesmo. 

Quem está fora dos pólos de enfrentamento, permanecerá aí sem chance de chegar à presidência, se não compreender as consequências das campanhas com estratégia única. 

Na ação política, pode-se combater o constrangimento com mais constrangimento, como se faz agora, mas com o cuidado de saber que quando dois candidatos adotam os mesmos argumentos de campanha ficam literalmente iguais em imagem e castra-se a liberdade do eleitor de escolher com convicção. O constrangimento é a materialização da soberba a favor da escravidão. 

Mas, como se combate o constrangimento? Que estratégia se deve adotar? Aquela que use um discurso que denuncie o uso do constrangimento como instrumento de opressão e de privação da liberdade de escolha. Entramos, então, no campo do discurso e da demonstração. 

Nesse campo, encontrei Luiz Felipe D’avila, na apresentação que ele fez do livro que escreveu, não agora, mas em 2017, “Os dez mandamentos: do país que somos para o país que queremos”. No discurso que fez naquele dia, ele demarcou o terreno contra a campanha do constrangimento, para erguer a bandeira da liberdade. 

O livro é bom. Não pelo título que dá ao autor o lugar de Deus, ele sim, o autor dos dez mandamentos ou de Moisés, o escriba da lei. Não me pareceu, pela leitura nem pelo discurso que fez D’Ávilla, que seja essa a intenção dele. Pelo contrário. 

No discurso de apresentação da obra D’Ávila fez  defesa da liberdade contra o constrangimento e o ódio que exala das campanhas de Jair, Lula, Ciro e Moro. 

Na literatura que uso para atualização do estudo da estratégia, o livro do D’Ávilla chegou em boa hora, para juntar-se a dois outros que melhor definem o uso do constrangimento como instrumento de ação política: “A Espiral do Silêncio” de Elisabeth Noelle-Neumann e “Os Engenheiros do Caos”, de Giuliano Da Empoli. 

Viva a liberdade! A liberdade para escolher, sem constrangimentos ou desalentos, quem governará o país pelos próximos quatro anos. E que fique aqui o registro: os candidatos que usam o constrangimento como instrumento de campanhas preferem um povo escravo a um povo livre, porque argumentar num ambiente onde existe liberdade é difícil mesmo.  

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Debate decide?

Entre todos os bons debates políticos que há como referência, o primeiro ocorrido na TV americana entre Nixon e Kennedy é o mais estudado, pelas lições no campo da imagem e conteúdo. Nixon chegou ao estúdio com uma vantagem de seis pontos percentuais na pesquisa de intenção de votos. Após o debate a diferença diminuiu aos poucos, mas com rapidez, até ser revertida a favor de Kennedy e de lhe dar a vitória. Nixon passou todo o tempo preocupado com o adversário. Kennedy falava para as câmeras como se falasse com o eleitor. 

A imagem física deu vantagens ao Kennedy. Tanto é que, após o debate, as pesquisas identificaram um fenômeno: quem ouviu pelo rádio deu vantagem a Nixon que, sem dúvida, tinha mais experiência e vigor com as palavras. Quem assistiu pela TV considerou Kennedy muito melhor. Já fiz vários comentários e análises sobre este debate. 

Os debates têm importância numa campanha, mas o resultado de uma eleição se dá pelo conjunto da obra, que começa no momento em que o candidato decide concorrer. Há os prazos legais, é verdade, mas que a política não respeita, porque os prazos legais estão no campo da racionalidade e campanha é sentimento, vontade, determinação. 

Se o candidato decidir muito tarde, terá que correr mais que os adversários; se decidir muito cedo, terá tempo para planejar com capacidade de avaliar cada passo. O aviso ao público se dá em tempo e com resultados diferentes, a depender da estratégia traçada pelo candidato. A ocasião dele ou dela compartilhar com outras pessoas o desejo de disputar será melhor aproveitada se considerada como estratégia. E, por ser uma decisão estratégica de um exame  com base nos conceitos de oportunidade e ameaça. O tempo certo de compartilhar definirá o tempo que se tem para planejar a campanha. 

A vontade de ser cria o discurso e ele, o debate, que se dá quando a mensagem do candidato, peça fundamental numa campanha, faz o adversário reagir. Sem a reação do adversário, não existe debate e o discurso segue o impulso que lhe deu o seu autor e pode passar pelo eleitor sem ser notado. Sabe-se que o eleitor notou o discurso, quando o adversário reage. Eu não considero como debate uma discussão ou troca de opiniões entre candidatos. Para mim aí se terá uma conversa, que pode ser agradável ou desagradável, para um ou para todos os candidatos. Para ser um debate a troca de opiniões e palavras deve provocar reações entre os adversários a ponto de elas serem capturadas pelos eleitores e transformadas em voto ou negação. 

O confronto com efetividade pode ser entre as imagens, ideias, opiniões, acusações, apoiamentos e, de forma mais fria, propostas. O relevante é saber que a qualidade e o teor dos debates como elemento de convicção é decisão do eleitor. Por isso, perde tempo o candidato que debate com os adversários se não compreender que eles são veículos, plataformas, simplesmente, que precisam atingir os eleitores pelas reações dos adversários. 

Para um estrategista o conceito é relevante, decisivo, quando ele prepara um candidato para um debate. Uma conversa fria, sem provocar reação dos adversários presentes e mesmo ausentes, não anima os apoiadores nem conquista novos. Ou seja, o candidato que chega aos debates com vantagem nas intenções de votos deve ficar na “retranca” e só oferecer energia ao debate se perceber que perde posições na imagem que tem com o eleitor. 

Preparar um candidato para um debate não é trabalho fácil, que se transforma numa rotina, porque cada debate é um novo jogo e pede novas estratégias. O candidato deve entrar em campo com uma meta objetiva e tendo um objetivo como meta. Digamos que esse objetivo seja se tornar mais conhecido, então, ele precisa ser contundente, ter presença forte. Mas, ser conhecido como o quê? Como um bom administrador público ou como um agente conservador, liberal? Que tema deve ser melhor aproveitado? 

Os debates relevantes para a história e estudos são os das campanhas presidenciais, mas há debates que aconteceram em outros tipos de campanha que ensinam bastante. Iniciei a prosa com um debate entre Nixon e Kennedy, nos EUA. A trajetória política de Richard Nixon tem muito a ensinar estrategistas. Ele fez uma carreira rápida até a Vice-Presidência da República. Perdeu a eleição para Kennedy, em seguida, se candidatou a governador da Califórnia, seu reduto eleitoral, e perdeu. A imprensa americana deu-lhe como morto. Se morreu, ressuscitou como Presidente da República ao vencer Hubert Horatio Humphrey.  E nessa estrada venceu outros debates. 

As campanhas presidenciais no Brasil aconteceram na TV, a partir de 1989, quando a sociedade conquistou o direito de eleger novamente os presidentes. O primeiro debate aconteceu nos estúdios da TV Bandeirantes, na abertura da campanha, no dia 7 de julho. Marília Gabriela moderou. Foi um debate rico, mas que não atendeu ao avisado pela moderadora: “Tem o objetivo de esclarecer os eleitores quanto às propostas e aos programas de governo dos candidatos”. A primeira experiência se estendeu no tempo: ficaram as frases de efeito, as provocações e as passagens mais engraçadas. 

Voamos no tempo em tecnologia, qualidade de comunicação e imagem e chegamos à eleição de 2018, quando houve uma reviravolta nos prognósticos das campanhas. A Bandeirantes saiu na frente, novamente, e, em razão da pandemia, ficou isolada na realização de debates. A tecnologia ofereceu ao eleitor a oportunidade de participar diretamente. A TV montou uma sala para pesquisa digital on-line. Novamente, prevaleceu a capacidade do candidato de, ao provocar os adversários, produzir fatos e conquistar eleitores.

Por Jackson Vasconcelos

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No jogo político, a imprensa tem lado

Um erro bem comum na política é enxergar a imprensa como uma arma do demônio e, nas campanhas, como instrumento de notícias imparcial. A imprensa, na política e nas campanhas, é um agente político. Vi políticos e candidatos acreditarem-se com vantagem, porque estariam protegidos pela boa relação com a imprensa. Mas, eles, em algum momento, decepcionam-se e aborrecem-se. 

A imprensa, na política e nas campanhas só tem boa relação com os fatos que conseguem audiência e se o ambiente é de polarização, como tem acontecido, ela aplica todos os seus esforços aí.  O Brasil tem um histórico bem interessante na relação da imprensa com a política: Samuel Wainer, Chateaubriand, Roberto Marinho, Lacerda, Ari de Carvalho, José Maria Rebello, que faleceu no finalzinho do ano passado, com 94 anos de idade. Ele criou o Binômio, um jornal dedicado, quase exclusivamente, a fazer oposição a Juscelino Kubitschek. 

O historiador Cláudio Bojunga, biógrafo de Juscelino, autor do livro “JK o artista do impossível”, registra: “Juscelino também era bombardeado por um jornaleco chamado O Binômio, precursor da imprensa alternativa, editado por José Maria Rabelo e Euro Arantes, cujo primeiro número saiu no dia 22 de fevereiro de 1952. O nome já era uma gozação do slogan do governador, que eles reescreveram como “sombra e água” fresca, insinuando que concordavam com Oscar Dias Correia em apresentar JK como indolente e gozador da vida(…). José Maria Rabelo diz hoje que O Binômio foi “uma brincadeira que a política levou a sério”. 

Numa das viagens de JK, governador, a Araxá, ele levou, na comitiva, o empresário de jogos e turismo, Joaquim Rolla. O Binômio produziu a manchete: “JK foi a Araxá e levou Rolla”. O secretário de Segurança Pública, Geraldo Vidigal – disse Bojunga, alegou ofensa às tradições morais do povo mineiro e mandou recolher a edição. 

No livro do Bojunga há várias outras menções ao tipo específico de relação da imprensa com a política. Mas, quem quiser ir além disso, pode usar a biografia de Samuel Wainer, “Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter” ou ao “Chatô, o Rei do Brasil”. E muitas outras obras. 

O Presidente Jair Bolsonaro não gosta da imprensa. Hillary Clinton também não. O ex-Presidente Trump, muito menos. Fernando Henrique Cardoso, nem se fala! Lula apanhou muito. Brizola odiava o Sistema Globo de Rádio, jornal e tv e era odiado por ele. Ari de Carvalho, proprietário do jornal O Dia, enquanto viveu,  pintava e bordava com os políticos que não se alinhavam com ele. 

Então, seria razoável dizer que a imprensa, no jogo político, é um agente de oposição. Mas não é bem isso. Ela é um agente político que, por conveniência dos editores e interesse comercial, ou até mesmo por espírito de vingança dos repórteres, pode ser de oposição ou de situação. 

O jornalista Maurício Dias me disse algumas vezes: “Não acredito em liberdade de imprensa, mas em liberdade de expressão e liberdades políticas. Os veículos de comunicação têm interesses políticos, econômicos e comerciais”. Esta declaração está presente também numa longa entrevista que ele concedeu ao Mercado de Notícias, disponível no Youtube.

A política e a imprensa são temas que se misturam e quem faz política precisa conhecer muito bem esta relação se quiser sobreviver com sucesso. Mas, quem faz imprensa no segmento da política também necessita, para não estimular o risco de ser usado. 

No histórico da relação da imprensa com a política existem casos – muitos casos – que mostram o quanto isso acontece. Um bom exemplo é a substituição da Ministra Dorothea Werneck pelo político Francisco Dornelles no Ministério da Indústria e Comércio no governo Fernando Henrique Cardoso. 

O presidente queria a troca, mas não tinha como justificá-la com a Ministra. Então, o jornalista Márcio Moreira Alves ajudou com uma coluna dedicada exclusivamente ao Francisco Dornelles, do título ao ponto final. 

Não se pode encerrar um artigo em que se trate da relação da imprensa com a política sem trazer um caso clássico: Watergate. Dois jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein levaram um presidente americano à lona – Richard Nixon. A história foi reproduzida num livro do qual se fez um filme, “Todos os homens do presidente”. 

É um clássico de preservação da fonte, que só se soube quem era quando o próprio informante declarou-se muitos anos depois do fato. Um clássico também de investigação realizada pela imprensa. O  informante nunca deu uma informação aos jornalistas, mas pistas, que eles perseguiram na apuração. Sobre o tema é também relevante a leitura de Garganta Profunda, outro clássico sobre a relação da imprensa com a política. 

Por Jackson Vasconcelos

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Tudo sobre: Pesquisas eleitorais

O que é uma pesquisa? É um dos modos de se saber o que as outras pessoas pensam sobre assuntos do interesse de quem pesquisa. Quando se está no ambiente das eleições, as pesquisas acontecem no curso das campanhas e existem para que os candidatos e suas equipes conheçam  a tendência de voto dos eleitores e também a opinião deles e delas sobre os assuntos que estarão no debate, nas discussões e nas conversas sobre os candidatos. 

Para conhecer as tendências do voto, faz-se uma pesquisa de quantidade. Para se conhecer as opiniões sobre os temas e candidatos, faz-se uma pesquisa de qualidade. No ambiente, essas pesquisas são conhecidas como qualitativas e quantitativas. 

Mas, a atividade de pesquisar não é tão simples, porque o eleitor sofre influências do clima, da opinião pública, do próprio ânimo e até da própria campanha, onde se mede a tendência do voto. A própria pesquisa pode mudar a direção da opinião. 

Contudo, o que se tem visto com bastante frequência é o erro com a realização das pesquisas, muitas vezes até sem os cuidados essenciais e fundamentais com a amostra e os questionários. Amostras e questionários mal elaborados distorcem os resultados. 

Uma atitude bem comum tem sido atribuir-se erros de avaliação aos institutos de pesquisa quando os resultados das eleições não confirmam as previsões. É preciso tomar cuidado com o comportamento, porque a pesquisa é feita com seres humanos, por definição, livres para mudar de opinião a todo instante. 

Por isso, existe outro elemento relevante: a análise dos cenários. 

Qualitativa

As qualitativas respondem ao “como?” Identificam a presença ou ausência de determinadas qualidades ou características. São pesquisas que focam no caráter subjetivo do candidato analisado. As respostas não são objetivas e permitem explicações. O objetivo não é contabilizar quantidades de eleitores por preferência, mas, sim, compreender o comportamento do eleitor. A finalidade é entender a razão das escolhas. Quanto à coleta, à amostra, na qualitativa vale a qualidade da amostra. 

Quantitativa

As quantitativas medem quantidade. No caso de eleições, a pesquisa define o número de eleitores que informam ou opinam sobre as questões levantadas pelos entrevistadores. As informações e opiniões são agrupadas com técnicas estatísticas e geram um resultado numérico. As quantitativas respondem à pergunta: “quanto”? Quantos eleitores votam em fulano ou não votam de jeito algum em fulano. 

Outro ponto relevante é a definição de quantitativa com base nas amostras. O tipo de amostra é uma das características que diferenciam uma pesquisa quantitativa da qualitativa. Na quantitativa, a quantidade define a amostra. 

Para se alcançar um resultado confiável, a pesquisa quantitativa precisa de questionários com perguntas objetivas, curtas e claras, que não permitam subjetividade, ser algo como “sim ou não?”

Meios de realizar uma pesquisa:

Quem pesquisa a tendência de voto e as opiniões dos eleitores pode usar várias formas de coleta de dados. Vários caminhos. Nas campanhas, os mais comuns são por telefone e presencial. Fala-se muito em pesquisa de profundidade, que busca entender a mudança de tendência e opinião. 

Pesquisa no campo:

Acontece quando os pesquisadores abordam os eleitores no ambiente deles, seja nas ruas, nos parques, em casa, enfim, onde eles possam ser encontrados. Muita gente acredita que seja uma atividade simples de sair às ruas e perguntar. Não é. Para que a pesquisa dê bom resultado, antes de iniciar a coleta das informações, é preciso saber como está o ambiente: faz muito calor, faz muito frio, choveu bastante ontem e etc. Na abordagem é preciso saber como abordar, entender se a pessoa respondeu com pressa, com calma, se irritada e coisas parecidas. É na leitura do cenário que a pesquisa de campo se torna melhor. O olhar, as reações faciais, tudo que possa representar a reação do pesquisado é relevante. 

Por telefone:

Também por telefone é preciso ter os cuidados com relação às ocorrências no ambiente do entrevistado para saber se houve ou está a ocorrer fatos que possam mexer com o ânimo do eleitor. No dia anterior, por exemplo, um temporal, uma decisão do governo que criou irritação ou alegria, enfim, o importante é ter segurança sobre o ambiente onde o eleitor está presente e os fatos que podem influenciar a opinião dele.  Por telefone, se perde a possibilidade de capturar as reações e saber como está o ambiente em torno do entrevistado. 

Por internet: 

É possível realizar uma pesquisa pela internet? Sim, é possível, como acontece com as pesquisas por telefone. Só é preciso ponderar o ambiente onde o conjunto de perguntas e respostas acontece. Pode haver interferência externa, como a qualidade da rede, pessoas que entram no ambiente, o interfone que toca e outras questões mais. 

Sobre: Pesquisa por profundidade

No mercado de eleições atribui-se o termo de pesquisa de profundidade o que, na verdade, não é. Chama-se de profundidade o ato de simplesmente perguntar novamente aos mesmos pesquisados, depois de algum tempo, para identificar a mudança na tendência do voto ou opinião. Os pesquisadores separam um grupo de nomes da coleta já feita e retornam com as mesmas questões. Uma enganação! Para realizar uma pesquisa de profundidade é preciso saber, antes, que tudo o que é profundo leva tempo e exige novos questionamentos. Algo um tanto socrático. Ora, quando se quer profundidade numa pesquisa, ou seja, saber com profundidade o motivo das escolhas e opiniões, necessário é gastar tempo com o eleitor, puxar dele todas as razões de suas crenças, valores, ambições para, aí sim, entender a razão do voto. 

Amostras:  A escolha correta da amostra define o resultado. 

As pesquisas são “exercícios de estatística” e a estatística é a parte da matemática que estuda os métodos para coletar, organizar e analisar dados de diferentes áreas com o objetivo de sustentar decisões. 

No campo da estatística o conceito de amostra é básico. Como nosso tema é eleição, a pesquisa sem margem de erro acontece no momento do voto, porque todo o universo de decisão foi ouvido. O resultado da eleição é a possibilidade apurada pelas pesquisas e elas trabalham com as amostras, ou seja, com o que é informado por uma pequena parte de todo o universo, que apresenta as mesmas características. No campo conceitual a gente intitula de amostra proporcional estratificada, que consiste em dividir a população em estratos – em subgrupos. 

Ora, se a amostra não é a representação do todo, do universo inteiro a ser pesquisado, teremos uma brutal distorção no resultado. 

Como seria infinitamente caro ouvir todos os eleitores, os pesquisadores fazem as pesquisas por amostragem.  

Questionários: 

Os questionários representam as dúvidas dos pesquisadores. O que eles precisam, realmente, saber. Como em qualquer situação, a maneira como a pergunta é feita e na ordem em que é formulada pode mudar a resposta, quem prepara os questionários precisa ter o cuidado de não influenciar o resultado com base na composição dos questionários. 

A formulação dos questionários e a amostragem são as atividades mais relevantes na preparação de uma pesquisa. Depois delas, a leitura. 

Perguntas e respostas. 

  1. Para que serve uma pesquisa eleitoral?

Para se medir o grau de conhecimento que o eleitor tem de quem está disputando uma eleição e em que nível de preferência ele fará as escolhas dos candidatos apresentados a ele, no momento da pesquisa. 

  1. O que quer dizer a resposta espontânea?

Ela acontece quando o eleitor é chamado a dizer o nome do candidato de sua preferência sem que lhe seja apresentado o nome dos candidatos. Como a resposta é fruto da memória não estimulada, ela indica que os candidatos citados espontaneamente são os que estão na memória do eleitor. 

  1. O que é a pesquisa induzida ? O que ela informa?

Quando o eleitor recebe do entrevistador uma lista com os prováveis candidatos e diz qual a sua preferência. Neste caso o eleitor compara os candidatos. Agora não é só a memória com relação a um candidato, mas existe comparação entre os conceitos que o eleitor acredita serem os mais indicados para quem disputa a eleição. 

  1. Por que os institutos de pesquisas separam os eleitores por sexo, religião, idade, grau de instrução e outras características?

Para criar uma amostragem da sociedade, pois seria impossível e caro demais ouvir todos os eleitores.  Então, os entrevistadores organizam os eleitores por segmentos, dando-lhes um peso. Os segmentos são escolhidos pela característica que pode decidir o voto. Faz-se isso, considerando a proporção de cada segmento no universo total. No universo total há, por exemplo, 51% de mulheres. Na amostragem se terá 50% de mulheres escolhidas aleatoriamente. Se 30% de evangélicos no universo, na amostragem se terá a mesma proporção. Um erro na amostragem distorce todo o resultado. 

  1. Por que os institutos perguntam em quem o eleitor não votaria de jeito nenhum?

Para medir a rejeição que o eleitor tem a um candidato e do mesmo modo como no caso da intenção de voto, a rejeição pode aparecer espontaneamente ou de forma induzida, quando o eleitor compara os candidatos para decidir qual rejeitará. 

  1. Uma pesquisa antecipa o resultado de uma eleição? 

Não. Uma pesquisa retrata o momento do eleitor, que por ser humano, pode mudar as escolhas que fará diante de qualquer fato que influencie as suas escolhas. 

  1. Posso dizer que os institutos não são confiáveis, quando eles erram os resultados?

Não. Para afirmar que um instituto errou, o critério é de avaliação da metodologia e não do resultado na eleição, porque o eleitor, ser humano, tem liberdade para mudar de opinião e pode ser que, no momento da pesquisa, tenha respondido influenciado por vários fatos. Até mesmo o resultado de uma pesquisa pode fazer com que o eleitor mude de opinião.

  1. Então, uma pesquisa pode influenciar o voto?

Sim, pode, se o critério de decisão do eleitor for esse. É muito difícil descobrir os critérios que os eleitores utilizam para decidir o voto. Tudo é muito subjetivo.  

  1. Qual o risco de uma pesquisa numa campanha eleitoral? 

Desanimar que está em desvantagem e criar euforia em que está em vantagem. Mas, pode acontecer que a desvantagem faça com que o candidato reorganize suas posições e ganhe estímulo para ser mais aguerrido. E pode acontecer que o candidato que esteja na frente abra a guarda, relaxe e isso criar uma vantagem para o adversário. 

Por Jackson Vasconcelos

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A demagogia é ponto de encontro entre o réu e o juiz

Ano de 2003. Posse do Presidente Lula. Ele criou e anunciou o Programa Fome Zero, o publicitário Duda Mendonça criou a campanha e a Associação Brasileira de Agências de Publicidade pagou a conta do lançamento. O programa seria sustentado por doações feitas pelo número 0800 707 2003. Não preciso tomar o tempo de vocês para explicar o que aconteceu com o Programa, com Duda Mendonça e com as empresas de publicidade envolvidas com o governo. 

Quando ouvi o jingle de lançamento do programa, vi logo que alguma coisa não batia bem entre a letra e a ideologia do PT. O jingle serviria bem, muito bem mesmo, como um hino liberal. Transcrevo para argumentar, mas vocês podem encontrar a peça no youtube. Se quiserem, eis o endereço: https://youtu.be/I0vphplWlX8 

“Todo mundo tem direito de plantar; todo mundo tem direito de colher. Todo mundo tem direito de ganhar, pra todo mundo comer. Todo mundo tem direito de ensinar; todo mundo tem direito de aprender. Todo mundo tem direito a trabalhar, pra todo mundo ter direito de comer…”.

Os liberais entendem que é obrigação do Estado garantir os direitos que a sociedade conquistou e ela mesma estabeleceu nas leis que autoriza e chancela. E tais direitos estão acompanhados por deveres de cidadania.  

Os demagogos não. Para eles os direitos são concessões que o Estado faz por ser caridoso. Não deveres para todos. Para alguns, sim. Para os demais, privilégios e prerrogativas. Por isso, a campanha do Fome Zero baseou-se em doações, apesar do jingle que diz que o trabalho, o ensinar e aprender, o plantar e colher, resolvem a fome. 

A demagogia é uma estratégia de comunicação. Aristóteles, em sua obra “A Política”, define como adulação para conquistar o poder. E nenhuma outra necessidade humana é tão propícia para a demagogia como é a fome. Por isso, o Fome Zero do Lula ganhou corpo novo discurso do seu algoz, Sérgio Moro. Chama-se “Força-tarefa nacional para erradicação da pobreza”. Ele diz que será algo parecido com a operação Lava-Jato. Será criada uma Agência para erradicação da pobreza e farão parte dessa agência, “Os melhores entre os melhores da administração pública”. Dito por ele, pessoas que, certamente, serão escolhidas por ele e como são os melhores entre os melhores, serão gente que não é pobre. 

Moro se diz um liberal. Na JP News ele afirmou ser. Fez isso assim meio se defendendo, mas fez. Disse ele: “Na economia eu sou bastante claro…sou um liberal”. Bem, como ele é um liberal, poderia adotar o que ensina o jingle do Fome Zero. 

O melhor programa de erradicação da pobreza é a redução do Estado, para que seja possível reduzir os impostos, diminuir a burocracia e deixar que o povo trabalhe e se prepare da melhor forma para encontrar os melhores trabalhos. Com o Estado pagando auxílio-moradia para juízes que têm casa própria e cedendo dinheiro para os partidos pagarem salários para os seus candidatos, teremos pobreza por um bom tempo.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Chega de esmolas!

Já demos tempo demais aos socialistas. Tenho 10 perguntas para fazer a você, que me lê, para as quais tenho uma só resposta. Contudo, pode ser que você tenha outra ou outras mais. Quem sabe? 

Começo, então, o questionário: 

  1. Qual é o problema se existem 33 partidos políticos no Brasil ou se vierem a existir 330, 3.300 ou 33 mil se cada um deles for sustentado exclusivamente pelos filiados? 
  2. Que mal há no fato de a Justiça Eleitoral autorizar um pleito para, depois de realizado, anulá-lo e realizar outro, se quem tomou a decisão pagar as despesas ou assumir os prejuízos? 
  3. Você vê algum problema na anulação de processos judiciais já julgados em várias e repetidas instâncias, se quem deu causa aos prejuízos pagou por eles? 
  4. Que mal há no fato de a União ser o acionista majoritário de algumas empresas, como Petrobras, Correios, Eletrobras e um punhado de outras, num mercado aberto à concorrência para que os consumidores e usuários possam decidir que serviços ou produtos preferem? Que mal há se essas empresas, se vencidas pela concorrência, encerrarem suas atividades sem nenhuma frescura burocrática?
  5. Seria ruim ter mesmo programas como Bolsa Família ou outros auxílios assistenciais, que mudam de nome como o país muda de governo, se os beneficiados estivessem obrigados a assinar um contrato com prazo certo de vencimento? Situação que os obrigaria a não depender por muito tempo do dinheiro do resto da sociedade? 
  6. Que prejuízo poderia ter a sociedade brasileira com universidades e hospitais públicos se quem utiliza esses serviços e pode pagar, pagar por eles? 
  7. Haveria algum problema no fato de a União ter 608 mil servidores públicos se eles forem necessários pela  necessidade dos serviços que prestam à sociedade e competência com que fazem isso? 
  8. Qual é o problema se ter aposentadorias de valor alto ou valor baixo, se quem as recebe pagou por elas? 
  9. Você veria  algum problema no fato de ex-presidentes da república permanecerem com os salários, seguranças e outros cuidados se estivessem impedidos de exercerem outras atividades remuneradas e impedidos de voltarem à presidência? 
  10. Que problema nos poderiam causar as residências e carros oficiais se os usuários pagassem pelo privilégio? 

Eu estaria satisfeito se o Estado Brasileiro, seus agentes e quem depende deles estivessem sujeitos às condicionantes que coloquei em cada questão. E você? E se você concorda comigo, acredita que o que está dito aqui poderá ocorrer em algum momento na vida do País? Eu acredito. E como se fará isso acontecer? 

É preciso que no Congresso Nacional, tenhamos mais liberais do que socialistas. 

Para se ter idéia do desafio que isso representa, registro que ao longo da nossa história, essa conta sempre esteve e está a favor dos socialistas. Por isso, a agenda de problemas do povo brasileiro não se vence. Aquele problema que pensamos resolvido, volta logo ou a qualquer momento. Perdemos a noção dos direitos como cidadãos, para recebê-los como donativos, socorro ou ato de filantropia de quem está no poder. 

Se conseguirmos colocar no Congresso Nacional uma maioria de liberais, o Brasil será melhor, ainda que venha a ter um presidente que diz que é, mas nem sabe o que isso, exatamente representa; ou um presidente que finge que é, por pura esperteza ou, ainda, um presidente que não esconda que não é e abomina que seja. É no Congresso que a coisa acontece. 

Encerro o texto de hoje com uma frase apropriada que tirei do melhor livro que li (sem exagero) sobre as funções de um historiador: “A Apologia da História ou O Ofício do Historiador”. Vale ler. É de Marc Bloch. O livro cumpre o compromisso do autor de falar para todos e ter responsabilidade com a verdade e quando, não a encontrar plenamente, deve dela se aproximar com responsabilidade e respaldo nos fatos. 

Pois bem, Marc Bloch diz: “Da ignorância do passado, nasce fatalmente, a incompreensão do presente”.  Estejamos vocês certos de uma coisa: o socialismo não deu certo e já teve tempo suficiente entre nós para provar o contrário. É hora, portanto, de  não ignorar o passado, quando chegar a hora de votar. 

Boa semana para todos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O retorno do Lula e a Síndrome de Estocolmo

Lula deseja voltar a ser presidente. Para ter sucesso, ele faz uma campanha no estilo que
sempre fez por acreditar que o povo não gostou do resultado de uma eleição cheia de
novidades, como foi a de 2018. Por isso, ele visita e atrai líderes políticos e partidos para
firmar alianças e ter um bom espaço de exposição na TV e no rádio e capilaridade para a
mensagem que quer levar ao povo.
Para o modelo funcionar, Lula precisa de demônios contra os quais lutar. Há muitos. O mais
relevante deles é o que defende um Estado submetido à vontade do povo e garantidor de
direitos e não de favores. Lula tem afirmado: “O Estado fraco não serve para nada” e atribui
a fome do povo ao limite de gastos imposto pela lei ao Estado.
Quem, entre os candidatos que se apresentaram até agora à disputa com Lula, defende o
contrário? Antes existe uma questão a responder: O que é o Estado, afinal de contas? Seja
qual for a definição, o Estado está representado pelos agentes públicos, alguns eleitos,
outros nomeados após prestarem concursos públicos e outros escolhidos pelo critério da
bajulação e subserviência aos agentes eleitos. Isso vale para a União, Estados e Municípios
e para os Três Poderes.
Lula defende que toda essa gente aboletada no Estado esteja a serviço de si própria, como
a serviço próprio funcionam as corporações e sindicatos, que Lula conheceu e governou.
Nesse ponto, Lula encontra-se com Bolsonaro e com outros adversários, todos a favor de
um Estado que se justifique em si mesmo.
Ao eleitor caberá a decisão sobre o caminho a tomar, não só quando ele dirá quem será o
Presidente do Brasil a partir de janeiro do próximo ano, mas também ao escolher os demais
personagens que darão vida às normas e decisões que regulam o modo como o Estado
funciona, caso dos deputados, senadores e governadores.
As campanhas dos candidatos têm o objetivo de convocar e convencer os eleitores, mas há
eleitores com consciências sequestradas pelos defensores do modelo de apropriação do
Estado pelos seus agentes. Na eleição saberemos quem está em maioria.
O sequestro das consciências se faz pela troca do conceito de direito pelo de favores. Os
agentes deixam de ser prestadores de serviços à cidadania, pagos para isso, para serem
agentes da caridade pública, do mesmo modo pagos com salários que os agentes julgam
atos de reconhecimento pelas atitudes de compaixão.
Os agentes eleitos sequestram a consciência do eleitor e depois, levam-na à uma situação
que a psicologia denominou de Síndrome de Estocolmo, que se dá quando a vítima cria
afeto pelo agressor, por acreditar que a agressão poderia ser maior e não é, por
benevolência de quem agride. Por exemplo: o desvio do dinheiro é recompensado com
bolsas isso, bolsas aquilo, pelo tráfico de influência para empregar um amigo, filho ou
aliado, pelo empréstimo no banco público e matrícula na creche. E a vítima agradece.
Agradece e vota.

O evento que deu à psiquiatria o conceito da síndrome de Estocolmo aconteceu há 48 anos,
no dia 23 de agosto de 1973, quando um sujeito, Jan-Erik Olsson (Janne Olsson) assaltou
uma filial do Kreditbanken, em Estocolmo, e fez reféns e esses refëns, numa situação limite
de pânico e desespero, acreditaram que os sequestradores, por não lhes terem tirado a vida
ou feito mal maior, deveriam ser amados e receber agradecimentos.
“Para comprovar a grandeza dos meus atos”, diz o candidato em campanha, “Eu preciso,
com mão de ferro, manter a situação no país sob o meu controle e isso vale também para a
sua vida, quando eu evito que você faça mal a você mesmo, por ignorância”.
O fardo desse modelo tem sido pesado demais para não ser percebido por quem o carrega
e só uma coisa justifica a decisão de quem o carrega de não jogá-lo fora: uma anomalia
psíquica: a síndrome de Estocolmo.
Boa semana.

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A política é a arte; a estratégia é o pincel

A política é um admirável instrumento de relação humana. Ela torna possível a situação que a eleição na Alemanha criou, quando o povo elegeu um partido e um candidato de oposição sem derrotar um governo.  

O candidato da chanceler Angela Merkel e do partido dela, União Democrata-Cristã (CDU), perdeu a eleição, mas o governo dela, representado pelo Ministro das Finanças e pelo partido dele, o Social-Democrata (SPD), saiu vitorioso. Ressurgiu das cinzas. 

O modo como funciona a eleição na Alemanha leva o povo a eleger candidato e partido, mesmo não coincidentes,  e os eleitos que se virem para governar. Ou se unem num propósito comum ou o povo voltará a pronunciar-se. Há quem diga que tal fato só acontece nos sistemas parlamentares, mas é assim também nos presidencialistas. O eleitor escolhe quem governará e após isso, os partidos e governantes que se entendam para atender às expectativas que os eleitores registraram na hora do voto. 

Quando falta maioria ao presidente, ao governador ou ao prefeito eleito, isso não pode ser argumento para o fracasso. Eles que encontrem o caminho das possibilidades, assumam as consequências e cumpram o que prometeram aos eleitores. 

Para ajudá-los nesta arte da convivência, até com os contrários, existe a política. Então que a exerçam. Conversem, recuem, avancem, componham, porque o ato relevante é garantir ao povo que ele seja representado e plenamente correspondido naquilo em que acreditou. Para entenderem até que ponto podem recuar, avançar e compor sem perder o poder e os objetivos, há a estratégia. Então, que a utilizem. 

Nos sistemas parlamentares e presidenciais, isso tem o nome de democracia – o exercício do poder pelo povo, diretamente ou por intermédio de quem o representa, indicado pelo voto livre.  

Acontece que em terras brasileiras criou-se o rito de fracasso da política para abrir-se caminho para a corrupção como elemento de composição ou para a radicalização, que os modernos chamam de polarização. Neste ambiente os contrários não conversam e chegam a se odiar. No máximo, vendem a consciência e no fim da linha, o povo fica fora do jogo, a democracia padece, a política perde o sentido e a estratégia tem serventia pessoal. 

O Brasil precisa de uma reforma no modo como funciona a sua democracia. 

Vejam vocês. Angela Merkel venceu quatro disputas consecutivas e governou a Alemanha durante 15 anos, um feito e tanto num sistema que depende de composições políticas, algumas vezes até com os contrários. Ninguém sobreviveria tanto tempo no poder no Brasil, sem tornar-se um tirano ou velhaco. Já se viu isso. 

A disposição para o diálogo não substituiu a autoridade da Angela Merkel. Entre todos os exemplos, há o caso dos refugiados sírios. A chanceler dispensou a popularidade e o desejo de uma nova eleição. Ela, simplesmente, decidiu, não sem antes explicar suas razões, o que fez do ato, uma atitude de autoridade e não autoritário.  Foi uma decisão humanitária? Sem dúvida, mas, certamente, Angela Merkel percebeu no fato, a oportunidade de quebrar a imagem de impiedade que a Alemanha passou do tempo do nazismo. 

Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD) será, quem sabe, o novo chanceler da Alemanha. Mas, para isso, terá que compor uma aliança entre os partidos, numa situação que, certamente, levará dois extremos à convivência: o Partido Verde e o Freie Demokraten (AFD), que representa a extrema-direita. Que coisa, né? 

Para a política brasileira, se terá o representante do partido que visitou Lula na prisão e condenou as decisões de Sérgio Moro, em aliança com o partido que enviou a deputada Beatrix Von Storch, da extrema-direita, para uma foto com Jair Bolsonaro. Lá, para eles, esses atos são atos políticos, que nossa gente responde com a intolerância que substituiu a política. 

Boa semana para todos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos