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Caramba!

As pesquisas provocam fortes emoções nos políticos e em quem vive da arte. Com os resultados, uns vibram de alegria e outros trincam os dentes de raiva. A população só desconfia, segue em frente e, no tempo certo, mostra que todos podem ter errado. 

Certamente, é o que aconteceu durante a semana com o resultado do Datafolha. Foram ouvidas 2.065 pessoas, uma amostragem correta e que representou todas as regiões do Brasil, um exercício que só a estatística permite fazer: ouvir a opinião de 200 milhões de pessoas com um processo que seleciona pouco mais de duas mil. 

O Datafolha fez a pesquisa por telefone, por causa da pandemia, e concluiu que o governo do presidente Jair Bolsonaro apresentou uma avaliação de ótimo e bom superior a todas as outras apuradas desde a posse. O salto foi de 32% para 37%. A reprovação (conceitos ruim e péssimo) recuou 10 pontos percentuais, de 44% para 34%. A parcela que nunca confia nas declarações do presidente caiu de 46% para 41% 

Percebi a surpresa de todos, tantos dos contrários como dos favoráveis ao presidente. Vi isso nas redes e no noticiário da imprensa tradicional. Outra pancada forte da surpresa está no quesito de responsabilidade direta do presidente pela morte de 100 mil pessoas, vítimas, no Brasil,  da pandemia. 

Uma questão estranha, mas real, porque o Instituto fez a indagação. Qual seria o objetivo de uma pergunta como essa? O questionário foi apresentado à população no curso de uma campanha forte que fizeram a imprensa e os adversários do presidente, para colocar no colo dele a culpa pelo insucesso das medidas de prevenção. 

Pois bem, com campanha e tudo, 47% dos entrevistados afirmaram que o presidente não tem culpa e 41% que ele tem culpa, mas não é o principal culpado. 11% culparam o presidente. 

As surpresas no campo da disputa eleitoral são consequência de um erro clássico de estratégia, o ato de querer adivinhar com base no atitude de subestimar ou superestimar quem é avaliado.  O Datafolha frustrou os adversários do Presidente, que subestimaram o talento dele para conseguir votos com base nas marolas que ele faz para governar. E, deve ter também surpreendido os aliados que superestimaram o poder demolidor dos adversários, em especial, a imprensa. 

Com relação ao presidente Jair Bolsonaro Já é hora de reconhecerem que o sujeito tem o feeling apurado, quando o voto é o assunto principal e o pouco caso aguçado se em pauta está a preocupação com o ato de governar. 

Uma das estratégias abordadas no livro que publiquei antes das eleições de 2018, “Que raios de eleição é essa?”, está a estratégia 35, exemplificada por uma episódio que presenciei na campanha indireta do ex-presidente Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral. A regra é: Não subestime. Também, nunca superestime. Sempre considere o adversário com o tamanho que ele tem. E para isso, é fundamental, que numa disputa eleitoral o candidato conheça tão bem o adversário como conhece a si mesmo. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Bolsonaro e o “tecnopopulismo” de Gabeira

Fernando Gabeira publicou na última sexta-feira(7), no Estadão, o artigo , “Os caminhos do tecnopopulismo”. No centro, está Jair Bolsonaro, mas para encaminhar o assunto principal: o jogo da imprensa tradicional contra as redes digitais. 

Desde a facada no abdômen do Jair Bolsonaro durante a campanha para presidente, a imprensa brasileira não trata de outra pessoa com o relevo que dá a ele. Nem a potência destruidora da pandemia e as fake-news excluíram  o presidente do noticiário principal. Pelo contrário, ele está misturado nisso tudo. 

No caso da pandemia por conta própria e no das fake-news, por estratégia da imprensa, do judiciário e das lideranças políticas feridas pelo presidente. Toda essa gente quer convencer o povo que a eleição do Jair Bolsonaro foi uma fraude tornada possível pela liberdade que se tem para usar as redes digitais. 

Certamente, na história política do Brasil, ninguém ocupou o espaço que Jair Bolsonaro tem na imprensa. Do soar da alvorada às madrugadas do dia seguinte, todos os dias e todas as noites, Jair Bolsonaro é assunto negativo de forte impacto. 

Pontualmente, alguém dá créditos bons ao presidente. Mas, no geral, sentam-lhe o sarrafo, com vontade, sem dó, sem piedade e até com outros propósitos que não somente arranhar a imagem dele a ponto de racha. É a luta para inviabilizar o segundo mandato. 

É o que fez Fernando Gabeira no artigo de sexta-feira, no Estadão.  Ele afirma: “Ainda estamos por construir uma teoria sobre o declínio do populismo, porque, em termos históricos, ele acabou de se instalar em bases novas, num contexto transformado pela revolução digital. A pandemia deu-nos uma pista”.  

Traduz-se que o populismo, troço ruim na consciência de muita gente, ressurgiu por causa das redes digitais usadas intensamente por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas campanhas e no governo.  Sobre o populismo, temos “Política Urbana no Brasil”, livro de Michael Conniff, publicado com o patrocínio do prefeito César Maia, de quem recebi a obra em 2006. Vale a pena ler. É o jeito bom e inteligente de entender o fenômeno e compreender que uma coisa que Jair Bolsonaro não é, é populista. Eu não consigo ainda dizer o que ele é, mas, populista, certamente, não. 

Depois de navegar sobre os defeitos do presidente Jair Bolsonaro e deixar Donald Trump pelo caminho, Fernando Gabeira retoma o assunto principal: redes digitais versus imprensa profissional. 

Escreveu ele: “Outro fator que tem peso é a relação dos tecnopopulistas (usuários, portanto, das mídias digitais), com a imprensa profissional. Eles a incluem no sistema decadente que pretendem destruir. Consideram-na um lixo desprezível e articulam sua comunicação por meio das redes sociais e pequenos veículos, que possam comprar com sua verba publicitária”. Tem-se, aqui, o descrédito da imprensa profissional como resultado das manobras dos modernos populistas. Será mesmo? 

Chamei-me a comentar o artigo do Gabeira não em razão do presidente Bolsonaro, sujeito bom de voto, ruim de política e minha inspiração quando construí Kamikaze, publicado no Boletim da Liberdade em 18 de maio e replicado no meu blog. Se há alguém que joga com mais competência contra o presidente, esse alguém é ele mesmo. 

Entrei no assunto do Fernando Gabeira pela questão estratégica. 

Há, sim, na imprensa tradicional com a ajuda muito evidente da Justiça, o desejo de tirar a credibilidade das mídias digitais e o papel delas na comunicação política. A imprensa, representada por seus profissionais, está incomodada com a queda de importância e atribui a isso a existência das mídias digitais. Fernando Gabeira é mais um. O desejo dele é proteger a imprensa tradicional e o monopólio que ela tinha das informações. 

E, sabe-se, a imprensa não fez por merecer o crédito que já teve. 

Antes do Jair Bolsonaro a população e seus representantes já rejeitavam a imprensa tradicional, que Gabeira chama de “profissional”. Bolsonaro e Donald Trump, citados por Gabeira, ajudaram zero nisso. Jair Bolsonaro só se aproveitou de um processo iniciado em razão do trabalho da própria imprensa. Fernando Henrique, Lula, Brizola, Juscelino, e outros, nunca suportaram a imprensa, só não conseguiam fazer política sem ela. As redes digitais agora permitem. E quando se inclui Donald Trump na história, bom exercício é saber porque Hillary Clinton desistiu da imprensa e passou a se comunicar com o público exclusivamente via Twitter, mesmo na campanha.  O desprezo à imprensa é quase unanimidade na política e na população. 

Sem as mídias digitais, a imprensa fazia miséria com a reputação alheia é isso atingidos não tinham pra onde correr. Alguns até buscavam reparação via direito de resposta, instrumento protegido pela própria Constituição, mas quem já precisou usar esse caminho sabe que ele é quase inútil. 

Eu não gostaria de perder a liberdade de expressão que as redes me conferem. E você?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O Sermão do Bom Ladrão

Fico mais atento às relações dos agentes do Estado Brasileiro com a sociedade  no tempo das eleições, porque elas representam a chance de haver mudança numa relação que é, ainda hoje, de vassalagem.  

Vejo nisso ocasião para trazer à memória um dos sermões do Padre Vieira, o Sermão do Bom Ladrão, aqui colocado como lição e nunca como provocação. 

Acredito que todos já conheçam o Padre Vieira, mas quero apresentá-lo com a beleza da cena de abertura do filme Palavra e Utopia, de Manoel de Oliveira, onde Lima Duarte dá aos Sermões a mesma eloquência que, certamente, lhes deu o Padre. 

A cena de apresentação de Vieira está num julgamento. O juiz determina ao réu: “Levante-se e diga quem é”.  O réu obedece e diz:  “Sou Padre Antônio Vieira, religioso professor da Companhia de Jesus, teólogo, pregador régio e assistente do colégio desta cidade.  Nascido em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608, filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria Azevedo, ainda vivos na Bahia, com meu irmão, Gonçalves Ravasco de Albuquerque e família, para onde fomos em 1614, e onde fui educado no Colégio dos Jesuítas, entrei no noviciado e me ordenei”. 

Fico por aqui na narrativa do filme, que vale a pena assistir por completo. Ele está disponível no Youtube. Apresentado o autor, vamos ao Sermão, antes, porém, dizendo o motivo de usá-lo como lição aos eleitores na campanha que está à porta. 

Tenho visto por aí candidatos esforçando-se para voltar ou permanecer no poder. Ato legítimo. 

Entretanto,  alguns já nos causaram prejuízos e, em alguns casos, a morte de pessoas. Para fugirem à responsabilidade por esses atos, os candidatos apontam o dedo para os auxiliares, que eles mesmos escolheram. Mas, seria somente dos auxiliares a responsabilidade? Afinal, quem nomeou tais pessoas e quem deixou de observá-las de perto como deveria? Por certo, não fomos nós contribuintes. Mas, seremos, contudo, chamados, no final da linha, a pagar a conta, situação resultante da relação desigual que há entre os agentes públicos e o povo. 

O voto é ato de confiança, que se estende à liberdade que têm os eleitos para escolher com quem trabalham e para cuidar do dinheiro, que entregamos ao Estado para que ele cumpra as funções em razão das quais existe. 

Quem não foi digno da confiança uma vez, por certo, não será novamente. Cheguei, então, ao elo que liga o presente assunto ao Sermão do Padre Vieira. Nele está relatado, entre muitos exemplos de ladrões pobres e ladrões ricos, o perdão de Cristo a Zaqueu, um agente público, coletor de impostos. 

Diz o Padre Vieira: “Entrou, pois o Salvador em casa de Zaqueu, e aqui parece que cabia bem o dizer-lhe, que então entrara a salvação em sua casa; mas nem isto nem outra palavra disse o Senhor…”. 

Continua o Padre Vieira, dizendo ao Cristo: “E este homem na vossa pessoa vos está servindo com tantos obséquios, e na dos pobres com tantos empenhos, (…), e a sua salvação é a importância que vos trouxe à sua casa, se o chamastes, e acudiu com tanta diligência, se lhe dissestes que se apressasse e ele se não deteve um momento, por que dilatais tanto a mesma graça que lhe desejais fazer? Por que não acabais de o absolver, por que não lhe assegura a salvação?” 

A resposta indica um caminho para o perdão e salvação: 

“Porque este mesmo Zaqueu, como cabeça de publicanos roubou a muitos, e rico como era, tinha com que restituir o que roubara. Enquanto estava devedor e não restituiu o alheio, por mais boas obras que fizesse, nem o mesmo Cristo o podia absolver(…). Eram todas obras muito louváveis; mas, enquanto não chegava a fazer a da restituição, Zaqueu não merecia a salvação. Restitua, e logo será salvo. E no mesmo ponto que o Senhor, que até ali tinha calado, desfechou os tesouros de sua graça e lhe anunciou a salvação. De sorte que, ainda que entrou o Salvador em casa de Zaqueu, a salvação ficou de fora, porque, enquanto não saiu da mesma casa a restituição, não podia entrar nela a salvação. A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se pode perdoar sem restituir o roubado”. 

Está dito. Sirvamos-nos, portanto, do exemplo para ter uma boa prática na relação dos agentes públicos com a cidadania. Se alguém deseja ter, novamente, o voto do cidadão, e no passado, por negligência ou ação direta, permitiu que ele fosse roubado ou mutilado, arranje um jeito de o ressarcir do prejuízo. Caso contrário, o pedido de voto será, com justo motivo, considerado um ato de cinismo e a confirmação da confiança uma atitude estúpida que aplaudirá a irresponsabilidade.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Podcast 19: Fundeb, uma boa ideia aplicada pela metade

É sempre a velha história: O Estado cobra, gasta como quer, então gasta mal e cobra novamente.

A pauta do podcast da semana de Jackson Vasconcelos é a aprovação da PEC do Fundeb.

 

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Diante do espelho

Quem trabalha com estratégia descarta a intuição? Se fizer isso, errará muito. Mas, para não descartar e, ao contrário, trabalhar a intuição como elemento de estratégia, precisa entender o que ela é, exatamente. 

Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, autor de “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”, pode ajudar. Logo na introdução à obra ele afirma: 

“A psicologia da intuição precisa não envolve mágica alguma. Talvez a melhor declaração sucinta sobre ela seja a do grande Herbert Simon, que estudou mestres enxadristas e mostrou que após milhares de horas praticando eles passam a ver as peças no tabuleiro de modo diferente do resto de nós. Podemos sentir a falta de paciência de Simon com a mitificação da intuição especializada quando escreve: A situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada em sua memória, e a informação fornece a resposta. Intuição não é nada mais, nada menos que reconhecimento”. 

Ou seja, a intuição não é adivinhação mística, não é o “eu acho isso ou acho aquilo”, situação bem comum aos pedantes. Para ser intuição, um ato ou decisão precisa estar revestida com a experiência. Algo como: “Eu já vi isso antes”; “Já senti esse cheiro”, ou coisa parecida, que liga, num estalo, o processo de decisão. 

Numa campanha eleitoral a intuição poderá produzir boas decisões para situações que dependem de decisões rápidas. Numa campanha eleitoral, os experientes, depois de tanto praticarem, olham as peças no tabuleiro de modo diferente do resto das pessoas. Por intuição, sabem quando um candidato pode ir bem ou pode quebrar a cara. 

A minha intuição diz que quando a imagem do candidato difere daquilo que ele é na realidade, a chance de ele ser um dia descoberto e decepcionar é enorme. Collor, Jânio e há outros exemplos por aí. 

Diante do espelho, mas longe dele, as rugas não aparecem. À medida que o personagem se aproxima, aí começam os problemas. Por essa razão que existe a desilusão na política. 

Durante a campanha, geralmente, o candidato se apresenta para você com a comunicação muito bem feita, organizada. Você vota naquele personagem, naquela imagem. Eleito, quando começa a governar, os holofotes são voltados para ele, aí entra a decepção. 

Mas tem o outro lado também. À medida que você se aproxima do espelho, o candidato pode se tornar, surpreendentemente, mais belo e agradável. Vemos isso em campanhas. Casos daqueles que imaginamos não ter chance alguma e, com tempo, observação e analisando a biografia, sua opinião muda e você decide votar nele.

Por isso que é importante se trabalhar com essa visão e esse conceito de imagem. É quando entra a intuição também. Ela faz parte do processo de decisão, que são tomadas a partir das experiências que se tem. Para que não se erre na intuição, é fundamental que o candidato conheça a si próprio e tome as decisões.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Podcast 18: Direto e certo

A comunicação correta na administração de um mandato consolida o voto que elegeu e conquista o voto do eleitor do adversário. Escute o podcast #18 de Jackson Vasconcelos.

 

Vídeo da semana, comentado no podcast:

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David Copperfield do Brasil

Compartilho com vocês o texto que recebi de um amigo, o Pedro Antonio. Faço questão de compartilhar esse texto porque achei uma visão interessante e moderna do que é a relação do Estado Brasileiro com a sociedade, mas principalmente porque o Pedro Antonio é um liberal.

Um empresário que teve sucesso financeiro com o empreendimento que fez partindo do zero, nunca recebeu apoio ou suporte do Estado, pelo contrário, o Pedro Antonio sempre entendeu que como empresário e cidadão tem compromisso com a sociedade independente daquilo que o Estado faça.

Com a empresa dele foram muitas pessoas empregadas, impostos pagos e, no momento certo, ele resolveu se aposentar e passar a empresa a diante. Mas, mesmo aposentado, ele tem sido incansável em ajudar sempre que é chamado.

Eu o conheci no Fluminense, onde ele, com recursos próprios, iniciou e concluiu a construção do Centro de Treinamento do clube. Iria fazer, se tivessem deixado, um novo estádio de futebol para o Fluminense.

Na Prefeitura do Rio, ele esteve como voluntário, gastando dinheiro do próprio bolso, para ajudar a Secretaria de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, na construção de um modelo moderno de arrecadação, que sacrificasse menos pela burocracia e pelo preço o cidadão, mas também permitisse que a prefeitura arrecadasse mais, uma forma inteligente de realizar a arrecadação sem pesar na burocracia e desonestidade.

Agora na pandemia, Pedro Antônio, com recursos próprios, distribuiu quase 100 toneladas de alimentos nas comunidades carentes do Rio de Janeiro e construiu um cabedal de exemplos das dificuldades que o Estado Brasileiro cria para as pessoas que querem ajudar e até suprir as deficiências do Estado.

Em cima disso, eu construí um bate-papo no Instagram e ele mostrou essas experiências. As histórias que o Pedro Antônio tem na relação dele com o Estado me estimularam a colocar esse texto aqui. Prestem atenção que esse texto recebi há dois, três meses, e vejam que se cumpriu um pouco da profecia dele:

David Copperfield do Brasil

O governo através do Banco Central e Ministério da Economia estão realizando um trabalho digno dos maiores aplausos e isto sem serem reconhecidos, ou melhor, sem serem percebidos.

Movimento 1: Em 2019 foi aprovada a reforma da Previdência que trouxe uma projeção de economia para os cofres públicos da ordem de R$ 800bi no período de 10 anos (1). Na última reunião do COPOM os juros básicos foram cortados em 0,75%, o que significa uma economia para os cofres públicos projetados em 10 anos de R$ 315bi (0,75% na dívida de R$ 4,2tri em 31/12/2019). Com a decisão do COPOM, o governo projeta uma economia equivalente a quase 40% de tudo o que será economizado com a reforma da Previdência, e feito sem um voto no Congresso ou qualquer negociação política.

Movimento 2: Desde 2019 o Banco Central tem deixado o dólar subir e chegando a níveis próximos de R$ 5,90. O que tem por detrás deste “liberalismo” e “econômica de mercado”. Algo simples e escondido na queda da SELIC: Se empresas ou pessoas físicas tem dinheiro no Brasil e veem o juro básico a 3%, de imediato pensariam, vou transformar em dólares, mandar para fora e aplicar até em títulos de empresas brasileiras com rendimentos superiores aos 3%. Só que com o dólar acima de R$ 5,50 quem vai fazer esta aposta? Então, é melhor ficar com o dinheiro aqui e se contentar com este juro. O Brasil conseguiu mesmo sendo uma economia muito menor do que os EUA, impor um juro simbólico para quem tem dinheiro.

Movimento 3: O Brasil vinha a anos realizando uma operação do tipo: pega dinheiro do limite do cheque especial com juros estratosféricos e aplicando na caderneta de poupança. Qualquer economista diria a uma pessoa física que isto é uma loucura, pois bem, as nossas reservas cambiais foram criadas quase que neste modelo. Como consequência o mundo passou a respeitar o Brasil na hipótese de algum calote na dívida internacional, porém, reservas caras que quase nada rendem, os governos seguiram mantendo tais reservas, mesmo quando todo o mundo entendia que o Brasil era confiável. Novas cabeças na economia do Brasil e, vamos lá, começaram a vender parte das reservas. Reservas estas compradas com dólar provavelmente muito abaixo de R$2,50, então vender tais dólares passaram a gerar bilhões de Reais de lucro para o Banco Central. Em 22/05/20 as reservas estão em US$ 339,3 bi. Sem fazer muitas contas, o BACEN vendeu cerca de US$ 40 bi, o que gerou um lucro de pelo menos R$ 60bi. Pode-se somar a este lucro o ganho obtido na venda de títulos do Tesouro Americano que pagavam juros muito maiores do que os atuais. Ainda tem um outro “pequeno” ganho de líquido de R$ 598 bilhões até abril/2020 referente a valorização das reservas cambiais. A valorização das reservas leva uma melhora na dívida pública líquido. Ao final do semestre o seu saldo pode ser transferido para o caixa do Tesouro.

Movimento 4: O dólar alto somado às consequências da pandemia, em que empresas não devem remeter lucros para o exterior, pessoas farão poucos gastos em viagens e compras no exterior, superávit na balança de exportações e importações, menos importações de supérfluos, teremos um muito provavelmente dois grandes efeitos: Superávit na balança de pagamentos e incentivo indireto, não intervencionista para produtos fabricados no Brasil. Será que as pessoas irão massivamente comprar roupas e bens no exterior ou no Brasil?

Movimento 5: Com o superávit da balança de pagamentos, com a entrada de US$ para comprarem ações na bolsa brasileira, uma das que teve maiores quedas, investimento ou mesmo compra de empresas no Brasil, o dólar provavelmente vai cair a níveis reais, e aí possivelmente o Banco Central já realizou o ganho na venda de reservas, vai ganhar novamente: nos contratos de Swap. Como se diz no ditado popular: “dinheiro chama dinheiro”.

Depois dos 5 movimentos acima listados, você talvez esteja se perguntando, o que tem tudo isto a ver com David Copperfield, o grande mágico ou como se diz agora, ilusionista? Todo mágico precisa além da varinha, foco e distração, todos precisam ficar atentos a ele, enquanto de alguma forma ele e sua equipe realizam a mágica que resulta em algo surpreendente.

Desde a posse do Presidente Bolsonaro, toda a mídia faz com que os Brasileiros só olhem para ele, não deixando espaço para mais ninguém, nem o Lula após ter sido solto conseguiu alguma atenção, o Mandetta em vez de trabalhar com a equipe, passava duas horas aparecendo na TV repetindo o mesmo assunto; foi desligado em uma simples carta, aí toda a atenção voltou novamente para o “David Copperfield”: Bolsonaro.

Enquanto neste último final de semana ficaram discutindo quantos palavrões ele falou na reunião ministerial, sem os palavrões dos governos passados, tais como: propina, Foro de SP, Pasadena, superfaturamento, caixa 2 etc., nos bastidores a sua equipe segue trabalhando para que o público presente tenha o grande final feliz: Um Brasil muito melhor. Querem uma prova final de que o Presidente Bolsonaro é o David Copperfield brasileiro? Perguntem a 10 dos mais radicais petistas e da esquerda radical, quando a Petrobrás Distribuidora será privatizada. 9 em 10 vão lhe responder: “Nunca, nós não deixaremos”. Ocorre que a BR foi privatizada em 2019 e não perceberam.

A cereja do bolo, é que o mágico, ilusionista Bolsonaro tem o maior aliado que poderia almejar: A mídia, a Globo, que faz todo mundo olhar para o que ele quer. Todos os dias ao ir trabalhar ou retornar do trabalho ele pauta o Jornal Nacional e os sites da mídia, deixando que a sua equipe tremendamente capaz, siga nos bastidores fazendo o melhor para o Brasil.

Pedro Antonio

*Artigo publico no Boletim da Liberdade.

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O eleitor tutelado

O Boletim da Liberdade, no dia 28 de junho, noticiou: “Fachin propõe aprovar cassação por abuso de poder religioso já em 2020”. Isso não me desceu bem. “Abuso de poder religioso?” O que poderia ser isso? Um poder sobre as almas? A garantia de entrar no céu? O abuso do poder religioso estaria, então, no rol onde já se colocam o abuso do poder econômico e do poder político? É provável, mas difícil saber, porque a criatividade do Estado Brasileiro para encontrar meios e modos de tutelar a sociedade é infinita. 

A notícia diz que  um Ministro do Supremo Tribunal Federal estaria a cuidar do caso da vereadora e pastora Valdirene Tavares dos Santos, de Luziânia (GO), punida pela Justiça Eleitoral por pedir votos num dos cultos da catedral local da Assembleia de Deus. Ou seja, no culto ela, uma pastora, pode pregar, cantar, cumprimentar efusivamente os “irmãos e irmãs em Cristo”, entregar e cobrar o dízimo, operar milagres, ato corriqueiro na vida dos líderes pentecostais, mas não pode pedir o voto de quem congrega com ela, nem avisar que é candidata. O laborioso Estado Brasileiro, através de seus agentes, não quer que os eleitores, ignorantes como são, corram o risco de acreditar que Deus chancela a candidatura da vereadora.  

Quase tudo na legislação eleitoral brasileira é trágico e cômico. Para os candidatos, um inferno!  O pior nesse quadro é ser deles, candidatos hoje, legisladores ontem e amanhã, a autoria de tamanha maluquice. Os agentes do Estado Brasileiro são tutores da vontade dos eleitores, talvez por nos considerarem idiotas o suficiente para cairmos nas armadilhas dos candidatos. 

Com esse argumento, a legislação eleitoral criou a figura esquisita do pré-candidato, aquela pessoa que é candidata, mas não pode dizer que é, enquanto não for. O Estado tutor acredita que o eleitor pode ser levado a votar em quem não é candidato e em algum momento, disse que seria. Com o mesmo intuito os agentes do Estado criaram a pré-campanha. Afinal, se temos pré-candidatos, havemos de ter, pré-campanhas, que são campanhas sem o pedido de voto ou declaração de candidatura. Qual o sentido disso? 

O Estado tutor, formado por gente que se imagina com inteligência acima da média, gente que lá chegou por eleição, concurso público, indicação de padrinhos e militância política – pouco importa – acha-se com a obrigação de orientar os eleitores para que eles, com inteligência abaixo da média, não sejam enganados pelos candidatos com esperteza além do limite. 

Com o mesmo objetivo cuidador, o Estado tutor, esfriou as campanhas eleitorais, quando acabou com as festas e shows nos comícios, com a distribuição de material publicitário, que chamavam de brindes e com as reuniões onde se podia comer, beber e conversar sobre o voto. Hoje, o candidato pode estar presente aos churrascos, aos encontros, desde que prove que não foi ele quem pagou a conta, porque se ele pagar, os comilões, idiotas como são, se sentirão obrigados a votar no pagante. Quem sabe o eleitor, idiota como é, não possa ser enganado a ponto de votar num cantor de showmício acreditando ser ele o candidato? 

O legislador, agente do Estado tutor, se defende com o argumento de igualdade de condições para todos os candidatos. Se é isso, como explicar as incongruências, por exemplo, da lei de desincompatibilização. Ela exige que quem exerce cargos públicos se afaste com antecedência para não usar a máquina pública a favor da campanha pessoal. Vejam como isso funciona: se um prefeito for candidato à reeleição poderá seguir no cargo campanha adentro, mas se for candidato a vereador, precisará deixar a prefeitura algum tempo antes. Faz sentido isso? E o mesmo acontece com os governadores e presidentes. 

Outra situação curiosa no campo da igualdade de condições se dá com a veiculação gratuita da campanha na televisão e rádio e presença nos debates, quando a uns é garantido mais tempo que a outros e somente a alguns a presença nos debates. O Estado manda nos debates. Onde fica o cuidado com a igualdade de condições? O Estado tutor poderá responder que as campanhas são dos partidos e ele, Estado, precisa reconhecer a representatividade de cada um deles. Então, não é o cuidado com a igualdade, mas o desejo de não permitir que os pequenos ameacem os grandes. 

Por essas situações e tantas outras, eu não gosto de um Estado que tenha o poder de orientar a minha consciência ou tentar mandar nela. Num discurso em 1854, o Presidente Abraham Lincoln declarou: 

“Nenhum ser humano é bom o suficiente para governar outro ser humano sem o consentimento deste último”. 

Eu acredito nisso. E acredito mais: que só os liberais têm a exata compreensão do papel que o Estado deve exercer numa democracia. Os demais são e serão sempre pacientes demais com os agentes do Estado que se acham no direito de se intrometer na vida da população. Para os liberais o Estado não é patrão, é servidor.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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“Do outro lado do balcão”

O título do artigo de hoje está entre aspas por ser uma frase que tirei da entrevista que deu o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao Boletim da Liberdade. Ele postula, novamente, a cadeira de prefeito e o Boletim está ouvindo candidatos, com a boa intermediação do Pedro Rafael. 

Fiquei com comichão para comentar a entrevista do ex-prefeito do Rio, porque ela é rica para quem estuda e se dedica à estratégia, onde a análise dos discursos serve para identificar os pontos fortes e frágeis, as ameaças e oportunidades, na realização de projetos políticos. Um discurso político é útil para quem faz e para quem se contrapõe. É a súmula do jogo. 

A candidatura presente do ex-prefeito vem no rastro de uma estratégia aplicada por ele em 2016, tentada contra ele, em 2008, pelo César Maia: abrir caminho para um sucessor que fizesse o povo do Rio de Janeiro sentir saudades. 

Crivella teria sido prefeito na eleição de 2008, se Eduardo não disputasse (desejo ardente do César Maia, a ponto de fazê-lo entregar o próprio partido ao PMDB, para obstruir o desejo do Eduardo Paes). 

Portanto, Crivella seria, na eleição de 12 para Maia, o discurso da tragédia que Eduardo Paes usa desde a campanha de 2018. Situação fabricada pela decisão do Paes de ter escolhido e insistido em disputar a própria sucessão com um candidato que ele, com certeza, sabia estar, naquele momento, com a imagem ferida de morte.  

No tema mais precioso para o Boletim que, na palavra autorizada do Pedro Rafael, é “produzir conteúdos jornalísticos com viés liberal”, o discurso do Paes é bastante frágil. 

O ex-prefeito fez uso da frase, “sentar do outro lado do balcão”, para demarcar os conceitos de setor público e setor privado. “Eu não venho de uma família de políticos”, disse ele para iniciar um argumento que encerrou com as seguintes palavras: “É aquela história, eu fui educado para ir para o setor privado, para ser advogado, né? E acabei me enveredando pelo caminho da política. Acabei virando um político profissional (…). Faltava na minha formação sentar do outro lado do balcão. Ver como é difícil empreender” e etc e tal. Pura retórica de convencimento. 

Existe uma diferença essencial, básica, a marcar a situação daqueles que estão do outro lado do balcão. Ali se situam dois tipos de pessoas, pelo menos: aquelas que empreendem, que pagam as contas e aquelas que são remuneradas pelo trabalho que realizam e sobre o risco do investimento que fez o empreendedor. 

O ex-prefeito, ao que ele próprio diz e insiste dizer, está entre os que são remunerados pelo trabalho. Dele passou ou ainda passa longe a experiência de “ver como é difícil empreender”. 

Ele está setor privado, numa empresa chinesa, como Vice-Presidente para a América Latina. Não é ele o empreendedor. Não é ele o patrão. O capital dele não está no risco. Ele é o outro lado do balcão, aquele remunerado, onde o risco único é de mudar de emprego. 

Há um outro aspecto a considerar. No início da entrevista Paes afirma que ainda trabalha lá, para dizer, adiante, em outro momento: “Foi uma experiência muito legal…”.

E a gente sabe que Eduardo há tempos está na vitrine como candidato. Então, a favor do Eduardo, sem dúvida, está a qualidade profissional, tamanha ao ponto de um empresa privada, chinesa, deixar que ele dispute eleições sem incomodá-lo, remunerando-o. Mas, com todas as qualidades profissionais que tem, o ex-prefeito não pode dizer que, ali naquela empresa, aprendeu a empreender. 

Sendo político profissional sempre bem colocado no Estado e favorecido por ele, é compreensível que Eduardo Paes faça críticas à reforma trabalhista e aos limites de gastos que se impõe aos governos, como fez na entrevista. 

É pedir demais de quem sempre viveu à sombra ou a serviço do Estado a defesa das ideais liberais. Quem teve ou tiver a possibilidade de assistir a entrevista do ex-prefeito por vídeo, perceberá que a hora mais aborrecida para ele, momento em que ele muito se movimenta na cadeira, foi diante da pergunta: “A gente está vivendo um novo ciclo político com a influência cada vez maior de ideias liberais na esfera de governo. Nesse sentido, uma das pautas que os liberais defendem é a redução do escopo do Estado. Como você enxerga a pauta liberal?” Perguntou Pedro Rafael.  

O entrevistado rechaça, imediatamente, a colocação do entrevistador e usa como argumento o fato de, na pandemia, todos pedirem o socorro do Estado. Literalmente, a resposta foi: “Eu diria que tinha um predomínio da pauta liberal até começar a pandemia. Aí todo mundo pediu o Estado”. 

Para o agente estatizante a presença forte do Estado, como acontece na pandemia, deve ser permanente e crescente e isso lhe cria vícios. Para o liberal, a atuação do Estado numa pandemia, numa crise de grandes proporções, é uma obrigação remunerada pelo contribuinte. E, uma vez, normalizada a situação, o Estado que diminua seus raios de ação. 

Ora bolas, uma sociedade submetida à uma Constituição que tem 250 artigos e 105 emendas, é uma sociedade estatizante. É disso que queremos sair, por absoluta necessidade. Somos liberais, porque sabemos quanto nos custa o Estado e o perrengue que é fechar as contas no início do mês, tendo os agentes públicos no nosso pescoço. Eu vivo isso há 22 anos! A gente sabe o que é ficar sem dormir, quando surge o risco de perder a empresa, como acontece agora, quando o faturamento não vem.

Faço votos que a próxima eleição seja melhor para o Brasil todo. Seja uma eleição onde o discurso liberal tenha espaço para convencer o povo, que o Estado Brasileiro é perdulário, pesado, ineficiente e capaz de produzir decisões que desperdiçam dinheiro que nos custa muito caro.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos