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“Um ninho de ratos”

A minha ignorância ainda me causará problemas sérios. Mas, vou peleando mesmo com ela. Vejam vocês agora o caso da Ceagesp. Ela é uma empresa gigante. É o maior conjunto de armazéns da América Latina e eu não sabia disso. Santo Deus! Quanta informação importante eu perdi até o dia em que parei para ouvir os discursos do capitão Jair Bolsonaro, Presidente da República e do Coronel PM, Mello Araújo, nomeado pelo capitão, presidente da empresa. Eles falaram bonito que só, na sede da Ceagesp. 

Eu tinha a obrigação de conhecer a empresa, afinal ela está arrolada como patrimônio do povo brasileiro e eu sou parte dele. Ela é, segundo o Coronel PM, “uma potência do agronegócio”.  “O maior entreposto da América Latina!”. E eu não me sentia dono de tudo isso. 

A Ceagesp atende a 1.500 municípios brasileiros e a 22 países diferentes. Por ela, transitam, por dia, 50 mil pessoas, que fazem do negócio uma empreitada de 11 bilhões de reais por ano. Quatro mil toneladas de alimentos passam por lá antes de chegarem à mesa das brasileiras e brasileiros. De chegarem à minha mesa! Olhem que coisa! 

O lugar onde está a Ceagesp é tão importante que tem uma torre de identificação. A torre precisava de reformas e elas aconteceram finalmente. A placa de bronze na entrada da torre teria o nome do capitão Bolsonaro gravado, mas a cruel lei brasileira não permite homenagem à gente viva. O presidente da Ceagesp, então, optou por uma gratidão sútil: mandou cunhar na placa de bronze, a imagem da cicatriz que o presidente carrega no abdômen, consequência da facada que ele recebeu na campanha. 

A Ceagesp que é minha e sua também, faz caridade. Isso eu não sabia e acredito que você de igual modo.  Por decisão do coronel nomeado pelo capitão, a empresa não desperdiça mais alimentos e com a sobra deles, em apenas 50 dias, 51 toneladas foram entregues, de graça, aos pobres e foi desenvolvida uma vitamina que o Presidente da República experimentou no palanque, como prêmio pelo discurso duro e sagaz. O capitão viril quis saber sobre a presença de “aditivos” na composição da vitamina. Foi engraçado! O capitão tem bom humor. 

Ao saber de tudo isso, fiquei feliz com o discurso do Presidente da República, na parte em que ele afirmou: “E aqui, quando se fala em privatização…quero deixar bem claro…enquanto eu for presidente da república, essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso aqui pra privatizar pros amigos. Não tem espaço pra isso aqui. Deixo bem claro”. 

Mas, calma lá. Quando o presidente fala que a Ceagesp é a “casa de vocês”, eu estou incluído? Sacudi a cabeça para expulsar o mal pensamento e continuei a ouvir o Presidente. Ele disse mais. “Aqui é um ninho de ratos. Aqui extorquem e achacam os mais humildes. Aqui existem máfias. A máfia de roubo de caixotes, a máfia dos boxes, a máfia da limpeza e a máfia do lixo”. E gritou bem alto: “É inadmissível um entreposto como esse estar nas mãos de político que se usa disso…” Aplaudi de pé! 

Antes de ouvir o presidente, ouvi o Coronel PM. Depois de me emocionar com o capitão, voltei ao Coronel. Fiquei num ir e vir extasiado! Ele, coronel,  disse:   “A Ceageap era uma cidade judiada ao longo dos anos. A corrupção imperava, o errado era o certo e a honestidade foi esquecida”. 

Onde eu estava com a cabeça, enquanto destruíram a minha empresa e acumularam, em meu nome, 60 milhões de reais em dívida crescente? Aprendi a lição e agora estou tranquilo, porque o capitão e o coronel estão de olho nas máfias e nos políticos que tomaram a Ceagesp de assalto. 

Peraí! E quando o capitão não for mais o presidente e o coronel, leal a ele, não estiver mais lá. Quem tomará conta daquilo? Eu não terei tempo pra isso. Posso até ajudar, quando for votar para presidente, mas será que ele fará o que eu quero? Não é essa a rotina. 

Eu paro e penso. Paro, penso e faço um apelo ao meu presidente capitão: Não me saia daí sem vender essa minha empresa. Pelo menos essa. Se tiver tempo, venda outras, mas, caso não, venda pelo menos essa. 

Por favor, presidente, peça – peça não – dê uma ordem clara ao Ministro Guedes, esse cara que não vende uma agulha do governo, para vender a Ceagesp. Ele não precisa me mandar a minha parte. O senhor pode usá-la como quiser, só não a utilize na compra de outra empresa, porque são poucos os coronéis com disposição para colocar ordem nas empresas que o governo domina e diz que são minhas. 

Bem gente, se queremos que o processo de privatização saia do papel, é hora de colocar algumas pessoas numa sala de aula e num quadro negro expor, um por um, todos os motivos que justificam as vendas. Um deles está no final do discurso que o presidente capitão fez na Ceagesp. Ele disse, num tom de campanha: “O Brasil é nosso! A Ceagesp é de vocês”. Ou seja: os donos do Brasil somos todos nós brasileiras e brasileiros, mas a Ceagesp nem de todos nós é. Se for necessário ser mais claro, pedirei ao presidente que desenhe. 

É hora de partir pra dentro das privatizações antes que os capitães e coronéis bonzinhos saiam do poder. Concordam? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos