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Presidência da República, uma função insalubre. 

30 de junho de 2023. 

Jackson Vasconcelos 

Nasci em outubro de 1953. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas deu um tiro no peito e ao fazer isso decidiu a eleição do ano seguinte. Se vivo, ele apoiaria Juscelino Kubitschek. Morto tornou mais fácil a vida do candidato dele. JK venceu com 33,8% dos votos e enfrentou uma barra para tomar posse, pois os adversários vencidos inventaram todo tipo de motivos para que a eleição não valesse. A Constituição sobreviveu e Juscelino assumiu, fez um bom governo, perdoou os adversários, mas não foi perdoado por eles e, por isso, amargou muito até o final da vida. 

Após Juscelino, Jânio surgiu. Foi eleito. Não aguentou o tranco e renunciou. A Constituição Federal impunha a posse do Vice-Presidente. Mas, o que é a Constituição diante de adversários contrariados? Para que o Vice-Presidente fosse empossado presidente, mudou-se a Constituição para se ter um novo regime. E depois mudou-se novamente para voltar ao regime anterior e logo depois, jogaram-na para o alto para expurgar o empossado. 

Surgiram os generais. Um deles adoeceu no meio do mandato. A Constituição mandava que se desse posse ao Vice-Presidente. Mas, a Constituição…sabem como é né? A Junta Militar tomou conta do governo. Seguimos assim, de general a uma junta de uma junta a outro general e a um novo general e general de novo, até que encerramos com o ciclo dos generais. 

O civil Tancredo Neves foi eleito Presidente pelos representantes do povo. Morreu antes de assumir. A Constituição dizia que o Vice-Presidente só seria Vice de fato se empossado no mesmo momento que o titular. Mas, o que é a Constituição? A Constituição a gente muda ou emenda. E assim fizemos, emendamos, mudamos e continuamos a emendar. E por conta dessa mudança, o povo voltou a eleger, por ele mesmo, os presidentes do Brasil. O primeiro eleito diretamente durou pouco, mas pelo menos o Vice-Presidente não teve problemas para assumir. 

Bem gente, o resto da história eu não preciso contar com detalhes, para provar que a função de Presidente da República do Brasil é insalubre. Mas, fico com comichão para dizer: O Presidente de hoje já foi presidente outras vezes e ficou preso por um tempo. O Presidente de “ontem” agora está inelegível por oito anos. 

Sei não, minha gente, mas eu fico cismado com a nossa História. Não terá alguma coisa errada com esse nosso jeito de fazer presidentes? 

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Oligarcas, aristocratas e anarquistas. 

Jackson Vasconcelos – madrugada do dia 5 de junho de 2023. 

O Estadão traz na edição de hoje um artigo do Procurador Roberto Livianu – “A Lei do mais forte, sem pudor” – que ele encerra com o seguinte parágrafo : “Temos a sensação de que vivemos num ambiente de uma espécie de anarquia corrupta, arrogante e insensível aos miseráveis famintos, com cidadania faz de conta, sob a vigência da lei da selva, em que sobrevivem apenas os mais fortes e poderosos. Estamos em meio a uma espécie de salve-se quem puder.” 

Vale ler a íntegra que me soou como um desabafo legítimo. 

O que somos, afinal de contas? Vou ao intelectual Robert Dahl. Ele  afirma que não há, no mundo, uma democracia de fato. O sistema que mais se aproxima disso é aquele no qual todo o poder emana de muitos e não de todo o povo.  Robert Dahl chama esse modelo de Poliarquia. 

Para ilustrar o conceito, Dahl construiu um gráfico onde estão colocados dois vetores: no eixo vertical está a liberdade de oposição e no horizontal, o direito de participação. Dahl chama de Poliarquia, o ponto em que há plena liberdade de oposição com amplo direito de participação nas decisões. 

Nos extremos estão os ambientes em que há ampla liberdade de oposição sem direito de participação nas decisões dos agentes do Estado e aqueles em que não há liberdade de oposição, mas amplo direito de participação. Ou seja: há lugares em que é possível opor-se ao governo sem interferir nas suas decisões, assim como existem ambientes onde nenhuma oposição é autorizada, mas a participação sim, numa situação óbvia em que só é possível participar de decisões das quais não se discorde. 

Numa situação e na outra, estão os governos de poucos, sabendo-se que quando os poucos são os piores, se tem uma oligarquia; quando são os melhores elementos de uma sociedade, tem-se uma aristocracia. 

Aproveito-me dos conceitos de Dahl e do que escreveu o procurador Livianu para tentar entender o que somos como sociedade. Tudo o que tenho visto, lido e ouvido me diz que entre nós o poder não emana de todo o povo, nem de muitos do povo, pois não há plena liberdade de oposição em conjunto com o direito à participação. 

Portanto, no Brasil, segundo Dahl, não existe uma democracia, pois ela é, no mundo todo, uma utopia e não há uma poliarquia, pois o poder não emana de muitos. O que somos, então?  Uma aristocracia,  uma oligarquia ou como proclama o procurador Roberto Livianu, uma anarquia corrupta? 

Estou mais para concordar com o procurador e com todo o bom artigo escrito por ele. 

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“Lula quer”. 

Todo dia, o Presidente da República quer alguma coisa. Desta vez, ele quer mudar as regras para o concurso público antes de realizá-los às pencas. Para agilizar o cumprimento da própria vontade, Lula deseja aproveitar o trâmite de um projeto que perambula entre o Senado e a Câmara desde 2003, elaborado pelo ex-senador Jorge Bornhausen. 

Na origem, o projeto Bornhausen tem 75 artigos e é bom. Está de bom tamanho! Em sua vida parlamentar, Jorge Bornhausen fez coisas boas que, talvez por serem boas, ficaram pelo caminho. É o caso do Código de Defesa do Contribuinte, que buscou colocar equilíbrio na relação sempre desigual que há entre o fisco e os pagadores de impostos, entre o Estado e o cidadão. 

O projeto Jorge Bornhausen que reorganiza os concursos públicos poderia ser aprovado do jeitinho como veio ao mundo, mas isso, certamente, muita gente não quer e Lula quer menos ainda, pois ele precisa inserir na proposta elementos de escolha subjetiva e discricionária, para que seja possível o partido dele e aliados colocarem no serviço público gente sem mérito, critério já usado para o preenchimento dos cargos de livre nomeação, os chamados DAS. 

O governo Lula é composto por 37 ministérios que abrigam 28 mil cargos de livre nomeação, ao custo mensal de 33 milhões de reais e nesses números não estão incluídas as autarquias, as estatais, nem as fundações e agências reguladoras. Os dados são do Ministério da Economia e foram divulgados pela CNN na entrada do novo governo. 

Sobre a liberdade que quer ter para nomear nas estatais, Lula já avisou e ao avisar, corrobora com o meu sentimento do que ele quer para os concursos públicos. 

As tais funções de livre nomeação, além da falta do mérito como critério,  carregam outra maldição. Elas desestimulam os servidores concursados pela carreira, pois sem apadrinhamento político eles não chegam ao topo. Nunca! Então, resta-lhes buscar apoio ou cumprir uma “tabela de campeonato” enquanto o tempo passa e a aposentadoria chega.  

Toda vez que Lula quer alguma coisa, sinto um frio na espinha e dor no estômago. 

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Romeu Zema e o Globo.

Público do Zema.

 “Subestimei a política”, diz Romeu Zema. 

O sistema Globo tem entrevistado os candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. O governador Romeu Zema foi um deles. Ele, a exemplo de quase todos, deixou a pauta nas mãos do entrevistador.  

De tudo o que disse Zema, o editor criou a chamada, “Subestimei a política. O Novo não pode se isolar”. Tivemos, então, as palavras do governador de Minas Gerais, candidato à reeleição numa entrevista em que ele cuidou, quase exclusivamente, da política e do partido, temas que se sabe, são irrelevantes para os eleitores. 

Os que dizem respeito diretamente aos desejos dos eleitores, Educação, Saúde e as tragédias causadas pelas chuvas, preencheram os espaços das últimas perguntas e nada, nadinha de concreto, ele apresentou para justificar a permanência à frente do governo. 

Sobre o adversário mais competitivo, o Prefeito de Belo Horizonte,  Alexandre Kalil, Romeu Zema nada disse além de provocações. Pautou-se pelo confronto agressivo e acusatório. Não mostrou aos eleitores os motivos pelos quais Kalil não pode substituí-lo. 

Os candidatos à presidência foram também pauta da entrevista. Zema deixou claro que não apoia Lula, mas não fez isso com a mesma clareza com relação ao Jair Bolsonaro e, só de passagem, sem maiores justificativas para o voto, fez comentários sobre o candidato do partido dele, Luiz Felipe D’avila. 

Um candidato não pode, mesmo com a justificativa de evitar os riscos de uma comunicação imperfeita, deixar que a pauta de uma entrevista seja do interesse, exclusivo, do entrevistador. Numa entrevista, o candidato não conversa com quem o entrevista, mas com quem tomará conhecimento da entrevista com o desejo de decidir o voto. 

Em suma, Zema falou para os filiados do Novo, gente que votará nele sem pedir maiores explicações. 

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Cláudio Casto e “Zé-Ninguém”

O problema é a arma.

Numa campanha para o Poder Executivo há dois lados: a situação e a oposição. Eles podem se dividir. Tanto a situação pode se apresentar com mais de um candidato – caso raro, mas possível – e a oposição também, com muita frequência. Se a situação está representada por um candidato, ideal é que a oposição não se divida, mas se estiver dividida, isso só será positivo em caso de dois turnos.

Contudo, é com o discurso que se marca posição. A seguir, o discurso que eu faria se fosse oposição ao governador do Estado do Rio de Janeiro:

Até quando os governadores do Rio justificarão a incapacidade de seus governos para investigar a origem das armas que estão nas mãos dos bandidos, com as mortes de pessoas que eles sentenciam pelo simples “ouvir dizer”?  

O governador Cláudio Castro segue a trilha de seus antecessores. De todos eles. No Twitter, o governador justificou as vinte mortes na Vila Cruzeiro, com a apreensão de fuzis, pistolas, granadas e drogas que estavam com traficantes. Nas postagens ele fez uma pergunta: “Com essa apreensão, quantos tiros deixarão de ser dados em direção a cidadãos de bem do Rio, contra policiais, contra quem quer levar uma vida em paz?”

É-nos impossível responder, porque não sabemos  o que será feito com todo o armamento apreendido. Também, nada sabemos sobre como tantas armas e granadas chegaram às mãos dos bandidos. Será que o governador tem resposta para essas duas questões? 

Certamente, não, pois nenhum de seus antecessores teve e por isso, ele, agora, em 2022, age como agiram os seus antecessores nas várias chacinas que ocorreram nas favelas do Rio, pelo menos, desde 1994, com registro especial para a patrocinada pelo Sérgio Cabral no Complexo do Alemão em 2007, quando ele cumpria o primeiro ano de governo.

O cristão Cláudio Castro, na série de posts colocados no Twitter, disse também: “Uma moradora está entre as vítimas e sua morte está sendo investigada”. Ponto final! Simples assim. Afinal, que importância tem a vida de Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que tinha nome e contava 41 anos de idade, e estava em casa naquele momento? Os demais mortos, o governador já sentenciou. As notícias chamam todos de “suspeitos”. Um conceito complicado nas favelas e na política, onde os suspeitos reclamam pelo fato de não serem considerados só “suspeitos” até que se tenha o trânsito em julgado. E o governador está entre eles. 

Vamos lá. Em que reside o problema? Na presença das armas nas mãos de quem não estaria autorizado a tê-las. Por que têm? A quem cabe a obrigação de saber? Diz a nossa Constituição, a nossa vilipendiada Constituição, que a obrigação de saber é dos governadores. Essa é a única obrigação deles com exclusividade. 

Portanto, meu caro governador Cláudio Castro, arregace as mangas de sua camisa e inicie o trabalho e fique com a minha sugestão para suas horas de lazer, se você ainda as tiver diante de tanta obrigação. Leia “Escute, Zé-Ninguém! de Wilhelm Reich. O autor abre o livro com a seguinte passagem: 

“Eles o chamam de Zé-Ninguém ou Homem Comum. Dizem que esta é a alvorada do seu tempo, a “Era do Homem Comum”. Não é você quem diz isso, zé-ninguém. São eles, os vice-presidentes de grandes nações, os líderes operários e os filhos arrependidos da burguesia, os estadistas e os filósofos. Eles lhe dão o futuro, mas não fazem perguntas sobre o seu passado.”

Minha homenagem a Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que o governador Cláudio Castro, me parece, sequer sabe o nome. Uma “Zé-Ninguém”. 

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Sérgio Moro, um elefante em loja de louças.

Só resta ao eleitor, aguardar. 

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro. 

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha. 

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação.  O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.  

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar. 

Sérgio Moro julgou e condenou Lula à prisão e à inelegibilidade, quando instruiu os processos para o julgamento na segunda instância. Se solto e elegível, Lula teria concorrido à presidência em 2018, para ser o adversário principal do candidato Jair Bolsonaro. Os dois teriam ido ao segundo turno, uma vez que o representante do Lula conseguiu. Jair Bolsonaro venceu a eleição e Sérgio Moro tornou-se ministro. Com esse ato, o juiz autorizou a imaginação de os julgamentos terem acontecido com a intenção política para tirar Lula do combate. Pouco tempo depois, o próprio judiciário, na última instância, no Supremo Tribunal Federal, reforçou a imagem quando anulou os processos. 

Sérgio Moro ficou pouco tempo no governo, mas nesse pouco tempo deu apoio incondicional ao presidente, até que começou a perder prestígio. Ele, então, resolveu deixar o ministério e buscar emprego no setor privado, mas numa empresa de consultoria, que atende também casos julgados e condenados por ele. Levantou-se mais uma dúvida sobre a seriedade dos julgamentos. Tudo isso foi-se acumulando na imaginação dos eleitores. 

Após ir e vir, entre o setor público e o setor privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos e esta semana apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil. Armou-se a confusão. Ficou claro, que a filiação dele ao Podemos foi uma decisão precipitada e pelas reações da turma que está no partido para onde ele foi, a nova escolha foi mais precipitada ainda. 

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão. 

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem. 

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso. 

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos. 

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate. 

  1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente? 
  2. “Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?  
  3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente. 
  4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.”  Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato. 
  5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?
  6. “Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância? 
  7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês. 

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato. 

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores. 

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Até quando, um tolerará o outro?

Caramba! Geraldo e Lula; Lula e Geraldo. Isso está dando uma enorme confusão na cabeça de quem acreditou durante anos que o PT do Lula e o PSDB do Geraldo formassem dois pólos distintos na política nacional.

Quem, com mais cuidado, prestar atenção àquilo que chamam de dois pólos no reinado dos reis Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, verá que há nisso um grande engano. O PT e o PSDB disputaram o poder no Brasil com o mesmo propósito, de dar ao Estado Brasileiro, cada um a seu modo, o protagonismo absoluto na vida da sociedade brasileira. Portanto, para os liberais, tando faz dar na cabeça como na cabeça dar.

Foram cara e coroa de uma mesma moeda. Muitos me contestam nas conversas que tenho tido sobre o assunto, com o argumento da privatização, para dizer que o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi diferente do Lula no apreço que demonstrou pela privatização.

Mas, rodamos, rodamos e rodamos, e as empresas privatizadas caíram nas mesmas mãos do Estado, representado pelos Fundos de Previdência do Banco do Brasil e de outros organismos estatais. Buscou-se o capital privado, para não se perder o comando nas empresas.

Além do que, o tucano Fernando Henrique Cardoso não privatizou empresas por acreditar no modelo, mas por precisar do dinheiro que a privatização liberaria para suas artes. Artes do Estado na vida econômica da sociedade. No Estado do Rio de Janeiro, o exemplo foi mais latente, com o plano de privatização das empresas do governo estadual. O governador Marcello Alencar, tucano nas hostes do Brizola, privatizou empresas e negócios pela falta absoluta de dinheiro, como aconteceu com a CEDAE no presente. Convicção de que nas mãos do setor privado, os serviços seriam melhor prestados, isso nunca existiu no ninho dos tucanos.

Na campanha de 2006, Lula acusou Geraldo de ser privatista. Geraldo recebeu o discurso do adversário como uma agressão, uma grande mentira e para fazer o contraponto vestiu uma camisa com a estampa do Banco do Brasil. Em 2018, Geraldo voltou ao assunto, para garantir que não privatizaria a Petrobras nem o Banco do Brasil.

Então, tem-se que o PSDB de Geraldo, de Fernando Henrique, Aécio e outros tucanos, está no mesmo pólo do PT de Lula, quando o Estado é o tema. Por conveniência, em lados opostos, os dois disputaram a Presidência da República em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. O PSDB levou em 94 e 98 e nunca se incomodou em não levar no restante. O jogo foi jogado assim, até que surgiu alguém que entrou na briga contra os dois e levou vantagem. Aí não houve como não se unirem.

Nesse caso, precisaria Geraldo deixar o PSDB? Houve necessidade, sim, porque no ninho tucano pousou uma ave predadora, João Dória. Os tucanos não conseguiram expulsá-lo, então, bateram as asas, mantiveram a identidade e em nome dela, há pouco tempo, Lula e Fernando Henrique sentaram-se para jantar a convite de um ministro comum aos dois, o senhor Nelson Jobim. Ministro da Defesa de um e da Justiça do outro.

Em 2018, o povo escolheu Jair Bolsonaro, porque não queria entregar o governo ao PT, nem ao PSDB. Agora, existe gente por aí a pregar que o povo, novamente, não entregue o governo ao PT, mas também não ao Jair Bolsonaro. Ou seja, temos uma plêiade de candidatos que quer repetir o feito do Jair Bolsonaro na eleição passada. Ser o “nem um, nem outro”.

No entanto, mesmo sendo, juntos, representantes de um pólo, Lula e Geraldo, certamente, terão problemas com seus liderados, porque, durante todos os embates nacionais, as disputas foram com elevado nível de crueldade. No ambiente incomum dos dois, poderá ocorrer o que aconteceu na disputa pelo poder entre a turma do PMDB, de Ulysses e os dissidentes do PFL, na eleição do Presidente Tancredo Neves. A briga por espaços foi duríssima, a ponto de, em alguns momentos, inviabilizar o governo Sarney, herdeiro dos acordos que Tancredo fez para acomodar todos.

Neste ponto do tempo, é hora de chamar Edmund Burke para a conversa. Conservador liberal do século XVII , ele alertou os políticos quando em fase de composições: “Existe um limite depois do qual a tolerância deixa de ser uma virtude”. Aí, então, cabe perguntar, para decidir o voto: até onde irá a tolerância do Geraldo com Lula e do Lula com o Geraldo? Em que momento da convivência dos dois, a tolerância levará ao rompimento ou à subserviência?

O slogan da campanha da chapa Lula e Geraldo diz muita coisa para os liberais, quando observado com a lembrança do que foram as seis disputas presidenciais entre as duas correntes: ‘Não vamos desistir do Brasil”.

O tempo dirá.
Boa semana para todos.

Foto: Reprodução PT. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

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Vidente Allan Richard Way

O vidente Allan Richard Way. 

Você já ouviu alguma coisa sobre um vidente famoso chamado Allan Richard Way? O jornalista Carlos Heitor Cony, um profissional que, enquanto viveu, fez um trabalho muito bom na imprensa brasileira, entrevistou o vidente, num subúrbio de Londres, onde ele residia. 

Segundo Carlos Heitor Cony, a casa do vidente foi construída no estilo Tudor, o mesmo adotado pelas universidades de Oxford e Cambridge. Allan era indiano e estava radicado na Inglaterra há muitos anos. Cony fez várias matérias com as previsões do vidente, no tempo em que estava na revista Manchete, que existiu até o ano 2000, se não me engano. 

Outros jornalistas tentaram entrevistar o vidente, sem sucesso. A TV Globo, por exemplo, pediu à sua diretora da sucursal em Londres para localizar Allan Richard Way e ela só tinha, como indicações, o bairro, a rua e o estilo da residência. Ele nada conseguiu e não convenceu seu chefe da impossibilidade absoluta. Por isso, ela perdeu o emprego e houve quem falasse à boca pequena na imprensa brasileira, que Allan Richard Way já sabia disso antes do fato acontecer. 

Allan Richard Way se tornava famoso a cada nova matéria assinada pelo Carlos Heitor Cony, mais pelo mistério e do que pelas adivinhações, já que acertava pouco ou quase nada. 

Uma vez, Allan Richard Way previu o desmoronamento de uma das pilastras da Ponte Rio-Niterói. Eu me lembro bem desse momento. O governo federal interditou a ponte por quase uma semana, para fazer as revisões nos pilotis. Mesmo depois da verificação técnica exaustiva, as autoridades liberaram o tráfego com muito receio ainda. 

Até que um dia, Carlos Heitor Cony abriu o jogo para dizer que Allan Richard Way era uma grande mentira, uma gozação, assunto que facilitava a vida dele como jornalista obrigado a criar, diariamente, colunas de notícias, para atender o patrão, Adolpho Bloch e evitar aborrecimentos com um chefe de redação que queria tê-lo pelas costas. 

A história do vidente Allan Richard Way é boa para os tempos de agora, quando tem gente que prega com toda a convicção do mundo, que esse tal de Fake News é coisa moderna, criada pela internet. Qual o quê! 

A imprensa do mundo todo tem várias situações, por vezes trágicas, por vezes cômicas e por vezes românticas, de mentiras bem contadas, deixando com o povo o direito ou prerrogativa de descobrir a verdade. Moderno é o mau-humor latente na sociedade brasileira, que perdeu a graça e a capacidade de apreciar  o que é cômico e divertido. Tudo, rigorosamente, tudo, hoje em dia é motivo para brigas, confusões e atritos. O brasileiro perdeu o bom-humor e a paciência. Isso, nem o vidente Allan Richard Way foi capaz de prever. 

Vejam vocês. Hoje, até a Suprema Corte foi provocada para cuidar das notícias que não cheiram bem, porque, o diabo do Estado Brasileiro tem a certeza de que nós, brasileiros e brasileiras, somos impotentes, ignorantes o suficiente para não conseguir avaliar corretamente o que nos falam os políticos. Como isso tem dado certo, daqui a pouco, a Suprema Corte cuidará de dizer o que a imprensa pode ou não comunicar, porque, toda comunicação, segundo os supremos ministros,  precisa ser fidedigna e sem humor, de preferência. 

Portanto, a imprensa que aplaude a censura aos políticos, logo, logo, sentirá o peso da censura. Lula da Silva sonha com o dia em que só se poderá dizer qualquer coisa sobre ele se forem elogios. 

Hoje, Allan Richard Way seria um foragido da Justiça Brasileira residindo em Londres.

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Não é a economia!

Tem sido costume no Brasil os candidatos à presidência anunciarem, de pronto, quem será seu orientador para a economia, alguém que em razão da campanha do Presidente Jair Bolsonaro, e do sucesso de peças publicitárias de um posto de gasolina, ficou com o apelido de “Posto Ypiranga”. 

A economia esteve também como motivo da vitória de Bill Clinton numa campanha de sucesso inacreditável contra um presidente com um governo bem avaliado, George Bush. James Carville, estrategista da vitória, sintetizou a causa do resultado numa frase: “É a economia, estúpido !” 

Serei atrevido com os candidatos à presidência do Brasil, sem ser agressivo. Tiro o “estúpido” da frase de Carville e incluo a negativa, para dizer: Não é a economia! 

O povo brasileiro tem sido infeliz nas escolhas que faz nas eleições,  porque a pobreza é o motivo condutor das decisões. Por um “bolsa” qualquer e promessas de ter uma vida um pouco melhor e voz sobre os costumes, o brasileiro tem entregue o voto. 

A pobreza é o nosso principal problema e, por paradoxal que pareça, ela está longe de ser uma questão só, exclusivamente econômica. Se fosse, os programas sociais, que mudam de nome a cada governo, mas não mudam de roupa, já teriam resolvido a pobreza. 

Alguém que conheça com profundidade o mundo opaco das teorias econômicas conseguirá vencer a pobreza, se no Brasil os pobres nascem pobres e nada se faz para que saiam da pobreza a ponto de seus filhos e netos não nascerem pobres? De onde virá a oportunidade para a mudança do destino? 

Virá do resultado dos balanços de pagamento, das reservas internacionais, da inflação, dos superávits na balança comercial, do valor do real frente ao dólar? Ou do que acontecerá com a economia mundial depois da guerra da Rússia com a Ucrânia ? 

Na vida dos próprios candidatos e da candidata à presidência está a resposta. Uns mais, outros menos, todos tiveram oportunidade de aprender alguma coisa nas escolas por onde passaram. 

Lula aproveitou-se de uma escola profissionalizante para ser torneiro mecânico, assumiu a presidência de um sindicato, comandou uma greve, negociou com o governo, criou um partido político e disputou eleições. 

Jair Bolsonaro entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, tornou-se capitão, comandou uma greve, ingressou na política e hoje é o Presidente da República. 

Sérgio Moro cursou Direito, fez-se Juiz, Ministro e agora é candidato à presidência. Ciro Gomes deixou a cidade natal em São Paulo, fixou-se na cidade de seus pais no Ceará, estudou, cursou uma universidade pública, etc, etc. 

Simone Tebet? Única mulher na disputa. Seus avós deixaram a cidade natal. Seu pai, político, foi antes promotor público, porque foi formado numa Universidade Pública, como aconteceu com a filha Simone que, depois, tornou-se Senadora, e agora é candidata a Presidente. 

Luiz Felipe D’avila fez o ensino médio num subúrbio de Chicago, estudou Ciência Política em Paris e Administração Pública em Harvard. Criou o Centro de Liderança Pública, CLP, e é candidato à Presidência.  

Já temos exemplos bastantes para mostrar aos candidatos e à candidata à Presidência que, se ela e eles querem mesmo, como dizem, acabar com a pobreza e o mais cruel legado dela, a ignorância sobre como se faz um país melhor,  o primeiro nome a escolherem para suas equipes de trabalho não deveria ser dos economistas, mas de gente que sabe o que fazer com a Educação. 

Jair Bolsonaro tomou de Cristo um dos slogans de sua campanha: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas, como fazem para conhecer a verdade aqueles que não sabem ler e se sabem, sequer interpretam corretamente o que leem? 

Com boa educação ou até com uma educação razoável, quem lê a frase dita por Cristo saberá que ela ocorreu algo depois de Cristo ter repreendido os escribas e fariseus que queriam apedrejar uma mulher adúltera: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela”. Opa! Como isso poderia ser útil ao usuário da frase sobre conhecer a verdade! 

Portanto, eu diria ao James Carville: Por aqui não é a economia, “estúpido!” É a educação! Sem ela, a economia andará sempre a depender da caridade do Estado, porque é ela que, verdadeiramente, liberta, porque só ele faz com que alguém conheça a verdade e estabeleça a diferença essencial entre ela e a mentira comum às campanhas eleitorais.   

Para provar que a educação no Brasil é uma lástima, dispenso-me de  tomar o tempo de vocês, leitores, com dados que estão disponíveis e acessíveis a todos. Basta que se busque a ajuda do google. E, se quiserem algo mais sofisticado, o google também indicará. 

As escolas brasileiras se servem a alguém, servem aos políticos que inauguram os prédios e corporações. O Brasil ainda é o país das salas de aula entregues só aos professores. Eles e elas entregues à própria sorte. São ambientes jurássicos num mundo onde a tecnologia muda rápido e o conhecimento se torna essencial para encontrar lugar no mercado de trabalho. 

Quem cuidará da Educação no projeto de governo da candidata e dos candidatos à presidência que se apresentam ao povo brasileiro? Com quem está ou ficará a batuta da Educação? Enquanto esse dado for irrelevante diante do maestro da orquestra e o primeiro violino estiver entregue ao “Posto Ypiranga”, esqueçam. O Brasil não será a pátria da liberdade e tão pouco da ordem e do progresso. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Curiosidades: Eleição no Vaticano

Como Putin chegou ao poder na Rússia? Em 1999, eleito Primeiro-Ministro. Depois, eleito Presidente e é nessa posição que ele decidiu invadir a Ucrânia. Então, posso dizer que Putin cumpre um mandato conferido pelos russos para fazer aquilo que interessa aos russos. Será? Quando a gente trata de eleições, precisa lembrar que elas acontecem até para a escolha de um Papa, num processo parecido com o que acontece em todo canto. Verifique.