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Uma Casa mal assombrada

No Estado do Rio de Janeiro, desde 1974, ano em que, no tranco, foi extinto o Estado da Guanabara, não houve um governador que tivesse vida longa na política e o destino dos últimos tem sido muito infeliz.  

Floriano Faria Lima foi o primeiro. Não chegou lá pela política, mas quando de lá saiu não se soube mais dele, até 2011, quando, por mero dever protocolar, a imprensa noticiou que ele, aos 94 anos, faleceu. 

Após Faria Lima, houve Chagas Freitas, que, “No intervalo que separa a morte política dele da morte física, fora despido de todos os símbolos de poder: seu império jornalístico fora vendido e seu grupo político muitas vezes negou identificação com o líder. Socializado politicamente nas fileiras do chaguismo, Miro Teixeira emergiu da redação de O Dia para assumir o posto de herdeiro político de Chagas Freitas. Mas, na campanha eleitoral de 1982, por perceber a dificuldade de se contrapor aos críticos de seu mentor político, afastou-se dele e foi derrotado”. As citações são do livro “A Política Carioca em Quatro Tempos”, que reúne textos de Carlos Eduardo Sarmento, Marly Motta e Américo Freire. Uma obra que deveria compor a leitura de quem queira entender como é a complicada política carioca. 

Mesmo com tais destinos, sorte melhor tiveram Floriano Faria Lima e Chagas Freitas do que seus sucessores. Quando dirigiu o Informe O Dia, o jornalista Jan Theophilo, numa nota, alertou o povo do Rio de Janeiro: “Ao que parece lá vamos nós de novo”, dizia ele no início do primeiro governo Cabral, para completar: 

“Todo governador do Rio começa o mandato sonhando com a Presidência da República e termina tentando não sair preso do Palácio”. Cabral mandou-lhe um duro recado. 

Por que será esse o destino dessa gente? O povo não sabe escolher? Será que a estratégia deles para permanência no poder é equivocada? Será uma sina? 

O casal Ariel e Will Durant, autores da mais completa coleção sobre a História da Civilização, abre o capítulo XXII do volume “Começa a Idade da Razão”, afirmando: “As religiões nascem e podem morrer, mas a superstição é imortal”. O caso do Rio de Janeiro será uma maldição do Palácio Laranjeiras, uma casa que parece mal assombrada? 

Quando o governador Wilson Witzel entrou na ciranda, lembrei-me de uma das propagandas criadas pela Artplan, para a campanha do candidato Moreira Franco em 1982, e fiquei matutando: “Caramba! Os irmãos Medina já sabiam que o Palácio Laranjeiras era mal assombrado. Deveriam ter-nos avisado!”. 

Criada para a propaganda eleitoral na TV, a peça mostrou o Palácio Laranjeiras com todo jeitão de uma casa mal assombrada, ocupada, há anos, pelo fóssil de um governador ultrapassado, o senhor Chagas Freitas. Uma voz grave leu um texto bem formulado, talvez pelo brilhante Evandro Barreto, que prometia exorcizar o Palácio com o “exorcista” Moreira Franco. 

Contudo, Brizola venceu a eleição. Mas, Moreira Franco lá chegou quatro anos depois e o futuro dele na política após deixar o governo, evidenciou que, ao invés de exorcizar o Palácio, o governador se deixou incorporar pelos maus espíritos. 

Como não sou supersticioso, estou certo de que os destinos ruins dos governadores têm outro motivo. Está no modo como eles entendem a função. Assim que eleitos, eles se acham absolutos, seres especiais ungidos pelos deuses para tratarem os assuntos do estado como bem queiram. E como o estado é enorme e poderoso, eles, do mesmo modo como fez Napoleão, a si mesmos coroam, imperadores. Mas, como não vivemos num Império, eles têm acabado mal cada vez mais cedo. 

Todos teriam melhor destino se o Estado fosse menor, menos poderoso e arrogante, do jeito como pedem os liberais. Com menos espaço para fazer arte, os governadores arteiros poderiam ter dito melhor destino. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Ouvir, antes de agir… Por favor!

A Cedae é a bola da vez. A Geni. Quem tem espaço para se pronunciar sobre qualquer tema, nos últimos dias escolheu a Cedae. Eu também já fiz isso, num podcast, quando critiquei a comunicação do governo. No jornal O Globo deste domingo, Gustavo Franco deu ao assunto o sugestivo título de “Verão Chernobyl” e abriu o texto com um mal presságio: “O Rio de Janeiro está sofrendo mais um desastre, que pode não ter, até o momento, a gravidade de Brumadinho ou Chernobyl, mas não há dúvida que a dinâmica é parecida.”

Retorno ao tema agora sobre outro aspecto, o da administração pública e peço licença para um exemplo tirado da vida pessoal. 

Ingressei no Banco do Brasil em 1985. Naquele tempo – não sei se a rotina permanece – quem assumia uma função de chefia, sentia-se obrigado a conversar com quem já estava no ambiente, para conhecer os problemas, o andamento dos projetos, as dificuldades e soluções já tentadas, porque, na empresa, quem chefiava não escolhia os chefiados. Eles eram selecionados num processo nacional de avaliação.

Então, sem diálogo com quem já estava no pedaço, um chefe não conseguiria trabalhar e, se tentasse, quebraria a cara.  

Uma situação como a ocorrida com a Cedae pega um governador desprevenido, porque a rotina do serviço público não é a que conheci no Banco do Brasil. Quem assume uma função pública inicia a nova vida com duas prioridades: quem será nomeado para os cargos subordinados e que mirabolâncias deve fazer para ser visto e admirado, tudo isso vinculado diretamente ao objetivo fundamental: manter o poder e disputar novas funções. 

Ora, o governador Wilson Witzel, inesperadamente, venceu a eleição para o Governo do Estado, que ele e todo mundo sabia ter vindo de administrações caóticas. Se tivesse, por um instante, parado para entender a importância e o peso da máquina que teria que governar, certamente, encontraria a Cedae, que fornece um bem essencial, fundamental, indispensável, à vida. Se Witzel e seus escolhidos tivessem sentado por algum tempo com a turma que estava lá na Cedae, certamente, teriam ouvido sobre os riscos da ocorrência que ele, meio assustado e um tanto apressado, tenta enfrentar agora, não para evitar prejuízos à população, mas para diminuí-los. 

Fala-se muito em reforma administrativa, uma das agendas mais velhas do País. No centro está sempre o servidor público, para uns, um folgação irresponsável, para outros, um elemento desprezado, que precisa ser valorizado. Quando no centro de qualquer reforma do Estado Brasileiro estiver colocado o contribuinte, aquele que paga a conta, certamente, as reformas darão melhor resultado. E, uma das coisas que precisa mudar, com urgência, é a cultura de quem busca exercer a função pública, por voto ou por nomeação. 

Quem chega precisa ouvir quem já estava no ambiente, antes de sair a espalhar demissões e encaixar apadrinhados e afilhados com base num projeto de poder que, com certeza, teria melhores resultados se a população fossem bem atendida. 

A verdadeira reforma que o Brasil precisa, eu não duvido, é a da cultura, do modo como se deve tomar decisões.  

Ouvir antes de agir é a melhor estratégia para sustentar um projeto político. Pode acreditar.

Por Jackson Vasconcelos

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

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Por que Witzel venceu?

É possível vencer uma eleição simplesmente por se estar na hora certa e no lugar certo?  É sim. A eleição do WIlson Witzel para o governo do Rio de Janeiro é um desses casos e existiram outros casos, na eleição de 2018,  outros Brasil afora.

Poderão se repetir nas próximas eleições? Pouco se sabe, porque as disputas eleitorais acontecem no campo das relações humanas, sempre imprevisíveis. Não há sempre. Não há nunca.

Contudo, quando os fatores que produziram o resultado acontecem novamente, a chance do resultado ser repetido é grande. Nisso, caímos num ponto importante da análise da eleição do governador Wilson Witzel: que fatores deram a ele a vitória? Essa leitura é fundamental, para construir um novo cenário de disputa no futuro.

Muita gente – talvez o próprio Witzel – é levada a acreditar que o resultado acompanhou a avalanche nacional provocada pela campanha do Jair Bolsonaro. Não foi. Pelo menos, não só isso. Wilson Witzel foi eleito porque os eleitores não identificaram outro candidato com uma virtude essencial: vínculo com o passado e alguma aparente competência na segurança pública, tema essencial.

Eduardo Paes carregou o vínculo de sua vida política com políticos presos. Indio da Costa, os mesmos vínculos do Eduardo Paes e mais uma ligação estreita com Marcelo Crivella. Romário, idem e sem credencial para dar resposta à expectativa popular essencial: resolver a segurança pública. Márcia Tiburi, o PT. Pedro Fernandes estampou no rosto a conversa fiada. Garotinho ficou pelo caminho, mas com rejeição alta, por ter sido preso duas vezes antes do início da campanha. Sobrou quem? Witzel, pouco importando as ligações dele com Jair Bolsonaro ou com um franqueado da marca, Flávio.

O senador eleito, Arolde de Oliveira, este sim, foi eleito pela marca Bolsonaro. Foi uma eleição com duas vagas para o Senado, a primeira decidida desde o início da campanha pelo franqueado, Flávio. A outra, não se tinha dúvida, seria para quem tivesse a personalidade política da franquia: César Maia e Arolde, que disputaram o segundo voto, palmo a palmo. A Arolde, a novidade, com 8 mandatos de deputado federal e mais de 80 anos de idade, venceu.

Por Jackson Vasconcelos