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Viva a liberdade!

Eu gostei do que houve em Washington. Não gostei do que fez o imperador Zuckerberg. Em Washington, o povo americano mostrou o quanto evoluiu a relação da polícia com a população. Zuckerberg reafirmou que não tem essa de liberdade de expressão nas redes dele, que nós, muitas vezes, julgamos serem nossas – meu facebook, meus faceamigos, meu Twitter ou meu Instagram. Tudo isso pertence a uma só pessoa, ao senhor Mark Elliot Zuckerberg. Ele é o dono, decide com quem você fala o que fala. 

Você, certamente, viu as cenas da invasão do Capitólio e ouviu os repórteres e comentaristas sobre a ocorrência. Para completar o conjunto, há a matéria de Ernesto Neves na VEJA da semana, que mereceu capa e um box de memória assinado por Monica Weinberg. No box está a entrevista do Presidente Trump às Amarelas em 2014. A chamada tem tudo a ver com a gente: “Brasileiros, me aguardem”. Nós aguardamos e ele aqui chegou em 2018. Se estamos a gostar disso ou não, cada um tem liberdade para sentir e dizer. 

O trabalho do Ernesto Neves tem uma passagem – um trecho curto – que dá  a dimensão do conhecimento que ele tem da História. Está escrito: “Foi como se – numa comparação exagerada, mas didática e necessária – Roma fosse tomada pelos bárbaros. Numa palavra: vergonhoso”.  A comparação não é exagerada, menos ainda didática, ela é equivocada, porque bárbaros eram povos não romanos e vergonhoso era o comportamento dos imperadores. Nos tumultos em Washington, os americanos fizeram todo barulho. Enfim, é a imprensa que temos. 

Adiante! Sugiro que você, minha cara leitora, meu caro leitor, com os olhos nisso tudo assista – se você ainda não assistiu – “The Trial of the Chicago 7” – no Brasil, “Os 7 de Chicago”, disponível no NETFLIX. Assista, mesmo que você conheça plenamente o caso ou tenha lido Battleground Chicago. O filme é a reprodução no cinema do julgamento de um grupo de jovens ativistas, que foi ao Lincoln Park em Chicago para protestar contra a Guerra do Vietnã. Escolheram Chicago pela visibilidade que a Convenção Nacional dos Democratas daria ao evento – “o mundo todo está nos vendo”. Afinal, o Democrata Lyndon B. Johnson estava na Presidência dos EUA e tinha autorizado a ida de mais 500 mil soldados americanos para a guerra. 

O mundo ferveu em 68 e nos EUA o calor se fez maior, com o assassinato de Martin Luther King e Robert Kennedy. 

O filme, tanto para quem sabe a história real como para quem não sabe, é um bom exercício para se conhecer o comportamento da polícia em 1968 e agora. Por todos os motivos de pressão popular, a polícia nos EUA me pareceu um tanto melhor. E, se melhorou de fato, isso se deve a uma questão fundamental: o povo reage sempre às violências da polícia, seja contra negros, seja contra brancos. Um povo que não reage a elas e as aceita como inevitáveis, um dia será a vítima. 

Outro ponto relevante: as cenas do julgamento dos jovens ativistas, um deles negro, agridem quem tem a exata noção do que é a liberdade de expressão e nesse ponto, entro com o mago Zuckerberg. 

No julgamento dos sete de Chicago, que foram durante um tempo, oito, o Juiz Julius Hoffmann manda amordaçar e amarrar na cadeira o réu negro, Bobby Seale, para impedir que ele continuasse a pedir a presença de um advogado ou a ter o direito a fazer a própria defesa. O juiz negou-lhe o advogado e a defesa pessoal e também negou ao júri o depoimento essencial de uma testemunha apresentada pela defesa. 

Quando o Facebook, o Twitter, o Instagram e etc amordaçam quem os contraria, nos dão uma notícia: os espaços que usamos têm dono e não somos nós, assim como acontece e sempre aconteceu com a imprensa tradicional. O acesso é selecionado pela opinião. Por isso, às vezes o povo prefere ir gritar nas ruas, não importa quem seja o déspota. O  ser humano nasceu para a liberdade. Imaginem o que acontecerá ao senhor Zuckerberg se os usuários dos espaços dele resolverem buscar outro caminho. Será a aplicação melhor de uma regra básica do mercado: é dono quem paga pela propriedade. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Oportunidades para os liberais

Em São Paulo, terra que venera o trabalho e a propriedade privada, um candidato sem trabalho e sem propriedade chegou ao segundo turno. Fez tremer e suar as mãos do poder constituído lá. Foi resultado da convicção de 2.168.009 eleitores ou um recado deles? Entregue-se isso aos analistas de plantão nos canais de TV, imprensa e bar da esquina e teremos todas as explicações. 

No Rio de Janeiro, terra que não venera tanto o trabalho quando olha as praias e gosta da propriedade privada conquistada por proximidade com o Estado, o prefeito odiado por todos, recebeu menos 786.330 dos votos obtidos na eleição anterior. Convicção ou um recado dos eleitores? Também temos comentários para todos os gostos. 

Em Porto Alegre, dá pra fazer o mesmo exercício. Lá, Sebastião Melo venceu com 360.550 votos e Manuela D’Ávila, a comunista que odeia o comunismo, ficou pra trás com 307.745 votos, uma barbaridade de votos, tchê! 

O Partido NOVO fez um prefeito, o Adriano Silva. O contraponto absoluto do NOVO, o PSOL, venceu em Belém, onde Edmilson Rodrigues teve a ousadia vencer um delegado federal, que conquistou 364.095 votos. 

Em Goiânia, o eleitor escolheu um candidato na UTI com Covid-19. E tivemos um prefeito eleito com 95 anos de idade, para um mandato de quatro anos e que já pensa em reeleição. 

Assim, gente, é o Brasil. Em cada lugar, o eleitor decide de acordo com a sua realidade e com as informações que recebeu durante a campanha, que é cada vez mais curta e menos informação oferece.  

Mas, se no Rio, as razões do voto foram diferentes ou idênticas às de São Paulo e de Porto Alegre e se em Belém, o PSOL fincou uma estaca e o NOVO outra em Joinville, houve um tipo de eleitor que é maioria esmagadora: o eleitor do “não voto”. 

Esse fica fora de todas as análises, porque a legislação brasileira considera-os donos de votos inválidos. Em São Paulo, foram invalidados 3.649.457 votos, num contraponto curioso com o vencedor, que obteve 3.169.121. No Rio de Janeiro, 2.308.868 eleitores escolheram nenhum dos candidatos, e o vencedor, o repetente, Eduardo Paes, alcançou 1.629.314 votos. 

Prá lá e mais prá cá, isso aconteceu nas cidades que citei e, certamente, em várias outras. 

Se há dúvida sobre as razões do voto, convicção ou recado, no caso dos “não votos”, eu não tenho dúvida: é um recado. A cada nova eleição, um grupo grande de eleitores, mesmo obrigados a ir às zonas eleitorais, não vai e um número também expressivo comparece para dizer: nenhum deles ou delas me serve. Onde está a convergência da decisão? Eu dúvida alguma tenho: no Estado Brasileiro, que é a referência para qualquer eleição no mundo todo. Quero mais Estado ou menos Estado? O Estado não me atende e não corresponde às minhas expectativas,então, não me interessa mais escolher gente para ocupar funções no Estado. 

Boulos, em SP, propôs mais Estado. Covas, um pouquinho menos, mas mesmo assim, um trambolho suficiente para manter seus aliados no poder. No Rio, pior ainda. Por isso, vejo no “não voto”, uma oportunidade enorme para os liberais, porque está claro, claríssimo que o Estado Brasileiro não corresponde e só incomoda. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Debater pra quê?

Quantos bairros há na cidade do Rio de Janeiro? Quantas ruas e avenidas? Se tornamos por base o debate entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella durante a semana na Band, concluiremos que, seja qual for o número, Cesário de Mello é a mais importante avenida da cidade, porque com ela, Eduardo Paes abriu o confronto direto com Crivella. Nenhuma outra avenida ou rua da cidade mereceu tamanha honra. 

Sem a ironia, o que sobra do fato? 

A consideração sobre a estratégia adotada pelos dois candidatos no debate e na campanha: aniquilar o adversário, para vencer a eleição por exclusão. Eles escolheram a única estratégia possível, porque para serem marcadas por propostas, ideias ou até mesmo pela retórica de princípios e valores, as campanhas dos dois candidatos precisam ter, neste campo, diferenças, pelo menos, algumas. Não têm! 

Crivella e Eduardo ou Eduardo e Crivella, tanto faz. Eles são representantes de uma mesma maneira de fazer política e governo. Os dois acreditam que a prefeitura tem recursos infindáveis e não importa serem desperdiçados com projetos políticos individuais e favores aos aliados. Nem Eduardo governou para o cidadão carioca, nem Crivella para a igreja dele como o acusa o adversário. Os dois governaram todo o tempo para os aliados políticos. 

Insisto que o ponto fundamental em qualquer debate político no Brasil, no momento, deveria ser a cidadania e a relação dela com o Estado Brasileiro, em suas diversas representações, entre elas, as prefeituras. Mas, essa discussão passa longe do debate político nas campanhas. Elas cumprem uma estratégia de comunicação traçada com base em pesquisas bem simples onde o eleitor é chamado para responder às questões tiradas da cabeça dos pesquisadores. As deste ano inseriram o termo “gestor”, porque, afinal de contas, a cidade está uma bagunça. “O povo quer um gestor”, dizem os leitores de pesquisas. 

Vá lá que seja mesmo isso, mas um gestor para gerenciar o quê e de que forma? Do que precisa o cidadão carioca? De que recursos dispõe a prefeitura para atendê-lo? São recursos suficientes? Isso pouco importa, porque as pesquisas indicam que não é bom um candidato falar em aumentar impostos, cortar despesas ou mesmo colocar a turma de servidores para trabalhar pra valer e atender o cidadão. Então, fiquemos com a proposta de aniquilar o adversário, porque no mais, diferença não há. 

Sobre política, debates e ideologias, sugiro a vocês a série Borgen, que a NETFLIX está exibindo. Borgen é a redução do nome do local onde, na Dinamarca, estão situados os três poderes da monarquia. É uma ficção sobre a política dinamarquesa. 

No primeiro episódio, há a cena de um debate eleitoral entre vários candidatos, entre eles, Birgitte Nyborg, personagem principal. Ela foi preparada para o debate por seu assessor de imprensa e instruída, por ele, de como deveria se vestir. Os dois minutos dados a ela para falar criam, na equipe, tensão, medo e, no fim, euforia. Birgitte abandonou o texto combinado e deu o motivo de não estar com o traje sugerido pelo assessor: “o que acontece é que o blazer não coube porque engordei um pouco”. 

O discurso é brilhante…

“Todos aqui somos muito profissionais. Vemos as perguntas antes do debate, formuladas pela mídia. Todos seguimos os roteiros para sermos perfeitos. Agora mesmo, o meu assessor está nos bastidores me xingando, por não seguir o discurso. E ficou bravo por eu não usar a roupa que combinamos..”. E ela segue, até chegar ao final, para dizer: 

“Se quisermos uma nova Dinamarca criada por nós, temos que inventar uma nova forma de nos comunicarmos com o povo e encontrar uma nova forma de fazer política. É possível que palavras como socialismo, liberalismo e solidariedade (partidos presentes ao debate) sejam palavras que descrevam o mundo de ontem, não de amanhã. Um mundo moderno e variado como nossa democracia deve ser”. 

Quem puder não perca. Quem já assistiu, certamente, tem simpatia pela política e gostou. Sobre a estratégia de aniquilar um adversário há também exemplos, que a cultura diferente da nossa deu destino melhor. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um balanço da eleição

O establishment sobreviveu para dar, mais uma vez, vitórias à ineficiência e à preguiça, vícios do Estado Brasileiro.  Os socialistas venceram novamente. Às 17h, antes ainda do resultado final da eleição municipal, que demorou como há muito tempo não demorava, a convite do Ronaldo Gomlevsky, participei de uma roda de conversa na internet com um grupo excelente de comentaristas. 

Nossa conversa se fez, inicialmente, com base na pesquisa  na boca da urna e prosseguiu quando surgiram os primeiros resultados oficiais. Alguém levantou uma questão sobre a derrota da esquerda no Rio de Janeiro, com Benedita da Silva e Martha Rocha. Ousei discordar, para mostrar que, desde 1982, no Rio de Janeiro, em especial na Capital, os socialistas estão poder, e pertencentes à mesma raiz: Leonel de Moura Brizola. De Jamil Haddad a Eduardo Paes, por afinidade ideológica e história. Marcelo Crivella, por costume.  

Os socialistas são o Estado ineficiente e preguiçoso, por isso, caro e opulento. É um distribuidor de favores e benefícios, agente da caridade com o chapéu alheio no lugar de garantidor dos direitos do cidadão. 

Ainda não foi dessa vez. O “establishment” é socialista e está sólido e sabe como sobreviver. Uma das frentes é a legislação eleitoral. Ela inibe as campanhas e não faz isso por mero acaso ou estupidez. Nada disso! É estratégia de sobrevivência. Sem campanhas ou com campanhas financiadas com o dinheiro público e direção determinada pelos partidos que pertencem ao “establishment”, vencê-lo será uma pedreira! Não será de uma vez só, nem no tranco. O processo exigirá paciência e estratégia. Uma paciência que João Amoedo parece ter perdido, quando responde sobre o desempenho do partido Novo, que é caminho criado por ele para vencer o “establishment”. 

Mas, se a mudança não acontecer por bem, haverá por mal, quando chegar o dia em que o Rio de Janeiro estará completamente vencido pelo crime e desastre econômico. Para quem gosta de ter esperança, percebo esse tempo bem próximo.  

Já fiz menção aqui neste espaço a uma das melhores obras políticas escritas em estilo de romance, a Revolta de Atlas. A autora, Ayn Rand, nasceu na Rússia e sofreu as consequências da Revolução de lá, quando o Estado quebrou o negócio do pai e levou toda a família à miséria. O livro é uma aula de Brasil. Acreditem. Nele está o elemento motivador da decisão do prefeito Marcelo Crivella com relação à Linha Amarela e exemplos também de empresários que enriquecem rápido, só pela influência que têm nos governos, como se viu ocorrer no tempo dito de ouro, das grandes obras e eventos internacionais. 

O tempo dirá a até quando irá a paciência de que empreende e só precisa do Estado para obter o que ele não oferece: segurança pessoal e jurídica.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Eleição nos EUA: Uma resposta a Michael Moore

Bem, Joe Biden está eleito. Donald J. Trump esperneia, mas voltará para casa. Assim é a democracia. 

Trump venceu Hillary em 2016. Após a eleição, por aqui, em 2018, reservei um tempo para visitar os discursos daquela campanha e encontrei um muito especial. Michael Moore fez. Em estilo de palestra, na jaula do leão Trump, Ohio, em defesa da candidatura da senadora Hillary Clinton. 

Moore é escritor crítico, ele tem todo o jeitão de jornalista e é um orador fantástico. Li muita coisa dele e já devo ter assistido todos os documentários feitos por ele. Em novembro de 2019, eu comentei o discurso/palestra do Moore em Ohio, a favor da Hillary. Algo sensacional. 

Volto a ele, depois da derrota de Donald Trump, para complementar o trecho que transcrevi no meu espaço com o título “O discurso é uma música”. Aquele, de fato, foi. Teve melodia, harmonia e ritmo, como gostava Rubem Alves, outro escritor excelente. Já falecido. 

No meu blog com cara de site, compartilhei o discurso completo do Moore, que está disponível no YouTube. O trecho que transcrevi, encerrei com a seguinte passagem: “A eleição do Trump será o seu grito de “Foda-se o sistema. O maldito sistema. E todos se sentirão bem… por um dia, por uma semana, por um mês. E , então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”. 

Na continuação, Michael Moore errou na previsão. Disse ele: “Querem uma nova eleição? Isso não vai acontecer…

Quando as pessoas irritadas de Ohio ou Michigan, Pensilvânia e Wisconsin descobrirem depois de alguns meses no cargo, que o presidente Trump não fez qualquer coisa por eles, será tarde demais para fazer algo sobre isso. Mas, eu entendo. Você tinha a sua ira e raiva justificáveis. Você só acabou elegendo o último presidente dos EUA.”

Errou, Moore! Ainda há democracia na América! 

Tiranos existem em todos os lugares do mundo e sob quaisquer circunstâncias. Mas, contra eles, a democracia criou as leis chanceladas pelo povo, que sustentam instituições consistentes e elas asseguram ao povo a liberdade para mudar o que não gostou de fazer. 

Há quem veja, na eleição de Joe Biden, a antecipação da derrota do presidente Jair Bolsonaro, pelas semelhanças que acreditam existir entre os dois. Bobagem pura. Pode ser que sim, como pode ser que não, se por aqui surgir um Joe Biden e partidos, que entreguem aos filiados e ao povo, via primárias, o direito de escolherem os candidatos que disputarão a Presidência. 

Entre nossa história republicana e a história da república nos Estados Unidos há uma distância enorme. Somos ainda uma democracia com partidos políticos com donos, muito dinheiro do povo e nenhuma democracia interna. 

Lembrem-se, os que conhecem a história política nacional e a americana, que houve um tempo em que as eleições presidenciais nos EUA e no Brasil aconteciam no mesmo período e em 1960, o Brasil elegeu Jânio Quadros. Os EUA, John Kennedy. 

Com certeza, temos gente melhor para a disputa pela Presidência da República. Mas, essa gente não passa pelos partidos que, por aqui, têm donos e são financiados por quem não gosta deles.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Vendam as minhas empresas e vendam logo!

O IBGE diz que somos 209, quase 210 milhões de pessoas no Brasil e é o caso de se perguntar: quantos de nós recebe alguma coisa, qualquer coisa, das empresas que a esquerda e os bobos da corte consideram nossas? Poucos de nós. Uma minoria de privilegiados funcionários, fornecedores, seus familiares e apadrinhados. 

Então, eu, parte da maioria, digo a você, minha leitora, meu leitor, que gostaria mesmo que o governo se desfizesse de todas as empresas e negócios que dizem serem minhas ou meus. O dinheiro da venda, qualquer dinheiro, desejo que os vendedores destinem aos orçamentos públicos, para aliviarem o peso que o governo faz sobre os meus ombros. 

A isso chama-se privatização, nome feio para a esquerda, onde está alocada a minoria que se beneficia de todo o trambolho registrado em nome do Estado. 

Vez por outra os governos prometem a tal privatização. Alguns avançam um pouco e param e outros nem isso, porque  a minoria beneficiada é barulhenta, esperneia e mente, mente muito para criar insegurança e incerteza na maioria. A minoria criou a conversa fiada de “empresas estratégicas”, “patrimônio público inviolável” e outras bobagens mais. 

Se quer tanto as empresas e negócios que só a ela, minoria, beneficia, então que fique com tudo, mas pare de nos cobrar a conta. 

Lima Barreto, o brasileiro, mulato, inconformado, escreveu crônicas magníficas. Uma delas, “Centenário”, escrita para comentar a comemoração dos 100 anos do Grito da Independência. Nela, o magnífico cronista cita o conto de um humorista inglês sobre um mendigo de Londres, que disse: “Sou súdito de Sua Majestade Britânica. Tenho, além das Ilhas Britânicas, o Canadá, a Austrália, a Índia, a Nova Zelândia e não sei que mais terras; entretanto, visto-me com farrapos, durmo, as mais das vezes, ao relento, e passo dias sem comer. Que me vale ter nominalmente tantas terras? Nada. Antes tivesse alguns níqueis por dia”. E Lima Barreto surfa na onda do mendigo: “Creio que o carioca raciocina de alguma forma parecida. Dirá ele: “Que me adianta José Bonifácio, Pedro I, Álvares Cabral, o Amazonas, o ouro de Minas, a feérica exposição, o Minas Gerais, se levo a vida a contar vinténs, para poder viver?”.

Tenho voltado às leituras da juventude. Dizem que é assim com os mais velhos, porque o lembrar das coisas antigas deve ser o anúncio da partida. 

Minha professora de Língua Pátria, no curso primário, dona Lúcia Maria Furquim Leite Silveira, é a razão de meu gosto pela leitura. Ela dividia as aulas em dois tempos. No primeiro, gramática e no segundo, leitura em voz alta de textos escolhidos por ela e pelos alunos. 

Enquanto a gente lia, a professora consertava o ritmo da leitura, com vírgulas, pontos, exclamação, interrogação e etc. “As pausas”, dizia ela, “Não são iguais para todos os textos e vocês compreenderão isso quando colocarem a alma naquilo que leem”.  

Os Contos de Lima Barreto eram os meus favoritos. Hoje, são bem mais, pela atualidade do que escreveram, uma prova de que a agenda política do Brasil é imutável. Por aqui, parece que o tempo não avança. 

*Artigo do Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Paulo Guedes e o novo imposto

O maior teste para um liberal é permanecer como tal, quando ocupa uma cadeira no Estado, porque não há outro meio de definir corretamente um liberal a não ser tendo o Estado como referência. 

O ministro Paulo Guedes colocou na pauta nacional a criação de um novo imposto e tem dado entrevistas sobre as razões dele. Para nossa conversa de hoje, usei a entrevista longa que ele concedeu ao Jornal da Record. Está disponível abaixo: 


A proposta do ministro é criar um novo imposto para as transações digitais, porque a economia é cada vez mais e mais digital e com a pandemia a dimensão digital com relação ao futuro se acelerou. Diz ele, literalmente, “Com a pandemia, nós estamos fazendo mais teleconferências. As pessoas estão usando mais o whatsapp para pedir comida. Temos ensino à distância. Tudo o que é digital está se ampliando”. Então, pelo que se vê, o Ministro encontrou uma oportunidade para ampliar a arrecadação. 

Até aqui, caminha bem o ministro, porque, de fato, o Estado precisa se adequar a uma economia em mutação. Faz todo o sentido tornar a máquina arrecadadora do Estado mais justa, mais equilibrada. 

No entanto, o ministro precisa do novo imposto para desonerar a folha de pagamentos. Diz ele, literalmente: “Estamos buscando uma base ampla suficiente para eliminar os impostos mais cruéis que existem no Brasil”. E diz mais: “todo país precisa escolher entre o tamanho da base de tributação e a altura dos impostos. Quando você tem uma base pequenininha, você acaba tendo impostos muito altos”. Em tradução: quando nem todos pagam, quem paga é sobrecarregado. 

Daí vem a minha primeira pergunta: Não daria para ampliar a base sem criar um novo imposto? Por que não fazer com que todos paguem, para que, quem paga tenha um certo alívio? 

O novo imposto, diz o ministro, teria a virtude de substituir os impostos sobre a folha de pagamentos, que são armas de destruição em massa de empregos. “Eu como economista já sei há mais de 30, 40 anos, que são disfuncionais os encargos sobre folha de pagamento. Eu sabia que existia um desemprego muito maior do que mostraram os dados do IBGE. Quando a pandemia chegou ela nos revelou 38 milhões de pessoas invisíveis, excluídos dos mercados formais. Pessoas que nunca pediram nada ao governo, só pedem para deixá-los em paz. Porque eles não conseguem emprego formal”. E disse mais: “É uma hipocrisia, é uma crueldade, é um duplo padrão esconder uma realidade que há 40 anos nós conhecemos(…). Enquanto isso há um imposto destruindo empregos em massa há décadas. É o imposto sobre a folha de salários…”. 

Minha segunda questão: por que, simplesmente, não acabar com essa história? É quando entro, novamente, no ponto central: o tamanho do Estado. O ministro defende a substituição dos encargos sobre a folha de pagamento e não simplesmente a eliminação, porque não vê meios e modos de reduzir as despesas do Estado Brasileiro. 

Na entrevista o ministro lembra que os gastos governamentais subiram de 18% do PIB para 45% em poucos anos. Aqui está o problema. Um problemão, que faz com que nenhum dinheiro do mundo seja suficiente para os administradores públicos não liberais tocarem o Estado Brasileiro. 

Vá lá, deixemos que o ministro crie o novo imposto, mas antes disso, que ele privatize, reorganize o Estado, diminua o tamanho e a opulência das Cortes, dos Parlamentos e de toda a estrutura pública. Caso ele não faça isso e crie o novo imposto, mesmo com uma alíquota pequenininha como ele diz, em pouco tempo elas serão aumentadas e, não levará muito tempo para que os não liberais, ao retornarem ao governo, criem novos argumentos para tributar, novamente, as folhas de pagamento. 

Sabem de uma coisa. Eu estou entre os miseráveis que o ministro Paulo Guedes definiu como sendo “pessoas que nunca pediram nada ao governo, só pedem para deixá-las em paz”. E, acredito que não sejamos só 38 milhões.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O liberal

Você, eleitor no Rio de Janeiro, tem algum interesse, mesmo que pequeno, assim, pequenino, no que acontecerá nas eleições em Anápolis ou Santo Ângelo? Será que os eleitores de lá estarão preocupados com o Rio de Janeiro, onde réus disputam a prefeitura tendo vices que ninguém sabe exatamente quem são?  Onde Igreja e Estado se misturam para tomar o dinheiro do povo crédulo e não crédulo? 

Se você é eleitor em São Paulo, a eleição em Maringá, onde o prefeito Ulisses Maia lidera com mais de 40% das intenções de votos, interessa a você? 

Pois é, cara leitora, caro leitor, esteja você onde estiver, as contas dos candidatos de todos esses lugares e de outras mais de 5.500 cidades é você quem paga, porque o Congresso Nacional formado, na grande maioria, por candidatos profissionais e quase todos representando o pensamento não liberal, decidiu assim. Estou a falar do Fundo Eleitoral, que tem um título mais adequado de Fundo de Financiamento de Campanhas. 

Para este ano está previsto o valor de R$ 2 bilhões no Orçamento da União, onde também ficam as rubricas da saúde, educação, saneamento básico, segurança e outros gastos, estes sim do interesse de quem paga a conta. 

É ou não é para ficar com raiva da política? Entretanto, a culpa não é dela, mas dos que acreditam que o Estado é obrigado a bancar todas as atividades humanas sem se preocupar com o custo e o retorno. Quando alguém decidiu que é bom produtor de teatro e, na verdade, não é, o contribuinte paga a conta. Quando alguém acredita que a velhice acontece aos 60 anos e é um mérito merecedor de prêmios, o contribuinte paga-lhe as despesas. E isso só acontece na cabeça torta dos não liberais, que desconhecem o óbvio: o Estado produz o dinheiro, mas não cria riqueza e quando ele atrapalha quem cria, o dinheiro que produz perde valor no bolso de quem paga os impostos. Simples, não? Na compreensão dos liberais, sim, mas na mente confusa e, por vezes esperta dos não liberais, nunca. 

Fico mais irritado com a razão da existência desse Fundo de Financiamento das Campanhas. Na raiz está o mal comportamento dos candidatos, que fizeram o diabo com as doações das empresas para as campanhas e as empresas que se aproveitaram disso. Nesse ambiente houve de tudo, do tráfico de influência à cara de pau, até que a bomba estourou. 

Em vista disso, o legislador, ao mesmo tempo candidato, resolveu fugir do risco de ser incomodado e facilitou as coisas para si mesmo. O contribuinte, que antes pagava a conta via obras a preços absurdos  e serviços públicos de péssima qualidade, passou a pagar diretamente. Os gênios não liberais encurtaram o caminho. Criaram uma lei que tira do contribuinte, direto, na veia, o dinheiro para as campanhas.  

Outro dia, numa conversa por zoom, um colega me questionou: 

  • Você e eu somos profissionais de campanha e recebemos em pagamento o dinheiro do fundo eleitoral. Então, para com essa hipocrisia, substitua-a pelo conceito da devolução: o Estado está devolvendo a você uma parte do que você pagou. 
  • Verdade! Agora fiquei mais “P” ainda. 
  • Por quê? 
  • Quer coisa pior, amigo? Você saber que está sendo pago pelos seus serviços com o seu próprio dinheiro, que serve para pagar os concorrentes também. 

Insisto: só há uma saída e é repensar o Estado Brasileiro, para tirá-lo da lógica dos não liberais, uma idiotice que faz parecer o dinheiro do contribuinte inesgotável. Leiam a Revolta de Atlas. Vale a pena. A escritora, Ayn Rand faz, em forma de romance, a trajetória mais indicada para quem paga, paga, paga e é incomodado só para poder pagar, pagar, pagar, cada vez mais impostos ao Estado opulento, chato e irresponsável. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Os debates

Por dever de ofício, eu estive presente ao debate da Bandeirantes com os candidatos à Prefeitura do Rio e depois assisti aos realizados em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Maringá, Uberaba, São Luiz e Campinas e conclui, mais uma vez, que o povo tem lá suas razões para não gostar da política. 

Os candidatos não falam com o povo. Falam uns com os outros. Acusam-se e usam-se como trampolins para auto-elogios e contar vantagens. Amarrados como são, os debates nada informam e não ajudam o eleitor a tomar a decisão. Acontecem no cair da madrugada para que quem tenha que levantar cedo não assista. 

Rodrigo Maroni, candidato em Porto Alegre, abriu o debate lá de um jeito diferente, mas deu uma lição importante. Escolhido para questionar o candidato João Derly, do Republicanos, Maroni disse: “João, fala aí sobre o que tu quiser”. O adversário esbugalhou os olhos e assim ficou durante todo o tempo em que falou. Depois, veio a réplica do Maroni: “Fiquei contente, João, e vou te dar a palavra novamente, pra tu seguir nos 30 segundos finais. Eu só acho que esse processo é muito importante. Eu te acho um cara do bem. Você sabe disso. Acho que tu não é a média da política, mas a política é um espaço de muita demagogia e muita mentira, né? E no processo eleitoral, naturalmente, as pessoas falam o que está combinado com seu publicitário com o que é bacana falar, que vai gerar voto. Então, te dou a palavra, novamente”. 

Um recado forte. 

O número de mulheres candidatas cresceu bastante e, certamente, não por causa das cotas. As candidatas que eu vi seriam candidatas com ou sem cota, porque as das cotas só existem para satisfazer a lei e não me pareceu o caso das que conheci. 

Em Uberaba, por exemplo, a senhora Cartafina, com 87 anos, é candidata a vice do candidato do PTB, Tony Carlos. Camila Lanes, uma jovem, candidata em Curitiba saiu-se com um motivo curioso para ser eleita: 

“Nós, mulheres, somos metade dessa cidade e mães da outra metade. Por isso, merecemos governar Curitiba”. Convincente! 

Jair Bolsonaro ainda está presente. Em alguns lugares como Rio e Curitiba, mais de um candidato aposta nele. Em Curitiba, a senhora Marisa Lobo, que promete que “Com Marisa Lobo, Curitiba será grande de novo”. Ela escreveu 11 livros e tem 9 já na editora para lançar a qualquer momento. 

No Rio, se sabe, Luiz Lima e Crivella puxam o paletó do Presidente. Talvez pela proximidade, Luiz Lima tenha incorporado a voz mansa do Crivella e do Celso Russomano, candidato em SP, onde o debate esquentou. Lá o prefeito Bruno Covas compareceu, apanhou e bateu bastante, assim como aconteceu com o prefeito de Porto Alegre. Os de Belo Horizonte e Curitiba não deram as caras.

É relevante o número de candidatas e candidatos da Polícia Militar e da Polícia Civil, situação que pode ser ainda refugo da eleição de 2018. No RIo, a Delegada Martha Rocha mostrou um jeito elegante de bater duro no adversário Eduardo Paes, mas a colega dela, em Campinas, a delegada Alessandra Ribeiro, de dedo em riste foi pra cima do candidato do PSD, Artur Orsi, filho de um ex-prefeito da cidade que morreu com 66 anos de idade. 

A Bandeirantes deu um show de organização, adaptando seus auditórios em cada lugar com as medidas preventivas a eles adaptados. Em Curitiba, por exemplo, todos os candidatos e o moderador Valter Sena ficaram todo o tempo mascarados. 

Por tudo que vi, o eleitor terá dificuldade grande para decidir, porque os candidatos conhecidos demais são políticos também demais e a sociedade parece querer distância deles. 

Mas, se o povo perdeu, os liberais perderam bem mais, porque em poucos lugares houve o discurso liberal.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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“Dei cimento, dei tijolo, areia e vergalhão…”

“Dei cimento, dei tijolo, areia e vergalhão. Subi morro, fui em favela. Carreguei bebê chorão. Dei cachaça, tira-gosto. E dinheiro de montão, e mesmo assim, perdi a eleição”. Essa música do Dicró é quase um hino nos meus ouvidos treinados para campanhas eleitorais. 

Elas estão de volta, agora para eleger prefeitos e vereadores e todos têm discursos prontos. Quem pode mais testou o discurso em pesquisas e quem não pode tanto, segue com o feeling pessoal, buscando repetir o que acredita o povo deseja ouvir. 

Seja qual for o meio de avaliação, é perceptível a semelhança entre o que, quase todos propõem, porque há a cultura da dádiva, do favor, do gesto de caridade. 

A música do Dicró retrata o candidato que compra, com favores e dinheiro, a simpatia do eleitor que, na ponta da linha, seria transformada em votos. Para Dicró isso não adiantou. E adiantará, cada vez menos, porque o grau de consciência do eleitor tem crescido. 

Giselle Gomes é uma servidora pública do INPI. Candidata a vice-prefeita do Rio de Janeiro na chapa do NOVO. Outro dia, recebi dela uma foto em que ela apontava uma faixa que colocou sobre uma obra que foi feita na Zona Oeste. A faixa dizia: “Agradecemos ao povo que permitiu, com seu dinheiro, que essa obra fosse realizada”… Depois eu soube que a faixa era a resposta dela a outra faixa, onde um vereador se alto agradecia em nome do povo. 

Eis uma cultura totalmente equivocada, que só será mudada quando o eleitor entender qual é a função do Estado na vida dele. Nesse momento, entram em campo, os liberais, gente que compreende que o mandato eletivo é a garantia do reconhecimento dos direitos de cidadania e não um instrumento para prestar favores ao povo. Para os liberais, o Estado, através dos seus agentes é prestador de serviços pelos quais ele é bem pago. Soberano é o povo. O Estado está a ele sujeito e ao serviço dele. Só os liberais entendem isso de forma clara. 

Para os liberais, o ato de inaugurar uma obra, com pompa e circunstância, banda de música, discursos e aplausos não faz o menor sentido. Uma obra, qualquer obra, estando pronta, deve ser, imediatamente, utilizada pelo cidadão. Ele pagou por ela. Quem a construiu simplesmente cumpriu com a obrigação que recebeu quando foi eleito. 

Para os liberais, os vereadores são fiscais do dinheiro do povo aplicado pelo prefeito, então, quando um vereador aceita ser secretário municipal, os liberais entendem que houve cooptação. E o mesmo se dá quando deputados estaduais se tornam secretários do governador e os deputados federais e senadores se dizem ministros. 

O desperdício de tempo e dinheiro é pecado mortal para os liberais, porque eles sabem quanto custa o tempo e o problema que traz o desperdício do dinheiro do povo. Quando no governo, os liberais lidam com a escassez de modo diferente do que fazem os demais, porque, para os liberais, o Estado não pode e não deve ser um peso no ombro do contribuinte. Tudo o que se fizer deve ser feito da maneira mais eficiente, o que define gastos menores e realizações maiores. 

Dito isso, vamos às campanhas.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos