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Lula, gato escaldado. 

01 de dezembro de 2023. 

Reclama-se que Lula dê preferência aos advogados que lhe prestaram serviços e aos mais leais escudeiros, quando indica componentes para o Supremo Tribunal Federal. Mas, não se poderia esperar outro comportamento de quem, ao adotar um critério diferente, o da diversidade, encarou Joaquim Barbosa. Lembram? Lula obedece os ditos populares: “Seguro morreu de velho”, e “Gato escaldado tem medo de água fria”. 

Joaquim Barbosa foi escolhido por Lula e se tornou estrela de primeira grandeza quando Roberto Jefferson derrubou a porta do Palácio do Planalto e jogou alguns velhos companheiros pela janela. Lula quase foi. Por um fio, Lula sobreviveu. O histrionismo de Joaquim Barbosa levantou a nação brasileira e ela empurrou as decisões de todos os demais ministros da corte. De quase todos. Quem ousou argumentar contra as teses meio doidas de Joaquim Barbosa, apanhou do povo. Joaquim Barbosa foi o Zorro. Gilmar Mendes, o Capitão Garcia.  

Mas, se não bastasse ao Lula a figura do Joaquim Barbosa, ele tem o exemplo do antecessor Jair Bolsonaro, que indicou dois ministros para compor o Supremo Tribunal Federal e o resultado está posto. Os dois nem parece que foram indicados por ele.  

Lula aprendeu. Ele sabe que na Constituição Brasileira ( artigo primeiro, parágrafo único), todo o poder emana do povo e por ele é exercido diretamente ou por intermédio de seus representantes, para os agentes isso se dá de modo diferente. Para eles, todo o poder emana do Supremo Tribunal Federal e é, pelos ministros, exercido diretamente, sem representantes. Lula tem consciência disso e não precisa que os ministros Barroso e Gilmar fiquem repetindo isso como uma ladainha. 

O tempo passou e Joaquim Barbosa converteu-se à seita do Lula. Uma conversão tardia, que Lula desprezou por ser totalmente inútil. Lula tem noção de utilidade. Sabe como usar as pessoas em seu próprio benefício. E como sabe…

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Será Javier ou Massa?Jair ou Lula? 

19 de novembro de 2023. Dia de eleição na Argentina. 

Hoje decide-se quem será o vencedor na disputa pela presidência da Argentina, Javier ou Massa e saberemos se aqui no Brasil Bolsonaro venceu Lula ou se Lula venceu Bolsonaro, uma vez que por aqui, no céu, na terra, no alto do mar, nos tribunais, nas igrejas e em todo canto, no inferno, inclusive, o mundo está resumido à saga dos dois. 

Torço por Javier. “Abrir-se com alguém, isto sim é coisa de louco”. Pirandello. 

Na Argentina, haverá críticas aos eleitores do candidato que vencer, assim como aos eleitores do candidato derrotado. Mas, é difícil, bem difícil mesmo, ser eleitor, porque para escolher um entre dois ou mais candidatos, os eleitores precisam ter tempo e liberdade para trabalhar as informações que recebem e criar uma relação de confiança com quem fornece as informações. Nesse ponto, as campanhas na Argentina cumpriram a tarefa. 

Seja Javier, seja Massa, a campanha na Argentina ampliou a dificuldade de escolha para os eleitores com a entrada da Inteligência Artificial, utilizada com criatividade cruel, tanto por Javier como por Sérgio. Mas, ninguém tentou fazer o trabalho do eleitor, impedindo o uso da ferramenta. 

Para Pirandello, “Assim é se lhe parece”, não existe verdade, mas pontos de vista e faz parte da indumentária humana o uso de diversas máscaras, cada uma para uma ocasião precisa. As campanhas eleitorais são assim, por definição. Elas são exercícios de magia. 

Os mágicos trabalham com técnicas teatrais, manuais e de psicologia para fazerem com que o público só veja o que lhes interessa mostrar. É trabalho dos mágicos entregarem um monte de informações ao mesmo tempo, para dar destaque exclusivamente às que precisam para obter sucesso. Os mágicos manipulam a percepção, assim como fazem os candidatos e seus ajudantes. 

Então, há um meio para facilitar a vida do eleitor de tal modo que ele tenha menos chances de errar ao escolher em quem votar? Há quem possa selecionar as informações para que os eleitores tenham acesso, exclusivamente, às confiáveis? Tem gente que acredita ter esse dom. Mas, é democrático decidir pelos eleitores quanto às informações que eles precisam ter para decidir? A imprensa? Evidente que não. Ela tem lado. Tem algum mal nisso? Não vejo. E se tiver, para isso não existe conserto.  

O jeito certo de ajudar o eleitor a decidir melhor é dar liberdade às campanhas, para chamar ao jogo outro mágico que denuncie os truques do concorrente, fato que no campo da comunicação tem nome: contraditório e contraponto. Os candidatos e seus adversários devem ter liberdade para oferecerem aos eleitores as informações que desejarem, deixando com o juízo do eleitor a decisão sobre quais usar e como usá-las no processo de decisão. 

Quando não há liberdade para as campanhas, mesmo com o uso da lei ou da Justiça com a lei e, por vezes até sem ela, como se faz por aqui com algo que apelidaram de fake news, o eleitor é tutelado, é castrado naquilo que o diferencia dos animais: a capacidade de decidir por si próprio com liberdade para formular as decisões que toma e acertar e errar por si mesmo. Ora, por que razão o exercício do voto está limitado às idades onde se pode pensar por si mesmo? Exatamente, para que a decisão seja consciente e não tutelada. 

Por isso, sou um eleitor inconformado com o tipo de campanha eleitoral que se tem no Brasil, onde quase todo tipo de exposição é proibido e a exposição autorizada é imbecil. Assisti muitas peças da campanha na Argentina, inclusive as que usaram a  Inteligência Artificial. Os candidatos que disputaram a eleição tiveram liberdade para expor suas qualidades e até para inventá-las como tiveram para expor os defeitos de seus adversários e até para criá-los. Por aqui, alguém, certamente, com a lei e com a Justiça que temos, iria censurar as peças e os veículos por onde elas seriam veiculadas. A Inteligência Artificial seria algo abominável, com certeza. A turma do Tribunal Eleitoral ficaria com medo de ser enganada. 

Como eleitor, desejo ter acesso às informações e resolver por mim mesmo a quais devo dar crédito, para depois de confrontá-las decidir a quem devo dar o meu voto ou se não devo escolher um entre todos. É esse o preço da democracia, que fugimos para não pagar. 

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Caso Deltan. Eu só quero entender. Posso? 

Cassaram o mandato de um deputado federal, por negarem a ele, mesmo depois de ele eleito, o registro da candidatura. Eu não sou versado em Ciências Jurídicas, mas sou um cidadão que paga impostos ao Estado Brasileiro e faz isso sem alegria. Em razão dos impostos que toda gente sem privilégios paga, o Estado tem órgãos que cuidam da segurança das eleições. E cobram caro pelo serviço. 

Isso dito, mais de 300 mil eleitores do Paraná, informados da regularidade do registro da candidatura do cidadão Deltan Dallagnol, nele votaram para que ele os representasse no Congresso Nacional. Fizeram isso de boa fé e após voltarem no cidadão, os eleitores souberam da diplomação e posse dele, para poucos meses depois terem conhecimento de que ele não poderia ser candidato e que os votos que deram a ele vão para qualquer outro que eles, chamados, não escolheram. 

Ouvido o relatório do ilustre Ministro Benedito Gonçalves, o Superior Tribunal Eleitoral decidiu interromper o exercício do mandato do deputado, por entender que ele o alcançou com base em espertezas usadas para fugir às punições que o Conselho do Ministério Público em algum momento, lhe imporiam. Deltan Dallagnol foi membro do Ministério Público.  O Ministro e toda a Corte entenderam que o cidadão Deltan deveria ter esperado ser julgado pelo Conselho antes de pedir demissão e solicitar ao Tribunal Eleitoral o registro de uma candidatura à Câmara dos Deputados. 

Leigo nessa coisa de Direito, eu sou um cidadão que gostou bastante da escolha feita pelos meus iguais no Paraná e fui às consultas para saber se, de fato, o candidato nos tomou como estúpidos e fomos salvos pelo Tribunal Superior Eleitoral. Para entender o que aconteceu, fui ao único lugar que deveria ir, à mesma lei que o Tribunal tomou por base para decidir, a Lei de Inelegibilidade – Lei Complementar número 64, de 18 de maio de 1990. Que atrevimento o meu, não é? 

A Lei, de fato, diz que são inelegíveis, “os magistrados e os membros do Ministério Público que forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntárias na pendência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo de oito anos”. Mas, diante do que demonstrou o próprio Tribunal, quando o cidadão Deltan pediu exoneração, ele não respondia, ainda, a um processo administrativo. No Ministério Público existia a intenção de processá-lo, não confirmada, quando ele pediu demissão. Ora, alguém pode ser condenado pela simples intenção de um tribunal de condená-lo sem ouvir dele os argumentos de defesa? 

O mesmo Tribunal Superior Eleitoral me responde ao interpretar a lei, num Acórdão, de 15.12.2022, quando disse expressamente: “a instauração de processo administrativo disciplinar é elementar para a configuração da inelegibilidade, o que não ocorre com o pedido de providências e com a reclamação disciplinar, já que não é qualquer espécie de procedimento disciplinar que leva à aplicação de penalidades”. 

Diante do fato, fiquemos avisados sobre o risco de perdermos o voto se não formos mais diligentes na análise da vida dos candidatos, pois não podemos utilizar como elemento de escolha só a informação dada pelo Tribunal Eleitoral, no dia da eleição, de que o candidato que escolhemos teve o registro concedido e, por isso, a foto e o número dele estarão na urna eletrônica antes de apertarmos a tecla “CONFIRMA”. Pensem bem, pois, não teremos a chance de rever o ato antes de passados os quatro anos até a próxima eleição. 

É da vida. Lembrem-se que, para casar Lia, a filha mais velha, Labão enganou Jacó ao oferecer-lhe Raquel por sete anos de trabalho escravo para, na verdade, obrigá-lo a trabalhar mais sete. (Gênesis 29). 

Tudo isso faz parte da vida de quem vive por aqui. 

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Quem serão os eleitos em outubro?

Quem serão os eleitos em outubro? Você sabe? 

Quem serão os deputados federais e estaduais eleitos no Estado do Rio de Janeiro em outubro? Tomando por base a polarização entre Lula e Bolsonaro e as decisões dos eleitores em 2018, ocasião em que a polarização aconteceu entre os mesmos pólos, é possível desenhar os cenários. 

Na eleição passada, Jair Bolsonaro fez no Estado do Rio de Janeiro, barba, cabelo e bigode. Ele elegeu o governador e os dois senadores. Elegeu também 13 deputados federais e 14 estaduais se considerarmos só os eleitos pelo PSL. Mas, sabe-se que muitos outros penduraram-se nele, inclusive a turma do Partido Novo que, no primeiro turno ficou no vai-não vai com o candidato João Amoedo. 

Quando a gente olha os resultados de 2018, cidade a cidade do Estado do Rio, verifica que Jair Bolsonaro venceu o PT em todas elas e com diferenças expressivas. Na capital, por exemplo, no primeiro turno Jair Bolsonaro obteve 1.930.000 votos e Fernando Haddad, 398 mil. 

A minha análise recebeu a ajuda, no domingo passado, de um bom material publicado pela Folha de São Paulo, no Caderno Ilustrada, Ilustríssima, a mim encaminhado por duas fontes: pelo próprio autor, Antonio Lavareda e, no mesmo momento, pelo Rodrigo Bethlem, estudioso da política. Com o título “Barômetros Ideológicos”, o artigo antecipa o lançamento de um livro do Lavareda e Helcimara Telles, “Eleições Municipais na Pandemia”. 

Lavareda revisitou as eleições municipais de 1985 até 2020, e concluiu que as disputas pelos cargos de vereadores e prefeito têm funcionado como barômetros ideológicos das eleições gerais posteriores. Por gráficos presentes na matéria, Lavareda mostra que a campo ideológico da Direita venceu a Esquerda, com larga margem, nas eleições de 2020, para prefeitos e vereadores. 

A polarização teve peso na seleção, que fez o eleitor.

Sabe-se lá como será encerrado o período eleitoral deste ano, mas se o desenho for o de agora até outubro, a polarização entre Lula e Bolsonaro permanecerá a ponto de levar os dois para o segundo turno. Dizem as pesquisas que Lula chegará ao segundo turno à frente do Jair Bolsonaro. É possível, se as causas do voto dado a Jair Bolsonaro em 2018 desapareceram, ou seja, se a onda contra o PT com a força e a rapidez de um Tsunami, virou uma marola ou onda calma. Daí, cabe a pergunta: quem rejeitou o PT – e o PT é Lula e só Lula – estaria disposto a rever a posição e votar nele? 

Lula, para justificar o apoio presente de Geraldo Alckmin, disse que eles dois mudaram o suficiente para revisarem suas posições de 2018. Mas, afirmo: posições de um contra o outro e não com relação ao Jair Bolsonaro. Naquela eleição os dois estiveram do mesmo lado. E, no Estado do Rio de Janeiro, meu objetivo aqui, os votos dados ao Geraldo Alckmin, se somados aos votos do candidato do Lula, Fernando Haddad, no primeiro turno, o resultado final ainda seria favorável ao Jair Bolsonaro. 

Encerro com um ponto: haverá espaço no processo seletivo que leva o eleitor a escolher em que irá votar para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados e mesmo para o Senado Federal e até para o governo do estado, para candidatos que não estejam num dos dois pólos? Acredito que não. Tenho para mim e para quem quiser me ouvir, que a escolha do eleitor para todos os postos terá como base os dois candidatos à presidência, Jair Bolsonaro e Lula. 

O futuro dirá. 

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Curiosidades: Eleição em Portugal

A democracia é um ambiente sadio e sábio. É ótimo viver nele, porque, com um título de eleitor nas mãos, a gente consegue dizer como quer que os governos funcionem. Assim foi em Portugal, na eleição antecipada, que ocorreu no domingo. O eleitor decidiu que o Primeiro-Ministro precisa ter liberdade para governar. Os institutos de pesquisas calcularam mal.

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O réu, o juiz e o magistrado da eleição

A Justiça é o ponto de encontro das candidaturas do Lula e do Sérgio Moro. Um lá esteve como réu e o outro como o juiz que o condenou. O STF anulou os processos, por entender que o juiz julgou o que não poderia ter julgado. 

O caso todo voltou à estaca zero e o contribuinte ficou com a conta do desperdício, que soma horas de audiências, papeladas, operações de busca e apreensão, prisões, custo dos presos, despesas operacionais, atrasos em outros processos e, quem sabe, até os honorários dos advogados de defesa, que podem ter sido pagos com dinheiro destinado aos partidos.  

O réu, em campanha para a Presidência da República, alega que a anulação dos processos é uma absolvição e a prescrição decorrente de todo o tempo perdido, também. Ele se diz injustiçado, porque nada de concreto conseguiu o juiz contra ele, “a prova irrefutável, o batom na cueca”, como definiu Igor, apresentador do podcast Flow, quando entrevistou o juiz, o candidato Sérgio Moro. 

O juiz da causa, igualmente em campanha e adversário do réu, diz que não é bem assim e afirma: “O Lula não foi absolvido. Ninguém diz que ele é inocente. Na verdade, o que a gente está vendo é a anulação da condenação por corrupção, por motivos formais” e diz mais: “É aquela velha história, se você é rico e poderoso, a Justiça não chega pra você”. 

Ora, embora a preferência da Justiça pelas sentenças de condenação contra gente pobre e sem poder seja um fato percebido ou imaginado com justos motivos pelo povo, isso passa a ser um problema a mais para a sociedade, quando o fato é reconhecido por um ex-juiz criminal, com relação ao STF. Sim, porque foi da Suprema Corte a decisão de anular os processos contra Lula. 

Como primeira providência, numa atitude de respeito ao dinheiro do contribuinte, os agentes do Estado deveriam ser chamados ao pagamento dos prejuízos causados pela anulação dos processos. Quem errou ao julgar o réu ou quem anulou as sentenças. Numa democracia, os agentes do Estado devem satisfação ao povo e não estão livres para tomar decisões erradas e, depois, ligar o “dane-se” e cobrar a conta do povo.  

Lula e Moro são candidatos à Presidência da República e um magistrado do STF, no papel de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, presidirá e fiscalizará o pleito. Se a discussão entre Lula e Moro não for esclarecida pelos agentes do Estado que criaram o imbróglio, o povo brasileiro irá às urnas em outubro com o risco de eleger um presidente que cometeu crimes graves e não foi punido e, portanto, sem autoridade moral para conduzir os negócios da nação ou eleger um agente público que, por descuido ou incúria, lhe causou um enorme prejuízo. Isso não é bom. 

Aí eu volto à cantilena, para perguntar: Que raios de Estado é esse? Qual a qualidade dos seus agentes e até quando o contribuinte brasileiro pagará a conta salgada da ineficiência e dos abusos contra ele? 

Semana após semana, mesmo sabendo do perigo de ser considerado um chato, insisto que precisamos rever o modo como trabalham os agentes do Estado Brasileiro na sua relação com a sociedade. Se somos uma democracia de fato, aqui só o povo é soberano para cobrar a conta com o direito de decidir esclarecido. 

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O que é uma eleição?

Eleição é escolha. O eleitor, colocado diante das informações sobre os candidatos, decide qual deles receberá o seu voto. As campanhas eleitorais têm o propósito de oferecer aos eleitores as informações para que ele decida. Colocada a questão deste modo, a primeira percepção é de ser um processo racional e ele não é. Por isso, os resultados surpreendem até mesmo os institutos de pesquisa a cada eleição. 

No Brasil, muita gente diz que a eleição de 2018 foi um fenômeno, porque os resultados surpreenderam e, para alguns, até assustaram. Para essa gente, existe uma dúvida sobre a próxima eleição: “O fenômeno se repetirá?”. Mas, o que de fato aconteceu em 2018 no Brasil? Pouca coisa de diferente do que aconteceu em outros lugares do mundo: a eleição do inesperado.

Ora, quando se quer analisar o resultado de uma eleição, necessário se faz considerar todos os seus termos e isso só é possível observando-se todas as fases de uma campanha. Em 2018, o resultado é comparável a uma ressaca no mar, que acontece quando fortes ventos entram em contato com a superfície dos oceanos e impulsionam, com força, as águas na direção da orla marítima. 

Os ventos começaram a se formar no Brasil em 2013 com a população nas ruas, descolando-se da política, que segue caindo em descrédito ao longo dos anos. Nas eleições de 2018, os ventos ganharam força e velocidade a ponto de jogar na orla, um número expressivo de candidatos inexpressivos e alguns inesperados. 

A mesma ressaca aconteceu em outros lugares do mundo, em especial nos EUA, com a eleição de Donald Trump. O jornalista francês sediado na Itália, Giuliano da Empoli, identificou o fato e escreveu “Os Engenheiros do Caos”. 

Nele, o autor mostra um descolamento da sociedade do ambiente da política, estimulando movimentos como o “Movimento 5 Estrelas”, na Itália, que deu vida a Giuseppe Conte, como Primeiro-Ministro e elegeu Boris Johnson, Trump, Jair Bolsonaro e outros tais pelo mundo afora. 

As redes sociais criaram novos profissionais de comunicação, gente com capacidade para produzir conteúdo contundente e distribuí-lo com velocidade. Os algoritmos cuidaram de aprisionar  eleitores e candidatos em tribos específicas. É uma seleção prévia. Os candidatos falam só com quem tem interesse de ouví-los e quem os ouve, é levado a odiar gente de outras tribos. 

Quem lê “Os Engenheiros do Caos”, ou outros materiais sobre campanhas eleitorais modernas, pode ser levado a acreditar que, de fato, há um fenômeno totalmente novo na comunicação política. Há novidades, sem dúvida, mas nada totalmente novo. Nova é a velocidade e a fúria com que os conteúdos chegam à orla onde estão os eleitores. 

Faz-se campanhas diferentes. Eleições não. Os eleitores permanecem decidindo as eleições com base nos critérios de sempre. Votam naqueles candidatos que melhor se identificam com eles, que falam o que eles querem ouvir. E não há racionalidade que convença! Emoção, sim. As redes carregam emoções, como fez a imprensa tradicional com exclusividade. 

O eleitor escolhe pela simpatia e rejeita pela antipatia. Na simpatia e na antipatia não estão previstas as qualidades e competência dos candidatos para fazerem o que prometem fazer. 

Será sempre assim? Será, porque assim sempre foi. Nunca foi diferente. As redes só organizam “o cadastro” para colocar cada um no seu quadrado e fazer com que gente de quadrado diferente seja combatido. Deram velocidade e efetividade à comunicação. 

A TV e o rádio perderam poder numa campanha? Não, porque, para não perderem, uniram-se às redes, que repercutem as notícias, para dar-lhes a leitura que interessa a cada tribo. O conteúdo que sai da TV e do rádio é triturado na rede, traduzido na língua de cada tribo para produzir as emoções que conquistam o voto. 

Haverá uma nova ressaca em 2022? Quem sabe? Na vida dos mares já é possível prever quando elas acontecerão pela leitura correta da altura das ondas, da meteorologia, da pressão atmosférica, das correntes marítimas e etc. Com os instrumentos corretos, entregues a bons estrategistas, é possível, sim, prever que o mar estará calmo ou turbulento, mas saber quem será levado por ele até a orla é bem difícil. 

O ser humano, ao contrário dos ventos e das ondas do mar, é sempre imprevisível.

Por Jackson Vasconcelos

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A demagogia é ponto de encontro entre o réu e o juiz

Ano de 2003. Posse do Presidente Lula. Ele criou e anunciou o Programa Fome Zero, o publicitário Duda Mendonça criou a campanha e a Associação Brasileira de Agências de Publicidade pagou a conta do lançamento. O programa seria sustentado por doações feitas pelo número 0800 707 2003. Não preciso tomar o tempo de vocês para explicar o que aconteceu com o Programa, com Duda Mendonça e com as empresas de publicidade envolvidas com o governo. 

Quando ouvi o jingle de lançamento do programa, vi logo que alguma coisa não batia bem entre a letra e a ideologia do PT. O jingle serviria bem, muito bem mesmo, como um hino liberal. Transcrevo para argumentar, mas vocês podem encontrar a peça no youtube. Se quiserem, eis o endereço: https://youtu.be/I0vphplWlX8 

“Todo mundo tem direito de plantar; todo mundo tem direito de colher. Todo mundo tem direito de ganhar, pra todo mundo comer. Todo mundo tem direito de ensinar; todo mundo tem direito de aprender. Todo mundo tem direito a trabalhar, pra todo mundo ter direito de comer…”.

Os liberais entendem que é obrigação do Estado garantir os direitos que a sociedade conquistou e ela mesma estabeleceu nas leis que autoriza e chancela. E tais direitos estão acompanhados por deveres de cidadania.  

Os demagogos não. Para eles os direitos são concessões que o Estado faz por ser caridoso. Não deveres para todos. Para alguns, sim. Para os demais, privilégios e prerrogativas. Por isso, a campanha do Fome Zero baseou-se em doações, apesar do jingle que diz que o trabalho, o ensinar e aprender, o plantar e colher, resolvem a fome. 

A demagogia é uma estratégia de comunicação. Aristóteles, em sua obra “A Política”, define como adulação para conquistar o poder. E nenhuma outra necessidade humana é tão propícia para a demagogia como é a fome. Por isso, o Fome Zero do Lula ganhou corpo novo discurso do seu algoz, Sérgio Moro. Chama-se “Força-tarefa nacional para erradicação da pobreza”. Ele diz que será algo parecido com a operação Lava-Jato. Será criada uma Agência para erradicação da pobreza e farão parte dessa agência, “Os melhores entre os melhores da administração pública”. Dito por ele, pessoas que, certamente, serão escolhidas por ele e como são os melhores entre os melhores, serão gente que não é pobre. 

Moro se diz um liberal. Na JP News ele afirmou ser. Fez isso assim meio se defendendo, mas fez. Disse ele: “Na economia eu sou bastante claro…sou um liberal”. Bem, como ele é um liberal, poderia adotar o que ensina o jingle do Fome Zero. 

O melhor programa de erradicação da pobreza é a redução do Estado, para que seja possível reduzir os impostos, diminuir a burocracia e deixar que o povo trabalhe e se prepare da melhor forma para encontrar os melhores trabalhos. Com o Estado pagando auxílio-moradia para juízes que têm casa própria e cedendo dinheiro para os partidos pagarem salários para os seus candidatos, teremos pobreza por um bom tempo.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Chega de esmolas!

Já demos tempo demais aos socialistas. Tenho 10 perguntas para fazer a você, que me lê, para as quais tenho uma só resposta. Contudo, pode ser que você tenha outra ou outras mais. Quem sabe? 

Começo, então, o questionário: 

  1. Qual é o problema se existem 33 partidos políticos no Brasil ou se vierem a existir 330, 3.300 ou 33 mil se cada um deles for sustentado exclusivamente pelos filiados? 
  2. Que mal há no fato de a Justiça Eleitoral autorizar um pleito para, depois de realizado, anulá-lo e realizar outro, se quem tomou a decisão pagar as despesas ou assumir os prejuízos? 
  3. Você vê algum problema na anulação de processos judiciais já julgados em várias e repetidas instâncias, se quem deu causa aos prejuízos pagou por eles? 
  4. Que mal há no fato de a União ser o acionista majoritário de algumas empresas, como Petrobras, Correios, Eletrobras e um punhado de outras, num mercado aberto à concorrência para que os consumidores e usuários possam decidir que serviços ou produtos preferem? Que mal há se essas empresas, se vencidas pela concorrência, encerrarem suas atividades sem nenhuma frescura burocrática?
  5. Seria ruim ter mesmo programas como Bolsa Família ou outros auxílios assistenciais, que mudam de nome como o país muda de governo, se os beneficiados estivessem obrigados a assinar um contrato com prazo certo de vencimento? Situação que os obrigaria a não depender por muito tempo do dinheiro do resto da sociedade? 
  6. Que prejuízo poderia ter a sociedade brasileira com universidades e hospitais públicos se quem utiliza esses serviços e pode pagar, pagar por eles? 
  7. Haveria algum problema no fato de a União ter 608 mil servidores públicos se eles forem necessários pela  necessidade dos serviços que prestam à sociedade e competência com que fazem isso? 
  8. Qual é o problema se ter aposentadorias de valor alto ou valor baixo, se quem as recebe pagou por elas? 
  9. Você veria  algum problema no fato de ex-presidentes da república permanecerem com os salários, seguranças e outros cuidados se estivessem impedidos de exercerem outras atividades remuneradas e impedidos de voltarem à presidência? 
  10. Que problema nos poderiam causar as residências e carros oficiais se os usuários pagassem pelo privilégio? 

Eu estaria satisfeito se o Estado Brasileiro, seus agentes e quem depende deles estivessem sujeitos às condicionantes que coloquei em cada questão. E você? E se você concorda comigo, acredita que o que está dito aqui poderá ocorrer em algum momento na vida do País? Eu acredito. E como se fará isso acontecer? 

É preciso que no Congresso Nacional, tenhamos mais liberais do que socialistas. 

Para se ter idéia do desafio que isso representa, registro que ao longo da nossa história, essa conta sempre esteve e está a favor dos socialistas. Por isso, a agenda de problemas do povo brasileiro não se vence. Aquele problema que pensamos resolvido, volta logo ou a qualquer momento. Perdemos a noção dos direitos como cidadãos, para recebê-los como donativos, socorro ou ato de filantropia de quem está no poder. 

Se conseguirmos colocar no Congresso Nacional uma maioria de liberais, o Brasil será melhor, ainda que venha a ter um presidente que diz que é, mas nem sabe o que isso, exatamente representa; ou um presidente que finge que é, por pura esperteza ou, ainda, um presidente que não esconda que não é e abomina que seja. É no Congresso que a coisa acontece. 

Encerro o texto de hoje com uma frase apropriada que tirei do melhor livro que li (sem exagero) sobre as funções de um historiador: “A Apologia da História ou O Ofício do Historiador”. Vale ler. É de Marc Bloch. O livro cumpre o compromisso do autor de falar para todos e ter responsabilidade com a verdade e quando, não a encontrar plenamente, deve dela se aproximar com responsabilidade e respaldo nos fatos. 

Pois bem, Marc Bloch diz: “Da ignorância do passado, nasce fatalmente, a incompreensão do presente”.  Estejamos vocês certos de uma coisa: o socialismo não deu certo e já teve tempo suficiente entre nós para provar o contrário. É hora, portanto, de  não ignorar o passado, quando chegar a hora de votar. 

Boa semana para todos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos