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Debater pra quê?

Quantos bairros há na cidade do Rio de Janeiro? Quantas ruas e avenidas? Se tornamos por base o debate entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella durante a semana na Band, concluiremos que, seja qual for o número, Cesário de Mello é a mais importante avenida da cidade, porque com ela, Eduardo Paes abriu o confronto direto com Crivella. Nenhuma outra avenida ou rua da cidade mereceu tamanha honra. 

Sem a ironia, o que sobra do fato? 

A consideração sobre a estratégia adotada pelos dois candidatos no debate e na campanha: aniquilar o adversário, para vencer a eleição por exclusão. Eles escolheram a única estratégia possível, porque para serem marcadas por propostas, ideias ou até mesmo pela retórica de princípios e valores, as campanhas dos dois candidatos precisam ter, neste campo, diferenças, pelo menos, algumas. Não têm! 

Crivella e Eduardo ou Eduardo e Crivella, tanto faz. Eles são representantes de uma mesma maneira de fazer política e governo. Os dois acreditam que a prefeitura tem recursos infindáveis e não importa serem desperdiçados com projetos políticos individuais e favores aos aliados. Nem Eduardo governou para o cidadão carioca, nem Crivella para a igreja dele como o acusa o adversário. Os dois governaram todo o tempo para os aliados políticos. 

Insisto que o ponto fundamental em qualquer debate político no Brasil, no momento, deveria ser a cidadania e a relação dela com o Estado Brasileiro, em suas diversas representações, entre elas, as prefeituras. Mas, essa discussão passa longe do debate político nas campanhas. Elas cumprem uma estratégia de comunicação traçada com base em pesquisas bem simples onde o eleitor é chamado para responder às questões tiradas da cabeça dos pesquisadores. As deste ano inseriram o termo “gestor”, porque, afinal de contas, a cidade está uma bagunça. “O povo quer um gestor”, dizem os leitores de pesquisas. 

Vá lá que seja mesmo isso, mas um gestor para gerenciar o quê e de que forma? Do que precisa o cidadão carioca? De que recursos dispõe a prefeitura para atendê-lo? São recursos suficientes? Isso pouco importa, porque as pesquisas indicam que não é bom um candidato falar em aumentar impostos, cortar despesas ou mesmo colocar a turma de servidores para trabalhar pra valer e atender o cidadão. Então, fiquemos com a proposta de aniquilar o adversário, porque no mais, diferença não há. 

Sobre política, debates e ideologias, sugiro a vocês a série Borgen, que a NETFLIX está exibindo. Borgen é a redução do nome do local onde, na Dinamarca, estão situados os três poderes da monarquia. É uma ficção sobre a política dinamarquesa. 

No primeiro episódio, há a cena de um debate eleitoral entre vários candidatos, entre eles, Birgitte Nyborg, personagem principal. Ela foi preparada para o debate por seu assessor de imprensa e instruída, por ele, de como deveria se vestir. Os dois minutos dados a ela para falar criam, na equipe, tensão, medo e, no fim, euforia. Birgitte abandonou o texto combinado e deu o motivo de não estar com o traje sugerido pelo assessor: “o que acontece é que o blazer não coube porque engordei um pouco”. 

O discurso é brilhante…

“Todos aqui somos muito profissionais. Vemos as perguntas antes do debate, formuladas pela mídia. Todos seguimos os roteiros para sermos perfeitos. Agora mesmo, o meu assessor está nos bastidores me xingando, por não seguir o discurso. E ficou bravo por eu não usar a roupa que combinamos..”. E ela segue, até chegar ao final, para dizer: 

“Se quisermos uma nova Dinamarca criada por nós, temos que inventar uma nova forma de nos comunicarmos com o povo e encontrar uma nova forma de fazer política. É possível que palavras como socialismo, liberalismo e solidariedade (partidos presentes ao debate) sejam palavras que descrevam o mundo de ontem, não de amanhã. Um mundo moderno e variado como nossa democracia deve ser”. 

Quem puder não perca. Quem já assistiu, certamente, tem simpatia pela política e gostou. Sobre a estratégia de aniquilar um adversário há também exemplos, que a cultura diferente da nossa deu destino melhor. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Os debates

Por dever de ofício, eu estive presente ao debate da Bandeirantes com os candidatos à Prefeitura do Rio e depois assisti aos realizados em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Maringá, Uberaba, São Luiz e Campinas e conclui, mais uma vez, que o povo tem lá suas razões para não gostar da política. 

Os candidatos não falam com o povo. Falam uns com os outros. Acusam-se e usam-se como trampolins para auto-elogios e contar vantagens. Amarrados como são, os debates nada informam e não ajudam o eleitor a tomar a decisão. Acontecem no cair da madrugada para que quem tenha que levantar cedo não assista. 

Rodrigo Maroni, candidato em Porto Alegre, abriu o debate lá de um jeito diferente, mas deu uma lição importante. Escolhido para questionar o candidato João Derly, do Republicanos, Maroni disse: “João, fala aí sobre o que tu quiser”. O adversário esbugalhou os olhos e assim ficou durante todo o tempo em que falou. Depois, veio a réplica do Maroni: “Fiquei contente, João, e vou te dar a palavra novamente, pra tu seguir nos 30 segundos finais. Eu só acho que esse processo é muito importante. Eu te acho um cara do bem. Você sabe disso. Acho que tu não é a média da política, mas a política é um espaço de muita demagogia e muita mentira, né? E no processo eleitoral, naturalmente, as pessoas falam o que está combinado com seu publicitário com o que é bacana falar, que vai gerar voto. Então, te dou a palavra, novamente”. 

Um recado forte. 

O número de mulheres candidatas cresceu bastante e, certamente, não por causa das cotas. As candidatas que eu vi seriam candidatas com ou sem cota, porque as das cotas só existem para satisfazer a lei e não me pareceu o caso das que conheci. 

Em Uberaba, por exemplo, a senhora Cartafina, com 87 anos, é candidata a vice do candidato do PTB, Tony Carlos. Camila Lanes, uma jovem, candidata em Curitiba saiu-se com um motivo curioso para ser eleita: 

“Nós, mulheres, somos metade dessa cidade e mães da outra metade. Por isso, merecemos governar Curitiba”. Convincente! 

Jair Bolsonaro ainda está presente. Em alguns lugares como Rio e Curitiba, mais de um candidato aposta nele. Em Curitiba, a senhora Marisa Lobo, que promete que “Com Marisa Lobo, Curitiba será grande de novo”. Ela escreveu 11 livros e tem 9 já na editora para lançar a qualquer momento. 

No Rio, se sabe, Luiz Lima e Crivella puxam o paletó do Presidente. Talvez pela proximidade, Luiz Lima tenha incorporado a voz mansa do Crivella e do Celso Russomano, candidato em SP, onde o debate esquentou. Lá o prefeito Bruno Covas compareceu, apanhou e bateu bastante, assim como aconteceu com o prefeito de Porto Alegre. Os de Belo Horizonte e Curitiba não deram as caras.

É relevante o número de candidatas e candidatos da Polícia Militar e da Polícia Civil, situação que pode ser ainda refugo da eleição de 2018. No RIo, a Delegada Martha Rocha mostrou um jeito elegante de bater duro no adversário Eduardo Paes, mas a colega dela, em Campinas, a delegada Alessandra Ribeiro, de dedo em riste foi pra cima do candidato do PSD, Artur Orsi, filho de um ex-prefeito da cidade que morreu com 66 anos de idade. 

A Bandeirantes deu um show de organização, adaptando seus auditórios em cada lugar com as medidas preventivas a eles adaptados. Em Curitiba, por exemplo, todos os candidatos e o moderador Valter Sena ficaram todo o tempo mascarados. 

Por tudo que vi, o eleitor terá dificuldade grande para decidir, porque os candidatos conhecidos demais são políticos também demais e a sociedade parece querer distância deles. 

Mas, se o povo perdeu, os liberais perderam bem mais, porque em poucos lugares houve o discurso liberal.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos