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“Sexta-Feira, 13…”

14 de fevereiro de 2024. 

“Passado o episódio do Estado de Sítio, parecia que o Presidente João Goulart iria nortear o seu Governo mais para o predomínio do fato administrativo, sobrepondo-se ao fato político que já consumira mais de metade do seu mandato…JK havia sacudido o país de norte a sul com obras monumentais, Jânio Quadros foi apenas o ético, consumindo todos os seus sete meses  de Governo com inquéritos e bilhetinhos. Em mais de um ano de governo parlamentarista, o Presidente não marcara nenhum tento administrativo. Estava na estaca zero…”. Essas são passagens do livro que ocupou o meu tempo no carnaval: “Sexta-Feira, 13 – Os últimos dias do Governo João Goulart”, do deputado Abelardo Jurema, que foi Ministro da Justiça naquele tempo. Eu consegui a obra no sebo Estante Virtual. 

No livro, “Seu Jurema” dedicou um capítulo ao momento em que o Presidente João Goulart decidiu colocar o Brasil em Estado de Sítio, em resposta às greves e à entrevista ofensiva aos militares concedida pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Jango tentou, mas depois das reações do Congresso Nacional e dos governadores, desistiu. Há poucos dias, voltou-se a falar em Estado de Sítio, sendo agora uma tentativa atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro, nas confusões armadas em torno dele. A imprensa divulgou que a Polícia Federal encontrou uma minuta de um documento destinado a decretar Estado de Sítio, na sala que o ex-presidente ocupa na sede do PL. 

Quem examina a história da política no Brasil verifica que ela é uma repetição cansativa de maquinações de quem está no poder para manter-se nele e de quem está fora dele para lá chegar sem considerar a vontade do povo. Jango foi eleito duas vezes Vice-Presidente da República. No tempo dele, os vice-presidentes não participavam das chapas dos presidentes como acontece atualmente, O povo escolhia os presidentes e quem ele desejaria que governasse o Brasil na falta do selecionado. Hoje, um é eleito grudado no outro. Bem, Jango foi eleito, primeiro, para ser vice-presidente de Juscelino, momento em que viveu a paz oferecida pelo titular. “Houve tropeços, houve ranhuras, houve mal-entendidos, tudo, porém, facilmente corrigido e neutralizado pelas lideranças partidárias”, relata “Seu Jurema”. A segunda experiência de Jango como Vice-Presidente levou-o à Presidência pela renúncia de Jânio Quadros, numa trajetória tumultuada em que militares e Congresso Nacional fizeram de tudo para que não se cumprisse. Uma vez presidente, primeiro num parlamentarismo arranjado e depois num presidencialismo muito próprio dos brasileiros, Jango foi defenestrado pelos mesmos agentes: Congresso e Caserna. “Seu Jurema” conta que, “num dos momentos de depressão, o presidente chegou a me dizer: “Não sei, Seu Jurema, como Juscelino ainda quer voltar para isto aqui”. 

A Constituição? Ah! minha gente, essa nunca teve valor, nem naquele tempo, nem na Monarquia e menos ainda hoje em dia. Assim segue a nossa relação com a política. A relação dos imperadores e dos presidentes com a política sempre foi cruel, pois dele o povo quase nunca está presente. Quem queira conferir que vá à história de cada um deles. 

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Será Javier ou Massa?Jair ou Lula? 

19 de novembro de 2023. Dia de eleição na Argentina. 

Hoje decide-se quem será o vencedor na disputa pela presidência da Argentina, Javier ou Massa e saberemos se aqui no Brasil Bolsonaro venceu Lula ou se Lula venceu Bolsonaro, uma vez que por aqui, no céu, na terra, no alto do mar, nos tribunais, nas igrejas e em todo canto, no inferno, inclusive, o mundo está resumido à saga dos dois. 

Torço por Javier. “Abrir-se com alguém, isto sim é coisa de louco”. Pirandello. 

Na Argentina, haverá críticas aos eleitores do candidato que vencer, assim como aos eleitores do candidato derrotado. Mas, é difícil, bem difícil mesmo, ser eleitor, porque para escolher um entre dois ou mais candidatos, os eleitores precisam ter tempo e liberdade para trabalhar as informações que recebem e criar uma relação de confiança com quem fornece as informações. Nesse ponto, as campanhas na Argentina cumpriram a tarefa. 

Seja Javier, seja Massa, a campanha na Argentina ampliou a dificuldade de escolha para os eleitores com a entrada da Inteligência Artificial, utilizada com criatividade cruel, tanto por Javier como por Sérgio. Mas, ninguém tentou fazer o trabalho do eleitor, impedindo o uso da ferramenta. 

Para Pirandello, “Assim é se lhe parece”, não existe verdade, mas pontos de vista e faz parte da indumentária humana o uso de diversas máscaras, cada uma para uma ocasião precisa. As campanhas eleitorais são assim, por definição. Elas são exercícios de magia. 

Os mágicos trabalham com técnicas teatrais, manuais e de psicologia para fazerem com que o público só veja o que lhes interessa mostrar. É trabalho dos mágicos entregarem um monte de informações ao mesmo tempo, para dar destaque exclusivamente às que precisam para obter sucesso. Os mágicos manipulam a percepção, assim como fazem os candidatos e seus ajudantes. 

Então, há um meio para facilitar a vida do eleitor de tal modo que ele tenha menos chances de errar ao escolher em quem votar? Há quem possa selecionar as informações para que os eleitores tenham acesso, exclusivamente, às confiáveis? Tem gente que acredita ter esse dom. Mas, é democrático decidir pelos eleitores quanto às informações que eles precisam ter para decidir? A imprensa? Evidente que não. Ela tem lado. Tem algum mal nisso? Não vejo. E se tiver, para isso não existe conserto.  

O jeito certo de ajudar o eleitor a decidir melhor é dar liberdade às campanhas, para chamar ao jogo outro mágico que denuncie os truques do concorrente, fato que no campo da comunicação tem nome: contraditório e contraponto. Os candidatos e seus adversários devem ter liberdade para oferecerem aos eleitores as informações que desejarem, deixando com o juízo do eleitor a decisão sobre quais usar e como usá-las no processo de decisão. 

Quando não há liberdade para as campanhas, mesmo com o uso da lei ou da Justiça com a lei e, por vezes até sem ela, como se faz por aqui com algo que apelidaram de fake news, o eleitor é tutelado, é castrado naquilo que o diferencia dos animais: a capacidade de decidir por si próprio com liberdade para formular as decisões que toma e acertar e errar por si mesmo. Ora, por que razão o exercício do voto está limitado às idades onde se pode pensar por si mesmo? Exatamente, para que a decisão seja consciente e não tutelada. 

Por isso, sou um eleitor inconformado com o tipo de campanha eleitoral que se tem no Brasil, onde quase todo tipo de exposição é proibido e a exposição autorizada é imbecil. Assisti muitas peças da campanha na Argentina, inclusive as que usaram a  Inteligência Artificial. Os candidatos que disputaram a eleição tiveram liberdade para expor suas qualidades e até para inventá-las como tiveram para expor os defeitos de seus adversários e até para criá-los. Por aqui, alguém, certamente, com a lei e com a Justiça que temos, iria censurar as peças e os veículos por onde elas seriam veiculadas. A Inteligência Artificial seria algo abominável, com certeza. A turma do Tribunal Eleitoral ficaria com medo de ser enganada. 

Como eleitor, desejo ter acesso às informações e resolver por mim mesmo a quais devo dar crédito, para depois de confrontá-las decidir a quem devo dar o meu voto ou se não devo escolher um entre todos. É esse o preço da democracia, que fugimos para não pagar. 

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UM GENERAL PARA CHAMAR DE SEU. 

27 de setembro de 2023. .

Ontem foi dia de ouvir o General Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, quando Jair Bolsonaro foi presidente. Bem antes, no dia 31 de agosto, lá compareceu o General Gonçalves Dias, na intimidade, G.Dias, também ex-ministro-chefe do Gabinete Institucional da Presidência da República, nos governos do Presidente Lula. Heleno deixou o cargo quando Bolsonaro saiu da Presidência. G. Dias foi exonerado por ter sido flagrado estimulando a baderna. 

Divididos nas sessões da CPMI-8, os exércitos de ambos cumpriram o papel que lhes cabia de elogiar o general companheiro e esculhambar o general adversário. Em meio aos elogios e acusações, foram citados outros generais, coronéis e militares de outras patentes.  Alguns deles também chamados para prestar esclarecimentos aos enraivecidos torcedores de um lado e de outro. 

Enquanto assistia o depoimento do General Heleno, ainda tendo na lembrança a apresentação do General G. Dias, recorri a um livro – um bom trabalho – publicado pela editora Mauad em 2007: “O Uso Político das Forças Armadas e outras questões militares”. O livro me foi presenteado pelo autor, João Rodrigues Arruda, professor e promotor da Justiça Militar. O Dr. João foi-me apresentado pelo jornalista Maurício Dias, um grande amigo. 

O Dr. João faleceu poucos anos depois da publicação do livro, que recebi autografado por ele com um alerta: “Dê atenção especial, meu caro, ao capítulo sobre o “Tribunal Penal Internacional (Os réus assinalados)”. Com disciplina atendi. No capítulo, o Dr. João, com mais vigor do que no resto do trabalho, defende a existência da Justiça Militar, naquele tempo, contestada por ministros do STF, um deles, o decano Celso de Mello. O Dr. João não está mais por aqui, tempo em que o Tribunal Penal Internacional voltou a ter existência na mídia local e os ministros do STF…bem, deixa pra lá. 

Brilhante, Dr. João navegou por várias searas e ao fazer isso levantou questões que se ajustam como uma luva de tamanho certo às cenas oferecidas ao público pela CPMI-8, no momento das oitivas dos generais. Cabe lembrar que os dois compareceram como testemunhas, sabe lá exatamente de quê. Mas, certamente, testemunharam o resultado da falta de atenção deles com as recomendações do Dr. João, para que ficassem fora da política. Ele que abre a obra com a “Ciranda das Vivandeiras”, inspirado em Karl von Clausewitz: 

“Certamente Clausewitz, apesar de ter vivido numa época em que as guerras ainda não tinham o caráter nacional, ao escrever “Vom Kriege”, no século XIX e sob o impacto das guerras napoleônicas, interpretou a política nacional como os interesses de um estado em relação a outros estados soberanos(…). “Não imaginava Clausewitz que, nas longínquas terras brasileiras, a gente da guerra seria também utilizada no âmbito interno para atender a interesses políticos partidários e de oligarquias, manipulada pela astúcia das elites”. O Dr. João encerra o primeira página do seguinte modo: 

“Para os políticos nenhuma consequência, mas para os militares, que se deixaram ingenuamente seduzir e foram manipulados por políticos, as consequências foram danosas(…). Com os que os manipulam nada aconteceu”. 

Poderia eu parar o texto por aqui. Contudo, com segunda intenção, cito o capítulo em que o Dr. João descreveu a “Guerra na Rocinha”. Afinal, sou parte do povo de uma cidade que já assistiu vezes sem conta, o desmoronamento da imagem das Forças Armadas, por terem os generais atendido à convocação dos presidentes para resolver um problema que parece insolúvel pela qualidade das políticas aplicadas à Segurança Pública:  o crime nas ruas. 

A “Guerra na Rocinha”, citada pelo Dr. João, aconteceu na Semana Santa de 2004. Naquele ano, Lula estava na Presidência da República, a senhora Rosinha Garotinho estava no governo, Anthony Garotinho, na Secretaria de Segurança e o General Jorge Félix, no gabinete que depois foi ocupado pelos colegas G. Dias e Heleno. Denise Frossard preparava-se para a disputa pelo governo do estado, eleição que Sérgio Cabral venceu com a ajuda do político Eduardo Paes, senhor de todas as próprias conveniências. 

Em fevereiro de 2016, ainda como consequência da decisão dos eleitores na eleição de dez anos antes, o Presidente Michel Temer determinou que as Forças Armadas dessem um jeito na segurança do Rio de Janeiro. Não deram. 

Não direi sobre o livro para não fazer spoiler. Fiquem à vontade para conhecerem, por si mesmos, toda a obra. Mas, deixo como aperitivo o trecho relevante do capítulo “Guerra da Rocinha”: 

“(…) Em carta encaminhada ao Ministro da Justiça, Thomaz Bastos, o Secretário de Segurança, Anthony Garotinho definiu a ajuda que esperava do governo federal. Especificou, inclusive, o efetivo a ser empregado, que incluía duas brigadas estratégicas do Exército…”

Para quem desejar, o livro está à venda na Amazon. 

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“ÁS Favas com os Escrúpulos”.

10.09.2023.

Às Favas! 

“Os ditadores não perguntam por quê. Perguntam, por que não?” Eu tenho essa frase anotada, sem o nome do autor. Ela traduz a relação dos agentes de um Estado com os cidadãos desse mesmo Estado. 

Por que não censurar? Por que não prender? Por que não soltar? Por que não anular o que foi feito? Por que não inquirir? Por que não julgar? Por que não cobrar mais impostos? Por que não favorecer? Por que não dispensar provas? Por que não, se estão à minha disposição os instrumentos do Estado e o braço forte dele, as polícias? Portanto, “Tudo posso, no Estado que me fortalece”. 

O apóstolo Paulo na carta aos Filipenses tranquilizou os fiéis sobre as dificuldades dele para obter o necessário para o próprio sustento. Paulo agradeceu aos fiéis pela preocupação e afirmou: “Tudo posso naquele que me fortalece”, disse ele referindo-se a Jesus Cristo. Substitua-se Cristo pelo Estado e Paulo pelos agentes públicos e é possível aproveitar para o mal, a frase feita para o bem. Afinal, estamos em tempos de ter, para tudo, um bem e um mal, como valores relativos: a depender de quem esteja ao lado do bem, em lado mau ele será transformado. 

Para que assim seja, é preciso que se mande a democracia às favas, como sugeriu o coronel Jarbas Passarinho ao usurpador Marechal Costa e Silva, no momento em que se decidiu a edição do AI-5. Passarinho depois foi Senador da República pelo Pará. Eis o discurso: 

“Quero me referir às vezes que ouvi de Vossa Excelência, Presidente, não só coletivamente como individualmente em despachos, palavras marcadas por absoluta sinceridade; quando V.Exa não estava sendo menos sincero do que agora, neste instante ou quando V.Exa., inclusive, aqui mesmo nesse palácio no dia do seu aniversário, chamou a atenção para o peso da ditadura sobre os ombros dos homens, mesmo que fosse um triunvirato ou fosse um colegiado(…). Eu seria menos cauteloso do que o próprio Ministro das Relações Exteriores, quando disse que não sabe se o que restará caracterizaria a nossa ordem jurídica como não sendo ditatorial. Eu admitiria que ela é ditatorial. Mas, às favas, neste momento, senhor presidente, com todos os escrúpulos de consciência, pois, tudo aquilo que, fundamental é em condições normais, passa a ser secundário em condições anormais”, e etc.  No entanto, os ilustres verdugos estavam com o poder de decidir o que era normal ou anormal, secundário ou principal. Sendo assim, por que não o AI-5? 

Na raiz estava o apelo do deputado federal, eleito pela Guanabara, Márcio Moreira Alves, para o boicote ao desfile do Dia da Independência. Os verdugos pediram autorização à Câmara dos Deputados para processar o parlamentar e isso lhes foi negado. Então, por que não fechar o Congresso, cassar mandatos, torturar, matar, esfolar, prender?

O DIA DA INDEPENDÊNCIA NEM SEMPRE TEM SIDO CALMO.  Há dois anos, em 2021, os palanques balançaram, o Presidente da República desafiou o Presidente do Supremo Tribunal Federal, um ex-presidente apartou a briga. 

Mas, em tudo existe sempre um lado ruim e um lado bom e nós brasileiros temos a magnífica arte de fazer da tragédia alguma comédia. No dia 18 de maio de 2007 – 39 anos após o discurso do Senador Jarbas Passarinho – os geniais Bibi Ferreira, Juca de Oliveira e Jô Soares, colocaram um outro senador no palco do Teatro Raul Cortez, em São Paulo, com a peça, “Às favas com os escrúpulos”.  É a história de uma professora apaixonada pelo marido, um senador, com quem está casada há mais de 50 anos e descobre que é traída há muito tempo por ele. Bibi fez o papel da esposa e traduziu a personagem numa frase: “O meu papel é o do povo, sob todos os pontos de vista, emocionais e políticos. Sou traída em todos os sentidos”. 

Não quero encerrar sem indicar a quem me lê a magnífica entrevista que Bibi Ferreira deu ao Jô Soares sobre a peça. Está no Youtube: Atriz Bibi Ferreira volta aos palcos. É para aplaudir de pé! 

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Crianças Eróticas. 

O “Cavalo Tarado”, analfabeto e no cio, apresentou-se na pele de uma mulher na Escola Municipal Luiz Carlos Prestes, um comunista por aqui homenageado, homem que, em nome e a favor da ideologia e de si mesmo, apertou as mãos e abraçou o peito do carrasco que entregou a esposa dele e a filha ainda no ventre a outro carrasco, Adolfo Hitler.

O “Cavalo Tarado”, analfabeto e no cio, galopou nas costas de um louco, tomou para si a mochila de uma menina e sentou-se do lado dela para assistir uma dança com jeito de sacode feita por homens vestidos de bailarinas  O ato foi mais um convite de adultos à erotização de crianças. Isso tem sido rotina de uns tempos para cá no Brasil. Outros casos apareceram nas redes e na TV. Um deles em São Paulo, quando um homem nú apareceu no palco de um teatro de mãos dadas com meninas que não tinham mais do que dez anos de idade e na ocasião e outro tendo um homem deitado no chão, sem roupa, acariciado por um garoto que aparentava ter quatro ou cinco anos de idade, presentes os pais e platéia. 

A tentativa de levar o erotismo para as crianças revolta uma parte da sociedade e é aplaudida por outra. É complicado acreditar que alguém com a consciência sã concorde com o projeto de erotização de crianças. Mas há quem concorde e não se contente em concordar e levanta-se com furor contra quem discorda e luta para que isso acabe. O importante é saber o motivo da concordância. 

Georges Bataille, escritor francês, autor de Erotismo, afirma na obra que o erotismo diferencia a sexualidade da espécie humana das demais espécies, pois a sexualidade humana não existe só para a reprodução. Por isso, ela está intimamente ligada à liberdade para fantasiar. O prazer e a libido, diz Bataille, têm estreita relação com as fantasias sexuais. Ele diz também, por óbvio, que existem situações eróticas prazerosas para alguns, mas que soam repulsivas para outros e daí eu concluo: esse é um fato que leva as relações sexuais para o campo da liberdade própria limitada pelo respeito à liberdade do outro. 

Como o respeito à liberdade do outro não consta da cartilha de bastante gente, existem pessoas que desejam impor suas fantasias sexuais às crianças para que elas façam-se adultas antes do tempo e sejam discípulas da libertinagem – escravas só de seus próprios desejos imaginado-se livres para agirem do modo como bem entenderem sem preocuparem-se com os outros. É o vale-tudo seja na mesa da sala, seja na cama, sem que tenha importância a opinião do outro. 

As escolas estão a serviço disso? Quem pode dizer? Os prefeitos podem, pois é deles a incumbência legal de cuidar das crianças no momento em que elas ingressam num mundo totalmente novo, onde têm a oportunidade de receber alguns instrumentos para decidir de que modo desejam viver suas vidas e, certamente, as fantasias sexuais não deveriam constar da proposta de ensino. 

Mas, os prefeitos sabem o que ocorre nas escolas pelas quais são responsáveis? O fato ocorrido na Escola Municipal Luiz Carlos Prestes na cidade do Rio de Janeiro nos oferece a resposta. O prefeito apresentou-se ao público para tratar do assunto tendo como companhia as imagens que chegaram ao celular dele no mesmo momento em que chegaram a todos os demais. Ou seja, estou livre para acreditar que se as imagens não tivessem viralizado e criado indignação antes na sociedade do que no prefeito, ele desconheceria o fato. 

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Pesquisa Quaest. Instituições. 

23.08.2023. 

Durante a semana, o Instituto Genial Quaest divulgou o resultado de uma pesquisa sobre a reputação de várias instituições públicas e a imprensa destacou os dados sobre as Forças Armadas, para usar a informação como crítica a Jair Bolsonaro. Foram ouvidas, presencialmente, 2.029 pessoas, entre os dias 10 e 14 de agosto, com margem de erro de 2,2%. 

Antes de avançar na leitura das notícias, fui ao site do Exército Brasileiro e lá encontrei a notícia sobre pesquisas qualitativas e quantitativas realizadas pela Força, com resultados bem diferentes do que os apurados pela Quaest, mas tive dificuldade para saber o exato momento das pesquisas e mesmo ter acesso ao resultado delas. 

A pesquisa Quaest pesa mais contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso e partidos políticos do que contra as Forças Armadas e não encontrei os caminhos que pudessem me levar a concluir, como fez a imprensa, que o desgaste na imagem positiva das Forças Armadas tenha ligação direta com o movimento de 8 de janeiro em Brasília, com o caso das jóias ou com qualquer outro evento vinculado diretamente com a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentei acesso a mais detalhes da pesquisa e fui ao site do Instituto. Nada mais alcancei além do que me foi apresentado pela imprensa. 

Uso aqui como fonte de comentários, o jornal do Canal UOL e a matéria do Estadão. As palavras da âncora Fabíola Cidral do Portal UOL disse:  “Falando sobre a imagem dos militares, saiu uma pesquisa interessante, Genial Quaest…A confiança nas Forças Armadas caiu de forma expressiva. Olha só como caiu. Esse levantamento mostra que caiu de 43% para 23%…33% sobre quem confia muito nas Forças Militares…Esse foi o grande destaque da pesquisa.(…) E aí não está só o caso das jóias. Acho que tem outros episódios. Principalmente, o oito de janeiro…”. O Estadão caminha sobre a mesma estrada e acrescente declarações do comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que promete medidas para melhorar os salários e benefícios para as famílias dos militares, com o objetivo de reduzir o desgaste divulgado pela imprensa. Uma postura bem ao estilo dos sindicatos. 

Os gráficos com os resultados foi exposto pelo canal, enquanto os âncoras e Tales comentavam. Os resultados mostram linhas que informam as imagens positivas (em azul) e negativas ( vermelho) das instituições: Polícia Militar, Igrejas Evangélicas, Igreja Católica, Militares/Forças Armadas, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Partidos Políticos. Diante dos quadros, digo: calma lá, há uma leitura que deveria ter mais importância para a imprensa. Vamos a ela: 

  1. A Polícia Militar, igrejas evangélicas, igreja católica e Forças Armadas têm mais imagem positiva do que negativa. É fato que as Forças Armadas, foco da imprensa, perderam 4 pontos em imagem negativa e ganharam 5 pontos negativos, mas como Instituição mantém-se com a imagem positiva e alguma gordura.
  2. O Supremo apresentou-se com 40% de imagem negativa e apenas 18% de positiva. Ele saiu de 33% de imagem negativa para 40% e perdeu 3 pontos em imagem positiva. 
  3. O Congresso Nacional está com 43% de imagem negativa, mas já teve 49%. A imagem positiva tem apenas 9%, vindo de 11% na pesquisa anterior. 
  4. Os partidos políticos estão com 54% de imagem negativa e apenas 4% de positiva. 

Portanto, o fato que mereceria destaque é: a população despreza o STF, o Congresso Nacional e os Partidos Políticos, tendo preferência pela fé e pela força. 

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Romeu Zema deveria ter dito. 

15 de agosto de 2023.

Zema diz que não disse, mas se não disse, poderia ter dito, pois não existe dúvida de que as regiões norte e nordeste do Brasil exploram as demais e isso há bastante tempo. 

Contudo, é injusto considerar o povo do norte e do nordeste agentes exploradores do povo do sul e do sudeste, pois o desenvolvimento das duas regiões deve muito – bastante mesmo – aos retirantes nordestinos. A exploração, tanto do povo do nordeste, do norte, do sul, do sudeste e, mais recentemente, do Centro-Oeste, é um papel exercido exclusivamente pela elite antes conhecida pela patente de coronel.  

Meu pai nasceu em Gravatá, no interior de Pernambuco, cidade que fica a duas horas de Caetés, terra natal do Presidente Lula. Filhos do casal paupérrimo Ana Carolina e Maximino, meu pai e outros 11 irmãos trocaram o nordeste pelo Rio de Janeiro ainda na adolescência. A vida deles mostrou que decidiram bem. Depois, eles buscaram os pais. Lula foi para São Paulo, uma vez que em Pernambuco morreria de fome, como ele mesmo diz. E do mesmo modo aconteceu com uma grande multidão de nordestinos. Por lá ficaram os coronéis. 

Na edição de 11 de agosto, sexta-feira, o Estadão publicou uma matéria em forma de texto, do repórter Daniel Weterman Levy Teles, para repercutir a provocação do Governador Romeu Zema, de Minas Gerais, que atribuiu ao norte e nordeste a alcunha de “vaquinha  que produz pouco”.

Na matéria, o repórter informa que “Desde 2019, quando passaram a atuar em bloco, os 16 estados conseguiram receber da União R$123 bilhões a mais do que efetivamente arrecadaram”, enquanto, no mesmo período, o sul, sudeste e centro-oeste contribuíram com mais e receberam bem menos. Mas, a relação desigual sempre houve, com o argumento de equilibrar-se o desenvolvimento nacional. 

Nordestinos, sulistas, goianos, mineiros, somos todos brasileiros, diferenciados, em seus locais de nascimento, pela qualidade de vida oferecida pelas políticas públicas gerenciadas por aqueles que governam cada um desses lugares. 

Tomemos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nele estão os agregados de saúde, educação e renda representados em um ranking publicado pelo Atlas Brasil – www.atlasbrasil.org.br . Nele se vê o seguinte, em resumo: 

Em primeiro lugar está a Corte, o Distrito Federal. Natural! Em seguida, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás. Depois, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Bahia entremeados com cidades do Centro-Oeste. No fim da linha, no último lugar, está o Maranhão, estado governado pela família Sarney e nos últimos oito anos, pelo Ministro Flávio Dino.  

Ora, se o povo do nordeste e do norte vindo para o sul e sudeste, conseguiu contribuir para o desenvolvimento local e se por lá ficaram os coronéis, hoje líderes políticos, a quem devemos atribuir o insucesso das políticas públicas apesar de toda a grana transferida para lá? A resposta nos dirá quem é a “vaquinha que produz pouco” citada pelo Governador Romeu Zema. 

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Salim Mattar tem a receita de um bom governo.

A Petrobrás está, novamente, na berlinda. Agora, pelo aumento do preço dos combustíveis. Lula culpa Bolsonaro, que, para se livrar da culpa, substituiu o Ministro das Minas e Energia. O novo ministro, numa atitude de defesa prévia, promete privatizar a empresa. O Presidente sinaliza que topa, quando nunca topou. Ele diz que quer, porque, desse modo, recupera parte do discurso que fez em 2018, com bom resultado. Mas, no Brasil consciente, sabe-se que, tendo mais 4 anos ou não, o Presidente Jair Bolsonaro não realizará a proeza. A menos que…

Para entender o motivo, voltemos no tempo. Visitemos o dia quatro de janeiro de 2021. Vamos ao “Direto ao Ponto” da Jovem Pan News. Naquele dia, cinco jornalistas entrevistaram Salim Mattar e ele, ao esclarecer a razão de ter deixado o governo, mostrou as causas da enorme dificuldade que tem o projeto de privatização para caminhar minimamente no Brasil. 

Sintetizei as palavras do Salim: falta vontade política e convicção, tanto no Poder Executivo, como e, principalmente, no Congresso Nacional. Também na maioria do povo brasileiro, que não identifica uma relação de causa e consequência, entre o Estado grande e os problemas que enfrenta como sociedade. 

Na entrevista, Salim Mattar dividiu o povo brasileiro em duas categorias distintas: “cidadãos de primeira categoria e cidadãos de segunda”. Entre os de primeira categoria ele citou os 12 milhões de servidores públicos. Entre os de segunda, os 30 milhões com carteira assinada e 14 milhões de desempregados. 

Ora, quarenta e quatro milhões não seriam suficientes para conquistar uma mudança? Sem dúvida, mas ocorre que os cidadãos de primeira categoria  vendem bem o peixe que os alimenta: O ESTADO GORDO! Os que estão classificados na segunda categoria ou não têm quem consiga mostrar-lhes a relação de causa e consequência entre o Estado opressor e a sociedade faminta, ou sustentam-se nos privilégios que recebem dos cidadãos de primeira categoria. 

Falta quem lidere o processo de conscientização no meio do povo que soma maioria suficiente para enquadrar os servidores do Estado Brasileiro, sejam eles eleitos, concursados ou beneficiados com o dom da bajulação. 

Nesse sentido, o discurso do Salim Mattar está pronto. Ele questiona o Congresso Nacional, que pode ser quase totalmente trocado em outubro e defende a elaboração de uma nova Constituição, bandeira que, Salim lembra ser também uma proposta do Modesto Carvalhosa. 

Salim Mattar não deixou dúvida: o presidente pode querer privatizar, o ministro querer mais ainda e, enquanto o Congresso Nacional não quiser, nada acontecerá. Ele deveria dizer isso aos quatro ventos, todos os dias e de todas as formas, para que todos os liberais entendam, por definitivo, que é hora de aproveitar a oportunidade da eleição do Congresso Nacional para enquadrar o Estado Brasileiro. 

A entrevistadora Denise Campos de Toledo, de certo modo, sustentou a afirmação de Salim Mattar, ao citar a vontade política do Congresso Nacional no tempo de Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu proezas na privatização da telefonia, da Vale do Rio Doce e da CSN…”Num tempo”, disse ela, “quando ainda não se tinha toda a aversão às empresas estatais criada pela corrupção desenfreada e pela operação Lava-Jato”. Denise  contrapôs o argumento na relação do Presidente Jair Bolsonaro com a privatização, ao citar o caso CEAGESP, que eu comentei quando ocorreu: https://www.aquitudoepolitica.com.br/?s=CEAGESP 

É horá de falar e pregar em todos os lugares e para todas as pessoas, a importância do voto para a composição do Congresso Nacional. Salim Mattar fez uma previsão que se pode antecipar. Disse ele que em 2026, teremos uma bancada de deputados federais e senadores formada com um número suficiente de liberais para mudar o jogo. É possível fazer isso em 22! Eu acredito! 

Boa semana. 

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O eleitor já decidiu nacionalizar a eleição.

Na dúvida. Sempre na dúvida

O eleitor já decidiu nacionalizar. 

O governador Cláudio Castro está em O Globo na arrancada das entrevistas com todos os candidatos a governador do estado, pelo menos aqueles que conseguiram vencer a cláusula pétrea de uma campanha eleitoral: ter um partido político. Isso não é algo fácil, porque os partidos têm dono, o dinheiro dos partidos está nas mãos deles e o tempo de uso da TV e Rádio também. Então, eles e elas decidem quem será candidato. E quem entre os candidatos, será competitivo. 

O editor da entrevista com Cláudio Castro compôs a chamada com uma frase do entrevistado, como manda o figurino. Disse ele: “Não quero nacionalizar a eleição do Rio”, um jeito matreiro de dizer que ele não está plenamente alinhado com o candidato a presidente do partido dele, Jair Bolsonaro. 

O governador está alinhado com todos e com nenhum, uma prática antiga de comunicação política, mas, cada vez menos convincente, porque os eleitores já andam saturados desse comportamento sem personalidade. 

O governador não quer assumir uma posição na relação da campanha dele com os candidatos à presidência, porque quer os eleitores de todos eles e acredita que desse modo poderá alcançá-los. 

Quando questionado sobre os apoios políticos que abraça, com tudo e com todos, Cláudio Castro mostrou onde é que a pancada nele dói mais. Esperneou e bateu duro nos adversários diretos, para dizer que na campanha do Freixo estão os saqueadores da Petrobrás e lembrar que o candidato Rodrigo Neves esteve preso.  

Cláudio Castro foi arrogante ao dizer que Wilson Witzel teria caído antes se ele tivesse assumido a posição de tirá-lo do poder. E, reafirma a personalidade ao destacar que as alianças que fez para governar não serão as alianças que adotará ser reeleito.  Desse modo, ele desqualifica quem veio com ele até aqui e faz isso da pior forma: não nomina e, portanto, generaliza. 

Cláudio Castro não quer, mas é evidente que o eleitor, na hora do voto, levará em conta a opção nacional. Isso está bem claro. Na hora do voto, o eleitor fará opção pelos candidatos vinculados ao candidato dele à presidência da república. 

Em seguida, Cláudio Castro entrou num campo no qual ele não deveria se aventurar. Ele se diz liberal por ter privatizado a CEDAE e se diz de centro-direita, porque distribui café da manhã para os pobres e vai mais longe – corajosamente ou irresponsavelmente – vai mais longe para definir as políticas ambientais como temas associados à esquerda. Uma salada que mistura legumes, frutas, coco, carne linguiça e chiclete. 

O tema principal foi pouco abordado por quem tem, com exclusividade, a obrigação constitucional de cuidar da segurança pública. O entrevistador isolou o tema no episódio do Jacarezinho e Cláudio Castro aceitou a pauta. 

“O meu governo não celebra a morte de ninguém, mas, quanto ao Jacarezinho, só havia um inocente: era o policial que acabou morto, deixando viúva e filho”. Ele julgou e sentenciou, de imediato, sem processos, sem questionar motivos, sem contraditório ou ampla defesa. Igualzinho ao que fazia seu ex-chefe, Wilson Witzel.  

Enfim, tudo dentro do esperado. As palavras ditas com os cuidados adquiridos, certamente, em tensas reuniões de treinamento. 

O diabo é que campanha tem adversários e quando os candidatos não estão atentos para isso, o debate pode desandar. 

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O que é uma eleição?

Eleição é escolha. O eleitor, colocado diante das informações sobre os candidatos, decide qual deles receberá o seu voto. As campanhas eleitorais têm o propósito de oferecer aos eleitores as informações para que ele decida. Colocada a questão deste modo, a primeira percepção é de ser um processo racional e ele não é. Por isso, os resultados surpreendem até mesmo os institutos de pesquisa a cada eleição. 

No Brasil, muita gente diz que a eleição de 2018 foi um fenômeno, porque os resultados surpreenderam e, para alguns, até assustaram. Para essa gente, existe uma dúvida sobre a próxima eleição: “O fenômeno se repetirá?”. Mas, o que de fato aconteceu em 2018 no Brasil? Pouca coisa de diferente do que aconteceu em outros lugares do mundo: a eleição do inesperado.

Ora, quando se quer analisar o resultado de uma eleição, necessário se faz considerar todos os seus termos e isso só é possível observando-se todas as fases de uma campanha. Em 2018, o resultado é comparável a uma ressaca no mar, que acontece quando fortes ventos entram em contato com a superfície dos oceanos e impulsionam, com força, as águas na direção da orla marítima. 

Os ventos começaram a se formar no Brasil em 2013 com a população nas ruas, descolando-se da política, que segue caindo em descrédito ao longo dos anos. Nas eleições de 2018, os ventos ganharam força e velocidade a ponto de jogar na orla, um número expressivo de candidatos inexpressivos e alguns inesperados. 

A mesma ressaca aconteceu em outros lugares do mundo, em especial nos EUA, com a eleição de Donald Trump. O jornalista francês sediado na Itália, Giuliano da Empoli, identificou o fato e escreveu “Os Engenheiros do Caos”. 

Nele, o autor mostra um descolamento da sociedade do ambiente da política, estimulando movimentos como o “Movimento 5 Estrelas”, na Itália, que deu vida a Giuseppe Conte, como Primeiro-Ministro e elegeu Boris Johnson, Trump, Jair Bolsonaro e outros tais pelo mundo afora. 

As redes sociais criaram novos profissionais de comunicação, gente com capacidade para produzir conteúdo contundente e distribuí-lo com velocidade. Os algoritmos cuidaram de aprisionar  eleitores e candidatos em tribos específicas. É uma seleção prévia. Os candidatos falam só com quem tem interesse de ouví-los e quem os ouve, é levado a odiar gente de outras tribos. 

Quem lê “Os Engenheiros do Caos”, ou outros materiais sobre campanhas eleitorais modernas, pode ser levado a acreditar que, de fato, há um fenômeno totalmente novo na comunicação política. Há novidades, sem dúvida, mas nada totalmente novo. Nova é a velocidade e a fúria com que os conteúdos chegam à orla onde estão os eleitores. 

Faz-se campanhas diferentes. Eleições não. Os eleitores permanecem decidindo as eleições com base nos critérios de sempre. Votam naqueles candidatos que melhor se identificam com eles, que falam o que eles querem ouvir. E não há racionalidade que convença! Emoção, sim. As redes carregam emoções, como fez a imprensa tradicional com exclusividade. 

O eleitor escolhe pela simpatia e rejeita pela antipatia. Na simpatia e na antipatia não estão previstas as qualidades e competência dos candidatos para fazerem o que prometem fazer. 

Será sempre assim? Será, porque assim sempre foi. Nunca foi diferente. As redes só organizam “o cadastro” para colocar cada um no seu quadrado e fazer com que gente de quadrado diferente seja combatido. Deram velocidade e efetividade à comunicação. 

A TV e o rádio perderam poder numa campanha? Não, porque, para não perderem, uniram-se às redes, que repercutem as notícias, para dar-lhes a leitura que interessa a cada tribo. O conteúdo que sai da TV e do rádio é triturado na rede, traduzido na língua de cada tribo para produzir as emoções que conquistam o voto. 

Haverá uma nova ressaca em 2022? Quem sabe? Na vida dos mares já é possível prever quando elas acontecerão pela leitura correta da altura das ondas, da meteorologia, da pressão atmosférica, das correntes marítimas e etc. Com os instrumentos corretos, entregues a bons estrategistas, é possível, sim, prever que o mar estará calmo ou turbulento, mas saber quem será levado por ele até a orla é bem difícil. 

O ser humano, ao contrário dos ventos e das ondas do mar, é sempre imprevisível.

Por Jackson Vasconcelos