Publicado em Deixe um comentário

Os debates

Por dever de ofício, eu estive presente ao debate da Bandeirantes com os candidatos à Prefeitura do Rio e depois assisti aos realizados em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Maringá, Uberaba, São Luiz e Campinas e conclui, mais uma vez, que o povo tem lá suas razões para não gostar da política. 

Os candidatos não falam com o povo. Falam uns com os outros. Acusam-se e usam-se como trampolins para auto-elogios e contar vantagens. Amarrados como são, os debates nada informam e não ajudam o eleitor a tomar a decisão. Acontecem no cair da madrugada para que quem tenha que levantar cedo não assista. 

Rodrigo Maroni, candidato em Porto Alegre, abriu o debate lá de um jeito diferente, mas deu uma lição importante. Escolhido para questionar o candidato João Derly, do Republicanos, Maroni disse: “João, fala aí sobre o que tu quiser”. O adversário esbugalhou os olhos e assim ficou durante todo o tempo em que falou. Depois, veio a réplica do Maroni: “Fiquei contente, João, e vou te dar a palavra novamente, pra tu seguir nos 30 segundos finais. Eu só acho que esse processo é muito importante. Eu te acho um cara do bem. Você sabe disso. Acho que tu não é a média da política, mas a política é um espaço de muita demagogia e muita mentira, né? E no processo eleitoral, naturalmente, as pessoas falam o que está combinado com seu publicitário com o que é bacana falar, que vai gerar voto. Então, te dou a palavra, novamente”. 

Um recado forte. 

O número de mulheres candidatas cresceu bastante e, certamente, não por causa das cotas. As candidatas que eu vi seriam candidatas com ou sem cota, porque as das cotas só existem para satisfazer a lei e não me pareceu o caso das que conheci. 

Em Uberaba, por exemplo, a senhora Cartafina, com 87 anos, é candidata a vice do candidato do PTB, Tony Carlos. Camila Lanes, uma jovem, candidata em Curitiba saiu-se com um motivo curioso para ser eleita: 

“Nós, mulheres, somos metade dessa cidade e mães da outra metade. Por isso, merecemos governar Curitiba”. Convincente! 

Jair Bolsonaro ainda está presente. Em alguns lugares como Rio e Curitiba, mais de um candidato aposta nele. Em Curitiba, a senhora Marisa Lobo, que promete que “Com Marisa Lobo, Curitiba será grande de novo”. Ela escreveu 11 livros e tem 9 já na editora para lançar a qualquer momento. 

No Rio, se sabe, Luiz Lima e Crivella puxam o paletó do Presidente. Talvez pela proximidade, Luiz Lima tenha incorporado a voz mansa do Crivella e do Celso Russomano, candidato em SP, onde o debate esquentou. Lá o prefeito Bruno Covas compareceu, apanhou e bateu bastante, assim como aconteceu com o prefeito de Porto Alegre. Os de Belo Horizonte e Curitiba não deram as caras.

É relevante o número de candidatas e candidatos da Polícia Militar e da Polícia Civil, situação que pode ser ainda refugo da eleição de 2018. No RIo, a Delegada Martha Rocha mostrou um jeito elegante de bater duro no adversário Eduardo Paes, mas a colega dela, em Campinas, a delegada Alessandra Ribeiro, de dedo em riste foi pra cima do candidato do PSD, Artur Orsi, filho de um ex-prefeito da cidade que morreu com 66 anos de idade. 

A Bandeirantes deu um show de organização, adaptando seus auditórios em cada lugar com as medidas preventivas a eles adaptados. Em Curitiba, por exemplo, todos os candidatos e o moderador Valter Sena ficaram todo o tempo mascarados. 

Por tudo que vi, o eleitor terá dificuldade grande para decidir, porque os candidatos conhecidos demais são políticos também demais e a sociedade parece querer distância deles. 

Mas, se o povo perdeu, os liberais perderam bem mais, porque em poucos lugares houve o discurso liberal.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

“Liberais de Laboratório”

A campanha para as eleições deste ano já começou. A revista Piauí, na última edição dela, em forma de matéria, apresentou aos candidatos e candidatas, um curso de formação política, de certo modo, bastante conhecido, o Renova. Ele é uma iniciativa de um conjunto de pessoas que têm a vida profissional e financeira resolvidas e, quem sabe, poderão aproveitar-se dela adiante, como pode acontecer com o apresentador Luciano Huck.  A Piauí diz que, “tão logo foi anunciado, o Renova ganhou o apelido de “fundo eleitoral do PIB”. Certamente! 

Na capa da revista, a manchete é “Liberais de Laboratório”, colocada em cena por uma caricatura onde o ministro Sérgio Moro é o monstro Frankenstein e o presidente Jair Bolsonaro um cientista maluco, que Frankestein suspende pela gola do jaleco num ambiente medonho onde um corvo e morcegos habitam. No fundo do quadro está o Congresso Nacional, tomado por alguns, mas não por poucos, como a Geni ou o Judas, personagens com encontro marcado com o povo nas ruas nos próximos dias. 

Na caricatura, o presidente segura uma ampola de laboratório de onde cai uma mistura química qualquer. Sabe-se lá o que quis dizer com ela o desenhista. Mas, pela manchete, está claro, que o autor da matéria, Luigi Mazza entende o Renova como uma escola de formação de liberais – “liberais de laboratório”. O líquido poderia ser, portanto, o elixir da transformação política. 

Quando se deu título “Escola Sem Partido” à matéria no interior da revista, tentou-se dizer que a escola forma candidatos respeitando a ideologia de cada um. A capa é o “ato falho”. Ela e o conteúdo da matéria mostram que a escola pode sim receber alunos defensores de qualquer ideologia política, mas terá o trabalho de transformá-los, durante o curso, em liberais, “liberais de laboratório”. 

A revista listou as qualidades do curso e nominou os currículos e fama dos professores e elaboradores da grade curricular. Citou o selo de qualidade que o curso representa para quem queira escolher e financiar candidatos. É uma grife! Uma nova grife na política.  

Essa coisa de curso de formação política não é algo novo. Novo é tê-la desvinculada dos partidos, por estratégia de conquista do poder. 

Tempos atrás, o Partido da Frente Liberal, PFL fez a primeira experiência mais recente de oferecer aos filiados, cursos de formação política. Dele nasceu um dos melhores cadernos de defesa da ideologia liberal. A intenção não era escamoteada. O ex-vice-presidente Marco Maciel publicou ali seus melhores textos de aula. 

Depois, o ex-deputado federal Álvaro Valle, falecido antes dos 70 anos de idade, saiu do PFL e criou o Partido Liberal, PL, e fez dele uma escola de formação política, também não escondendo o objetivo de formação ideológica. 

Os atuais cursos de formação política do estilo do Renova atuam contra os partidos, para deles se utilizar como depósitos de candidatos. Pobre gente rica, que subestima a sagacidade dos políticos, que já começaram a desconfiar que estão sendo usados. Vejam o caso da deputada federal Tábata Amaral, formada pelo “laboratório de liberais” e enxertada num partido socialista. Ciro Gomes não precisou queimar muito a massa cinzenta e raivosa dele para concluir que os modernos cursos de formação política nada mais são do que “partidos clandestinos”- palavra dele. 

Quando os partidos fecharem suas portas para a turma do Renova, o que farão os seus financiadores? A matéria da Piauí mostra ser dispensável a preocupação, porque o Novo já topou esse papel e o Cidadania, do ex-deputado federal Roberto Freire, se prepara para ser também alternativa. Nesse caso, uma transformação e tanto, para um partido que foi partido comunista (partidão), depois Partido Popular Socialista e topa ser o berço dos novos “liberais de laboratório”. 

A política é assim: nela cabem todos e ninguém precisa dizer ser o que não é. Os tempos modernos são tempos de autenticidade. Quem queira ser curso de formação que seja, mas que diga, com franqueza, com que propósito.  

*Texto publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Existe candidato honesto?

Existe candidato honesto? Existe sim e, no momento, um deles – talvez o melhor – faz sucesso no cinema. Eu fui conhecer o cara de perto, olho no olho. Gostei uma enormidade!

Resolvi fazer isso no meio da noite de sábado, para me livrar das tensões provocadas por um dia inteiro de pressões de alguns candidatos a deputado federal e estadual do PSD, que querem porque querem alguns grãos de segundos de aparição nas telas de TV. E querem também porque querem algum dinheiro. Qualquer milionésimo de real serve.

O ” João ladrão, que roubou meu coração” é uma das boas representações do Hassum. Para mim uma das melhores.

São ricos os diálogos dele com Isabel, a esposa dentuça, representada pela atriz Flávia Garrafa e com o vampiro Ivan Pires, cópia perfeita do Presidente Michel Temer. Perfeita na fisionomia, nos atos e no jeito torpe de ser.

O filme retrata a política nacional, mas lembra bem a política que se faz no Estado do Rio de Janeiro. João Ernesto ficaria bem na pele do Sérgio Cabral. O vampiro Ivan Pires, na de Jorge Picciani. Marcelinho, o assessor que topa o vale-tudo da política tem a cara, os trejeitos e até o jeitão de falar de um personagem ainda pouco conhecido no Brasil, mas que, se eleito, será, certamente, personagem nacional. O cidadão deputado André Corrêa.

Se você, cara leitora, caro leitor, tiver oportunidade e não assistiu ainda, não perca e se puder faça isso antes da próxima eleição, porque o filme poderá livrar você de uma fria.

Por Jackson Vasconcelos