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Podcast 6: Moro x Jair? Nem pensar

Os seis jornalistas do Roda Viva tentaram intrigar o Ministro Sergio Moro com o Presidente da República e convencê-lo de ser um constrangimento estar no governo do Jair Bolsonaro. Não conseguiram. Moro venceu.

Esse é o assunto do Podcast #6 de Jackson Vasconcelos.

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Vale a pena financiar a Cultura?

Os gastos do governo com a Cultura são uma ameaça ou oportunidade? Sem Goebbels, Roberto Alvim permaneceria no governo, apesar de todo o resto do tempo dele “à serviço da pátria” ter sido, para nós contribuintes, um amontoado de bobagens sem sentido. Algo bem dispendioso. A demissão dele chega a ser, portanto, um serviço prestado pelo monstruoso canalha genocida Joseph Goebbels. E a colaboração pode ser maior.  

Seria bom dar ao caso Alvim outro destino, que não só o da informação sobre quem foi Goebbels ou de ser um motivo para acusar o ex-secretário de nazista como andam a fazer milhares. Até, porque, se sabe que ele não é. 

Bom seria aproveitar o fato para pensar um pouco sobre a causa de se ter uma estrutura no Estado Brasileiro, custeada pelos contribuintes, só para cuidar da Cultura.  

No Governo Federal, existe uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério da Cidadania e já existiram  Ministérios próprios. Nos estados há secretarias estaduais e nas cidades, de qualquer tamanho, congêneres municipais. Essas estruturas são chefiadas, normalmente, por artistas, intelectuais, ilustres acadêmicos e por qualquer um ou qualquer uma que tenha votos ou represente decisões de conveniência nos plenários dos respectivos parlamentos. O que faz e tem feito essa gente? Para que serve? Está aí uma pergunta de dificílima e complicada resposta. Eu diria até constrangedora, quando se vai para a prática. 

O escritor Mário Vargas Llosa responde em “A Civilização do Espetáculo”, obra já citada por mim em outra oportunidade. No capítulo “Cultura, política e poder”, ele aponta duas direções: “Cultura não depende de política, em todo caso não deveria depender, embora isso seja inevitável nas ditaduras, principalmente as ideológicas ou religiosas, aquelas em que o regime se sente autorizado a ditar normas e estabelecer cânones dentro dos quais a vida cultural deve desenvolver-se, sob a vigilância do Estado empenhado em não permitir que ela se afaste da ortodoxia que serve de sustentáculo aos governantes” (Aqui se encaixa o discurso do Alvim). 

“O resultado desse controle, como sabemos”, diz Vargas Llosa, “é a progressiva transformação da cultura em propaganda, ou seja, em sua degeneração por falta de originalidade, espontaneidade, espírito crítico e vontade de renovação e experimentação formal”.

Após dizer o que o Estado, numa democracia não deve ser com relação à Cultura, Vargas Llosa diz o papel que ele pode ter: “O Estado, sem reduzir a liberdade de criação e crítica, deve apoiar e propiciar atividades culturais – na preservação e promoção do patrimônio cultural, acima de tudo – como também porque a cultura deve exercer influência sobre a vida política, submetendo-a a uma contínua avaliação crítica e inculcando-lhe valores e formas que a impeçam de degradar-se…”.

A excitação que o caso Roberto Alvim provocou é a chance de se repensar os gastos que se tem com as estruturas de apoio à Cultura. Afinal, administrar as finanças de um Estado não pode e não deve ser só um ato de cuidar das receitas e despesas, mas também, e principalmente, de tornar eficazes os gastos e justificar o peso deles. O ato de gastar o dinheiro do contribuinte não pode ser uma ameaça ao dono do dinheiro, mas uma oportunidade fantástica de crescimento dele no seio de  uma sociedade sadia. A isso se chama estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Afinal, o que o povo quer?

Ao fazer a retrospectiva do ano, destaco como fato relevante para quem estuda estratégia política a atuação de três personagens do Reino Unido no processo de separação do país da União Europeia, Brexit. E de um personagem da política brasileira, diante do governo do presidente Jair Bolsonaro. 

O primeiro personagem é David Cameron, primeiro ministro do Reino Unido, que convocou o referendo para ouvir o povo sobre a permanência na União Européia. Por vários motivos, os povos do Reino Unido, depois de resistirem um bom tempo, decidiram, num referendo de 1975, participar da União Europeia, um bloco criado em 1957. Mesmo amadurecida durante anos, a decisão nunca foi confortável.  

Em 2016, o primeiro ministro David Cameron, favorável à presença do Reino Unido na União Europeia, decidiu enfrentar os contrários e recolocou o tema num novo referendo. Ele fez a leitura errada dos movimentos. O povo decidiu sair. Cameron, meio sem jeito, renunciou e entrou em campo a segunda personagem que destaco: Teresa May. 

Ela defendeu a permanência do Reino Unido na União Europeia na campanha do referendo. Mas, vencida, entendeu que o seu papel seria colocar em prática a decisão do povo. É assim na democracia. Teresa tentou – e como tentou! – aprovar no Parlamento Inglês, um acordo de saída. Foi derrotada várias vezes e ridicularizada. Teresa desistiu. Abriu caminho para que alguém com mais identidade com a separação comandasse o processo. 

Apareceu Boris Johnson, mas o jogo no Parlamento ficou mais pesado. Já se percebia que a questão central não era mais a vontade popular, mas o jogo político de forças no Parlamento. Boris sofreu derrotas e, como aconteceu com Teresa May, foi ridicularizado. Não desistiu. Chamou o povo à decisão. Não para um referendo direto, mas para enquadrar o Parlamento. Boris venceu a parada com uma campanha bem simples: “Get Brexit Done”, vamos resolver logo isso. Ele sabia que o povo estava cansado de ser enrolado. Houve eleição e os brincalhões foram mandados de volta para casa. 

As populações do Reino Unido deixaram uma lição: não adianta nos enrolarem. O que queremos, queremos. Este é o sentimento que está prevalecendo em todo o mundo. Olhem o que acontece, por exemplo, em Hong Kong, onde o adversário do povo tem muito poder e força e nem por isso, está conseguindo parar o processo. 

No Brasil, o ano começou com a posse de um governo eleito com uma pauta conservadora nos costumes, liberal na economia e de autorização explícita de uso da força e violência na segurança pública.  E também combate ao governo que esteve no poder até 2018. 

Com a mesma agenda, houve renovação no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e em muitos governos estaduais. O povo não deixou dúvidas sobre o que quer. 

Mas, o nosso quarto personagem, o deputado federal Rodrigo Maia, presidente da Câmara, parece entender diferente. Ele publicou na Folha de São Paulo um artigo para responder a uma questão complexa: 

“O saldo de 2019 é positivo para o Brasil?” 

Ele disse que sim, que avançamos “aos trancos e barrancos”. Disse mais: “Com alguma surpresa, o país descobriu a diferença entre governo e governança”, mas ele mesmo não explicou como chegou à essa conclusão e qual é a diferença. Disse mais ainda e, dessa vez, com certa vaidade: 

“A atual legislatura foi a que mais rejeitou medidas provisórias baixadas pelo Poder Executivo.” E avisou, “O Congresso Nacional congelou e também refreou a tensão provocada por uma pauta conservadora na área dos costumes”, situação confirmada pelo O Globo, na matéria de final de ano. 

Ou seja, a voz do povo na eleição de 2018, não é mais relevante. Será que não? Para quem está na política, a leitura correta da vontade popular é uma questão de sobrevivência.

Feliz ano novo. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um presidente sem filtro?

Que pena! Dona Catifunda morreu. Não teve rivais. Eu adorava a participação dela nas aulas da Escolinha do Professor Raimundo, outro que já seguiu caminho. A sensação que a gente tem quando morre alguém especial é que do mundo só seguem cedo os bons, talvez, uma estratégia do destino, para encher logo o céu e retardar o crescimento do inferno.

Numa das aulas do Professor Raimundo, Catifunda disse ao professor e à turma haver criado uma banda de rock. “Aproveitei”, disse ela, “a minha grande semelhança com a Madonna e resolvi fazer um conjunto musical, que se chama a Madonna do Bixiga e suas Braboletas Cantantes”. Está no Youtube. Vale à pena.

Dona Catifunda era a Madonna. O homem não foi à Lua. A Terra é plana. A crise no sistema de saúde pública no Rio de Janeiro é um seriado da Globo. No Natal, se comemora o aniversário de Papai Noel. Jair Bolsonaro é um presidente sem filtro. É nesse mundo louco de perdas, descrenças e crenças obtusas que temos vivido. Parece que tudo virou de ponta cabeça.

Para contrariar Luigi Pirandello, nem tudo que parece ser, verdadeiramente, é. O homem foi sim à Lua. A Terra é redonda. A crise no sistema de saúde pública no Rio de Janeiro é real e resultado de muita incompetência na gestão de recursos públicos. O Natal é aniversário de Jesus Cristo e Jair Bolsonaro não é, como quer a capa da VEJA da semana, um presidente sem filtro.

Desde sempre, Jair Bolsonaro filtra tudo o que diz e o que faz, para falar só o que cria polêmica e provoca os adversários. É desse modo que ele se mantém em absoluta evidência. Ele faz o que faz, de caso pensado. Não sem autenticidade. Ele não conseguiria deixar de ser autêntico e, mentir algumas vezes, faz parte da autenticidade dele.

O presidente tem uma boa torcida e competidores ferozes. Ele sabe o interesse que têm seus adversários de multiplicarem o que ele diz, se o que diz contrariá-los, e conhece a força multiplicadora de sua torcida, quando provocada pelos contrariados. Jair Bolsonaro fez renascer na disputa política o conceito de rivalidade, algo que já se viu no Brasil há muitos anos, com PSD e UDN, Arena e MDB. Uma situação que o mundo do futebol conhece e sabe usar. Jair também.

A torcida do Jair Bolsonaro está quase toda ela na rede. Os contrários lá também estão e muitos como extensão dos braços da imprensa e de gente pesada da oposição. Isso facilita o trabalho do Presidente de provocar e manter acessa a rivalidade.

O jornalista Lauro Jardim publicou no domingo, 15 de dezembro, na coluna semanal que tem no jornal O Globo, uma pesquisa da consultoria Bites sobre o desempenho do Jair Bolsonaro na rede. No título, “As redes do presidente”. A pesquisa mostrou o crescimento de 42,5% na base digital do presidente em um ano. Nesse período curto, ele ganhou 9,7 milhões de novos fãs e chegou, no total, aos impressionantes 32,7 milhões de seguidores fiéis. É o quarto no mundo todo.

Não é atoa que ele faz um barulho dos infernos quando fala e digita. E, curiosamente, isso nada tem com credibilidade. Mesmo, muitas vezes, não acreditando no que diz o presidente, os seus aliados e adversários cumprem bem o papel que ele espera deles.

Ao ser chamado de energúmeno pelo presidente, o educador Paulo Freire ficou conhecido por muita gente que, certamente, nunca tinha ouvido falar dele. As pesquisas sobre Paulo Freire no Google cresceram e sabe-se que ele voltou a vender livros numa quantidade maior do que em qualquer outro ano, apesar de morto há 22 anos, sem novidade nas livrarias.

A menina Greta Thumberg entendeu o jogo do presidente e, ao ser chamada de “pirallha”, somou a agressão ao nome e fez do negativo, positivo, como, aliás, ensinou Rubinho Barrichello que, com certeza, ganhou uma boa grana com as campanhas da Vivo e da Havaianas, explorando a própria imagem negativa, transformando-a em uma bem-humorada imagem positiva.

Quem quiser vencer Jair Bolsonaro numa disputa eleitoral deve considerar que ele filtra sim, tudo o que diz e faz, e sabe exatamente porque age assim.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Por que o povo nas ruas?

Durante a semana, a deputada federal Joice Cristina Hasselmann apresentou-se na CPMI das Fake News. A Comissão Parlamentar Mista (formada por senadores e deputados federais) de Inquérito foi criada com uma finalidade demagógica ou ambiciosa demais.

No ato formal de criação está dito: “Finalidade: Investigar os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018; a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. 

Mas, se sabe que, no fundo, o que se pretende ali é deslegitimar a eleição do Presidente da República. O resto é, simplesmente, o resto onde não se chegará a conclusão alguma. Assim têm sido as Comissões Parlamentares de Inquérito – a grande maioria delas – no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. 

Quem se deu ao trabalho de assistir a atuação da deputada e dos colegas que a inquiriram participou de um espetáculo de agressões mútuas e auto-elogios. O “eu sou”,  o “você é que é” prevaleceu todo o tempo. Um deputado federal pelo Paraná, Felipe Barros, do PSL, chamou o conjunto de “Tribunal Leninista, que se pode resumir numa frase: Xingue-os do que você é e acuse-os do que você faz”. Daí, aos palavrões, foi um pulo. 

Contudo, o espetáculo ruim não foi singular, nem ato exclusivo do Congresso Nacional, mas algo que temos visto acontecer em vários parlamentos no Brasil e mundo afora. Resultado de uma das questões mais relevantes do tempo moderno, a baixa qualidade da representação política, motivo que tem levado o povo às ruas no mundo todo. 

Muitos dirão que a causa do povo nas ruas não é a falta de representação política. Para aqueles que se dizem de esquerda, os liberais nos governos são a resposta. Para quem se coloca do outro lado, no lado oposto está o argumento. De qualquer modo, cai-se no chavão de “direita e esquerda”, que Ortega Y Gasset, no livro “A Rebelião das Massas”  define sem paciência: “Ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o homem (o ser humano) pode eleger para ser um imbecil: ambas são, de fato, formas de hemiplegia moral”. 

Ao não se sentir representado, o povo vai às ruas, volta a Ágora, para exigir, de viva-voz e com toda força e risco, o que quer dos governos. Faz isso, porque quem tem a obrigação de representá-lo, de defender os interesses dele, cuida de si mesmo e dos seus mais próximos. 

A deputada Joice Cristina Hasselmann abriu a apresentação dela com uma frase que tem significado no conceito da falta de compromisso com a representação. Disse ela: “Senhor presidente, senhora relatora, eu passei a investigar os crimes cometidos na internet, quando fui atingida por eles”. Mas, onde ficou, até ali, o interesse dos mais de um milhão de eleitores dela? E se ela não tivesse sido atingida? 

A representação é a essência da democracia. O Dicionário de Política, obra assinada por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Giafranco Pasquino, esgota a definição de Democracia na teoria política contemporânea, num elenco “mais ou menos amplo, de regras de jogo ou, como também se diz, de procedimentos universais”. O dicionário cita nove, todos eles vinculados à representação originada em eleições, “onde todos os eleitores devem ter voto igual e serem livres para votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional”. 

A imagem do Congresso Nacional é ruim. Seria melhor, bem melhor, se os deputados e os senadores conseguissem compreender que o papel deles é substituir os seus eleitores para estar no lugar deles no Parlamento. Mas, eles, visivelmente, preferem o uso de outro significado para a palavra representação. Escolheram a encenação, a teatralidade, o espetáculo e, como não são bons atores, têm-se o que se teve na CPMI das Fake News, no dia da estreia da deputada federal Joice Hasselmann no palco. 

Mesmo correndo o risco de ser longo demais, eu encerro dizendo que, como órgão de representação política, a CPMI teria como finalidade única aquela que tem por acessório: “Investigar a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. Algo que, com certeza, não será objeto de muita atenção.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O impeachment de uns e de outros

Ora, o pouco caso com os partidos políticos é quase unanimidade. Seria ele, a motivação popular para expulsar um presidente? A lógica diz que não. Então, alguma coisa está mal explicada. E, está mesmo.

Os registros da história recente do Brasil comprovam que o ex-presidente Fernando Collor afastou os partidos para entregar as posições de governo ao crivo do ex-tesoureiro da campanha dele que, em razão do que fez com o privilégio que recebeu, provocou o impeachment. Não me parece ser essa a situação de agora.

Semelhança existe, isso sim, entre as causas do pedido de impeachment do Presidente dos EUA, Donald Trump, e, em 1974, do ex-presidente Richard Nixon. Os resultados, no final do processo, no entanto, poderão ser diferentes.

Na origem do problema está a estratégia comum dos dois presidentes republicanos de enfraquecer os adversários pela espionagem. Mas, a leitura dos cenários – atributo de uma estratégia – indica que o resultado final do pedido de impeachment do presidente Trump tem tudo para ser diferente do ocorrido com ex-presidente Nixon.

Trump está no final do primeiro mandato, já em ritmo de campanha para a reeleição. Nixon estava no início do segundo mandato, situação que garantia aos republicanos a permanência no poder, por um mandato inteiro, mesmo com o impeachment de seu presidente, como, de fato, aconteceu.

Entregar a cabeça do presidente Trump neste momento, significará, para os republicanos, com maioria no Senado, a transferência de sua agenda de campanha para os democratas, situação bem difícil de imaginar.

No ponto limite, se a opinião pública forçar uma decisão drástica, os republicanos, substituirão Trump por outro nome na disputa do próximo ano. Até lá manterão o poder seguro nas mãos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade

Por Jackson Vasconcelos

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Lula solto. Bolsonaro livre?

Meu compromisso seria retomar a rota iniciada no artigo da semana passada, quando tratei da relação da imprensa com a política e firmei a minha opinião sobre o papel dos jornalistas como agentes políticos, que não conseguem, ainda que queiram, agir com isenção.

Contudo, preciso mudar o rumo da conversa, porque Lula voltou às ruas com base numa decisão do Supremo Tribunal Federal, fato que desejo comentar sob a ótica da imagem e dos conceitos da estratégia, ferramenta que avalia oportunidades, ameaças, pontos fortes e frágeis e cria mecanismos para que se conservem as conquistas.

O STF saiu com a imagem arranhada? Muito, apesar dos ministros, terem dado, no passado, uma no cravo e agora, outra na ferradura. Somos uma nação rachada ao meio desde 2014. Então, era de se esperar que, ao agradarem uma parte do povo com a prisão em 2ª instância e a outra parte, agora, com uma sentença inversa, os ministros tivessem zerado o jogo. Não zeraram, porque com relação à imagem, os ministros, na verdade, abriram uma segunda cicatriz na face.

O Supremo Tribunal Federal é, por definição, o guardião da Constituição e ao decidir sobre a aplicação dela não deveria ter dúvida. E, certamente, não tem. As decisões que contrariam decisões anteriores têm outro motivo. A Corte, como a imprensa, é formada por homens e mulheres com histórias de vida, simpatias e antipatias próprias, que se comunicam numa linguagem também muito própria. Ela lhes permite dizer a mesma coisa de modos mil vezes diferentes e coisas diferentes de mil modos iguais. O Supremo tem, além desses, outro argumento para as decisões controversas: o legislador brasileiro faz leis com jeitinho.

Há algum mal nesse modo do Supremo se relacionar com as leis e com a população? Se há, ele vem do início da nossa história, tempo suficiente para a gente aceitar o fato como tradição e ter menos aborrecimentos. Os livros “Tanques e Togas” e “Os Onze, o STF, seus bastidores e suas crises” dão boa mostra de como os ministros da Corte são humanos comuns com vigor político. No capítulo que comenta as consequências da morte do Ministro Teori Zavascki, “Os Onze” registra uma declaração do ex-ministro Sepúlveda Pertence sobre o STF. Diz ele: “O Supremo é um arquipélago de onze ilhas incomunicáveis”.

Para mostrar que o modelo não é exclusivo do Brasil, o livro continua a definição com a declaração do juiz da Suprema Corte americana, Oliver Wendell Holmes sobre o tribunal dele: “Nove escorpiões numa garrafa”. “Tanques e Togas” e “Os Onze foram escritos pelo jornalista Felipe Recondo, o segundo em parceria com Luiz Weber, jornalista e mestre em Ciência Política.

Nesse contexto, alguns perguntam: “Onde estará a segurança jurídica?”. Está em sabermos que as leis e decisões judiciais, em nossa terra, funcionam ao sabor dos ventos da política.

Antes que termine meu espaço, pulemos algumas casas para chegar ao Lula nas ruas. É o caso de se perguntar: E agora, para onde irá a política? Irá, com mais velocidade, para os extremos, dando ao centro, o destino que Cristo deu à igreja em Laodicéia: “…Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16).

E a batalha entre os extremos, quem vencerá? É cedo para saber, mas com Lula solto, Bolsonaro perde a liberdade para fazer o que anda a fazer por aí se quiser conquistar outro mandato. Mas, ele ganha a oportunidade de receber de volta os apoios que vem perdendo de antigos eleitores e aliados e tudo deveria fazer para conservá-los porque, na vida, não há insubstituíveis.

Para não termos o PT de volta ao poder, nós substituiremos Bolsonaro se ele não for a garantia que precisamos. Os liberais, certamente, têm bons personagens.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Bolsonaro: “Vivendo e aprendendo a jogar”

Não espere do jornalismo mais do que ele é e tem sido, aqui e no mundo. Isso pode levar você a conclusões precipitadas sobre o papel da imprensa. E se você lidar com a política, poderá ter dores de cabeça.

O jornalista e professor Eugênio Bucci publicou há tempos o livro “Ética e Imprensa” e na introdução afirmou: “O jornalista não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público; ele não tem autorização ética para perseguir outros fins que não este. Além disso, é cada vez mais chamado a pensar nas consequências do que faz…”

Será?

Em todos os tempos e lugares, o jornalista tem sido um profissional, que age para fazer, sem isenção pessoal, da notícia um instrumento de ação política. Eugênio Bucci admite isso no primeiro capítulo do livro, mas dá aos fatos que narra, todos sobre o Jornal Nacional, o caráter de exceção recriminada. Quando não são.

Na semana passada, o Jornal Nacional aproximou a imagem do presidente Jair Bolsonaro do assassinato da vereadora Mariele e do motorista dela. O presidente soltou os cachorros!

Pelo modo como as informações se organizaram, se a intenção do Jornal Nacional fosse “obter resultados que não sejam o de bem informar o público”, a confusão não teria acontecido. O fato não seria notícia, se o editor colocasse frente a frente as duas informações que recebeu. Uma dizia que Jair Bolsonaro, de viva-voz, ele próprio, teria autorizado a entrada no condomínio onde residia, de um dos assassinos da vereadora, para que ele se encontrasse com o outro, residente no mesmo condomínio e, de lá, os dois saíssem para cometer o crime. Isso faria do Jair Bolsonaro, cúmplice no assassinato.

A outra informação obtida pelo Jornal Nacional mostrava, com provas irrefutáveis, a impossibilidade de ser verdade o primeiro dado, porque Jair Bolsonaro, no mesmo dia e hora, estava em Brasília. Um editor preocupado em “bem informar o público, sem autorização ética para perseguir outros fins”, teria dado à notícia uma conotação diferente a favor do presidente, porque essa era a notícia, ou teria encerrado o caso ou, ainda, solicitado uma investigação mais profunda, para melhor calçado voltar à estrada. Nada disso ele fez e o Jornal Nacional veiculou a notícia com a sutil intenção de levantar dúvidas sobre o presidente.

Mas, a atitude não é exclusiva do sistema Globo, como muita gente quer crer, inclusive, Eugênio Bucci, com os exemplos que apresenta no livro.

Al Franken é um comediante americano, autor de um bestseller, “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam – Uma visão imparcial e equilibrada da direita”. Vale ler. Nela estão citados, entre os grandes do jornalismo, nada menos que Washington Post, New York Times e CNN com exemplos comprovados de distorções transformadas em notícias para uso político, na relação da imprensa com as eleições americanas.

Eu elaboro estratégias de ação política, identifico oportunidades e ameaças aos projetos que me são colocados. A expectativa errada do político com relação ao papel dos jornalistas é uma ameaça aos projetos dele. Na relação da imprensa com a política, eu desconheço (pode ser ignorância), casos em que sobreviveu o interesse de bem informar à intenção de criar imagens que, verdadeiras ou falsas, construam a decisão do eleitor.

O tema é extenso. Voltarei a ele na próxima semana.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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PSL: “Nada há de novo debaixo do sol”

Essa confusão no PSL é uma coisa muito feia! Mas não é coisa nova. Em dezembro de 2015, dois Leonardos se enfrentaram pela cadeira de líder do PMDB na Câmara dos Deputados, numa disputa fora de época, igualzinha à que acontece no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo naquele tempo era a composição de uma comissão especial para analisar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado federal Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara, quis indicar para compor a comissão colegas contra o impeachment. Os a favor, liderados pelo correligionário Eduardo Cunha, não gostaram, assinaram uma lista, destituíram Picciani e nomearam Quintão. Picciani reagiu, convocou deputados federais licenciados e conseguiu recuperar a cadeira.

A imprensa teve com o que se ocupar um bom tempo e a história conta o resto. O destino de cada personagem mostrou que uns foram para um lado, os demais para outro, mas nenhum deles retornou ao mandato.

A briga no PSL tem outros motivos, ainda não se sabe exatamente quais, mas a razão, é possível assegurar, é a mesma da briga no PMDB em 2015. Encontrei-a num livro que li há muitos anos e ao qual voltei recentemente, motivado pela crise política no Peru.

No Peru, a confusão de hoje começou na década de 90, quando Alberto Fujimori, a novidade, o puro, derrotou, com a ajuda dos evangélicos, o escritor Mário Vargas Llosa na disputa pela Presidência da República. O escritor nobel da literatura contou a experiência dele com a política na campanha presidencial no livro de memórias “Peixe na Água”.

Num dos melhores trechos, que tem uma absurda serventia para avaliar os movimentos da política em todo o mundo moderno, Mário Vargas Llosa registra:

“Já dentro da fogueira, fiz uma descoberta deprimente no decorrer daquelas reuniões tripartites (momento em que ele construía as alianças políticas). “A política real…”, disse ele, “não aquela que se lê e se escreve, se pensa e se imagina – a única que conheci -, mas a que se vive e se pratica no dia-a-dia, tem pouco a ver com as ideias, os valores e a imaginação, com as visões teleológicas – a sociedade ideal que gostaríamos de construir – e, para falar com crueza, com a generosidade, a solidariedade e o idealismo. Ela é composta, quase exclusivamente de manobras, intrigas, conspirações, pactos, paranóias, traições, muito cálculo, uma dose não negligenciável de cinismo e todo tipo de tramóia. Porque o que efetivamente mobiliza, excita e mantém em atividade o político profissional, seja ele de centro, de esquerda ou de direita, é o poder: chegar a ele, manter-se nele ou voltar a ocupá-lo o mais depressa possível. Há exceções, claro, mas que são isso mesmo, exceções. No início, muitos políticos são movidos por sentimentos altruístas – mudar a sociedade, obter justiça, impulsionar o desenvolvimento, moralizar a vida pública – mas, na prática miúda e comezinha que é a política cotidiana, esses belos objetivos vão deixar de sê-lo para transformar-se em simples tópicos de discursos e declarações – dessa persona pública que adquirem e que acaba por torná-los quase indiferenciáveis entre si – e, no fim, o que prevalece neles é o apetite cru e às vezes incomensurável pelo poder. Quem não é capaz de sentir essa atração obsessiva, quase física, pelo poder, dificilmente chega a ter êxito na política”.

Santo Deus! Como isso é verdade! Li o “Peixe na Água” em janeiro de 1996, num raro momento de lazer com os filhos no Hotel Fazenda Caluje, em Engenheiro Paulo de Frontin. Achei o trecho poético e marquei-o. Depois, sem voltar ao livro, passei por várias experiências eleitorais, como operador de campanhas.

Voltei a lê-lo, recentemente, quando comecei a ouvir gente dizendo que a eleição do Jair Bolsonaro, no Brasil, do Trump, nos Estados Unidos ou do governador Witzel no Estado do Rio de Janeiro são coisas novas, coisas que nunca se viu. Mas eu sabia que já tinha visto algo bem parecido e muito antigo. E vi mesmo.

O povo do Peru derrotou Vargas Llosa porque ele organizou uma chapa com políticos tradicionais e não se curvou a uma agenda conservadora nos costumes. Assumiu ser agnóstico e defendeu que “as crenças religiosas, tal como as amizades e a vida sexual e sentimental, pertencem ao domínio privado, devem ser rigorosamente respeitadas e em caso algum transformadas em matéria de debate público”.

O que seria o Peru com a vitória do Vargas Llosa é hoje puro exercício da imaginação; mas o que conseguiu ser ao eleger Fujimori, se sabe.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos