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Sete de Setembro.

Uma parte do povo brasileiro foi às ruas no Dia da Independência. Cantou o Hino Nacional, vestiu verde-amarelo e aplaudiu o Presidente Jair Bolsonaro. Há muitos anos não se via no Brasil comemorações de fato, comemorações de verdade e festiva no Sete de Setembro. A bandeira nacional estava nos carros, nas janelas e vestia o povo. O povo fez um mar verde e amarelo nas ruas. 

Outra parte do povo criticou. Estava irritada pela captura do dia para a campanha de reeleição do Presidente da República. Lula chegou a dizer nas redes que esse negócio de usar verde e amarelo é uma bobagem. 

Vá lá que os eleitores do Presidente da República usem a bandeira e o hino nacional, a cor verde-amarela e camisas com a marca da Seleção Brasileira de Futebol para fazer campanha. Que problema isso causa? Nenhum. Faz tempo, que Jair Bolsonaro levou para si os símbolos nacionais, uma atitude facilitada pelo fato do outro polo ter como marca a cor vermelha. 

A contrariedade e a ignorância de alguns agentes públicos, que julgam ser o Estado o proprietário dos símbolos nacionais e do povo, chegou ao ponto de ter juízes com decisões para proibir o uso das cores da bandeira e da própria bandeira na campanha eleitoral. Ora, ora. Essa gente! 

A democracia dói quando toca nos agentes do Estado Brasileiro. Dói uma dor doída. Temos vivido tanto tempo sob o julgo do Estado que viciamos seus agentes, mesmo aqueles eleitos pelo povo. A pessoa coloca um crachá no peito, um certificado na parede e já se julga proprietária da vontade dos outros. 

Não gosto dos socialistas, porque detesto o Estado opressor, o Estado que se acha dono da vontade do povo. Ora, se o dia é o Dia da Independência, firmado sobre um slogan que vincula a falta de liberdade à morte, então, que se deixe o povo comemorar. Quem sabe não será este o último dia alegre de comemoração da Independência? Poderá ser se em outubro, o outro lado do povo que estava nas ruas vencer a eleição. Queira Deus que não. 

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Um debate de dar sono.

O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República aconteceu no domingo, 28 de agosto, por iniciativa da TV Bandeirantes. Seis candidatos participaram, entre os onze que registraram candidatura. Foi um debate frio, que se tornou chato à medida que acontecia. A minha percepção foi de resultado nulo, para a intenção de cada um de conquistar votos. A vantagem deles foi que nenhum deles perdeu o que tinha quando chegou à emissora. 

Os encontros dos candidatos Jair Bolsonaro e Lula com os âncoras do Jornal Nacional criaram expectativas com relação ao desempenho deles no debate. Lá, Jair Bolsonaro segurou como pode a ira com os âncoras. Lula saiu-se como um lorde, aproveitando-se do ambiente favorável a ele. Até colinha ele recebeu. 

No debate, a jornalista Vera Magalhães tirou Jair Bolsonaro do sério e ele e Ciro Gomes provocaram o mesmo efeito no Lula. Mas, nada que criasse um impacto estridente. No ambiente paralelo, aconteceu o que sempre acontece. Editado, o debate foi utilizado como mensagem para os eleitores de cada um. Alguns comentários nas redes indicaram a frustração de potenciais eleitores da senadora Simone Tebet com ela. Houve declaração de troca de preferência para Ciro Gomes, mas nada relevante. 

Esperei melhor desempenho do candidato Luiz Felipe D’avila, porque, entre todas e todos, ele é o único com a bandeira de não intromissão dos agentes do Estado Brasileiro na vida das pessoas. Dávilla apelou para um discurso estridente contra o Fundo Eleitoral, bandeira que não faz o menor sentido com o argumento de não uso do dinheiro do povo nas campanhas, já que ele e o partido dele utilizam, sem constrangimento, os horários eleitorais na TV e no rádio financiados pela mesma fonte. 

A Senadora Soraya surgiu como novidade no cenário, mas sabe-se que ela só está na disputa pela Presidência, pela dificuldade que o partido dela, União Brasil, encontrou para compor com os pólos. Se o partido acertasse com Lula, deixaria Sérgio Moro numa situação bem pior do que ele já está, e o acerto do partido União Brasil com Jair Bolsonaro se tornou complicado, depois que o Presidente do Partido, Luciano Bivar, tomou um passa fora do Presidente da República no início do mandato. 

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Deu confusão, de “Novo”

Político mineiro não gosta de confusão, por isso, decide tudo e qualquer coisa antes das reuniões marcadas para decidir. 

O político mineiro é bom de conversa nos bastidores e só sobe no palanque depois de combinar os discursos que fará. Em algumas oportunidades, até mesmo com os adversários. 

O político mineiro não surpreende os pares, para poder, com segurança, surpreender o público e buscar, pela surpresa, a imagem de gente decidida. 

Por ter essa personalidade, os políticos mineiros ocuparam a vice-presidência de quase todos os presidentes militares. José Maria Alckmin foi Vice-Presidente de Castelo Branco. Pedro Aleixo, de Costa e Silva e Aureliano Chaves de Figueiredo. Pedro Aleixo, quando escanteado pelo triunvirato soberbo, ficou em silêncio até a morte e Tancredo conduziu, com segurança e nos bastidores, a travessia do mar vermelho de sangue. 

Mas, a polarização das campanhas presidenciais tirou do sério até os mineiros. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema, um quadro do Partido Novo, aprontou confusão. 

Primeiro, em casa e depois na casa dos outros. Em casa, por causa da aliança que fez com o Partido Progressista, que, a nível nacional tem uma história confusa e apoia a reeleição de Jair Bolsonaro. João Amoedo e a vereadora Cris Monteiro, de São Paulo, gritaram. O Boletim da Liberdade noticiou. 

Na casa do Partido Cidadania e do PSDB, Romeu Zema também criou confusão, quando sugeriu que o jornalista Eduardo Costa assinasse a ficha de filiação no Cidadania para ser candidato a vice na chapa dele. 

O Cidadania acertou com o PSDB e Eduardo Costa pulou fora. Romeu Zema tentou acalmar os ânimos. 

Aos trancos o partido Novo segue amadurecendo, por ser formado com gente de fora da política tradicional, que, com convicção e boa-fé, vê nos políticos algo inescrupuloso e longe do povo. 

Mas, devagar a turma percebe que ideologias e boa vontade sem poder são peças de oratória e poesia. 

Sabe-se, no mundo democrático, que as alianças acontecem para que os governos funcionem, depois que os partidos, na disputa eleitoral, demonstram ter tamanho nos parlamentos para impor ou travar o trabalho do Executivo. Firma-se o respeito pela representação das minorias nos votos votados. 

A novidade está nas composições de quem disputa o Poder Executivo, antes mesmo do pronunciamento dos eleitores. Daí, quando chega o tempo de compor os governos, as alianças eleitorais ficam para trás e se transformam no jogo de chantagens que se tem conhecimento. 

O partido Novo pode construir um modelo diferente de composições, no lugar de, exclusivamente, abominá-las. Pode levar os filiados que chegaram ao poder à compreensão de que as alianças fazem sentido para governar e não para vencer eleições. Quando se faz alianças antes do pronunciamento das urnas, corre-se o risco de comprar gato por lebre. 

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O futuro, a quem pertence?

Diz o ditado que o futuro a Deus pertence. Então, somos deuses porque, nos dias 2 e 30 de outubro, diremos como será o futuro, ao serem escolhidos por nós os deputados federais, deputados estaduais, os senadores, os governadores e o presidente da república. E essa gente, a partir do próximo ano, tomará decisões com impacto sobre o futuro do Estado do Rio de Janeiro e do país. 

Para conversar sobre as campanhas deste ano, criamos, Mário Marques e eu, um canal na rede, o “podcastdaseleicoes”. Na segunda-feira, o programa foi ao ar às 10 horas da manhã, ao vivo, com a presença do Quintino Gomes Freire. Em pauta, a pesquisa mais recente feita pela Prefab com os eleitores do Estado do Rio de Janeiro. Henrique Serra, diretor da Prefab, orientou as nossas análises. Foi uma conversa excelente, que está disponível no nosso canal. 

A pesquisa indicou a inversão do resultado para a Presidência da República no Estado do Rio. O Presidente Jair Bolsonaro ultrapassou o ex-presidente Lula, que na pesquisa Prefab anterior vinha bem na frente. Os demais candidatos à presidência estão do mesmo tamanho e nas mesmas posições. Eu ressaltei o meu entendimento: se Simone Tebet e Ciro cresceram, reduzirão os percentuais do Lula. Jair Bolsonaro conseguiu evitar Sérgio Moro e Dória ou teve a sorte de o destino ajudar.  A campanha permanece polarizada. 

Para o governo do estado, Cláudio Castro mantém vantagem sobre os demais candidatos, em especial, sobre Marcelo Freixo. Mas, permanece abaixo dos 30% com um número grande de indecisos, situação que leva a eleição para o governo do estado para o campo aberto.  Qualquer resultado é possível. Quintino comentou o potencial de crescimento do Rodrigo Neves e fez bons comentários sobre a eleição para o senado. 

Falamos sobre o bom desempenho do Paulo Ganime, candidato do NOVO, no debate patrocinado pela Band. Ganime pareceu bem treinado. Estava preparado para o debate. Soube ocupar o espaço e usar bem as oportunidades. Ocorre que a campanha dele nas redes é ruim. Bem ruim. Certos posts sequer fazem sentido. Isso esvazia a vantagem obtida por ele no debate. 

Enfim. A campanha só começou e curta como é, logo estará encerrada. É uma corrida de obstáculos. O peso político do Prefeito Eduardo Paes esteve fora das nossas considerações, embora tenha sido opinião comum que o governo dele nada mal das pernas. Eduardo tenta maquiar a realidade, mas a população carioca já aprendeu que esse jeito é o pior jeito de fazer administração pública. 

Os candidatos estão em campanha. Agora é a vez do eleitor falar e ele dirá, em outubro, o que achou da campanha de cada um. 

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Uma Carta? É só isso mesmo?

Temos agora uma Carta-Manifesto em favor da Democracia. Mas, de que tipo de democracia estamos a defender e que autoridade têm os missivistas ? Antes de avançar com as minhas considerações sobre o tema do momento – uma carta – sugiro que os meus leitores, gente que tem, com certeza, paciência infinita comigo, leiam a entrevista que Vargas Llosa concedeu à Folha de São Paulo no final de semana. Destaco duas passagens, numa ele sintetiza a opção pelo liberalismo e na outra, provocado pelo entrevistador, Vargas Llosa me lembrou uma passagem na entrevista que Catarina Rochamonte concedeu ao canal do Boletim da Liberdade. 

Sobre a conversão de Vargas Llosa ao liberalismo: “Isso foi uma experiência que tive nos anos que vivi na Inglaterra, nos anos de Margareth Thatcher (1979-1990). Impressionou-me muito a maneira como a Inglaterra, que havia entrado em decadência gradual, se levantava com grande energia, convertendo-se no primeiro país europeu…”

Sobre o que nos disse Catarina Rochamonte: É um grande erro, disse Vargas Llosa, “tomar o liberalismo como desenvolvimento econômico e não ter em conta os problemas que existem em cada sociedade. Isso o liberalismo mostra de maneira maravilhosa – cada sociedade tem uma problemática que deve resolver. A resolução demanda um conjunto de medidas”. 

Bem, vamos à tal Carta em Defesa da Democracia. 

Com 11 anos de idade, eu soube que o Presidente da República tinha sido apeado do poder, por uma declaração simples do Presidente do Senado Federal, Senador Auro de Moura Andrade. Achei aquilo um absurdo, mas meu pai me disse: “O povo quer assim. Esse é o preço da democracia. Quando o povo quer alguma coisa, o Poder tem que ceder”. 

E, de fato, o povo parecia querer aquilo. A imprensa falou em mais de 1 milhão de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas e as rádios clamavam por uma “Rede pela Democracia”. 

O povo foi para as ruas pedir que o Exército tomasse o poder, antes que o Comunismo o fizesse. Aquilo tudo me parecia confuso, porque o Presidente João Goulart estava no poder pelo fato de ser vice-presidente da república, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou. Mas, não era um vice-presidente desses que temos hoje que são eleitos na garupa do Presidente. Era um Vice-Presidente eleito pelo povo para, quando houvesse necessidade – e houve – assumisse, em nome do povo, a Presidência da República. Eu olhava tudo aquilo e pensava:  será que esse povo não sabe exatamente o que quer? 

Eu tive a resposta antes de completar 12 anos de idade. O povo serviu de degrau para a mais dura ditadura depois de Getúlio e precisamos atravessar um deserto, sem Deus no comando. Não houve quem do céu fizesse chover o pão. A “Marcha da Família com Deus pela liberdade”, perdeu a companhia de Deus e a liberdade. 

A travessia foi difícil e dolorosa e muitos ficaram pelo caminho. Com muita luta, o povo obteve de volta a prerrogativa, que ele mesmo, de vontade própria, entregou aos verdugos.  

É o que acontece agora com esse monstrengo que as elites brasileiras vangloriam-se de assinar, lideradas por um ex-presidente que ainda deve explicações ao povo brasileiro. A Carta é um Manifesto que se diz a favor da democracia, mas ela não contém um parágrafo, uma palavra sequer que indique a necessidade de aprimorar as conquistas obtidas a duras penas para nos livrar das consequências do golpe que, em 1964, defenestrou um Presidente eleito pelo povo. 

Na verdade, a Carta é um libelo político construído pela oposição ao Presidente da República e tem como argumento as dúvidas que ele levanta sobre a segurança das urnas eletrônicas. E, por ser uma manifestação de vontade de uma parte do povo, a Carta deixa de ser um ato a favor da democracia. É, simplesmente, um panfleto de campanha. 

No Brasil fala-se e ouve-se de tudo sobre as urnas eletrônicas. O que se precisa resolver, na verdade, é se o Tribunal Eleitoral pode permanecer com a prerrogativa que o sistema de votação lhe dá, de ser o fiscal dos resultados em nome do povo, porque é desse modo que o modelo funciona. O eleitor vai à urna, indica suas preferências, o Tribunal apura e diz que o resultado é a fiel manifestação da vontade do eleitor. Mas, não é disso que a Carta trata. 

Outros modelos levam os partidos para a ponta da conferência da vontade dos eleitores, como já aconteceu no Brasil, antes da existência das urnas eletrônicas. Houve uma enxurrada de fraudes, isso é verdade, mas, novamente, o povo brasileiro optou por resolver seus problemas pelas consequências e não pelas causas. 

Eu tenho certeza que o povo, esse elemento esquecido pelas elites políticas e culturais, se consultado, saberia responder se confirma ou não a prerrogativa que está dada ao Tribunal Eleitoral. Simples, não? É ouvir o povo, ato essencial para se conceituar um sistema como democrático. 

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“O poder tem vida própria”. Birgitte.

Geraldo Alckmin apoia Lula. Qual o problema?

São pesadas as críticas que se ouve ao apoio que Garotinho deu ao Cláudio Castro, assim como ao apoio que Alckmin deu ao Lula e ao acordo que César Maia fez com Freixo. Caminha na mesma  trilha, a composição que Jair Bolsonaro fez com o Centrão. Isso pelo fato de a sociedade brasileira ver as composições políticas como algo espúrio, coisa de gente sem caráter. 

A razão está no comportamento dos políticos que se relacionam uns com os outros com ofensas pessoais e agressividade, pois xingar e ofender dispensa raciocínios mais elaborados para a construção do contraditório. É, com certeza, mais fácil chamar alguém de ladrão, de vagabundo e de mau-caráter do que gastar tempo e inteligência para contestar propostas ou opiniões. Só que, após a baixaria, quando surge a necessidade de composições para vencer eleição ou governar, o político faz o que tem que fazer e o povo fica enojado. No final da linha, a política perde. 

Não seria já hora de os políticos mostrarem ao povo que eles podem sim discordar uns dos outros, que a essência da política é a convivência entre os contrários e que a democracia não existe sem a política? O jeito de fazer isso é ter trabalho para construir a contestação e apontar os equívocos que as propostas dos adversários contém e desconstruí-las com inteligência a estratégia adequada. 

Sobre isso há uma lição importante numa das melhores séries de ficção produzidas pela Netflix sobre política e poder na Dinamarca, país onde há uma monarquia parlamentarista. Sirvo-me do discurso que fez a Primeira-Ministra Birgitte Nyborg, na convenção do partido dela, “Novos Democratas”. Birgitte, na série, representa o papel da primeira mulher dinamarquesa no comando do país. Em pauta na convenção, está a disputa pelo comando do partido, entre Birgitte Nyborg e Jon Berthelsen. O discurso é magnífico como peça de estratégia política.  Vamos a ele: 

“Quero dizer a vocês uma coisa importante sobre o poder. Estamos lutando por poder aqui hoje. Pelo direito de decidir. Não podemos ser políticos sem aspirarmos ao poder.  Sem o poder, não daria para realizarmos nossas políticas importantes. Mas, o poder tem vida própria. Quando vê, você se afastou de tudo aquilo em que acreditava. 

Jon, eu tentei derrubá-lo. Ameacei tirar seu poder. Mas, querem saber? Jon não pode ser derrubado. Sabem por quê? Porque as convicções dele sempre terão mais peso que o poder. 

Na vida pessoal, cheguei ao ponto de dizer coisas horríveis ao meu filho na TV, para continuar no poder. Talvez eu tenha mudado. Mas, espero nunca perder a capacidade de admitir quando estou errada. 

Mas, meus amigos, não deveríamos combater uns aos outros. Deveríamos lutar pelo que acreditamos. Eu acredito neste partido. Às vezes, a vida diz quando um novo capítulo vai começar. Para mim começa hoje. Como política e como ser humano. 

Renuncio à liderança do partido e recomendo fortemente que Jon Berthelsen seja o novo líder do Novos Democratas!”

Birgitte fez com arte e vida o que Getúlio fez na morte: virou o jogo. 

Ora, a política é uma arte e, sendo assim, autoriza composições, acordos, renúncias a posições históricas em nome do resultado final, seja das eleições seja de governos melhores. É possível discordar momentaneamente ou adaptar o discurso para facilitar a vitória e composições políticas, que autorizem governos mais eficientes. E a discordância é salutar. Certamente, o povo entenderia os acordos políticos, se eles não fossem recheados com as agressões pessoais mútuas, que desqualificam a disputa política bem mais do que prejudicam os agredidos. 

Haverá, certamente, quem me diga que há políticos que merecem mesmo que o povo saiba quem são e que advertir o eleitor é papel dos candidatos. É verdade e aí é que reside o problema: o eleitor ser advertido quanto ao caráter de um político, por um adversário dele que, logo adiante, precisará aplaudí-lo. O honesto não chama alguém de ladrão só por conveniência eleitoral. Agir assim é agir com a mais absoluta leviandade e os levianos não deveriam ter lugar na política. 

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Sou um liberal, e você, o que é?

COM QUEM IREMOS NÓS, LIBERAIS? 

Uma eleição num país presidencialista define o governo e a oposição. Quem vence, governa e quem perde, se opõe na busca de, em outro momento, ser governo. 

Contudo, somos um presidencialismo meio estranho, que anula a oposição aos governos, na esteira de algo que deram o nome de Presidencialismo de Coalizão. Os candidatos que perdem encontram um meio de acomodarem-se no governo, para separarem-se, novamente, por conveniência do voto, quando uma nova eleição se avizinha. 

Com o mesmo objetivo de ser oposição e governo ao mesmo tempo, criou-se o discurso das decisões convenientes ao povo, mas sem perguntar a ele. Criou-se a regra de votar com o governo quando a matéria interessa ao povo e votar contra, quando as decisões são contra o povo. Mas, o povo não se pronuncia. 

Ora, todas as medidas de qualquer governo podem ser aprimoradas e, por isso, contestadas. Não sendo desse modo, a oposição perde o sentido e o eleitor que nela votou fica confuso.  Foi o que aconteceu com o partido Novo que, durante todo o tempo do governo de Jair Bolsonaro, passou a imagem de um partido sem identidade. 

Dito isso, eu me atrevo a levantar uma questão: quem, entre os candidatos à Presidência, será capaz de, uma vez eleito, defender o que desejam os liberais e esse candidato, uma vez derrotado, terá disposição para permanecer na política e liderar uma oposição ao vencedor? 

Na eleição passada, aquela de 2018, João Amoedo, candidato a presidente pelo partido Novo, apresentou-se como um liberal na economia e conservador nos costumes. Disse isso, com todas as letras, em vários lugares, em especial e com mais detalhes, no Programa Roda Viva, que foi ao ar no dia 21 de maio daquele ano. 

A jornalista Raquel Landim, da Folha de São Paulo, levantou a bola: “O senhor é um candidato liberal ou conservador? O liberal clássico é liberal em todo o espectro e não só na Economia. É a favor do aborto e da liberalização das drogas”. Amoedo retrucou e assumiu o papel de liberal na economia e conservador nos costumes. Pauta semelhante, naquele momento, à apresentada pelo Jair Bolsonaro e avalizada pelo liberal Paulo Guedes. 

Na eleição, João Amoedo foi derrotado no primeiro turno. Ele e os liberais, por óbvio, abraçaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Iniciado o governo, conhecidas as primeiras medidas e a retração da pauta liberal, João Amoedo tentou erguer uma oposição dos liberais. Quem conquistou algum mandato pelo partido se insurgiu.  A decisão era votar com o governo, quando isso interessasse ao povo e etc. Ainda sem ouvir o povo. 

O que houve na relação do João Amoedo com o partido, todos conhecemos e está disponível nas redes. Mas, agora, entramos em 2022, quando o partido Novo escolheu Luiz Felipe D’ávila para disputar a Presidência da República e ele demarcou o terreno, para mostrar-se liberal. 

Para onde iremos nós, os que entendemos que o Estado deve ter um papel bem diferente do que tem hoje na vida dos brasileiros, se Felipe D’ávila, o candidato liberal, não estiver no segundo turno? Seguiremos a pauta de 2018, para votar, novamente, no Jair Bolsonaro? De que lado, estarão Dávilla e o partido Novo? Em Minas Gerais, berço do único governador do partido, Romeu Zema, o Novo, ao que se ouve, fará alianças à esquerda, com o Cidadania e à direita com o PP. Cidadania com Lula, PP com Jair Bolsonaro. 

Que encruzilhada, gente! Mas, seja como for a decisão dos liberais no segundo turno, uma oposição deles a qualquer um dos governos que sair das urnas em outubro será uma estratégia excelente para que a nossa agenda não se perca como se perdeu no primeiro governo do Jair Bolsonaro. 

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Quem manda no país? Você.

Sendo ou não uma democracia, um país é governado por seu povo, por ação, covardia ou omissão. O Brasil de governos autoritários e de governos democráticos não fugiu nem foge à regra. Uma longa história temos para não ficar com dúvida sobre a sina. O povo brasileiro aplaudiu os ditadores e deles se livrou quando se tornaram insuportáveis. 

A nossa gente custa a compreender um problema, mas quando compreende, resolve. Assim foi com a ditadura e com a inflação e pode ser agora com relação ao papel dado ao Estado Brasileiro pelos agentes públicos, servidores, bajuladores ou eleitos. 

O Brasil precisa sair do impasse, que segura a sociedade numa situação, para uns, de extrema miséria e para outros de injustificada riqueza. A saída é pela revisão do papel dos agentes públicos. Eu não tenho dúvida. E só o povo pode exigir e fazer a revisão. 

Luiza Trajano, entrevistada pelo jornal O Globo, no domingo dia 10, disse: “Quem manda no país é o Congresso Nacional”. Na mesma linha trabalha um grupo de ex-alunos do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que criou o movimento GRITA, com o objetivo de conscientizar a população brasileira para a importância do voto que escolherá deputados federais e senadores. 

A opinião predominante, no entanto, é a favor da importância do voto a ser dado aos candidatos à presidência porque um presidente da república, seja quem for, tem instrumentos para fazer o Congresso dançar a música que será tocada pelo Poder Executivo. E disso também existem provas. Quem pensa assim, estende o entendimento para a relação entre os governadores e deputados estaduais, prefeitos e vereadores. 

Esteja a razão com quem estiver, na ponta está o povo, que para escolher uns e não outros ou escolher nenhum candidato, depende das informações que tenha e de poder traduzi-las em algo útil para a seleção que fará. Claro está, no entanto, que tais informações os eleitores não conseguirão com os candidatos. 

Elas e eles estão aí em plena atividade, nas ruas e nas redes. Na imprensa, também. No entanto, que informações oferecem para que os eleitores possam decidir o voto sem o risco de estarem a entrar numa fria ? As candidatos e candidatos dançam, jogam bola, abraçam o povo, distribuem pensamentos incentivadores, criticam uns aos outros. Promovem um bombardeio de informações totalmente inúteis para quem precisa escolher em quem votar. 

Há um vácuo no sistema de informações que pode ser preenchido pelos liberais. É suficiente que eles mostrem serem os únicos a compreender o papel que cabe ao Estado, esse mastodonte consumidor de energia do cidadão sem o menor escrúpulo. O povo sabe que o Estado lhe pesa nas costas. Sabe também que os políticos participam desse peso sem contrapartida. Então, basta que lhes mostrem alternativas. 

A palavra, portanto, está com os liberais. Temos a melhor mensagem, porque sabemos exatamente que incumbência deve ter o Estado, na linguagem do povo reconhecido como governo. Com liberdade para criar e empreender, o povo sairia da armadilha em que está metido. 

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Jair Bolsonaro é isso tudo

Jair Bolsonaro tem mesmo tanto poder?

Seis horas da manhã de domingo, leio numa das páginas do jornal O Globo, o seguinte título: “Confiança na democracia melhora, mesmo com extrema-direita mais agressiva”. Subentende-se disso uma relação de causa e efeito, onde a democracia melhora para contrariar a extrema-direita agressiva. E o título se confirma no artigo que encabeça, escrito pelo professor e cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais. Literalmente escreveu ele: 

“A pesquisa A Cara da democracia traz, em sua quinta edição, uma boa notícia para o país: aumentou o número de brasileiros que não aceitariam um golpe de Estado. Para 59% dos entrevistados, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo…”. 

Adiante, ele afirma: “No entanto, apesar dos avanços importantes em relação ao apoio à democracia no Brasil, há dados que precisam ser observados com bastante cuidado, pois apontam para uma direção contrária (grifo meu). Entre esses resultados está um enorme crescimento, no Brasil, da extrema-direita, especialmente nos últimos dois anos”. 

Caminhando-se mais no roteiro do artigo, chega-se ao seguinte fechamento: 

“(…), a pesquisa revela algo ainda mais intenso, qual seja, o aumento do número de brasileiros que se declaram de extrema-direita…Essa constatação, obtida a partir do levantamento, aponta na direção de um êxito relativo do bolsonarismo em estimular a formação de uma extrema-direita movimentalista (não sei o que representa o adjetivo, por isso grifo) no Brasil…”. 

Pronto, está, novamente, feita a linha de causa e efeito, Bolsonaro formou uma extrema-direita no Brasil e ela representa o risco de um golpe contra a democracia. Desse modo, o professor Leonardo joga por terra todo o valor que a pesquisa poderia ter para quem esteja interessado, de verdade, em conhecer o pensamento do povo brasileiro. 

Contudo, a pesquisa, com a declaração do professor ou sem ela, já teria falhas de método, porque tenta conhecer os valores dos entrevistados com a mesma metodologia que se usa para captar intenção de votos, onde o entrevistador escolhe um entre todos, com o critério simples de “esse sim”, “esse não” e “aprovo” ou “não aprovo”. 

O que é a democracia para quem respondeu que a defende, ou que tem preferência por ela, diante das três possibilidades de resposta apresentadas na pesquisa?  

  1. “Tanto faz um regime democrático ou não democrático”; 
  2. “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo” e 
  3. “Em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático”. 

Acredito que eu não precise me estender em considerações, porque o questionário da pesquisa e a análise do professor Leonardo falam por si mesmos sobre a intenção da matéria que nasceu com base na pesquisa: vincular dados quantitativos ao pensamento do Presidente Bolsonaro. 

O desejo dos intérpretes chega ao ponto de definir conspirações a partir de bobagens como terra plana, cloroquina, a relação da China com o vírus e a chegada do ser humano na lua, fazendo vínculo de tudo isso com a extrema-direita e da extrema-direta com o “formulador” Jair Bolsonaro.  

Quando se quer conhecer atitudes, motivações e comportamentos, o caminho não pode ser uma pesquisa quantitativa como quer  o jornal O Globo. Para cumprir esse papel, uma pesquisa deve permitir uma análise criteriosa das respostas a perguntas feitas com mais profundidade, algo que Sócrates ensinou o mundo a fazer 400 anos antes do nascimento de Cristo. 

O que é ser extrema-direita? Que circunstâncias alguém acredita que uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático? O que define como democracia quem prefere um regime não democrático?  

Antes da matéria publicada pelo jornal O Globo, a ONG britânica Article divulgou o “Relatório de Expressão Global de 2022”, onde noticia que o Brasil caiu da 31a posição no ranking dos mais livres, conquistada em 2015, para o 89o neste momento. Qual o motivo da queda? A introdução ao relatório esclarece: 

“O Brasil presenciou uma das maiores e chocantes deteriorações na última década sob a influência de um líder democraticamente eleito. O assédio do Presidente Jair Bolsonaro e a estigmatização da mídia andam juntas com persistentes ataques ao judiciário e questionamento à integridade do sistema…”.  O Relatório está disponível na íntegra, em inglês, na rede e a ele se pode ter acesso a partir de um link disponibilizado pelo Boletim da Liberdade, que continua na vanguarda, na garantia da liberdade de expressão. No Boletim todo e qualquer pensamento tem espaço se for relevante para formulações.  

Pois é, gente. Todo o material que me serviu de leitura e análise para o presente artigo me mostra um homem com poderes excepcionais para formar opinião e decidir o destino da Nação que, temporariamente, governa. Ele pode tudo pela lábia e esse é o conceito que querem nos empurrar. 

Ora, na verdade, Jair Bolsonaro é um sujeito que estava parado numa posição qualquer, enquanto a roda da vida se movimentou até encontrá-lo e ele, nela, se encaixou. Houve coincidência de pensamento e essa coincidência levou o eleitor ao voto e o voto colocou Jair Bolsonaro na Presidência. Somente isso. O Presidente tem mais poder para perder posições pelo que fala do que para conseguir adeptos. Isso está claro, claríssimo, na análise que se pode fazer das pesquisas que chegam até nós. 

Acontece que estamos em campanha, ocasião em que a todos e a todas é dada a liberdade de defenderem seus candidatos com qualquer argumento que lhes sirva. É natural. E é ótimo que assim seja. Melhor seria, contudo, se os eleitores brasileiros tivessem um pouquinho mais de discernimento para saber quando há intenção dos agentes políticos de enganá-los ou de esclarecê-los. É aqui que entra a Educação, uma ferramenta fantástica que dá às pessoas a capacidade de decidirem sem serem influenciadas por informações tendenciosas. 

Mas, que pena que o povo que decide as coisas no Brasil não percebe que a garantia para a democracia e o fim da pobreza é a liberdade, uma liberdade que só a Educação entrega. 

Enfim. É o país que temos. 

Boa semana para todos e todas. 

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Vice, serve para quê?

E o Vice? 

“Vice, serve para quê?” Eu ouvi isso de um amigo, alguém de quem respeito muito a inteligência e a capacidade de formular boas estratégias. Ouvi a pergunta, quando comentei com ele a escolha que o governador Cláudio Castro fez para a posição de candidato a vice-governador na chapa de reeleição. 

Não achei que foi a melhor escolha, porque sou defensor de que não se deve escolher um vice só para vencer eleição, mas para dar garantia ao eleitor de que, na ausência daquele ou daquela que escolheram para governar, poderão ser governados por alguém, que atenda às mesmas expectativas. 

Na escolha do vice se sabe se o titular tem a compreensão de um estadista ou de um sujeito que vive a ocasião e ponto final. Não se importa nem com a própria e inevitável morte, porque, uma vez morto, o que virá depois nem é com ele. Só os estadistas enxergam para além do próprio tempo. 

Ora, quem vier a votar no Cláudio Castro, se ele faltar por qualquer motivo, se sentirá de igual modo representado pelo Washington Reis? Eu não me sentiria. Cláudio Castro é o caso de um vice com zero de utilidade eleitoral, mas que, ao substituir o titular, fez cumprir as expectativas dos eleitores dele. E, neste sentido, melhor do que o destrambelhado Witzel faria. 

Os vices no Brasil merecem um capítulo da história só para eles. Nos governos militares, os mineiros serviram como vices. Alckmin, de Castelo Branco, Pedro Aleixo de Costa e Silva, Aureliano Chaves, de Figueiredo. Pedro Aleixo não teve boa sorte, porque quando o titular adoeceu e morreu, os milicos não quiseram saber dele. Deram-lhe o cartão vermelho na maior cara-de-pau. Tancredo tentou vingar Aleixo, mas morreu antes. 

João Goulart, quase não foi presidente. Algum tempo conseguiu ser presidente pela metade e quando decidiu ser por inteiro, mandaram o cara embora. A morte substituiu Tancredo por Sarney, ótimo vice para vencer a eleição no modelo que existia no Brasil, mas incapaz de responder às expectativas que o povo tinha com relação ao titular. 

Collor escolheu Itamar Franco para ser seu vice, por ser um ótimo nome para vencer a eleição, mas nada confiável quando precisou dele. Michel Temer, idem na relação com Dilma. E bem que Dilma sabia e por isso, esperneou para dar a vaga de vice a ele. 

Lula não se ocupou do vice. Fernando Henrique Cardoso também não. E, nos dois casos, se o Brasil precisasse dos vices estaria melhor servido do que com os titulares. Certamente. 

No Rio de Janeiro, os vices também têm história para contar. Benedita passou o diabo nas mãos do Garotinho. César Maia precisou do PSDB para vencer a segunda eleição para a Prefeitura do Rio. Fez de tudo para não precisar, mas, como teve necessidade, aceitou Otávio Leite na Vice-Prefeitura. Como nunca confiou no Otávio, não pode deixar a prefeitura para voltar a ser candidato a governador. Paciência! Ficou soterrado no Rio. 

Eduardo Paes vive situação semelhante com o Vice-Prefeito, que escolheu. Escaldado com a derrota para o governo do estado, Eduardo Paes quis fugir dos riscos, por menores que fossem, de perder uma eleição novamente.  Então, fez um acordo com o PL, para evitar Daciolo, entregou a vice a Nilton Caldeira e agora está agarrado à cadeira até vencer uma nova eleição e ter um vice que seja integralmente, ele, no comando da Prefeitura.

Encerro com uma resposta rápida para o meu amigo: Um vice serve para substituir o titular quando ele menos espera. Por isso, todo cuidado é pouco.