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O povo gosta de briga.

Briga boa e o povo gosta. 

Criou-se uma regra para a comunicação nas campanhas eleitorais, reforçada em 2014. A norma é esculhambar o adversário, difamá-lo e denunciá-lo para os abrir espaços ao autoelogio. 

Ninguém escapa. Chega-se ao ponto de envolver pais e filhos, amigos próximos, assessores, ex-esposas, ex-maridos, vizinhos, enfim, todas as pessoas que privam de alguma relação com os candidatos. É comum ouvir-se dizer: “Ah!, eles são filhos de fulano, são pais de sicrano, nomearam beltrano…”. Um processo que eu chamo de transferência de imagem negativa para quem tem alguma positiva. 

Isso funciona? Tem funcionado pelo fato de todos os candidatos adotarem o mesmo modelo, o voto ser obrigatório e as abstenções, os votos brancos e nulos não serem considerados. Como não existe um modelo com o qual se possa comparar e as eleições acontecem, difícil é, se não impossível, contestar o que se tem. 

Quando as campanhas receberam o auxílio das redes para enfrentar a mídia tradicional, rapidinho surgiram os chamados “operadores do lado B”. Eles e elas, profissionais de comunicação na rede, ficaram com o dever de divulgar e também produzir mensagens para ferir a imagem dos adversários. E quando nada de real conseguem, então, partem para algo que a comunicação denominou de “fake news”, uma adaptação de velha mentira à linguagem das redes. 

Para evitar que as ofensas pessoais cheguem muito longe, criou-se o “direito de resposta”, mas o instrumento terminou por ser, também, elemento de estratégia eleitoral. Os candidatos que pedem direito de resposta só querem mesmo o tempo sobressalente para enfrentar os adversários. A imprensa tem horror aos direitos de resposta e a Justiça mais horror ainda, porque isso acrescenta trabalho às agendas. 

Ocorre que a política não está resumida às campanhas eleitorais. Depois dela, quem vencer terá que exercer os mandatos recebidos pelo povo e não conseguirá fazer isso se levar a ferro e fogo a história que contou sobre os adversários. O povo entende isso? Por acaso, compreende Alckmin com Lula? Maia com Freixo? Marina com Lula? Bolsonaro com Centrão, Eduardo Paes com Serra e depois com Dilma? Com Maia contra Cabral, depois com Cabral contra Maia e depois com Maia, de novo? 

O povo acha engraçado, mas normal. Aprendeu, faz tempo, que as campanhas eleitorais são grandes oportunidades de entretenimento. Para os eleitores, os programas eleitorais na TV e os debates são espetáculos de humor. 

Se o modelo funciona, faz sentido mudá-lo? Não! Se em algum momento o povo entender que isso não serve, os profissionais de campanha e candidatos darão um jeito para fazer outros modelos funcionarem. Ou seja, o modo como as campanhas acontecem está nas mãos do povo e não dos candidatos e dos profissionais que realizam a tarefa de ajudar alguém a chegar ao poder. 

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OS ESCOMBROS -PSDB

Os escombros de 2022. 

Hoje, entrego a vocês o segundo artigo da série sobre a campanha para a Presidência da República. 

A eleição deste ano equipara-se a um furacão que, na escala Saffir-Simpson, poderia ser enquadrado na  categoria 2, com ventos no intervalo de 152 a 176 quilômetros por hora e alturas próximas de 3 metros. O furacão de 2018 foi mais cruel. Os dois eventos produziram escombros. Um deles, o PSDB, meu assunto de hoje. 

Os sinais fracos das ameaças e oportunidades, dois conceitos da estratégia, começam a ser enxergados pelos estrategistas antes de serem percebidos por quem não lida com o tema. O acidente com o PSDB na eleição deste ano para presidente é um exemplo. 

As ameaças à existência do PSDB deram sinais em 2005, no curso da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigou o mensalão. Lá também se deu a oportunidade para evitar o desastre, mas quem estava no comando do partido não percebeu. 

Na CPMI de 2005, o PT foi colocado nas cordas do ringue pelos jabs desferidos pelo PSDB contra o cabeça Luiz Inácio Lula da Silva. O PT quase foi a nocaute. Aventou-se a possibilidade de impeachment do Presidente da República. 

No caminho, contudo, descobriu-se, que o Senador Eduardo Azeredo, Presidente Nacional do PSDB, usou na campanha dele para reeleição ao governo de Minas Gerais, o mesmo método de financiamento que incriminava o PT. 

Naquele momento, o PSDB deveria ter jogado o Senador Azeredo ao mar, para salvar a tripulação e o navio. Foi a oportunidade de ouro para o partido mostrar que estava, de fato, com o desejo de combater os crimes denunciados por ele mesmo, de modo estridente, na CPMI.  

Contudo, na voz autorizada do deputado federal Eduardo Paes, figura proeminente no partido naquele tempo, o PSDB justificou a atitude do Senador Azeredo, embora condenasse a do PT. Eduardo Paes agiu com o discurso de “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. O povo entendeu o recado: “somos todos iguais”. 

O PSDB perdeu, então, a oportunidade de se consolidar na posição de combatente contra a corrupção e aumentou a ameaça à sua própria destruição, porque passou para a população brasileira a imagem de um sujeito roto que ri do esfarrapado. 

Logo em seguida, Lula conseguiu ser reeleito na disputa com Alckmin, que perdeu votos na passagem do primeiro para o segundo turno. Algo inédito! Depois, José Serra foi derrotado por Dilma Rousseff e Aécio, idem. 

Em 2010, o PSDB elegeu oito governadores – deu o suspiro da esperança, aquele que anuncia a morte – e em 2014, fez seis, em 2018, apenas três governadores. Dos três, dois quiseram ser candidatos a presidente este ano. Ficaram no caminho, depois de brigar um com o outro. 

Com o comando isolado em São Paulo, o PSDB tentou recuperar-se aproveitando-se da pandemia, do histriônico jeito de fazer as coisas do governador João Doria e da juventude sóbria do Prefeito Bruno Covas. 

Entretanto, o destino tirou Covas; a estratégia do Lula para fortalecer Fernando Haddad em São Paulo tirou Alckmin; as atitudes do Presidente Bolsonaro estimularam a arrogância do João Doria e tudo isso somado à vaidade intelectual de Fernando Henrique Cardoso fez do PSDB um dos escombros da eleição deste ano. 

O que será feito do PSDB após a eleição? Terminaram as ameaças? Haverá oportunidade de recuperação? Quem será capaz de conduzir o processo? 

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Um blá, blá, blá sobre o Rio.

“Com quem será? Com quem será?…”

O modo como funciona o sistema adotado pelo Brasil para as campanhas e eleições faz com que os eleitores sejam sempre derrotados. O que se viu no debate entre os candidatos ao governo do estado é exemplo. Ele aconteceu do mesmo modo como tem acontecido nas eleições para o governo do Rio, pelo menos desde a campanha de 1998, quando Garotinho derrotou César Maia. 

Valeram as acusações mútuas e a ausência de racionalidade no script produzido pelos veículos. Esteve presente a caixinha de surpresas, onde ficam depositadas as indicações dos temas para sorteio e ficou ausente do debate a liberdade para os candidatos escolherem os adversários para o confronto direto. A superficialidade é qualidade essencial para quem participa dos debates onde todo e qualquer tema precisa caber nos tempos curtos para explanação, réplicas e tréplicas. Houve também o engodo do “direito de resposta”. 

Paulo Ganime esteve melhor que os demais candidatos. Primeiro, por ser eloquente e estar bem à vontade na composição do discurso e da campanha. Não tem compromissos com os agentes políticos do estado nem da imprensa. Ganime nunca governou, não nomeou, não foi nomeado, não precisou tomar decisões rápidas e efetivas com a espada da lei em cima da cabeça. Ganime, então, pode atirar a primeira, a segunda, a terceira, a quarta até a milésima pedra naqueles que ele acusa. 

O debate foi embalado com a garantia dada pelos candidatos de não serem presos durante o mandato. Cláudio Castro, como está na cadeira que os adversários querem ocupar, foi o alvo preferencial. Desviou-se bem dos tiros que foram na direção dele. Comportou-se com equilíbrio. 

Encerrado o debate, ficou claro que o eleitor desempregado não terá dificuldade para acertar na escolha, porque todos os candidatos prometeram empregos para todos e para qualquer um. Quem anda com medo da violência que está nas ruas ou daquela que vai até a sua casa não errará na escolha, porque todos os candidatos estão prontos para fazer do estado um lugar de paz, um paraíso na Terra. 

Para a educação? Fique tranquilo o eleitor que não estuda ou que estuda e não aprende, pois os candidatos, todos eles, no debate, mostraram preocupação com o problema e prometeram solução. 

Ao comparar o último debate na TV Globo com o último debate na mesma TV no ano de 2018, podemos dizer que Cláudio Castro substituiu Witzel; Rodrigo Neves substituiu Eduardo Paes; Marcelo Freixo ficou ali entre Paes e Tarcísio, com vantagem para Eduardo Paes, que lhe emprestou o profissional de marketing. Paulo Ganime foi o outsider, um atirador de elite protegido pela trincheira que a falta de um histórico de ação política concede.  

O eleitor está agora com a tarefa de escolher. Está em desvantagem, por ter um pequeno leque de opções, já que os partidos têm donos e seus donos são os donos da bola e do campo e, portanto, decidem quem joga. 

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O debate

Você viu o debate na Globo? 

Gente, o objetivo de um debate é a conquista e sustentação de eleitores pela comparação O debate é mais uma etapa de um processo de seleção, que a gente chama de campanha.  

Para se considerar vitorioso num debate, um candidato não pode perder os eleitores que já tinha antes do evento e deve conquistar novos. Mas, qual o instrumento de medição do resultado de um debate, para que se possa dar o título de vencedor a um dos candidatos ? Há que usar as pesquisas, mas elas não andam com muito crédito. 

Assisti ao debate e não vi vencedores. Cada candidato entrou com os eleitores que tinha e saiu sem novos. Os eleitores indecisos viram um debate de acusações mútuas e, em alguns momentos, engraçado pela presença cômica do candidato padre, colocado no ambiente pelo Roberto Jefferson, exatamente, para complicar o jogo. 

Não gostei da posição do William Bonner numa plataforma que o colocava acima dos candidatos. A imagem era de superioridade ou de um juiz num jogo de voleibol. 

Lula foi identificado por todos os adversários como líder de uma organização criminosa e perdeu a linha quando o padre bateu mais pesado. A fragilidade, Lula deve ao modo como o STF resolveu o problema dele com a Justiça, porque a Corte, simplesmente, anulou os processos Lula, no entanto, insiste na tese da absolvição, que não convence, porque não aconteceu. Ele estaria melhor protegido com a denúncia de parcialidade do Juiz, que o julgou. 

Jair Bolsonaro teve uma atuação agressiva no primeiro bloco. Desnecessária. Mas, deve ter sido instruído para agir assim, já que a tradição diz ser o primeiro bloco, o de maior audiência. Nos demais blocos, o Presidente saiu-se melhor.  

Simone Tebet prometeu o mundo e permaneceu com o papel de dizer que resolverá a fome num estalar de dedos. Ninguém acredita. Soraya Thronicke ainda não aprendeu a conviver com os cílios postiços e com a caneta. Ela saiu do debate com a imagem de alguém que deseja criar mais um imposto, pois não conseguiu esclarecer o que pretende com o imposto único. 

Luiz Felipe D’ávila esteve bem, mas a imagem dele lembra a de um personagem das histórias em quadrinho, o Richie Rich, o Riquinho, da Harvey Comics. A imagem dele não ajuda muito. Ciro Gomes estava nervoso e o nervosismo dele tornou as exposições confusas ainda mais confusas as exposições que faz sobre os problemas do Brasil. 

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A ESTRATÉGIA DE JAIR BOLSONARO VENCEU.

O Presidente Jair Bolsonaro sabia que não conseguiria vencer no primeiro turno e fez toda a campanha dele 

com a atenção voltada para o segundo. Colocou ministros e ex-ministros na disputa, organizou a campanha no maior colégio eleitoral do Brasil, São Paulo, e fincou o pé no Rio de Janeiro. Bolsonaro elegeu as ex-ministras Damares e Teresa Cristina, os ex-ministros Rogério Marinho e Marcos Pontes. Obteve ainda como vitória, a eleição de Sérgio Moro e Hamilton Mourão para o Senado. 

Lula, por sua vez, jogou todas as fichas para vencer no primeiro turno, por saber do risco que, para ele, representa o segundo turno, ocasião em que Jair Bolsonaro poderá reconquistar os eleitores que perdeu por movimentos que fez após ser eleito. Eleitores que rejeitam Lula. 

A convicção do Presidente Jair Bolsonaro da impossibilidade de vencer no primeiro turno estava, certamente, baseada no resultado obtido pelo ex-presidente Lula na eleição de 2018. Condenado e preso, Lula conseguiu colocar Fernando Haddad no segundo turno com quase 30% dos votos válidos ( Bolsonaro obteve 46%). No segundo turno, Haddad alcançou 45% dos votos. Era de se esperar que Lula, com a imagem sem a condenação e a prisão, alcançasse esse percentual mais um pouco. Como aconteceu. 

Quem avalia estatísticas eleitorais diz que, desde 1989, todos os candidatos à Presidência que partiram na frente para o segundo turno ganharam a eleição e com base nisso, adiantam uma provável vitória do Lula. O dado é verídico, mas em política, como em todo o resto daquilo que diz respeito aos seres humanos, não existe “sempre”, nem existe, “nunca”. Tudo é possível. E já se viu que com Jair Bolsonaro, então, nem se fala. 

A estratégia do Presidente Jair Bolsonaro, portanto, venceu o primeiro tempo da eleição. Jair Bolsonaro chegou ao segundo turno com a possibilidade de contar com o trabalho dos ex-ministros agora senadores, de uma bancada de deputados federais que representa um quinto da Câmara dos Deputados e dos ferrenhos opositores do Lula, Sérgio Moro, General Mourão, Deltan Dallagnol e outros. Há também dois governadores de estados de peso. O do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que, ao vencer no primeiro turno, fica liberado para fazer a campanha do Presidente. Cláudio passou o primeiro turno sem buscar uma identificação direta, numa estratégia que funcionou. E há que se considerar o resultado obtido por Lula em Minas Gerais em contraposição à reeleição do Governador Romeu Zema. Ele, certamente, não terá prazer algum em conferir ao ex-presidente Lula, uma nova vitória em Minas Gerais. 

Na semana passada, comentei sobre o esfacelamento do PSDB, reafirmado com a derrota do governador de São Paulo. Na próxima semana, Ciro Gomes será o meu assunto sobre as campanhas deste ano. 

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Um bandido, um estúpido ou um vulnerável?

Carlo Cipolla, historiador da economia italiana e professor, escreveu “As leis fundamentais da estupidez humana”, um livro que pode nos ajudar a definir o voto. Ele classifica os seres humanos em quatro categorias, que ele diz, básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido. E ilustra os conceitos com a relação entre dois personagens: Tom e Dick. 

  1. Se Tom empreende uma ação para obter uma vantagem e produz uma vantagem também para Dick, Tom é uma pessoa inteligente. 
  2. Se Tom faz algo que lhe dá vantagem e provoca uma perda para Dick, Tom é um bandido.
  3. Se Tom ao agir, perder alguma coisa, mas produzir ganhos para Dick, Tom será alguém vulnerável. 
  4. Se Tom age e ao agir provoca perdas para Dick e para ele mesmo, aí teremos o Tom estúpido. 

Se, ao fazer a escolha você se deparar com um embate entre um estúpido e um bandido, fique com a quinta lei de Carlo Copolla: 

“Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa, por isso, uma pessoa estúpida é mais perigosa do que um bandido”. 

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BOLSONARO SABE O QUE FAZER?

A campanha presidencial deste ano começou em 2014, quando Jair Bolsonaro, após vencer a eleição para deputado federal, a sétima, saiu Brasil adentro reunindo multidões e distribuindo as imagens dos encontros nas redes, para demonstrar que era competitivo numa campanha que poderia levá-lo à vitória, por mais improvável que isso fosse.  

E, de fato, ele venceu a eleição em 2018, tomou posse em 2019 ainda convalescendo do atentado à faca que sofreu, mas não parou a campanha. O presidente assumiu o mandato no momento em que a economia esfacelada pela presidente Dilma Rousseff deu sinais de recuperação com Michel Temer e continuou num bom caminho com Paulo Guedes. O único adversário competitivo permanecia preso e assim deveria ficar um bom tempo ainda. O cenário era favorável à reeleição. 

Tudo corria bem no figurino das campanhas de Jair Bolsonaro, que nunca dispensaram as polêmicas. Como a imprensa está sempre à disposição delas, o presidente tem feito bom uso dos veículos tradicionais. E se o que ele diz e faz irrita os emissários, tanto melhor, porque a notícia terá o peso essencial para insuflar as massas, tanto aquelas a favor dele como as contrárias. 

Em 2020, apareceu a pandemia e deu um tranco no projeto de reeleição, porque tirou do Presidente os seus mais valiosos instrumentos de campanha: o contato pessoal e o resultado econômico do Brasil. O Presidente ficou tonto no início, mas reagiu rápido e nadou contra a maré, porque a favor dela não produziria polêmica. Só que isso gasta uma energia e tanto do bem maior de um político, a sua imagem.

A oposição viu nas reações do Presidente à pandemia uma brecha para interromper o projeto dele de reeleição e instalou a CPI do COVID-19. A imprensa passou, nesse caso, a ter duas agendas: a CPI e o Presidente e uma pauta só: as polêmicas criadas pelo confronto entre um e outro. Jair Bolsonaro permaneceu, por conseguinte, com todo o espaço de visibilidade. Ninguém além dele tinha voz a não ser para falar dele, fosse bem ou fosse mal. 

De qualquer forma, a exposição negativa abalou a imagem do Presidente e a situação levou alguns aliados a acreditar que seria o fim do projeto de reeleição. Eles resolveram, consequentemente, disputar. 

João Amoedo levantou a bandeira do impeachment, mas o partido dele rasgou a bandeira e deu-lhe um passa fora. Luiz Henrique Mandetta ergueu a voz contra o tratamento precoce e o presidente mandou que ele calasse. Ele não calou, foi demitido e teve alguns dias e algumas horas de glória, quando veio a notícia de ele ter saído com 76% de aprovação. Quando isso deixou de ser novidade, Mandetta perdeu o fôlego e voltou para Mato Grosso do Sul, onde as pesquisas indicam que perderá a eleição para o Senado. Teresa Cristina, aliada de Jair Bolsonaro, deverá vencer. 

As candidaturas de João Dória, Rodrigo Pacheco e Sérgio Moro viveram na sina das marés. Cresceram em alto mar para morrer na praia. Ciro Gomes seria o adversário e isso não era relevante para Jair Bolsonaro, porque Ciro poderia ser vencido pelo próprio Ciro como sempre foi.  

Tudo caminhava assim, quando no ano de 2021, um Ministro do Supremo Tribunal Federal entendeu que Lula deveria deixar a prisão, recuperar os direitos políticos e concorrer. E assim decidiu. 

Na linguagem da aviação, formou-se no céu, no trajeto do jato do presidente à caminho da reeleição, um CB, uma nuvem carregada com raios e granizos, capaz de derrubar o avião se o piloto não tiver o cuidado de desviar a rota escolhendo o lado correto por onde sair, o barlavento, ou contar com uma aeronave possante. 

Afinal, Lula preso alcançou, no segundo turno de 2018, mais de 40 milhões de votos, de gente que, certamente, não teve dúvidas sobre a participação dele nos negócios condenados pela Lava-Jato. Pessoas que não terão nenhuma dificuldade para votar num político condenado por atos de corrupção. Para esse público, pouco importa que a nulidade dos processos represente ou não absolvição. Portanto, gastar tempo com isso é uma baita bobagem. 

Para atravessar a turbulência, uma vez que desviar dela é impossível, Jair Bolsonaro reforçou a aeronave com a adesão de partidos com os quais não contou em 2018 e passa, com as multidões que reúne em todo o mundo, a imagem de vitória, para garantir que aqueles que abandonaram o projeto de reeleição no caminho, retornem mesmo, que constrangidos. 

A campanha de 2022 é, portanto, a campanha do século. Uma magnífica aula de estratégia política.  Voltarei a ela na próxima semana. Até lá. 

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MADUREIRA CHOROU!

Fui a Madureira durante a semana. Lá não ia desde de a campanha para Prefeitura do Rio em 2020. A situação de Madureira dá dó. As lojas na Edgard Romero estão com avisos de “Vende-se” de “Aluga-se”. As que restam para o comércio local, aquelas não entregues às grandes lojas e aos bancos, estão em péssimo estado. Uma delas, não. Essa está por conta  da campanha do deputado Dionísio Lins, que representa o bairro há “ séculos”. Ele foi vereador e no presente é deputado estadual. A esposa dele é a vereadora Vera Lins. Vereadora com alguns mandatos. 

As “valas” do BRT, criadas por Eduardo Paes, que vi em Madureira, combinam com a qualidade dos ônibus e das estações. Madureira parece que viveu uma guerra. Mas, não está sozinha. A cidade, quase toda, está meio largada e, como sempre, a Zona Norte, mais largada que todo o resto. A impressão que se tem é que não há governo em alguns locais e em outros pouco governo. 

Contudo, a gente pode ter esperança na possibilidade de melhora, porque o Prefeito Eduardo Paes conhece a cidade e tem experiência. É verdade que ele anda meio ocupado com outras tarefas. Ele esteve fora da Prefeitura por quatro anos e fora do Brasil quase todo esse tempo.  Ao voltar, deparou-se com uma pandemia que suspendeu o carnaval, que é uma das paixões dele. O chapéu panamá ficou guardado tempo demais. 

Quando a vida na cidade começou a voltar ao normal, Eduardo Paes precisou dar uma arrumada no PSD para abrigar os amigos e colaboradores que quisessem ser candidatos este ano. O partido, como a cidade,  estava meio largado, porque o Senador Arolde de Oliveira, Presidente Regional, faleceu e o suplente, Carlos Portinho, assumiu o mandato, arrumou as malas e mudou para o PL. 

Logo depois, começou o período que o bom humor dos legisladores brasileiros chamam de pré-campanha. Aí Eduardo Paes abraçou a candidatura de um velho amigo ao governo do estado, o advogado Felipe Santa Cruz. E tinha ainda o Presidente do Senado, que o Presidente Nacional do PSD, mestre Kassab, inventou de lançar candidato a Presidente da República e entregou o embrulho ao Eduardo Paes. Imaginem a trabalheira! Até a convenção de pré-lançamento do Senador Rodrigo Pacheco, Eduardo Paes organizou. 

Para nada, porque Felipe Santa Cruz não saiu do lugar e o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mineiro cuidadoso, fugiu da raia. Mas, Eduardo Paes é diligente. Ele não desistiu e não se  abateu. Agarrou a candidatura do ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves e entrou de cabeça na campanha do ex-presidente Lula.  

No meio de tudo isso, os  secretários da prefeitura precisavam sair para disputar as vagas de deputado estadual e federal. E aí não dá pra brincar. Trata-se de amigos. Eduardo Paes, então, partiu para as campanhas. Nada mais justo como gesto de lealdade.

Tenho certeza que quando tudo isso terminar, Eduardo Paes voltará a cuidar da cidade e aí, gente, não tem quem o segure. Com a disposição que ele tem, Santo Deus! O Rio de Janeiro voltará a ser um local onde valha a pena morar e visitar. 

Eduardo tem disposição e experiência. Ele foi prefeito oito anos ininterruptos e está de volta faz dois.  E tem mais: César Maia governou 12. Eduardo Paes esteve nos 12. Então, Eduardo Paes sabe o que fazer. 

Agora, é só a gente esperar passar a eleição. E nem precisa que os candidatos do Eduardo Paes ao governo do estado e à presidência sejam eleitos, porque ele é jeitoso e sabe conviver bem com todo mundo. 

Madureira um dia chorou pela belíssima Zaquia Jorge, que as praias da Barra levaram daqui. Mas, se Madureira hoje chora porque está em completo abandono, será um choro por pouco tempo. Logo, logo, Eduardo Paes olhará para lá. 

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Socorro!

Sou eleitor e você que, certamente, também deve ser, compreenderá o meu pedido de socorro. Deixe-me explicar. A Justiça Brasileira informou aos eleitores que o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, cometeu uma série de crimes e, por isso, foi condenado a uma longa pena de prisão. A Justiça deixou claro para os eleitores brasileiros, que ao cidadão condenado foram assegurados todos os recursos e o direito à defesa e ele, mesmo assim, não conseguiu provar inocência. A lei, instrumento principal de trabalho da Justiça, determina que em casos como esse, o cidadão torna-se inelegível. 

No entanto, com o ex-presidente ainda preso, a instância maior da Justiça informou aos eleitores que houve um erro com relação ao processo do ex-presidente, porque ele não poderia ter sido julgado pelo juiz que o julgou na primeira instância. Sendo assim, concluiu-se que o juiz julgador em primeira instância prejudicou o entendimento de todas as demais e os processos foram anulados. Com a decisão, o ex-presidente saiu da prisão e readquiriu os direitos políticos, o principal deles, o de votar e ser votado.   

Contudo, a Justiça, em nenhuma de suas instâncias, afirmou que o ex-presidente não merecia a condenação. Só avisou que quem o condenou a primeira vez decidiu sem poder decidir e não encaminhou o assunto para quem poderia. Vejam vocês a bomba que largaram no colo dos eleitores.  

E o problema não para por aí. A Justiça Eleitoral pune o fato de o eleitor ser induzido ao erro na hora do voto, em razão de informações inverídicas que receba de qualquer fonte. A isso os comunicadores pátrios pobres no uso da nossa língua, chamam de “fake news”. 

Mas, o candidato sobre o qual pairam dúvidas, diz que foi absolvido. Foi mesmo? Caso não tenha sido, ele divulga uma “fake news”. Como ele poderia ter sido absolvido se os processos foram anulados pelo único motivo de terem sido julgados por um juiz que não poderia ter feito isso? Absolvição não houve. Condenação, sim. No caso de um novo julgamento, poderia haver absolvição? Poderia, claro, mas ela ainda não ocorreu. A quem cabe a obrigação de esclarecer o eleitor antes que ele vá às urnas? Alguém dirá que esse é um papel a ser desempenhado pelos adversários do candidato em questão. Ora, não são eles elementos suspeitos, uma vez que desejam derrotar o candidato que afirma ter sido absolvido? 

Puxa vida! Em nome da boa informação como suporte para a decisão sobre que destino dar ao voto, a Justiça Eleitoral poderia ajudar muito ao se pronunciar para esclarecer se o ex-presidente foi mesmo absolvido ou se, simplesmente, ainda não foi julgado por quem deveria ter sido. E, no conjunto, dizer que pena pagará o juiz que criou tamanha confusão na cabeça do eleitor é uma tremenda injustiça para uma pessoa condenada, que deveria ter sido absolvida.   

Sem os esclarecimentos, o eleitor decidirá no escuro e isso não é nada bom para o exercício de uma democracia que a mesma Justiça diz tanto defender. 

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Aqui mora um otário.

Tem gente que vende o voto. Sabemos que tem e fala-se que o voto tem sido comprado por algo em torno de R $50,00 ou R $60,00. É pouco ou é muito? 

Só se saberá se o preço pago é o preço justo, conhecendo-se o benefício que o voto entrega para quem o compra. 

Vamos lá. Um voto para deputado estadual, deputado federal e senador dará ao eleito o acesso a um emprego seguro por quatro anos ou oito anos, com um salário que está acima dos R $30.000,00 reais. Dará ao eleito um excelente plano de saúde, transporte em carro próprio ou oficial com todas as despesas de locomoção pagas . E, além do salário, o eleito terá, durante 4 ou 8 anos, a liberdade para nomear quem ele quiser para compor o gabinete de trabalho. Os escolhidos podem ser parentes, amigos, correligionários ou alguns eleitores, nunca todos, porque as vagas não chegam aos milhares. Ficam nas dezenas. Então, certamente, quem vendeu o voto não terá lugar nos gabinetes, porque já recebeu a paga pelo bem que entregou. 

Está claro, portanto, que um voto comprado por R $50,00 ou R $60,00 dará acesso ao comprador à fortuna resultando da soma de todos os salários e vantagens que ele terá por 4 ou 8 anos. E como o cidadão ou cidadã eleitos já pagaram pelo que receberam, poderão curtir os benefícios sem prestarem contas. 

Como se resolverá essa relação entre os benefícios que o voto representa para o eleito e o valor dele para os eleitores? Dispensando-se o candidato de pagar em dinheiro pelo voto e exigir dele que pague em serviços. 

O eleitor pode exigir do candidato que ele coloque à disposição de seus eleitores toda a estrutura que recebe quando eleito e todas as prerrogativas também. A prerrogativa de votar os orçamentos públicos, por exemplo. A prerrogativa de fiscalizar os atos e decisões de governadores, secretários, ministros e presidente da república. A prerrogativa de passar férias na Disneylândia com a família.   

Mas, isso feito, como cobrar? Ora, deve-se cobrar todos os dias e horas possíveis, utilizando-se os canais de cobrança que a tecnologia colocou à disposição dos eleitores.  Deve-se cobrar quando o eleito retornar para pedir o voto novamente. Deve-se cobrar avisando aos desatentos sobre o que andam a fazer os eleitos. 

Agindo-se desse modo, o voto entregue ao candidato terá um valor bem maior do que o recebido pelo eleito. O voto será o melhor investimento que um eleitor poderá fazer para que ele tenha os governos a serviço dele. 

Quem vende o voto pelo preço em dinheiro que os candidatos oferecem fique à vontade para colocar um cartaz ou uma tabuleta na porta de frente de sua casa com os dizeres: “Aqui mora um otário com sua família”. Isso facilitará o trabalho dos candidatos compradores de votos, quando eles estiverem nas ruas em campanha. E eles já estão, para uma eleição que acontecerá logo, logo.