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A coerência não autoriza irresponsabilidade

Tudo o que diz e faz o presidente Jair Bolsonaro e a família dele pega fogo, pela personalidade incendiária deles e dos adversários. Assim aconteceu com uma frase postada pelo presidente no Twitter, quando o deputado federal Jean Wyllys comunicou a decisão de não retornar ao Brasil após as férias, para assumir um novo mandato de deputado federal.

Criticado, o presidente avisou que não fez referência à decisão do deputado e é mesmo possível, que não tenha feito. Mas, as circunstâncias de relacionamento entre os dois e a personalidade irônica do presidente autorizaram os comentaristas.  

O episódio torna relevante uma questão útil para a estratégia de comunicação neste tempo de quase absoluta transparência. Ela diz que não se deve esperar dos políticos o jeito tradicional de esconder o que pensam ou de evitar as polêmicas, porque os eleitores estão exigentes no quesito coerência. Nisso Jair Bolsonaro se enquadra. O presidente é a configuração exata do cidadão Jair Bolsonaro. Mas, até que ponto essa relação deve permanecer assim?

A estratégia examina o cenário e responde: “Sempre!”. Houve tempo mais fácil para as situações em que as imagens dos políticos não correspondiam à realidade. Hoje é demolidor. O que não quer dizer que o presidente da República está autorizado a agir ou falar por impulso. Ele, mais do que o cidadão comum, precisa refletir e organizar atitudes e palavras, para não precisar se desculpar ou desfazer.

As palavras de um presidente e de um líder levam as pessoas e as empresas a tomarem decisões que, no mundo moderno, são velozes. Isso gera custo. Imagine o que é ter um presidente ou um líder que decida ou fale em zigue-zague.

Jair Bolsonaro é o presidente da república e o que ele diz tem peso de decisão na vida das pessoas, das empresas, e significa muito para a imagem dele como líder de uma nação. E um líder tem necessidade de imagem positiva para o sucesso dos projetos que abraça.

Está bem pertinho de nós ainda o exemplo do ex-presidente Michel Temer. Com um tiquinho de imagem positiva, conquistada no confronto com a imagem extremamente negativa da ex-presidente Dilma (imagem não é valor absoluto), ele conseguiu realizar algumas proezas. Outras não fez, porque Joesley Batista, numa jogada negociada com o Ministério Público Federal,  gravou a conversa que teve com ele no porão do Palácio do Jaburu.

A questão para um presidente ou líder não está no falar ou agir do modo como age ou fala naturalmente, mas no modo como faz e com que propósito faz e diz, para não ter a obrigação de desdizer ou desmentir. O reconhecer um erro é ato humilde, mas produz um prejuízo enorme. É como pisar no calo de alguém: dói e nenhum pedido de desculpas do mundo alivia a dor.

Por Jackson Vasconcelos

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Dario tem um recado para Flavio Bolsonaro

Luis Maurício e Pedro Augusto, netos de Carlos Drummond de Andrade, reuniram textos do avô sobre as Copas do Mundo, de 1954 a 1986 – última dele com vida. Publicaram em 2014, pela Companhia das Letras, com o título “Quando é Dia de Futebol”.

De uma das minhas estantes, a obra andou a me provocar desde meu aniversário de 2017, quando a recebi de presente e lá a coloquei. A espera foi uma grande besteira minha. O livro é magnífico, não só por ser Drummond, mas pela maneira como foi composto pelos netos dele. É futebol na veia, escrito e vivido de um modo que não se tem mais no Brasil, e política, de um jeito que ainda teimamos ter.  

A Copa de 1954 está na abertura, com a frase: “O mérito da derrota consiste em isentar o derrotado de qualquer responsabilidade de vitória”. A frase foi para o resultado da Copa daquele ano, mas cabe como uma luva na eleição do ano passado. No mesmo artigo há outra passagem que me arrancou risos por uma história pessoal e por isso sacrifiquei-a com os meus marcadores de texto:

“Somos fluminenses ou vascos pela necessidade de optar, como somos liberais, socialistas ou reacionários. Apenas, se não é rara a mudança do indivíduo para outro partido, nunca se viu, que eu saiba, torcedor de um clube abandoná-lo em favor de outro”.

Na Copa de 58, o Brasil foi campeão. Drummond comemorou a vitória com “Celebremos”, onde há uma passagem muito atual:

“Não me venham insinuar que o futebol é o único motivo nacional de euforia e que com ele nos consolamos da ineficiência ou da inaptidão nos setores práticos. Essa vitória no estádio tem precisamente o encanto de abrir os olhos de muita gente para as discutidas e negadas capacidades brasileiras de organização, de persistência, de resistência, de espírito associativo e de técnica. Indica valores morais e eugênicos, saúde de corpo e de espírito, poder de adaptação e de superação. Não se trata de esconder nossas carências, mas de mostrar como vêm sendo corrigidas, como se temperam com virtualidades que a educação irá desvendando, e de assinalar o avanço imenso que nossa gente vai alcançando na descoberta de si mesma”.

Em 62, o Brasil conquistou o bicampeonato. João Goulart era Presidente da República de um parlamentarismo de ocasião e andava preocupado com a escolha de ministros. Drummond escreveu “Seleção de Ouro” que, pela qualidade dos atuais jogadores da seleção brasileira, não se pode atualizar.

“Este bi veio na hora H”, escreveu Drummond. “Os políticos procuram um rumo para a nação e não o encontram, ou querem encontrá-lo fora do lugar. A mudança do gabinete, que devia ser caso de rotina, assumiu ares de problema grave, e ninguém sabe como compor a nova equipe dirigente. Ninguém? É exagero. Modestamente vos proponho a equipe ideal, que não é nem pode ser outra senão a equipe detentora da Taça Jules Rimet. O Correio da Manhã pediu um time de ministros tão bem selecionado como o time de futebol; é o próprio…”. E Drummond lista jogadores e posição que cada um poderia ocupar no ministério. Hoje, seguramente, Drummond não correria o risco. Drummond não viveu para sofrer o vexame do 7×1, nem as vergonhas de 2018.

Quem começa a leitura não encerra antes do ponto final da obra toda, que termina com o posfácio do Juca Kfouri: “As palavras mais sublimes do futebol”.

É impossível destacar os melhores momentos de uma obra magnífica. “No Elevador”, é fantástico. Conta a vida de um ascensorista vascaíno. ‘Falou e disse” faz um tratado da frase famosa do Dario, “Não me venha com problemáticas, pois tenho solucionáticas”. Boa colocação que podemos apresentar, como lição de vida prática, ao nobre senador Flávio Bolsonaro, que anda por aí cheio de problemáticas.

“Parlamento da Rua”, é o retrato das discussões estéreis do futebol, como têm sido os debates nos parlamentos do Brasil todo, com a imprensa a ocupar o lugar do espírito de porco, “símbolo de individualismo renitente”. “O latim está vivo” é artigo de humor puro.

No livro há Pelé: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, com Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Há Garrincha, Tostão, Zagallo, Didi, Rivelino. Mas, há também Maluf no “Entre Céu e Terra, a bola”. Escreveu Drummond sobre Maluf: “O dr. Maluf presume-se jogador de qualquer posição, capaz até de, como goleiro, fazer gol ao devolver a bola, mas uma sólida marcação pode travar-lhe o ímpeto”. Demorou, mas travou.

E há Jânio, que “deixou de ser confiável ao abandonar o campo nos primeiros minutos do jogo”. Há também generais, pré-candidatos, que embolarão o meio-campo no afã de ocuparem a mesma área, que não dá para todos”. Uau! Serve bem para o que andam fazendo os generais no governo Bolsonaro!

Encerro, com a observação de Drummond sobre os juízes de futebol, que também tem bom espaço no que anda a acontecer com a política hoje: “A imparcialidade do juiz é um virtude que desejaríamos se voltasse para o nosso lado”.

Leiam. Vocês adorarão, com certeza.

Por Jackson Vasconcelos

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Entrevista do Ministro Sérgio Moro

O Ministro Sérgio Moro saiu-se muito bem na entrevista que concedeu ao Jornal das 10 da Globo News, presentes os jornalistas Heraldo Pereira, Andréia Sadi, Gerson Camarotti, Cristiana Lôbo e Merval Pereira. A primeira imagem do programa passou tensão na fisionomia do Ministro, situação que se desfez, com rapidez, já na primeira palavra dele. Ele cumprimentou todos os jornalistas, um a um, pelo nome, atitude inteligente de aproximação.

Os ensinadores de postura diriam que o Ministro esteve mal colocado na cadeira, porque encostado passando a ideia de tranquilidade. Eu já acho que a postura ajudou a descontrair o ambiente.

A chamada na internet deu ênfase ao tema que teve menor relevância em toda a entrevista, a flexibilização do porte de armas: “Moro diz que não há movimento para flexibilizar porte de armas”.

O assunto mais relevante, pela novidade que apresentou e pelas circunstâncias ocorridas no Ceará foi sobre o Sistema Prisional. Moro reafirmou a criação da Diretoria de Inteligência no âmbito prisional. Resposta concreta com perspectiva de bons resultados para a situação mais aflitiva no momento da entrevista.

Moro aproveitou as respostas a algumas questões para esclarecer os boatos que as mídias sociais e mesmo a imprensa criam vez por outra. A primeira situação surgiu quando o Ministro falou sobre o caso Cesare Battisti:

“Havia… Eu, particularmente, desejaria que ele tivesse vindo ao Brasil primeiro, para depois ser enviado para a Itália… Não porque, como foi dito por aí, por alguns, que seria um troféu… Não tinha nenhuma perspectiva disso, mas seria uma forma de o Brasil demonstrar que não seria mais um refúgio para criminosos de qualquer natureza, especialmente, por questões político-partidárias. Mas, tendo sido optado por outro caminho não teve nenhum problema quanto a isso…”. Ao longo da entrevista, houve ocorrências semelhantes, quando o Ministro aproveitou para alfinetar os boatos.

O caso Queiroz, evidentemente, entrou na pauta. Sérgio Moro deu tratamento técnico ao caso alertando que o ambiente correto para dele tratar é o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que investiga. Deu uma estocada nos ministros da Justiça que assumiam o papel de defensores de presidentes, o que levou o subconsciente dos ouvintes para o ex-ministro José Eduardo Cardozo que assumiu o papel de advogado de defesa da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para sair do caso Queiroz, uma vez que o ministro venceu a pauta, a jornalista Cristiana Lobo fez uma pergunta confusa sobre as atribuições do ministro na relação com o currículo dele.

Eraldo Pereira: “O senhor não deveria ter ido ao Ceará?” Ele, com segurança e elegância respondeu dizendo que fez o que deveria ter feito para devolver a normalidade.

Quando trataram da questão prisional, os jornalistas tentaram colocar o Ministro em saia justa com a lotação dos presídios e maus tratos. Ele, com tranquilidade levou o tema para o questão dos indultos e saiu-se muito bem.

Vale assistir!

Por Jackson Vasconcelos

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Mente na posse ou na campanha?

O que se pode esperar do discurso de posse de um presidente da república? Em que bases ele deve ser construído? Li o que consegui ler e ouvi o que consegui ouvir dos comentários sobre os dois discursos que fez o presidente Jair Bolsonaro no dia da posse. O primeiro, no plenário do Congresso Nacional. O segundo, no parlatório do Palácio do Planalto.

O Estadão se pronunciou em editorial, “A posse de Bolsonaro” com produtos do teclado da jornalista Vera Magalhães. A Folha de São Paulo participou com “Retórica da posse” e com as letras do Ricardo Balthazar, com “Bolsonaro rompe tradição ao ignorar desigualdade do país”. O Globo chegou com o velho hábito de dar uma no cravo e outra na ferradura. No cravo, quando fez meio elogio com “Acenos positivos ao entendimento e ao fim das divisões” e na pena do imortal Merval Pereira com “Duas Vozes”. Na ferradura, criticou os dois discursos com os artigos de Bernardo Mello Franco e Miriam Leitão.

Não fui ainda às páginas das revistas semanais. Mas, ontem, ao retornar de Teresópolis, ouvi Dora Kramer na Band News e alguns outros comentaristas que não consegui identificar, por precisar prestar mais atenção ao que acontecia em torno de mim na estrada. Na Band, Dora e todos os demais criticaram o presidente.

Em todos os veículos que visitei, tanto os críticos como os concordantes curvaram-se à iniciativa da primeira dama, Michelle Bolsonaro que, no parlatório, discursou antes do presidente, em linguagem de libras, interpretada por uma mulher, que a imprensa não nominou, mas qualificou como assessora. Os críticos foram unânimes: “o presidente permanece no palanque!” .

Minha praia é a estratégia, que precisa estar em todas as decisões, principalmente, na comunicação. Daí, eu pergunto: deveria o presidente na posse, falar para o regalo dos jornalistas e comentaristas ou reafirmar ao povo que o elegeu os compromissos que assumiu com ele?

Olhando da areia da minha praia, eu afirmo: o presidente acertou. A posse é o momento do encontro dos eleitores com os eleitos. É o grito mais alto de vitória. Não é hora dedicada aos jornalistas, nem aos políticos, nem aos críticos ou comentaristas. É hora sagrada na relação dos eleitos com os eleitores.

Mais a mais, que discurso poderia fazer o presidente Jair Bolsonaro para ser elogiado pelos comentaristas e críticos? Eles aceitariam bem na fala do presidente, o que cobram na crítica? Algo do tipo: “o que eu falei na campanha, só valeu para a campanha”.

O que esperavam a imprensa e os contrários? Que Jair Bolsonaro tivesse um discurso na campanha e outro no mandato. E se ele fizesse isso? Imaginem o que aconteceria!

A estratégia de comunicação do Presidente surpreendeu na campanha e surpreendeu na posse. Surpreendeu a imprensa, mas agradou os eleitores. Então, venceu!

Por Jackson Vasconcelos

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Do jeitinho que o diabo quer

Para decretar intervenção no Estado do Rio de Janeiro e não ferir o companheiro Pezão, o presidente da República, Michel Temer, inventou a intervenção de malandragem. Ele não nomeou um interventor e deixou que Pezão permanecesse no cargo. Pezão foi preso hoje.

No tempo do segundo impeachment, o Senado Federal, amparado no presidente do Supremo Tribunal Federal, inventou o impeachment de malandragem. Afastou a Dilma Rousseff da presidência da República, mas colocou uma vírgula que não tinha no texto constitucional para permitir que ela fosse candidata ao que quisesse. Ela foi e perdeu, porque o povo não engoliu a conversa-fiada de golpe. E, coisa recente, Dilma aparece denunciada na Lava-Jato, pelas razões que justificaram a prisão do Lula. Então, quem sabe?

O PT deu todos os jeitinhos que podia dar para Lula ser candidato e, se não fosse, ser eleito mesmo assim. O povo entendeu o jogo e deu xeque-mate no Lula.

Tem pouquinho tempo que os ministros do Supremo Tribunal Federal deram um jeitinho para aumentar os salários próprios e tentam outro jeitinho para tirar da cadeia uma porção de ladrões, que passou a vida a acreditar que os jeitinhos com a lei e com a Justiça seriam salvos-condutos para a arte de roubar. Muitos acreditaram nisso e sobreviveram, é bom que se diga, até que o povo cansou.

Cabral, Lula, Pezão e todos os amigos deles e quem sabe daqui a pouco a Dilma, devem estar se convencendo que o diabo existe e tem um jeitinho todo próprio para convencer os que ele apanha pelo caminho. John Milton, no poema “Paraíso Perdido”, diz que o diabo, para justificar o exílio, avisou aos discípulos: “Eu prefiro reinar no inferno do que servir no paraíso”.

Só que, meus caros, no inferno só um reina e não tem jeitinho que resolva a vida daqueles que querem tomar-lhe o lugar.

Por Jackson Vasconcelos

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Diante do espelho

Quem trabalha com estratégia descarta a intuição? Se fizer isso, errará muito. Mas, para não descartar e, ao contrário, trabalhar a intuição como elemento de estratégia, precisa entender o que ela é, exatamente.

Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, autor de “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”, pode ajudar. Logo na introdução à obra ele afirma:

“A psicologia da intuição precisa não envolve mágica alguma. Talvez a melhor declaração sucinta sobre ela seja a do grande Herbert Simon, que estudou mestres enxadristas e mostrou que após milhares de horas praticando eles passam a ver as peças no tabuleiro de modo diferente do resto de nós. Podemos sentir a falta de paciência de Simon com a mitificação da intuição especializada quando escreve: A situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada em sua memória, e a informação fornece a resposta. Intuição não é nada mais, nada menos que reconhecimento”.

Ou seja, a intuição não é adivinhação mística, não é o “eu acho isso ou acho aquilo”, situação bem comum aos pedantes. Para ser intuição, um ato ou decisão precisa estar revestida com a experiência. Algo como: “Eu já vi isso antes”; “Já senti esse cheiro”, ou coisa parecida, que liga, num estalo, o processo de decisão.

Numa campanha eleitoral a intuição poderá produzir boas decisões, para situações que dependem de decisões rápidas. Numa campanha eleitoral, os experientes, depois de tanto praticarem, olham as peças no tabuleiro de modo diferente do resto das pessoas. Por intuição, sabem quando um candidato pode ir bem ou pode quebrar a cara.

A minha intuição diz que quando a imagem do candidato difere daquilo que ele é na realidade, a chance de ele ser um dia descoberto e decepcionar é enorme. Collor, Jânio e há outros exemplos por aí.

Diante do espelho, mas longe dele, as rugas não aparecem. À medida que o personagem se aproxima, aí começa a ter problemas.

Por Jackson Vasconcelos

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O velho e cansado partido político

Você vê algum problema no fato do presidente da República aceitar indicações de nomes pelos partidos para compor o governo? Bernardo de Mello Franco não gosta do modelo e como quase todo mundo, tem motivos para não gostar.

Hábil como um diplomata, desses diplomatas de tempos menos ácidos, Bernardo Mello Franco, com fina ironia, marca posição contra o modelo, ao comentar a escolha de três ministros filiados ao DEM:  

“O velho PFL volta ao coração do poder”, diz ele no título do artigo que o Globo veiculou ontem, quarta-feira (21). Em seguida, Bernardo avança na provocação: “Depois de amargar 13 anos na oposição, o DEM retomou a vocação governista com Michel Temer… Na gestão que termina, o antigo PFL comandou a pasta da Educação…”.

Adiante, ele menciona a opinião do presidente do Democratas, ACM Neto, prefeito de Salvador: “São bons nomes, mas não são indicações partidárias”. Uma situação que Bernardo traduz como “escolhas pessoais do presidente”, para tocar na ferida: toda vez que um partido se refere à nomeação de um dos seus sem assumi-la, faz isso para lembrar que não está sendo atendido e, portanto, sente-se liberado para não atender quem nomeou.

No O Globo de hoje, quinta-feira (22), Bernardo manteve o tema, no artigo “Bolsonaro aposta contra os partidos”.

Mas, há como montar governos sem dividir responsabilidade com os aliados? Não há. Já está claro que não. O que fazer, então?

Assumir o modelo com franqueza e ter responsabilidade. Chega de governos que dividem com os partidos o botim do roubo, das vantagens pessoais, dos interesses de cada um. Depois do tsunami eleitoral que passou pelo Brasil, estamos em boa hora para os partidos acabarem de vez com o comportamento de fugirem da obrigação de disciplinar seus filiados.

Sejam por escolhas pessoais ou partidárias, os ministros filiados aos partidos carregam a marca da origem. É assim que o povo brasileiro vê todos eles. Quem duvida disso, que procure saber, as causas de muitos brasileiros e brasileiras terem fugido do PT e do MDB como o diabo foge da cruz. Eleitor não é bobo.

Se os partidos entenderem que é deles a obrigação de disciplinar os seus, certamente, os artigos do Bernardo Mello Franco serão menos irônicos quando fizerem referência a eles.

Por Jackson Vasconcelos

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Eliane e “Os sem-partido”

Lá pelo meio do artigo “Os sem-partido”, que publicou hoje, 20 de novembro, no Estadão, Eliane Cantanhêde escreve:

“E assim vão chegando ao novo governo economistas que comungam a mesma filosofia liberal, com prioridade fiscal, Estado enxuto e três desafios-chaves do mundo moderno: eficiência, produtividade e competitividade. Isso significa, entre outros, combater privilégios, promover reformas e assumir o ônus político das privatizações. Mas, e o “social”, palavrinha mágica num país desigual como o Brasil?”.

Dali por diante, Eliane segue a navegar nas considerações sobre a carta branca que recebeu Paulo Guedes para compor a equipe econômica do governo Jair Bolsonaro. Atrevo-me a responder à pergunta: “Mas, e o social…num país desigual como o Brasil”.

A resposta está no preâmbulo da questão. As razões da enorme desigualdade são o Estado paternalista, obeso, ineficiente, improdutivo e que produz uma iniciativa privada pouco, quase nada, competitiva. Um Estado que patrocina privilégios para os mais ricos, entre eles, o de contar com empresas estatais sem capacidade de investimento que compram dos ricos produtos inúteis.

Ou seja, a equação do Paulo Guedes tem as variáveis certas para produzir o melhor resultado para o problema da desigualdade.

No mais, o artigo da Eliane Cantanhêde, levanta lembranças dos governos militares para aproximá-los o mais que puder do governo Jair Bolsonaro. E faz isso, contabilizando o número de militares convocados pelo presidente eleito e replicando no Paulo Guedes as personalidades de Roberto Campos, Delfim e Simonsen. Esqueceu-se de Gudin.

Sei que o desejo da Eliane não é o de honrar os governos militares, mas que ela, com as lembranças que traz pode conseguir, isso pode. Houve muita coisa ruim nos governos militares instalados em 1964, mas se existiu algo bom esse algo foram Gudin, Campos, Simonsen e Delfim.

Além dos militares Jarbas Passarinho, Mário Andreazza e, entre outros, Rodrigo Octávio Jordão Ramos, general que se levantou contra as torturas de presos políticos e, antes de todos os demais generais, brigou pelo retorno da democracia. Meu filho mais velho recebeu o nome do general, exatamente, pelos compromissos dele com a democracia.

Por Jackson Vasconcelos

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Infalíveis?

Ciro Gomes foi entrevistado pelo Roberto D’Avila e Marina Silva pela CBN. Os dois comentaram o resultado da eleição presidencial e nenhum deles fez uma avaliação, qualquer que fosse, da própria campanha. Mas atribuíram as derrotas ao acaso e à decisão surpreendente dos eleitores.

Ciro e Marina foram candidatos a presidente outras vezes e também derrotados. Atribuíram as derrotas à deslealdade dos adversários na disputa. Tanto naquele tempo como hoje, há ausência de um atributo fundamental nos dois: a capacidade de reconhecer os próprios erros. A estratégia é um instrumento extraordinário e insubstituível de gestão de um projeto, seja ele no campo que for. Na política, então, nem se fala.

Um dos atributos da estratégia é a neutralização das ameaças aos projetos. Mas, para isso, elas precisam ser identificadas corretamente. Quando falta nos avaliadores a humildade, a chance de estarem a conceituar como ameaça uma oportunidade é enorme. Portanto, a possibilidade de tudo dar errado é grande.

Por si mesma, a estratégia não define resultados, mas ajuda muito a alcançá-los. Sejam eles o sucesso, sejam eles o fracasso. Um candidato pode vencer uma eleição com atitudes aleatórias, impulsionado pela pura sorte que, na leitura correta, é o aproveitamento da estratégia equivocada dos adversários. Mas, a vitória, sem estratégia, será efêmera.

Cito Marina Silva e Ciro Gomes, mas a formulação tem serventia também para Geraldo Alckmin e Haddad. Os dois são experientes em derrotas, sem avaliação cuidadosa depois delas. Geraldo já foi candidato a presidente. Haddad, sentado na cadeira de prefeito de São Paulo, com Lula solto e a tira-colo, perdeu a reeleição no primeiro turno.

Perder ou vencer uma eleição é do jogo, mas não avaliar corretamente as causas do resultado, é não ter medo do perigo. E isso serve também para os vencedores.

Por Jackson Vasconcelos