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Campanhas sem liberdade de expressão

Sou livre para me expressar como quiser e externar com liberdade tudo o que passa pela minha cabeça. É isso que se entende por livre manifestação do pensamento e no que consiste o debate sobre liberdade de expressão, um assunto que explodiu durante a semana passada, por causa do Flow Podcast. 

O sentido da liberdade é: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”, como foi dito pelo apóstolo Paulo à Igreja de Corinto, sobre alguns costumes dos crentes situados ali. Ou seja, uma pessoa pode manifestar livremente o pensamento, mas como isso produz um ato, esse ato gera consequências. 

Monark pensou o que quis e disse o que pensou. Provocou forte reação negativa no público, que pressionou os patrocinadores do programa e eles retiraram-se. Monark e seu sócio pagaram o preço. Se com a pena completa ou não, isso é relevante para a tese de que a liberdade tem consequências, para o bem e para o mal.  

Ora, a liberdade com limites não é liberdade, mas a liberdade sem consequência, essa sim, reprime a liberdade do outro. Nesse ponto entra no debate um conceito de impunidade. A manifestação do pensamento que se materializa em atos que prejudicam terceiros, deve ser punida, não reprimida. 

Quando alguém é impedido de manifestar livremente o pensamento, temos um ato de censura, que na modernidade recebeu um título adicional: cancelamento. Ou seja, a partir do momento que a manifestação do pensamento de uma pessoa, materializada em atos ou não, prejudica outra pessoa, esse alguém que prejudica perde o direito à livre manifestação. 

A ninguém deve ser negado o direito de manifestar livremente o pensamento, nem por precaução. Uma sociedade democrática é aquela que pune a manifestação de alguém que cause prejuízo a outro alguém, mas não a reprime, a menos que ela possa ser materializada numa atitude de violência física. “Bons vizinhos dependem de boas cercas”, disse Margareth Thatcher. 

Dito isso, ingresso nas campanhas eleitorais, porque nelas quase toda forma de manifestação do pensamento está proibida e a que é liberada, depende da interpretação dos juízes. A censura, monstro abominável, vive muito bem abrigado nas campanhas eleitorais. 

A manifestação livre do pensamento deveria ser a essência da comunicação nas campanhas eleitorais, porque nesse ambiente ela tem o objetivo adicional de esclarecer – de colocar às  claras todas as coisas, para que os eleitores possam decidir com as informações que precisam. Para decisões corretas, informações corretas. 

O modelo das campanhas eleitorais no Brasil reprime a manifestação do pensamento dos candidatos até mesmo nos debates promovidos pelos canais tradicionais de comunicação. Também desestimulam a participação dos eleitores no processo, pela proibição do uso de material criativo de campanha. Perseguir o adversário é mais fácil do que conquistar eleitores, numa situação em que a eleição é decidida pela rejeição ao outro e não pelo acolhimento. 

O resultado está aí, com eleitores encurralados entre o ódio de um candidato e o ódio do outro, numa situação de absurda polarização, porque promover o ódio e o rancor é mais fácil do que convencer o eleitor sobre o melhor caminho a tomar. 

Boa semana para todos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Flow e a fala sobre nazismo

No podcast da semana, Jackson Vasconcelos e Livia Andrade falam sobre a polêmica envolvendo o Flow Podcast, sobre a fala do anfitrião do programa, Monark, quando o mesmo se disse favorável à criação do Partido Nazista durante comentários sobre liberdade de expressão durante um bate-papo com a deputada federal Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (Podemos).

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Desta vez, com que presidente iremos?

Recebi a notícia do apoio do Prefeito Eduardo Paes ao Ciro Gomes e ao Rodrigo Neves quando comecei a escrever o artigo da semana. Lupi presente. Triste notícia, porque prova que o Rio continua a prender por aqui a alma do Brizola, referência de quase tudo o que é ruim na cidade e no estado e também por mostrar que o Prefeito perde a oportunidade de ser um líder por si mesmo. A bandeira de seu partido no estado. É uma pena. Eduardo Paes está pronto, tem qualidade e experiência política e administrativa suficientes para ser o cabeça de um grupo político e de um partido e não mais um coadjuvante. 

Mas, sigamos o caminho que tracei para o texto de agora. 

Em 1989, Fernando Collor de Mello foi eleito Presidente da República e no Estado do Rio de Janeiro obteve três vezes menos votos que Lula. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente no primeiro turno, com apenas três mil votos a menos que Lula no estado. Em todas as outras eleições os cariocas e fluminenses deram ao vencedor uma larga margem de votos sobre o derrotado. Confira: 

  1. 1994: Fernando Henrique – 3.102.664 votos 
    Lula – 1.689.772 votos 
  1. 2002: Lula – 6.318.104 votos, 
    Serra – 1.682.472 votos 
  1. 2006: Lula – 5.532.284 votos 
    Alckmin – 2.406.487 votos
  1. 2010: Dilma – 4.934.077 votos 
    Serra – 3.223.891 votos 
  1. 2014: Dilma – 4.488.183 votos
    Aécio – 3.681.088 votos
  1. 2018: Bolsonaro – 5.669.059 votos
    Haddad – 2.673.386 votos. 

Além de votos, o povo do estado envia dinheiro para o trabalho dos presidentes. Quase 15% do que é arrecadado pela União acontece aqui. 

Diante disso, seria de se esperar que os presidentes e a presidente tivessem dado ao povo do estado algum reconhecimento. Mas, o Rio, cidade e estado, sequer na retórica das campanhas estiveram presentes e pelo andar dos movimentos essa prática permanece. O Rio foi esquecido mesmo quando, recentemente, por coincidência, os três poderes da União estiveram sob o comando de gente daqui. 

Paulo Guedes, o ministro forte da Economia, passeia em Ipanema, curte o nascer e o pôr do sol e ponto final. Jair Bolsonaro faz de São Paulo e do nordeste a sua avenida. Rodrigo Maia bateu asas. Fux está lá, mas ainda não está aqui. As agendas do Rio não são a agenda dele. 

Quando assumem a função, os presidentes cobrem o Rio com eventos internacionais, porque a cidade lhes oferece o melhor palco do mundo. E, nós, aqui, ficamos agradecidos, festejamos, sem exigir as contrapartidas essenciais para fazer dos eventos, pelo menos, legados permanentes. Fazemos as festas, colocamos os presidentes nos palcos, batendo palmas para os ministros e quando tudo termina, ficamos com o dever de, sozinhos, dar um jeito na casa. 

E vejam que o Rio precisa de pouca coisa. Eu diria de uma coisa só: que a União cuide do que lhe cabe na Segurança Pública, assim como faz no tempo dos eventos internacionais. E onde está o nosso problema na segurança pública? 

Há os que dizem ser o fato de, entre o povo, uns serem ricos demais e outros pobres miseráveis. Se for esse o problema, podemos cuidar dele nós mesmos. Basta que se acabe de uma vez por todas com a naturalidade com que as armas estão nas ruas, em todo canto. E o modo como se faz grande fortuna aqui originada no crime. Armas e lavagem de dinheiro!

As armas são os instrumentos de valentia das milícias, dos traficantes, do abuso de autoridade e das facções. Olhe lá a quem cabe evitar isso. Está com todas as letras numa lei de 2003, a 10.828. 

Para evitar que o dinheiro ilegal corra fácil para financiar as armas, há os olhos do Conselho de Controle das Atividades Financeiras, COAF, que já esteve no Ministério da Segurança Pública e Justiça e por hora nem sei por onde anda, porque, na queda de braço entre Guedes e Moro deve ter ido bater no Banco Central. 

Mas, o COAF fez notícia por aqui, mas só para dizer que existe um Senador, que quando deputado, junto com os colegas, tomou dinheiro de quem trabalhava para eles. É o COAF, no papel de partido político de oposição. 

O Rio precisa que seus líderes exijam mais dos presidentes. 

Até a próxima.

*Artigo publicado no Diário do Rio.

Por Jackson Vasconcelos

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Eleição no Rio: Na dúvida, não ultrapasse

Quem lida com segurança pública, como ofício, curiosidade ou esperança, seja para prestígio intelectual ou apresentar soluções, deve ler o capítulo dez do livro “Sergio Moro – Contra o Sistema da Corrupção”, onde está o relato dele sobre o trabalho que ele e a equipe fizeram e tentaram fazer na segurança pública.  

Lá está demonstrada com resultados, uma estratégia, que se aplicada às políticas públicas de qualquer natureza, oferecerá sucesso. É o modelo de ínsulas, que conheci ao ler Alexandre, o Grande e as considerações e aulas do estrategista Luiz Fernando da Silva Pinto, melhor intérprete dele. É o modelo de amostragem. Separa-se do ambiente onde está o problema, um território específico, uma miniatura representativa do todo, e a ele se aplica a solução. Mede-se os resultados, identifica-se os entraves, faz-se os ajustes e aplica-se no todo.   

Sergio Moro disserta sobre o projeto “Em Frente Brasil”, criado por ele, e as cidades de Ananindeua, no Pará; Goiânia, em Goiás; Paulista, em Pernambuco; Cariacica, no Espírito Santo; e São José dos Pinhais, no Paraná, formaram o campo de testes do baixo-relevo que seria utilizado no Rio de Janeiro. Movido pela vaidade pessoal, Moro não resistiu aos trancos do presidente, pegou o boné e caiu fora, antes de aplicar o modelo no Rio de Janeiro. O Rio tem disso. 

As notícias das atitudes firmes do Governo do Estado contra as milícias e nas ações de retomada dos territórios que estão há muito tempo sob o comando do crime indicam que o governador Cláudio Castro fez uma boa escolha ao designar Allan Turnowski para a Segurança Pública e que o delegado conhece o modelo e aplica bem o modelo de ínsulas, que dará certo. Já se fez assim com as UPPs, que não deram certo, porque os resultados das ínsulas fizeram subir o grau de vaidade e arrogância nos aplicadores do modelo. Eles cantaram vitória antes do término da guerra. O Rio tem disso. 

Tive a oportunidade de estar com o delegado Allan algumas vezes – poucas – durante a campanha de 2018, no cumprimento da decisão do Indio da Costa de construir um bom plano para a segurança pública. Indio foi candidato ao Governo do Estado com uma campanha que, dividida com Eduardo Paes, facilitou a vitória do Wilson Witzel e, de modo indireto e inesperado, colocou Cláudio Castro na cadeira do governador. 

Naquela campanha, obtivemos o apoio do Centro de Liderança Política, indicado pelo Carlos Portinho, hoje Senador. Ocorreram dois seminários, um no Rio e outro em São, coordenados por Leandro Piquet e bancados pelo PSD, por autorização de Gilberto Kassab. Não sei onde anda esse material, mas o PSD deve ter. 

Estamos a meio passo da ocasião de escolher quem governará o estado pelos próximos quatro anos e os candidatos se movimentam. Ao que vejo, não há muitos. O jornalista Ascânio Seleme publicou, no sábado, “E o Rio, como vota?”, para dizer que no páreo estão Marcelo Freixo e Claudio Castro. Freixo é uma interrogação sobre o que estaria disposto a fazer no governo do estado e o que de fato faria. Então, me resta dizer: na dúvida, não ultrapasse. Fiquemos onde estamos, porque está de bom tamanho. 

*Artigo publicado no Diário do Rio

Por Jackson Vasconcelos

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Um bandido? Um estúpido? Um vulnerável?

É cedo ainda para você decidir, assim de pronto, a quem você dará o voto para presidir o Brasil, governar o estado onde você mora ou representá-lo na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. 

Contudo, mesmo que você já tenha escolhido, sugiro que reavalie a escolha que fez a partir dos conceitos que eu encontrei num livrinho muito legal, que eu qualifiquei pelo diminutivo só por ter poucas páginas. O conteúdo dele, se consumido devagar, com a imaginação solta, caberia numa enciclopédia. 

Carlo Cipolla, historiador da economia italiana e professor, como quase sempre são os historiadores, escreveu “As leis fundamentais da estupidez humana”, uma obra que pode nos ajudar a definir o voto e para isso, proponho que você faça um desenho desses que se usava na alfabetização de crianças, onde, de um lado da folha se terá os rostos dos candidatos e do outro as qualificações. Com uma linha, você poderá unir a personalidade ao rosto e decidir. 

Carlo Cipolla classifica os seres humanos em quatro categorias, que ele diz, básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido. E ilustra, na relação entre dois personagens, Tom e Dick. 

  1. Se Tom empreende uma ação para obter uma vantagem e produz uma vantagem também para Dick, Tom é uma pessoa inteligente. 
  2. Se Tom faz algo que lhe dá vantagem e provoca uma perda para Dick, Tom é um bandido.
  3. Se Tom ao agir, perder alguma coisa, mas produzir ganhos para Dick, Tom será alguém vulnerável. 
  4. Se Tom age e ao agir provoca perdas para Dick e para ele mesmo, aí teremos o Tom estúpido. 

De pronto, logo que li a classificação de Cipolla, percebi que no Brasil, há eleitores vulneráveis, aqueles que garantem vantagens aos eleitos e uma perda enorme para si mesmos. Isso, quando votam e quando não votam, porque por aqui o “não voto” é jogado fora e valoriza a decisão do eleitor que preferiu votar. Temos, aqui, mais um exemplo de estupidez. 

Liste, sugiro, os candidatos que você conhece, mesmo que você já tenha tomado a sua decisão. Do outro lado, coloque a classificação oferecida pelo Carlo Cipolla e como acontecia nas aulas de alfabetização de crianças, com uma linha ou traço, um personagem e personalidade. Pode ser um exercício interessante. 

Quem serão os candidatos estúpidos? Os bandidos? Os vulneráveis? Os inteligentes? Feitas as relações, faça a sua escolha. E se você, porventura, ficar na dúvida entre os candidatos estúpidos e bandidos, consulte a quinta lei de Carlo Cipolla:

“Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa, por isso, uma pessoa estúpida é mais perigosa do que um bandido”. 

Encerro com um complemento. Quando você escolhe um estúpido só para ter vantagem para você mesmo, você estará, segundo Cipolla, agindo como bandido. E se você escolher um bandido, para dar vantagem a ele sem levar vantagem alguma, agirá como um estúpido. Eu ainda acredito na inteligência. 

Boa semana para todos. E por falar em boa semana, não custa dizer que os estúpidos farão da semana uma perda pra si e para os outros e os inteligentes, um benefício para si e para todos os demais. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Curiosidades: Eleição em Portugal

A democracia é um ambiente sadio e sábio. É ótimo viver nele, porque, com um título de eleitor nas mãos, a gente consegue dizer como quer que os governos funcionem. Assim foi em Portugal, na eleição antecipada, que ocorreu no domingo. O eleitor decidiu que o Primeiro-Ministro precisa ter liberdade para governar. Os institutos de pesquisas calcularam mal.

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Sérgio Moro no Flow: Uma oportunidade e muitas ameaças

Sérgio Moro cumpriu uma verdadeira maratona no podcast Flow. Ficou lá cinco horas. É, portanto, de se esperar que ele tenha dito tudo o que gostaria de dizer sobre todos os assuntos que lhe foram apresentados. 

Moro tentou ser didático e estava descontraído. Claramente, a metamorfose quase se completou. Ele perdeu a toga e começa a ganhar o colorido de uma nova pele. Os entrevistadores, Monark e Igor, mostraram curiosidades que as pessoas não envolvidas com a política têm. Um treino e tanto para um candidato. 

Moro explicou o contrato dele com a empresa de consultoria para a qual trabalhou depois que deixou o Ministério da Justiça. Disse algo confuso, mas não comprometedor, quando falou sobre receber por um “CNPJ que não é o CNPJ do outro…”, algo assim. 

Algumas passagens mostraram que Moro, se eleito, terá dificuldades para conviver com o Congresso Nacional. Ele denunciou a existência de um pacto no Congresso contra o combate à corrupção, formado pelos “fisiológicos do Centrão, pela turma do PT e por gente do Bolsonaro”. O que sobraria, então, no Congresso? Um discurso bom para a sociedade, mas péssimo para o meio político, onde Moro terá que viver se eleito. E, na mesma linha, disse: “Ah! Ministro da Justiça! Grande porcaria!”

Em seguida, Moro apresentou uma denúncia, sem apresentar o denunciado. Ele disse: “Até tem uma história que é bacana…” e relatou que no tempo da investigação do caso Banestado, ele e um delegado receberam a visita de “um deputado do PT”, que foi pedir para aliviar a vida dos banqueiros que seriam presos. Certamente, na campanha, alguém cobrará dele o nome do cidadão. 

Moro assumiu vários compromissos e um deles será o de acabar com a reeleição para Presidente, mas o modo como disse isso, confirma a dificuldade que ele tem para conviver com a política. Disse ele: “Se o Presidente da República em começo do mandato encaminhar um projeto acabando com a reeleição, inclusive para ele, o Congresso aprova na hora. Os caras não querem você lá de novo depois”. Eis o que ele pensa da relação que o Congresso terá com ele se eleito. Complicado, não? 

Mas, deixei para o final as duas questões que julguei mais delicadas de toda a entrevista. As duas no campo jurídico. A primeira, surgiu na resposta do Moro à pergunta do Igor se ele não poderia ter condenado as pessoas sem precisar quebrar as empresas. Ele disse que as empresas, ao descobrirem o problema, deveriam ter agido. Mas, quem são as empresas? Os sócios, certamente. Sendo isso, eles foram penalizados por saberem e não denunciarem ou por não saberem? 

Eram obrigados a saber? 

Outro ponto diz respeito à condenação do Lula. Moro foi provocado pelo Igor, que fez a pergunta fundamental: “Qual a prova irrefutável?” Moro citou as nomeações que o governo fez de gente que recebeu propina para entregar aos partidos e “Aos políticos, para enriquecimento ilícito”. E disse mais: o sítio era dele, porque ele frequentava o local. Complicado, não? E a frase mais forte foi: “Claro que são percepções, são avaliações”. 

O tema combate às drogas mostrou que Sérgio Moro não consegue sustentar a tese de proibição do uso da maconha. É uma fragilidade. Ele deveria ter mais consistência no tema. O Monark deixou uma montanha de flancos abertos e Moro não soube aproveitar. 

Assistir às cinco horas de entrevista do Moro é algo que os adversários com certeza farão. Duas horas e meia foram só sobre Lava-Jato e vida pessoal. Ele até se saiu bem, mas deixou uma série de fragilidades nos argumentos de defesa de suas decisões na Lava-Jato e nas posições que assumiu com relação aos políticos. E também no campo das propostas que apresentou. 

Por Jackson Vasconcelos

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Estrategista não é profeta

O meu dia de trabalho mal tinha iniciado na sexta-feira, quando um aluno de comunicação da Estácio de Sá, Joel, fez contato comigo por vídeo. Ele queria saber o que, exatamente, faz um estrategista numa campanha eleitoral. “Vocês conseguem garantir a vitória de um candidato?”, perguntou ele. 

“Não. Não conseguimos”, eu respondi. Pode ser que os profetas tenham essa habilidade e, se tiverem, ainda precisarão estar fora da ressalva feita por Jesus Cristo, quando declarou que “não há profeta sem honra senão na sua própria pátria, entre os seus parentes e na sua casa”. Como eleição é ato de aproximação, as previsões, nesse ambiente, são péssimas companheiras mesmo para os profetas.

O trabalho dos estrategistas é melhorar as vantagens comparativas de um candidato e reduzir as variáveis existentes na equação que pode levá-lo à vitória, ou, pelo menos, garantir que elas funcionarão sempre a favor do resultado positivo. Para isso, dependemos de informações, dados, um bom de conhecimento da história das eleições e saber interpretar corretamente tudo isso. Somos confeccionadores de GPS.  

Quando recebemos a solicitação de orientar uma campanha, a primeira providência é semelhante a dos médicos quando recebem seus pacientes numa primeira consulta: ouví-los com atenção, para conhecer a história deles e saber como ajudá-los. 

O diagnóstico dependerá, ainda, dos exames, ou seja, da leitura das pesquisas e da análise do cenário – ambiente – onde a campanha ocorrerá e, com menos dúvida possível, como se comportam os  adversários, quando submetidos a uma campanha. 

Todo o trabalho de análise encaminha-se para um objetivo só: a construção do discurso, das mensagens e ações que terão força para convencer os eleitores. E, no conjunto disso tudo, forma-se a imagem.  

Uma campanha eleitoral é tão e exclusivamente, uma campanha de comunicação, que necessita de uma série de elementos de convencimento, porque vencerá a eleição o candidato que conquistar o maior número de eleitores. 

Está claro, portanto, que as campanhas eleitorais são disputas entre candidatos no campo da comunicação e imagem. E a decisão do eleitor é um ato de escolha. Então, cabe ao estrategista facilitar a seleção na direção do candidato que o contrata, um trabalho que inclui criar as condições ideais de comparação entre o candidato e os adversários. 

Por isso, cabe também ao estrategista conhecer muito bem os adversários, para saber o que eles têm de atributos positivos e negativos. Ideal é que os conheça tão bem ou proximamente tão bem quando conhece o candidato que defende.  

Elaborada a estratégia, nasce o discurso e o modo como ele deve ser transmitido. Um discurso confuso, incoerente com a história do candidato ou cheio de ruídos, ajuda os adversários. Construído o discurso, dele saem as mensagens e adaptações aos diversos veículos de comunicação, sempre alertado o estrategista de que os melhores veículos são o próprio candidato e os adversários. E a embalagem, nesse caso, pode ajudar bastante.

Com todo esse trabalho, não se tem nenhuma garantia de vitória? Haverá mais facilidade, contudo, garantia não, porque lidamos com seres humanos que têm liberdade para mudar de opinião até a hora do voto. 

Por isso, o trabalho do estrategista só se encerra com o processo de votação. Eu diria que um estrategista precisa ser panótico: olhar de uma só vez todas as partes e elementos que compõem a campanha, para amarrar as situações nos conceitos de oportunidade e ameaça e precisa fazer isso numa velocidade crescente, no tempo em que os eleitores se aproximam da hora de votar. 

Joel encerrou a conversa com uma pergunta mais simples: “Pode existir campanha sem estratégia?”. “Claro”, respondi. Existem muitas. Você pode decidir ir a Disney no final do ano com seus filhos e comprar a passagem no dia da viagem e chegar lá sem reservas e sem previsão do que fará. Isso pode ser uma boa aventura, mas tem tudo pra dar errado, não? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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A primeira lei de Newton

Do meu amigo, Rubem Medina, recebi a última pesquisa da XP Investimentos, que foi ao campo nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro, para ouvir 1.000 pessoas sobre o desempenho do governo do Presidente Jair Bolsonaro. 

A pesquisa mostra que antes da posse dele, 63% da população acreditava que o governo seria ótimo ou bom. Uma expectativa natural para o início de um mandato que, no entanto, mudou rápido até chegar à 34% e, praticamente, estacionar aí. A expectativa de o governo ser ruim ou péssimo esteve, no início do mandato, em 15%. Hoje 33% da população já acreditam que o restante do mandato poderá ser ruim ou péssimo. 

Os dados me autorizam afirmar, então, que no ar paira alguma decepção. Mas, com o quê? O que prometeu o governo? 

Jair Bolsonaro assumiu o compromisso de evitar a corrupção, enfrentar o crime, proteger os costumes dos conservadores e destravar a economia, travada pelo Estado.  

Sobre a corrupção, a pesquisa mostra que no mês da posse, 16% das pessoas acreditaram que nos seis meses seguintes a corrupção teria diminuído ou diminuído muito. Agora, em fevereiro, 33% acreditam nisso para os próximos seis meses. Uma evolução a favor do governo. Na outra ponta, 54% das pessoas ouvidas tinham a expectativa de aumento da corrupção nos seis meses seguintes. Hoje, apenas 28% acreditam nisso. Outro dado altamente favorável ao governo. Então, no quesito percepção da corrupção o governo vai bem. 

No combate à violência, a pesquisa mostrou que 47% acreditam que a violência e o crime diminuíram. Só 20% têm o sentimento de que aumentou. Então, aqui também o governo se sai bem. 

Sobre a economia, os dados mostram que 47% acreditam que a economia está no caminho certo e 40% acreditam que não. O governo vence, mas por pouco. Existe um racha na população. 

A expectativa com a economia é, portanto, o quesito frágil. No entanto, o governo Bolsonaro está blindado neste campo, porque só 15% dos eleitores lhe conferem culpa pela desaceleração ou crescimento pífio. 55% creditam o resultado ruim aos governos de Lula (31%), de Dilma (13%) e de Temer (11%). E há os que creditam o resultado a fatores externos, (13%). Então, para 68% da população, os resultados econômicos ruins ainda não atingem o governo. 

Que maravilha de cenário! Ah se o governo aproveitasse melhor esse momento! Mas, apesar de tudo isso, percebe-se que o governo se atrapalha ao mesmo tempo em que passa a ideia de estar inerte diante dos problemas nacionais. 

Para falar de inércia, ninguém melhor que o físico Isaac Newton. Diz ele:  “Se a força resultante sobre um corpo é nula, ele permanece em repouso… Um corpo em repouso tende, por inércia, permanecer em repouso… Para que as tendências inerciais de um corpo sejam vencidas, é necessária a intervenção de uma força externa”. 

O governo precisa de aceleração. Tudo indica que a vontade do governo – pelo menos de alguns de seus agentes –  seja caminhar para a frente, para ampliar o número de pessoas que acham o governo ótimo e bom. Mas, Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros não ajudam. 

A oposição, evidentemente, tem preferência natural por empurrar o governo na direção do ruim e péssimo, mas não parece saber exatamente como fazer isso. Busca auxílio na segunda parte da primeira lei de Newton: tanto mais atrito menos aceleração. Toda vez que o governo se mexe, a oposição cria atritos e, curiosamente, tem contado com a ajuda do presidente e de alguns de seus ministros. Eta gente que gosta de atritos, de confusão! 

A pesquisa XP mostra que, por enquanto, há paciência na população, mas, a qualquer momento isso pode mudar e, se e quando mudar, o governo terá conseguido a façanha de transformar uma oportunidade de ouro em uma ameaça e tanto. Aguardemos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos