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A toga assume o papel do voto. É um bom caminho?

 

O que mais ouço hoje é: “nunca vi coisa igual à crise que estamos vivendo”. As crises são incomparáveis, por muitos motivos, mas a verdade por trás da frase é o reconhecimento de que o Brasil viveu muitas outras. Quase todas resolvidas pela política, modo de resolver pacificamente os conflitos sociais. A violência é a ausência da política.

A crise do Brasil Colônia com Portugal resolveu-se com o Grito da Independência, depois de ser ele intensamente negociado com as lideranças. Para abolir a escravatura sem conflitos e violência, o Imperador viajou e deixou com a filha o veredito. Assinou-se a Lei Áurea.

A crise do Império foi resolvida com a Proclamação da República, num processo negociado. Vivemos Getúlio ditador, depois de uma eleição anulada. Getúlio no exílio, Getúlio eleito e Getúlio suicidado.

Cada passo desse processo criou uma crise, que a política resolveu sem maiores violências. Depois tivemos a posse do presidente Juscelino, a renúncia do Jânio, um parlamentarismo de ocasião e a Revolução de 1964, que exterminou a política. Mas, ela voltou, para ajustar o processo.

Antes do voto direto para presidente, a política distensionou o ambiente, com a eleição dos prefeitos das capitais, dos governadores e de uma eleição ainda indireta por um Colégio Eleitoral, legal, mas ilegítimo.

Depois a morte do Tancredo, resolvida pela política com a posse do Vice, quando ele não poderia, na forma literal da Constituição, assumir. Veio a Constituinte, o impeachment, negociado no Congresso, a posse do Vice e a normalidade até batermos, agora, de cara com a crise criada pela campanha de 2014.

Mas, a nova crise nos encontrou sem lideranças políticas. Então, o Judiciário assumiu o protagonismo e o povo está, em agonia, nas ruas, espoliado, vilipendiado, embrutecido. Não há lideranças na política com autoridade moral e capacidade para distensionar o ambiente e resolver o problema.

Estamos, então, diante de uma situação complicada, que poderia levar a tensão social para um quadro de violência. Não é possível saber ainda como tudo isso acabará. Tomara que a política renasça, ainda que seja pela transformação dos juízes em líderes políticos.

Por Jackson Vasconcelos

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Lula vence de goleada a oposição

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Numa democracia,quando falta oposição, o povo fica refém dos governos ou se obriga, ele mesmo, a desempenhar o papel sem os instrumentos institucionais. É o recado que veio das ruas e das vaias aos políticos da oposição, que apareceram nas manifestações. O grito pelo impeachment e de apoio ao Juiz Sérgio Moro foram de um povo que não conta com os que elegeu para cumprirem, em seu nome, o contraditório, o papel de oposição.

Isso vem de longe. De muito longe.

Tivemos o mensalão, que nas mãos e na voz de uma oposição competente, teria impedido a reeleição do Lula. Mas, a oposição preferiu defender o mandato de um dos seus, o do senador mineiro, Azeredo. Lula, malandro, usou bem o fato e se fez presidente novamente.

Depois, dividida, a oposição, representada pelo PSDB e pelo quase extinto Democratas, entregou a Presidência da República a Dilma Rousseff, uma invenção do Lula. Ela governou mal e chegou ao momento da reeleição com taxas elevadas de rejeição. A oposição novamente subestimou o Lula. Achou que com as denúncias novas de corrupção a eleição seria pule de dez!

No meio do caminho, sem sequer resmungar, o PSDB aceitou bem que o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, condutor da eleição, fosse alguém que só tinha no currículo o título relevante de advogado do PT e do Lula. Ninguém levantou suspeição sobre o fato e tivemos, no final do processo, o vexame de uma apuração feita para cinco ou seis funcionários do TSE, antes de ser dado conhecimento do resultado ao povo.

Há poucos dias, a Presidente fez uma viagem às expensas do Tesouro Nacional até São Bernardo do Campo, para prestar apoio ao vivo e a cores ao Lula, que impõe dificuldades à Justiça. O ato da presidente está tipificado na Lei do Impeachment, claramente, como crime de responsabilidade (Lei 1.079/1950 0 artigo 4º.II), mas a oposição, representada pelo quase extinto DEM, preferiu questionar as despesas da Presidente e deixou de lado o crime tipificado.

Agora, Lula é ministro. A oposição e a imprensa aceitam a tese de ser, simplesmente, um ato de fuga da possibilidade de ser preso pelo Juiz Sérgio Moro. Ou de obstrução à Justiça, que levaria junto a Presidente. Isso é nada diante do que pode fazer Lula. Ele será um Presidente-Ministro, porque a presidente não existe mais. Será, portanto, Presidente por mais dois anos sem passar por uma nova eleição e usará todo o potencial de votos e dinheiro que tem o cargo de Presidente da República, para preparar o retorno dele à presidência. Será o nosso Berlusconi, o sujeito que fez sem sentido a operação Mãos Limpas na Itália.

A estratégia é uma ferramenta essencial para a atividade política, para o bem e para o mal. O Lula maneja bem ela, a oposição nem sabe que ela existe.  

Por Jackson Vasconcelos

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Ilusão de ótica é crime!

Mkt.JapaA ilusão de ótica é, no marketing, ato criativo e inteligente, mas quando aplicada à política, deveria ser crime. Então, o mestre dos magos, Duda Mendonça, seria companheiro de cela do engenheiro do mal, João Santana.

Em 2009, Lula estava no auge da boa fama, quando o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama anunciou ao mundo: “Esse é o cara…Eu adoro esse cara…Ele é o político mais popular da Terra…Isso é porque ele é boa pinta”.

Naquela época, o Juiz Sérgio Moro estava com 37 anos de idade. Ele faz todo o jeitão de ter sido eleitor do “cara”. Ou, pelo menos, admirador. A turma jovem da Polícia Federal e do Ministério Público, também, porque a rapaziada cheia de ideologia e sonhos era PT e lutava com todo gás, contra a política suja e sórdida “das elites” representadas pelo PSDB.

A frustração ainda dolorida e saudosa pode estar no cuidado do Juiz Sérgio Moro com a imagem do “cara” no mandado de condução coercitiva, que assinou outro dia, atitude incomum nesta terra em que a Justiça não tem apreço pela dignidade dos presos, agora, ainda bem, de qualquer calibre.

Há, então, um dado a considerar em toda essa questão que envolve o “político mais popular da Terra e o partido dele”: a decepção gerada pelo derretimento de uma imagem, que o marketing construiu para ser uma ilusão de ótica, aquela que engana os olhos e os sentidos e pode embaralhar os neurônios. É o que aconteceu com o Presidente Barack Obama,com o Juiz Sérgio Moro e, certamente, como muita gente boa mundo afora.

Por Jackson Vasconcelos

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Não insista! Na dúvida, o eleitor não ultrapassa

discurso-politicoMaterializado na oratória, nos artigos a publicar, numa mensagem postada no facebook, em site ou outras mídias, o fato mais importante a considerar na elaboração do discurso político nasceu em David Hume, filósofo britânico. Ele observou o óbvio: a maioria das pessoas busca através das decisões delas (e votar é uma decisão) o interesse próprio, não um interesse público (de todos). Assim entendeu também, no campo econômico, Adam Smith. É o que se tem da leitura da obra “Natureza e Causas da Riqueza das Nações”.

Quando vota para escolher quem o representará em qualquer das funções públicas, o eleitor não age diferente do que faz quando escolhe uma vaga no estacionamento, um lugar no ônibus ou o filme que irá assistir. Ele preferirá atender a conveniência própria sem estar preocupado com a situação, que a escolha dele provocará nos outros.  Por isso, é zero a atenção do povo pelo que dizem os políticos que, para parecerem o que não são, falam sobre assuntos que acreditam do interesse público. Bom exemplo é a corrupção como tema.

Enquanto não soar como algo concreto, que interfere nas escolhas pessoais, a corrupção não será elemento determinante para o voto e erram, redondamente, os que acreditam que o povo vota nos que roubam, porque tem certeza de que todos roubam. Fosse assim, bastaria votar em ninguém.

No centro disso, existe outra questão a considerar na elaboração do discurso político: as pessoas só decidem mudar a situação da vida delas diante de duas circunstâncias: a insatisfação com a situação em que se encontram e a certeza de que a mudança será para melhor (Ludwig Von Misses). E, na dúvida não ultrapassam.

Assim sendo, não basta ao discurso político mostrar ao eleitor que a situação em que ele se encontra é ruim, fato que dificilmente ele desconhecerá até ser alertado. O discurso precisa oferecer uma mudança segura na direção de uma condição melhor. É assim, do emprego à troca de endereço. Temos, então, que a maioria das pessoas – não todas, porque existem os que têm a vida por sacerdócio – busca o interesse próprio com as decisões que toma, que é melhorar a qualidade da vida pessoal.

Portanto, é papel do discurso dos que governam demonstrar que com eles no governo a vida da maioria das pessoas é boa e, se não for, qualquer mudança de rumo será, seguramente, para pior. E, com uma vantagem comparativa sobre a oposição: na dúvida o eleitor não ultrapassa. Ficaremos exatamente onde estamos.

Já o objetivo do discurso da oposição é de propor mudanças e garantir que elas serão para melhor. Nenhuma na linha do interesse público, mas todas na direção de tornar melhor a vida da maioria das pessoas.

Nixon mentiu à sociedade americana e se viu obrigado a renunciar. Clinton também mentiu e a sociedade perdoou. Os formuladores pirotécnicos encontram causas extremas para a decisão diferente, mas ela pode ser explicada com base na busca dos interesses próprios do povo. A economia, fada madrinha das realizações pessoais, sob Nixon estava aos farrapos sem qualquer garantia de não ser pior.  Sob Bill Clinton, ela vivia momentos excepcionais. Sem Bill, ela poderia piorar.

No Brasil, o PSDB perde repetidas eleições nacionais e perderá outras, porque produz discursos que enaltecem os interesses públicos e dizem aquilo que todo o povo já sabe: os governos que temos são ruins. Mas, nenhuma sinalização o discurso de garantia de tempos melhores sob um governo tucano. Estamos sob péssimos governos e ninguém duvida disso, mas na dúvida, os eleitores, novamente, não ultrapassarão. Não há no horizonte discursos que garantam mudanças seguras.

Por Jackson Vasconcelos

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O político pode morrer pela boca

Nem tudo que você diz ou escreve será compreendido do mesmo jeito por quem ouve ou lê. Ou dito de outro modo: a comunicação não é, exatamente, o que alguém exprime, mas o que outro alguém entende. A imprensa brasileira usa isso com maestria na palavra “suposto”. Busque-a no Google e você encontrará uma enxurrada de matérias e reportagens.

Eis algumas:

  • “Suposto serial killer enfrenta primeiro júri popular”, Globo.com, de 15 de fevereiro.
  • “Suporto serial killer é condenado a 20 anos de prisão”, Jornal A Tarde, de 16 de fevereiro. (A próxima notícia sobre assunto, certamente, será: “o suporto preso…”).
  • “Chefe de polícia da Colômbia renuncia por suposto envolvimento com prostituição masculina”, Jornal Extra, de 17 de fevereiro.

Quem recebe a notícia, imediatamente, assume que o fulano qualquer é um criminoso, mas ele não terá o argumento infalível para denunciar quem atribuiu a ele o “suposto” crime. Afinal, suposto é uma hipótese, não uma afirmação concreta.

Pra qualquer lado que você olhar, qualquer que seja o dia e a hora, no noticiário você encontrará o famoso “suposto” crime de lavagem de dinheiro, o “suposto” triplex e o “suposto” sítio em Atibaia. Qualquer dia, um repórter escorrega e sapecará lá: “o suposto Lula, supostamente casado com a suposta Marisa…”.

Mas, o costume da imprensa me serve aqui tão somente para demonstrar que, quem lida com as palavras – caso dos políticos –, deve ter muita atenção com elas. Afinal, podem estar a falar ou escrever uma coisa, que será entendida como outra.

Vez em quando, um deles, morre pela boca, porque fala palavras com um sentido, que o eleitor, o povo, entende com outro. Até hoje, o ex-presidente FHC deve ter péssimas referências da palavra “vagabundo”. O “cheio do cavalo” persegue a memória do ex-presidente João Figueiredo. Marta Suplicy ficou com o “relaxa e goza” e o Paulo Maluf com “estupra, mas não mata”. Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio ficou marcado com o “eu minto menos que o César Maia”. Em Santa Cruz, num evento que eu estava presente, ele sapecou: “criança é que nem o lixo, a gente não pode deixar na rua”.

Mas, eles todos e quem mais quiser se candidatar ao posto dos políticos falantes e errantes, passaram a dormir mais tranquilos quando no cenário nacional surgiu a economista de quatro costados, senhora Dilma Rousseff. Na raia dos que falam uma coisa, para dizerem outra, a Dilma corre soberana. As frases são tantas que formaram um conjunto, que o  jornal O Globo publicou, há tempos. Escolheu as dez mais significativas. Separei quatro. Mas, quem quiser as outras e muito mais pode se aventurar e comprar o livro do Celso Arnaldo Araújo, “Dilmês. O idioma da mulher Sapiens”. E, se tudo isso não servir suficientemente, vá ao canal da VEJA no Youtube e ouça o Reinaldo Azevedo.

A CULPA É DA MOSQUITA

“É a ‘mosquita’ que põe em média 400 ovos. Se você considerar que a ‘mosquita’ transmite também (o vírus), que é ela que pica, que ela que provoca a contaminação das pessoas. Portanto, se for uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco de a criança, se isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, ter microcefalia”.

ORANGOTANGO NÃO FAZ FOFOCA

“Nele (no livro), ele diz que nós criamos vínculos sociais e uma das coisas que mais nos une é a fofoca. Uma coisa que nos distingue, que chimpanzé não faz. Orangotango não faz.”

DOBRANDO A META

“Não vamos colocar uma meta. Vamos deixar em aberto. Quando a gente atingir uma meta a gente dobra a meta”.

A MANDIOCA

“Nós temos a mandioca, nós estamos comungando a mandioca com o milho. E certamente nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento da civilização humana ao longo do século. Então, estou saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil.”

OS BODES

“Então, é para que o bode sobreviva que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes, que são importantíssimos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do estado”.

Está dado o recado.

Por Jackson Vasconcelos

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Tá tudo bem pra quem?

violenciaTem gente que pensa que sabe construir um discurso e, como acha que sabe, pode ser político. Então, fala ou escreve o que não interessa a quem ouve ou lê e, por demagogia e bajulação, até foge das próprias convicções. No momento do contraditório, que é bem comum nos debates, se embaralha todo ou termina vencido pela incoerência.

E, nesse ponto, nasce outra lição importante: saber usar o discurso do adversário na construção do contraditório é providência essencial de sucesso numa campanha eleitoral. A Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Helena Bomeny, publicou um artigo no jornal O Globo, intitulado “Números superlativos na volta às aulas”, no dia 29 de janeiro, que uso para oferecer o exemplo de elaboração de um contraponto (clique na imagem para ampliar).

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Com entusiasmo, ela apresentou a complexa rede municipal, formada, diz ela, por “mais de 660 mil alunos, cerca de 30 mil professores regentes, equipes de direção de cerca de 1.500 unidades escolares, entre Espaços de Educação Infantil, além de um grande número de pessoal de apoio ao trabalho escolar”.

No artigo, ela não diz isso, mas, certamente, o fato é o desafio que a estimula e está nas entrelinhas, principalmente, quando ela avisa: “O trabalho de uma escola, especialmente numa rede de ensino grande como a nossa, pressupõe uma organização muito bem planejada, executada e acompanhada, pois são muitos os fatores importantes para o sucesso dos alunos no seu desempenho acadêmico”.

Entre os fatores, há aqueles com os quais a Secretária pode trabalhar diretamente. Mas, há outros, que fogem à alçada dela e não deveriam estar longe das atribuições do Prefeito do Rio.

O acompanhamento e fiscalização criteriosos da gestão dos hospitais municipais é um deles. É um erro primário de avaliação imaginar que não há influência sobre o desempenho acadêmico dos alunos da rede municipal, nem sobre a qualidade do trabalho dos profissionais do ensino, quando diante dos olhos da Prefeitura do Rio, Organizações Sociais, por fraude ou incompetência, tornam o atendimento médico nos hospitais públicos um ato cruel.

Outro fator que influencia, sem dúvida, o desempenho escolar é a violência. Entre os mais de 660 mil alunos da rede municipal da Cidade do Rio de Janeiro, professores e profissionais do ensino que retornam às aulas, algumas ausências serão sentidas. A violência sacrificou-os.

A situação criada pela violência nas ruas do Rio e das grandes cidades chegou ao ponto de não dispensar, sob qualquer pretexto, a participação das prefeituras no esforço de solução.

O IBGE indica que um quinto dos municípios brasileiros tem guarda própria e na origem se identifica a pressão popular sobre os prefeitos por causa do crescimento da violência.

O Rio tem uma Guarda Municipal, mas qual o papel dela no combate à violência e aumento da percepção de segurança nas ruas? Ela não poderia ser melhor aproveitada?

Eu tenho defendido que sim e muitos cariocas, ao se depararem com os profissionais da Guarda nas ruas, com certeza me acompanham. Elas poderiam ser treinadas, equipadas e reestruturadas para suprirem uma necessidade visível no Rio de Janeiro: o policiamento ostensivo inteligente, que saiba lidar com a população e enfrentar os criminosos, cada dia mais ousados.

Por Jackson Vasconcelos

 

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Ao mesmo preço dá pra fazer melhor

Tv.Propaganda

É falta de criatividade ou do que dizer. Por isso, as propagandas dos partidos políticos na TV são ruins. Invadem a casa da gente sem pedir licença, durante o dia todo, até mesmo nos intervalos dos programas transmitidos em horário nobre. O telespectador é a vítima e será cada vez mais sacrificado, porque o Brasil é fértil na criação de partidos, que têm direito a tempo na TV.

O pior é a briga que há nos partidos, entre os candidatos, por um segundo que seja de tempo na TV. Chega ao ponto de ser importante o suficiente para definir até as alianças e filiações.

Poderia ser diferente? Claro. O custo para produzir um produto de péssima qualidade é o mesmo e pode ser até menor para fazer algo que seja relevante para o eleitor. Todos ganhariam com a novidade, eleitores, candidatos, partidos e também a TV, que padece para colocar no ar os programas que recebe. É a grade, que é feita com tanta má vontade, que leva a uma repetição quase sequencial. O seja, a reprodução da publicidade ruim muitas vezes seguidas, uma logo após a outra.

Será diferente no dia em que os partidos e candidatos compreenderem que uma campanha eleitoral é obra da comunicação e não do marketing. É trabalho para elaboradores de discursos e nunca de construtores de peças publicitárias. A minha esperança é que isso ocorra logo. Quem sabe agora com zero de financiamento de campanha pelas empresas, o político não volte a fazer político no lugar de fazer papagaiada!

Por Jackson Vasconcelos

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Partido partido dificilmente vence

 

Três filiados disputam a vaga de candidato a prefeito de São Paulo, o empresário João Doria Júnior, o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli. Numa primeira leitura, o fato parece bom, por mostrar um partido democrático, onde há disputa sadia pelo voto dos convencionais e filiados. Mas, não é bem assim.

Como avisa a matéria publicada hoje no Valor Econômico: “Divisão em SP é entrave para Alckmin em 2018”, que reproduzo na imagem ao lado (clique para ampliar). Matarazzo é o candidato da preferência do José Serra. Tripoli, do Aécio Neves e o Doria, do Alckmin. Três candidatos à Presidência da República em 2018, cada um puxando a prefeitura de São Paulo para si.

Seria diferente, se não fosse o PSDB, um partido que faz todo o esforço do mundo para perder eleições. Perdeu a eleição presidencial em 2002, porque o Fernando Henrique Cardoso não entrou de cabeça na campanha do José Serra. Lula venceu. Depois, em 2006, perdeu novamente, porque FHC ficou fora da campanha do Alckmin contra o Lula. O José Serra fez corpo mole porque, se eleito, o Alckmin seria candidato à reeleição em 2010 e tiraria ele do páreo.

Perdeu novamente em 2010, porque Aécio quis ser o candidato e José Serra não permitiu. Então, o Aécio foi cuidar da vida em Minas, lá fez acordo com o PT da Dilma e largou o José Serra à própria sorte. Ele, por sua vez, também não contou com o Fernando Henrique, porque achou melhor deixar o ex-presidente de fora.

E perdeu, de novo, em 2014, porque o Aécio, candidato, quando conseguiu unir o partido, errou tudo na formulação da estratégia da campanha. Na matéria publicada pelo Valor Econômico, um dos interlocutores do PSDB, desses que não gosta de se identificar, disse tudo:

“A imagem que o partido está passando é muito ruim, de que está dividido. Se entrar na disputa municipal assim, passará a campanha toda respondendo sobre isso. Em vez de fazer oposição ao prefeito, estamos brigando internamente”.

Em campanha eleitoral, partido que faz justiça ao nome dificilmente vence. Por isso, a providência essencial de qualquer candidato a presidente, prefeito, governador, é unir o que está partido. Quando isso não acontece, a derrota espera ali na esquina.

Por Jackson Vasconcelos

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Uma Justiça sem Juízo

Os Três Patetas, o Gordo e o Magro e os Trapalhões faziam humor com a estupidez humana, a mesma que a Justiça Eleitoral usa para produzir decisões. Os municípios brasileiros têm sido palco das evoluções dessa escola, que é mais de samba que de intelectualidade. Quando chega o tempo das campanhas eleitorais para eleger prefeitos e vereadores, como acontecerá este ano, o bom senso da Justiça Eleitoral cede lugar, em escalas, para decisões completamente sem sentido.

Tudo começa no tempo legal dos registros das candidaturas. Há um rosário de leis que identificam os candidatos elegíveis e no meio desse rosário está a Lei da Ficha Limpa, que impede candidatos condenados em segunda instância por “n” motivos. Entretanto, a eleição tem data certa, mas a Justiça Eleitoral prazo nenhum para examinar os pedidos de registros.

O resultado é a presença de candidatos nas urnas eletrônicas, com registros não deferidos. O eleitor vota e a Justiça Eleitoral, em seguida, coisa de segundos depois, considera nulos os votos. Se o impugnado por o eleito, o segundo colocado é diplomado e toma posse. Aconteceu assim em Teresópolis.

O candidato Mário Tricano participou das eleições mas os votos que conseguiu a Justiça Eleitoral não validou. O segundo colocado assumiu. O sujeito, dizem alguns, nasceu virado pra lua. Ele, arrogante que só, achou que assumiu a prefeitura escolhido por Deus. Logo, logo, concluímos que, na verdade, onde ele viu Deus, o povo viu Lúcifer.

Pouco importa. Mário Tricano recorreu. Como as eleições têm data certa, os mandatos, prazos definidos. A Justiça Eleitoral, não. Ela delibera quando quer e bem entende. Afinal, juízes das causas terrenas, acreditam-se juizes de tudo e de todos, até o tempo.

Isso criou um problemão em vários lugares do Brasil, também em Teresópolis. Os votos dados ao Mário Tricano, cancelados pela Justiça Eleitoral, foram agora, quase ao final do tempo do mandato, validados pelo STF, por meio de uma liminar. Já que o Mário Tricano foi o mais votado, de certo modo, cumpre-se a vontade da maioria dos eleitores. O problema é o tempo que eles esperaram por isso e a incerteza sobre o prazo de validade da decisão, porque a Justiça pode rever.

Nesse meio tempo, enquanto a Justiça decidia o que fazer com os votos do candidato Mário Tricano, continuou a decidir sobre outros votos e Teresópolis viveu uma cadeia de fatos políticos complicados.

Arley, segundo mais votado nas eleições passadas, assumiu o mandato. Ele vinha de um período de interinidade, porque, Presidente da Câmara, substituiu o Vice Roberto Pinto, gente boa no meio de muita gente à toa, que faleceu no dia da posse. Roberto foi chamado porque o titular foi cassado e colocou asas nas pernas.

Um tiquinho de tempo depois da posse do Arley, o cara se meteu em confusões bem parecidas com as que cassou o mandato do prefeito anterior. Ele foi afastado, o vice-prefeito assumiu.

Demorou mais um tiquinho, o Arley retornou por decisão da Justiça. Catão voltou a ser vice-prefeito e, por pouco tempo, porque novamente a Justiça defenestrou o Arley e empossou Catão. Assim foi uma ou duas vezes mais.

No final de tudo isso, fica o resultado. Teresópolis está sem prefeito certo por quase o tempo todo de um mandato inteiro. E, como no Brasil, servidores públicos são empregados privados, a cada troca de prefeito, vão-se os secretários, assessores, chefes de departamento e os balconistas. E a cada volta, eles voltam também. A Prefeitura travou.

Vamos nos queixar a quem? Ao Bispo não, porque os que conhecemos fazem coisas bem piores. À Justiça. Nem pensar, porque ela não está nem aí pro povo nem para os problemas deles. Por isso, tenho insistido. Não haverá novo tempo para a política, nem tempo bom para a democracia, enquanto a Justiça não passar por um reforma profunda.

Por Jackson Vasconcelos